Um presépio do Senhor

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Há nos Lençóis Maranhenses montes de areia branca abertas em meia-lua se multiplicando infinitamente. O sol queima o meu rosto e o mundo exterior reproduz a poeira do Saara, ou o “disco de fogo” do Sinai, cenário imortalizado pelo filme Lawrence da Arábia. Entre as lagoas “Azul” e “Bonita”, desfilam por minha memória uma dúzia de “miragens”, belas mulheres bailando, singrando as dunas.

Mas os Lençóis não se limitam a essas duas lagoas. Na verdade, existem dezenas e dezenas de lagoas, bonita e azul, todas elas magníficas, sem que nada distinga uma da outra, quando nos aproximamos delas.

Descalço, sinto areia debaixo dos pés. Pés no chão, caminho pelas dunas, fazendo de conta que sou um beduíno. Do alto de uma cônica montanha de areia vislumbro a imensidão dos Lençóis e suas lagoas, presenteio-me com esta visão e “converso com as dunas”. Basta caminhar sobre elas que o som vindo do contato dos meus pés com a areia transformam-se em linguagem de resposta. Descubro, assim, que as areias “falam”.

Cumprimento dois camelos imaginários, sentindo-me o próprio Lawrence, herói das Arábias. Antes de pedir água a um terceiro, lembro-me que viaja conosco um “oásis” que mais parece um bar ambulante. Pronto. Paro para um “reabastecimento”. Sanduíche natural, loura líquida no copo, fico reparando as dunas e os corpos esculturais de belas jovens que certamente se envolvem nestas areias quando transitam por este paraíso.

As dunas dos Lençóis Maranhenses são paisagens naturais, assinadas pelo Supremo Pintor. São aquarelas pintadas pelas correntes das areias, das lagoas, pela força eólia dos ventos. Já as jovens que passam por aqui, belas em biquínis mínimos, revelam em sua quase-nudez dois hemisférios de virtudes. Ao Sul, recôncavos bem divididos. E bem no meio, ali pela região do Equador, onde não existe pecado, balança o pêndulo dos quadris – o movimento mais “subversivo” de todo o Universo.

Em verdade vos digo: poucos lugares do planeta possuirão um cenário tão bonito e um desenho mais interessante e caprichoso do que as dunas de areia dos Lençóis Maranhenses. Brancas, de uma alvura reluzente ao sol, ou de um vago amarelo rebrilhante, as dunas se espreguiçam mansamente entre as enseadas em calma. E têm inspirado poetas, prosadores e seresteiros de toda parte, que definem o lugar como um quadro que Deus pintou para sintetizar Sua concepção sobre a beleza do mundo.

Nos Lençóis Maranhenses aflora uma certeza: qualificar aquele cenário de lindo – é pouco; de fantástico, é pouco também; de mágico é ainda pouco. Aquilo é um lugar sagrado, onde cada pessoa que ali põe os pés deve ter a consciência de estar andando em coisas tão divinas quanto as páginas da Bíblia.

Diante dos nossos olhos, uma obra sagrada feita de vento, areia, água e luzes. Uma obra-prima que Deus doou ao patrimônio artístico natural do Maranhão e que é, ao mesmo tempo, a prova de Sua existência.

As dunas dos Lençóis se espreguiçam. As lagoas são sinfonias completas e bem acabadas – consonâncias perfeitas entre o mar profundo, a mata nativa e atlântica e as formações de dunas mais belas do Universo. Visitá-las comporta uma dimensão de transcendência religiosa – afinal, estas podem ter sido as primeiras imagens da Criação, aquele exato momento em que o Senhor decidiu criar a luz para presidir o dia, separando o que era Terra e o que era Água.

Espreguiço os lábios, estimulo a mente e dou de beber ao meu espírito – que se eleva sobre este novo presépio do Senhor.

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