Crônica de José Fernandes: “Um prisioneiro predestinado”

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Quando ocorre um fato excepcional, Camões diria que “um valor mais alto se alevanta”

São Luís – SÃO LUÍS do Maranhão é uma terra de muitas histórias, algumas incríveis, imprevisíveis e surpreendentes; outras, de importância menor, mas, muitas vezes, divulgadas com estardalhaço, como a que li, não faz muito, sobre o fato de o traidor da Inconfidência Mineira, Silvério dos Reis, haver sido enterrado e desenterrado no interior de uma das nossas velhas igrejas – assunto que, acredito, nada acrescenta à nossa historiografia, de vez que o dito cujo, abjurado pela memória nacional, não manteve nenhum elo com a gleba maranhense.

Entretanto, existem fatos que merecem mais repercussão, pela hilaridade, imprevisibilidade, ou até por irem de encontro à razoabilidade, ao bom senso e à lógica, ou por causarem simples curiosidade; outros, mesmo relegados a um segundo plano, podem se tornar relevantes caso sejam divulgados satisfatoriamente.

Nesse sentido, é plausível contar-se alguns fatos quase desconhecidos, mas que são relevantes, porque fazem parte da nossa história, como este:

Ainda no início do século XX, Paz de Amorim, um sargento do Exército, impõe-se como chefe militar da Revolução de 1930, no Maranhão. Destituiu o major Luso Torres do comando do 24°BC e o prendeu; deixou-o no cárcere sob a guarda de dois sentinelas, arrombou uma farmácia, no centro da cidade, e comprou duas aspirinas para aquele seu prisioneiro, porque este se queixara de um resfriado.

Esse fato estranho teve esta sequência: poucos dias depois, o mesmo major deposto e preso como opositor da Revolução, foi retirado do xadrez pelos que o prenderam, levado ao Palácio dos Leões e empossado, pelos próprios algozes, com honras e pompas, como interventor do Maranhão.

Para resumir, na menor expressão possível, apenas esse lance, adianto que esse comandante do 24 BC, que foi preso, foi, também, deputado e prefeito de São Luís – considerado o melhor prefeito de seu tempo, que comandou várias corporações militares pelo Brasil inteiro e, nos intervalos dos seus períodos de deputado, prefeito e interventor federal, foi um adepto das doutrinas Positivista e Maçônica, benfeitor de uma entidade filantrópica, membro da Academia Maranhense de Letras, e das Academias de Letras de São Paulo e do Rio Grande do Sul e de outras instituições de cultura literária e científica, e, ainda, entre outros afazeres, foi um dos maiores jornalistas e poetas do Maranhão, antes mesmo de ser, por merecimento, promovido a general de Brigada.

Dito isso, este humilde cronista que vos “fala”, agora se transveste em publicitário, e pede licença para comunicar ao respeitável público que brevemente estará lançando uma obra biográfica que retrata a saga desse ilustre literato, honrado militar e homem público, parcialmente perfilado acima, desconhecido de quase todos os seus conterrâneos, principalmente das novas gerações.

Esse meu personagem será pormenorizadamente identificado no livro que se chamará Luso Torres, General, Escritor e Estadista, que rememora, com fidelidade, a vida e a obra desse modelar representante, no seu tempo, da ética e da cultura maranhense, e deslinda os incríveis bastidores da mais pacífica revolução vivida neste Estado.

Cabe uma observação: esse livro deve ser lido, preferencialmente, por gente identificada com as letras e com as artes, ou por pessoas que valorizam trabalhos altruístas, praticados, sem alarde, por pessoas simplesmente dignas.

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