Poetas populares lembram José Wilker

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José Wilker

 

 

 

 

 

 

 

A inesperada morte do ator José Wilker, aos 66 anos, gerou comoção nacional e não passou em branco no universo do cordel. Fazendo as vezes de jornalistas, como seus colegas do passado, mas usando a Internet como meio de divulgação, os poetas populares relembraram a vida e a obra do celebrado ator cearense. Do conterrâneo Klévisson Viana são os versos abaixo:

Nossa vida aqui na terra

Parece com a lamparina
Tem um pavio que é igual
A sua jornada ou sina
Mas o querosene dela
Ninguém sabe onde termina.

Também pode ser um filme
De longa ou média metragem
O roteiro é um mistério
Fotografia e montagem
Ou mais simples como um curta
Se for bem breve a viagem.

Eu estava de passagem
Na cidade de Natal
Onde fui apresentar
Para o público um recital
Quando alguém falou Zé Wilker
Partiu para o plano astral.

Nesse momento eu parei
Sem querer acreditar
Solicitei para um moço
Para melhor me informar
Ele ligando a TV
Pude logo confirmar.

Foi Zé Wilker apaixonado
Pela a arte que fazia
Amou diversas mulheres
Fez da vida uma poesia
Mas sua paixão mais forte
Foi sempre a dramaturgia.

O filho de Juazeiro
Que tanto nos orgulhou
Não vive mais nesse plano
Partiu mas aqui deixou
A sua arte que é viva
No público que cativou.

Padre Cícero era do Crato
Mas fundou o Juazeiro
José Wilker nasceu lá
E mostrou pra o mundo inteiro
Que Juazeiro não tem
Só penitente e romeiro.

Jô Soares falou dele
Bastante emocionado
O grande Lima Duarte
Também deu o seu recado
De respeito pelo astro
Sua arte e seu legado.

Partiu enquanto dormia
Aos 66 de idade
Para amigos e colegas
Seguiu deixando saudade
E a sua família chora
A triste realidade.

Ceará está de luto
Sofre o Brasil por inteiro
Com a partida tão súbita
Que não tava no roteiro
Do nosso ator José Wilker
O filho de Juazeiro.

(…)

O poeta potiguar Marciano Medeiros registrou a notícia no cordel O nobre ator José Wilker partiu deixando saudade:

O nobre ator José Wilker
Partiu deixando saudade,
Foi ter encontro com Deus
No plano da eternidade,
Deixando muitas lembranças
Que são flores de esperanças,
Para toda mocidade.

Era muito inteligente
Por filmes tinha paixão,
Interpretou Juscelino
Com bastante exatidão,
Divulgando sua imagem
Deixou bonita mensagem,
Cativando a multidão.

No cinema interpretou
O Antônio Conselheiro,
Mas antes deu vez e voz
Ao bravo Roque Santeiro
Que com viúva Porcina
Viveu paixão peregrina,
Mostrada no estrangeiro.

Menciono aqui chorando
Este sublime papel,
Do personagem marcante
Juntamente ao coronel,
Fizeram audiência alta
Roque e Sinhôzinho Malta,
Numa batalha cruel.

Eu assistia feliz
Essa novela marcante,
Numa TV preto e branco
Tinha frequencia constante,
Cada capítulo esperava:
O outro quando chegava,
Era muito interessante.

Seu sorriso inconfundível
Deixa lembrança singela,
Fazendo nossa memória
Pintar bonita aquarela,
Pois o tempo não destrói
Nem o coração corrói,
Seu brilhantismo na tela.

Natural do Juazeiro
Hoje sua terra chora,
Lembrando do garotinho
Que ali viveu outrora,
Sonhando timidamente;
E depois de adolescente:
A sua vida melhora.

Nosso povo brasileiro
Lamenta profundamente,
Pois com sessenta e seis anos
O grande ator deixa a gente
Por causa do coração,
Fonte de muita emoção
Deixou a vida inclemente.

O baiano radicado Brasília Gustavo Dourado também deixou sua contribuição:

José Wilker foi embora:
Um ator “felomenal”…
Teve grande Amor à Vida:
Um personagem central…
Destaque na televisão:
Quintessência teatral…

Nasceu em Juazeiro do Norte:
Cearense, nordestino…
Em 1946:
Começou o seu destino…
Foi locutor de rádio:
Um intérprete cristalino…

Do Ceará foi-se jovem:
Para o Rio de Janeiro…
Sociologia na PUC:
O teatro vem primeiro…
Deixou a faculdade:
Pra atuar no tabuleiro…

Presença em 51 filmes:
Foi crítico e diretor…
Gostava da narrativa:
Era apresentador…
Em dezenas de novelas:
Destacou-se como ator…

Gabriela, de Jorge Amado:
Foi Vadinho sedutor…
Em filmes de Cacá Diegues:
Bye Bye, Brasil, um primor…
Conquistou vários prêmios:
Molière de Melhor Ator…

Atuou em Xica da Silva:
Foi JK no cinema…
Como Antônio Conselheiro:
Em Canudos, um dilema…
José Wilker com maestria:
Fez da vida um poema…

Roque Santeiro impecável…
Com a viúva Porcina…
Muitos amores na vida:
Amou sua Guilhermina…
Dias Gomes dissecou:
Com atuação cristalina…

Viveu o doutor Hérbet:
Novela Amor à Vida…
Trama de Walcyr Carrasco:
Em sua longa avenida…
Rodrigo, em Anjo Mau:
Foi fecunda a sua lida…

Bicheiro Giovanni Improtta:
Em Senhora do Destino…
Fez Tenório Cavalcanti:
E o Coronel Jesuíno…
Ator de alta qualidade:
Tinha alma de menino…

Sai de Baixo, A Falecida:
Era mestre no humor…
Um craque na narrativa:
Do Oscar, apresentador…
Wilker foi magistral:
Um fenômeno como ator…

Deixo aqui na poesia:
Minha singela homenagem…
Ao grandioso ator:
Que segue a sua viagem:
Pelas sendas do destino:
Além da Terceira Margem…

 

O inesquecível intérprete de Roque Santeiro, protagonista da novela homônima de Dias Gomes, levada ao ar pela Rede Globo em 1985 e 1986, realmente fez por merecer todas as homenagens. Por sinal, nesta novela, que evidenciou a literatura de cordel, numa das cenas mais marcantes, o personagem de Wilker descobre, lendo folhetos populares, que se tornara um mito para os habitantes da cidade de Asa Branca, que imaginavam que ele morrera heroicamente. O cordel, ironicamente, cruza novamente o caminho de Wilker agora que ele se tornou saudade.

 

4 comentários para "Poetas populares lembram José Wilker"


  1. José Ribamar Chaves

    Meus sinceros parabéns aos ilustres poetas-populares que magnificamente
    souberam demonstrar, através de suas belíssimas poesia, a vida briosa de um cearense e brasileiro ilustre.

    • wilsonmarques

      Os versos refletem a grandeza do ator, e o carinho que o povo brasileiro tem por ele.

  2. Andreia

    Parabéns, lindo poema. Vai em paz Wilk.

    • wilsonmarques

      Também gostei muito, Andreia. De vez em quanto, pretendo publicar versos de outros poetas populares por aqui. E por outros motivos.

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