
Síndrome Fetal Alcoólica – SAF
Na Inglaterra, primeira metade do século XVIII, quando o consumo de gim era disseminado, as crianças nascidas de mães alcoólatras eram descritas como fracas débeis e desatentas. Apesar disso, até o século passado, a prática de não ingestão de bebida durante a gravidez estava relacionada apenas a aspectos morais e culturais.
Com os avanços científicos sobre as ações do álcool em mulheres gestantes, em 1968, surgiram importantes trabalhos demonstrando os efeitos teratogênicos (malformações biológicas em fetos) do álcool etílico consumido durante a gestação. E, em 1973, foram identificadas alterações específicas em crianças nascidas nessas condições, denominadas de Síndrome Alcoólica Fetal (SAF).
A SAF é uma condição grave e irreversível relacionada diretamente à exposição do feto ao álcool. Porém, a ciência ainda não identificou a exata quantidade de álcool e o tempo de exposição às bebidas que serão necessários para o desenvolvimento desse transtorno. No entanto, há evidências que sugerem ser o consumo de 20 gramas de álcool suficiente para provocar supressão da respiração e dos movimentos fetais, o que se verificou por meio de ultrassonografia. (mais ou menos uma dose de uisk)
A SAF apresenta anomalias típicas na estrutura do crânio, da face e no comportamento, assim como disfunções no crescimento, no sistema nervoso central, além de outras alterações. Não se deve confundir esta síndrome com os “Efeitos Fetais do Álcool – EFA”, pois este último designa outra condição médica relacionada à exposição de crianças na vida intra-uterina com os efeitos do álcool.
Quais as características da SAF? Microcefalia (cabeça pequena); hipotonia muscular; incoordenação motora; irritabilidade exagerada; baixo peso ao nascer; retardo no crescimento (baixa estatura); retardo mental, leve e moderado; dificuldades no aprendizado; alterações morfológicas do crânio e da face, consistentes, principalmente, em: estreitamento da fissura ocular, lábios superiores finos e lisos, rebaixamento na fixação da orelha e nariz chato e profuso.
O álcool e outras drogas ao serem ingeridas pela gestante, atravessam a barreira hémato-placentária, agindo na criança da mesma forma como age na mãe. Ocorre, todavia, que para os fetos, os efeitos do álcool são maiores, devido seu metabolismo ser mais lento e sua eliminação mais demorada, consequentimente permanecendo por mais tempo no líquido amniótico.
O etanol induz a formação de radicais livres de oxigênio os quais são capazes de comprometer a estrutura e função das proteínas e lipídeos celulares. Isso aumenta a apoptose (morte celular), prejudicando, por conseguinte, a organogênese (mecanismo biológico que dá origem aos órgãos), fatos que explicariam os inúmeros problemas anatômicos e funcionais das crianças portadoras desse transtorno.
O álcool etílico também inibe a síntese de ácido retinóico, substância que regula o desenvolvimento embrionário. Tanto o etanol, quanto o acetaldeído (substância produzida no processo de metabolização do etanol em nosso organismo) têm efeitos diretos sobre vários fatores de crescimento celular, entre os quais, o de inibir a proliferação de certos tecidos.
Há outros fatores que tornam os fetos mais ou menos sensíveis aos efeitos do álcool: a quantidade da bebida ingerida, freqüência de uso do álcool na época da gestação, o estado nutricional da gestante e a capacidade de metabolização do álcool da mãe e do feto.
O consumo de álcool na gestação está também relacionado ao aumento do número de abortos, com o risco de infecções, descolamento prematuro de placenta, hipertonia uterina, prematuridade do trabalho de parto, etc.
Além da gravidade epidemiológica e clínica da SAF no Brasil que corresponde, a caso para cada 1000 nascimentos, ainda há enormes dificuldades para o diagnóstico e tratamento desta situação, especialmente por se saber que, a cada ano, no mundo as mulheres estão bebendo mais e engravidando mais, especialmente as adolescentes. Assim, a situação tende se agravar, exigindo medidas preventivas para evitar a incidência da SAF.
Estamos, portanto, diante de um dos mais importantes problemas de saúde pública da atualidade, que é a ocorrência da SAF, é preciso que se haja ênfase em políticas de saúde públicas especialmente as preventivas que esclareça bem este assunto, especialmente entre as mulheres que bebem durante a gestação.
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Médico Neuropsiquiatra, Professor de Psiquiatria do Curso de Medicina da (UFMA), Mestre em Ciências da Saúde (UFMA), Especialista em Dependência Química pela (UNIFESP), Presidente da Academia Maranhense de Medicina.
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