O supermaníaco

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só podia estar num volante

Quando escrevi neste jornal, anos atrás,  a crônica Os Maníacos do Volante, baseada nos mais estrambóticos tipos que se vê dirigindo no trânsito desta cidade, surpreendeu-me que alguns leitores me exortassem a inserir novos tipos por eles sugeridos. Mais tarde, essa crônica se transformou num capítulo do livro O ABC bem humorado de São Luís, com algumas novidades. Bem se vê que tive de fazer uma seleção porque a coletânea é grande.

Nessa exuberante lista de maníacos se inscrevem desde O Imperador das Avenidas ( o dono)  até o Touro do Asfalto ( o irado).

Por incrível que pareça, de lá para cá, embora nem tanto tempo assim tenha passado,     a fauna aumentou. Seja porque os veículos triplicaram e os engarrafamentos e histerismos idem, novos candidatos se apresentaram para fazer jus ao epíteto de maníacos.  O mais curioso para não dizer desolador é que, como se não bastasse a contínua profusão de novos maníacos eis que os que os antigos se aperfeiçoaram. Se antigamente a exclamação em voga diante do que se via era: “Haja maníaco!” a constatação dos dias de hoje precisa ser outra: “Haja super-maníacos!”

Sim, porque os maníacos que já existiam se aperfeiçoaram, e se tornaram cada vez mais eloquentes no comando de seus carros, sendo o exemplo mais bem acabado dessa síndrome o tipo que na crônica anterior foi chamado de Masturbardor de Buzina.

Ora, o Masturbardor de Buzina,  é aquele maníaco que tem obsessão por acionar a sua buzina e não está nem aí, claro, para o ouvido dos outros. Seu frenesi é tão ostensivo que se desconfia que ele esteja sempre prestes a ter um orgasmo com o ato de buzinar, daí o cognome. Devidamente classificado, segundo os leitores, sua identificação parecia esgotada, mas não é que o dito cujo foi além e se aprimorou?  Se antes ele acionava a buzina apenas pelo fato de o sinal abrir instantaneamente, estivesse onde estivesse na fila (como se o motorista da frente tivesse o dom de desaparecer apenas para satisfazê-lo ), nos dias atuais ele adquiriu uma especialização histérica. Pouco ligando para o sinal que lhe compete nos cruzamentos, agora ele desenvolveu a mania de ficar vigiando o sinal da fila alheia. Se o sinal fecha para esta,  ele já começa a acionar a sua buzina instigando o pobre motorista do carro que está na frente.  Ou seja, ele exige que o coitado, em frente da sua sinaleira, além de desaparecer em um segundo antecipe-se ao tempo de transição entre uma faixa e outra. Se não for atendido na velocidade da luz, buzina nele!

Como esse tipo de evolução Charles Darwin não explica, recorri a um amigo psicanalista. Quem sabe Freud!… Ele me sugeriu prontamente que essa espécie de maníaco nunca adquire um carro para simplesmente dirigir, mas para buzinar, sendo previdente  que, quando morra,  leve uma buzina dentro do caixão por prevenção, não só para anunciar sua chegada no outro mundo,  como para furar a fila quando estiver no céu.

Não pude deixar de retrucar:

“Sugestão brilhante, mas será que esse  maníaco estará na fila do céu, ou do inferno? ”

Jose Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

Nas livrarias Amei , Tempo de ler e Vozes
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Enfim, o Buraco Negro

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O buraco negro chega ao Brasil

PENSO, LOGO  EXISTO, sentenciou o filósofo Descartes séculos atrás, pretendendo eliminar essa dúvida crucial da espécie humana. Apesar disso a dúvida permanece, tanto assim que, mesmo respirando, comendo ou guerreando entre si, o ser humano continua a duvidar da própria existência: “Será existência isso daí?” “Tem certeza mesmo de que não existe coisa melhor?”

O fato é que a ciência avançou muito depois de Descartes e, se não conseguiu provar a existência humana provou, há poucos dias, a existência do Buraco-Negro. “FUI FOTOGRAFADO, LOGO EXISTO”, poderia dizer agora um buraco-negro se tivesse as mesmas dúvidas existenciais dos seres humanos.

O  buraco-negro como se sabe são concentrações absurdíssimas de matéria que curvam o espaço-tempo e sugam tudo o que existe ao redor, inclusive  a própria luz. Com isso, é impossível saber o que existe em seu interior, colocando em polvorosa o nosso pobre conceito de existência. 

Como era de se esperar a divulgação repetida de uma façanha monumental como essa teria de ter consequências em nosso país:

            1.A turma ‘politicamente correta’ do Congresso já se pôs em estado de alerta. Uma comissão de parlamentares, tendo à frente Gleisi Hoffman com orientação do PT, vai propor que se mude a atual terminologia, pelo menos no Brasil, trocando o nome de Buraco Negro para Buraco de Qualquer Coisa. Acreditam que a denominação atual tem conotação racista.

            2.Sabedores de que os telescópios colocados à disposição dos cientistas alcançaram uma precisão equivalente à de captar imagens de uma moeda na superfície  da lua, alguns empresários e políticos – que não podem ouvir falar em moeda sem se assanhar –  proporão a instalação de um telescópio dessa envergadura na base de Alcântara com o objetivo  de descobrir ouro em qualquer parte dos confins do universo. Estão certos de que fora da Terra  a Lava-Jato não terá como aporrinhar.

            3. Religiosos de uma recém-inaugurada Igreja chegaram à conclusão de que nem as almas resistem à formidável sucção promovida pela atração gravitacional dos buracos-negros. Generosos, conceberam a ideia de desenvolver um Curso de Blindagem de Almas para que após a morte ninguém corra o risco de desaparecer, mesmo em espírito. Obs. As sessões de curso/reza poderão ser pagas com cartão de crédito.

            4. Nas redes sociais, tão logo surgiu a notícia do buraco negro fotografado,  grupos de internautas começaram a sugerir  que o ônibus interespacial que levará, em breve,  Justin Bibier e Leonardo di Caprio a uma viagem turística no espaço, estenda sua viagem por mais alguns milhões de quilômetros de anos-luz e passe perto do buraco-negro .

obs.  (Já tem gente no Brasil sugerindo que o ônibus leve também o Luan Santana).

                        5.Antecipando-se,  uma escola de samba carioca  anunciou como enredo para o próximo carnaval seu desfile com o tema: Brasileira Também é Boa de Buraco Negro, homenageando a cientista brasileira que fez parte da equipe de cientistas . A única preocupação, por enquanto, fica por conta do tamanho do fio dental que as bailarinas usarão, para não suscitar interpretações  maliciosas em relação ao tema.

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

Últimos exemplares da segunda edição nas livrarias Amei e Tempo de Ler
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