AUTOAJUDA E BAIXA-AJUDA

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Fico imaginando o que os grandes homens do passado: Jesus Cristo, Shakespeare, Galileu, Da Vinci, Napoleão Bonaparte achariam da avalanche de livros de autoajuda que assolam as livrarias com  seus títulos supostamente convidativos. Tenho a impressão de que sentiriam a mesma ira de Cristo ( ele também tinha raiva, senhores e nem sempre perdoava!) ao expulsar com chicote os vendilhões do templo. Napoleão Bonaparte, por sua vez, talvez colocasse de quarentena o soldado que aparecesse com um livro desses, para não afetar a moral da tropa.

Eis um resumo dos mais badalados livros de ajuda,  e o que eles propõem,  para você pensar um pouco antes da compra. Sabendo de antemão de que se conselho fosse bom ninguém dava,  vendia, o que não significa que um conselho seja bom só porque se compra.

1.Como Fazer amigos e Influenciar Pessoas. Dale Carnegie.

Se você carece tanto assim de muitos amigos, antes de iniciar sua leitura lembre-se da frase “ Deus me proteja de meus amigos que dos meus inimigos cuido eu.” Talvez ela encerre mais sabedoria que toda lenga-lenga que você vai ler .             Por outro lado,  se seu negócio é influenciar pessoas amigas e inimigas esqueça definitivamente a primeira parte que trata da amizade. Se você tem a intenção de influenciar alguém, bom amigo você não é.

2.Porque Fazemos o que Fazemos. Mário Sérgio Cortella.

Não vá nessa conversa. Faz uma eternidade que isso pouco importa.  Se Deus  fez o Universo e até hoje não disse porque o fez, nem para quê, (talvez porque nem ele mesmo saiba) por que você (ou alguém ) há de querer saber porque você, o Pablo Vittar,  ou o King-Jong-Un fazem o que fazem?

3.Os Segredos da Mente Milionária. T. Harv Eker

E que disse que isso tem segredo? No Brasil, particularmente, todo mundo sabe como funciona: se você nasceu pobre e for assediado com propina, ensine sua mente a aceitar. Se você for rico  e tem dinheiro suficiente para comprar a mente de alguém, mande ver. Se você não for uma coisa nem outra, entre num partido político e espere passar a mala de dinheiro. Mais dia, menos dia sua mente milionária estará prontinha!

4.Quem Pensa Enriquece, Napoleon Hill

Conversa fiada!  Quem não se lembra dos tantos gênios pensadores, Kafka, Van Gogh etc. que morreram pobres? Por outro lado, a vida moderna está cheia de gente que jamais gastou um milionésimo de segundo de sua vida para pensar e está podre de rico: Neymar, Faustão, Dilma Roussef etc.

5.Ansiedade. Como Enfrentar o Mal do Século. Augusto Cury

Quem disse que a ansiedade é o mal do século? De onde veio esse pódio, conferido, injustamente, à pobre da ansiedade? (Um  sentimento tão nobre e salutar que quando se torce pro nosso time,  vira desculpa pra lá de vantajosa pra se poder enfiar as mágoas num copo de cerveja se o time ganhar ou se perder).

O mal do século, no Brasil, certamente está entre a música sertaneja e as duplas que as cantam.

  1. A Arte de Fazer e Acontecer, David Allen

Não perca seu tempo. Essa arte é simples e pode ser resumida em poucas palavras: se você está dormindo e, mesmo assim, está acontecendo, claro que  você está sonhando. Se você está acordado (neste país) e, de repente,  parou de acontecer das duas uma: ou o trânsito está engarrafado ou você acabou de morrer de bala perdida.

E assim por diante…

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luís.

 

 

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A BELEZA DOS TÍTULOS DE LIVROS

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21 LIVROS QUE VOCÊ COMPRARIA SÓ PELO TÍTULO. Quais seriam?

Estava outro dia à procura de  um livro no site da Estante Virtual quando deparei , no mural , com esta chamada intrigante. Convite irrecusável. Sempre fui fascinado pelo tema: a questão da nomeação de pessoas, de coisas e de obras de arte, especialmente, de livros. Sempre encarei essa escolha como um tirocínio adicional ao da escrita.

Pois, então, lá estavam os títulos da lista: A culpa é das estrelas;  A sombra do vento; Zen e a arte de manutenção da motocicleta, uma parcela facilmente classificável como esteticamente inspirada  a partir de uma bela associação de palavras. Os demais, logo vi, foram escolhidos pela curiosidade que despertam,  à reboque  de um impactante chamamento. De fato, como não ficar curioso diante de títulos como  Dom Casmurro e os discos voadores?  Os Simpsons e a Filosofia ou  O manifesto do nada na terra do Nunca ( do cantor Lobão) ? Estes claramente evidenciando que se os títulos  não eram necessariamente belos, eram capazes, porém,  de despertar o interesse do leitor para uma potencial aquisição. O que é uma legítima e natural aspiração de todo livreiro, e  – por quê  não? – de todo autor.

 

 

 

Configurando-se assim na cena da compra, o objetivo de acertar o alvo e atingir esse algo misterioso que existe entre o leitor e o título do livro e cuja resolução e atingimento vão  além do que sonha a vã inteligência humana (com a permissão de Shakespeare) mas, cujo resultado, independe da proposta e, até,  da sedução inicial.

Pois, como todo mundo sabe,  um bom título não é condição sine qua non para o sucesso e a consagração de um livro, tanto é assim que a grande maioria dos clássicos, que se tornaram cânones , possuem títulos convencionais, muitos relacionados prosaicamente ao nome de seus personagens: Don Quixote, Madame Bovary, os irmãos Karamazov , Tom Jones, Ana Karenina, Romeu e Julieta. Estes  se tornaram maravilhosos a partir do que surgiu com a primeira página.

No entanto, quando se conjugam um título magnifico e uma escrita  genial penso que se alcança um degrau acima na escala do êxtase, enfim uma sensação de completude que perdura de uma forma especial, nem que seja na mera pronúncia do título referido – na musicalidade do efeito poético alcançado . Esse mergulho no inefável acontece todas as vezes que nos referimos, por  exemplo a O morro dos ventos uivantes ( um achado precioso da tradução pois o original é quase intraduzível)

 

 

e  Em busca do Tempo Perdido, dois clássicos que atingem a quintessência em termos de conteúdo e título.

Outros, não necessariamente clássicos,  mas presentes em todas as listas, são A insustentável leveza do Ser, A hora da estrela, O coração é um caçador Solitário , Olhai os lírios do campo  e (pelo menos na minha) títulos menos consagrados como O amor e outros objetos pontiagudos de Marçal Aquino, que, aliás nem li ainda.

Mas qual seria mesmo o mais belo dos títulos? Por comodismo sugiro ficar, só hoje, com As vantagens de ser invisível, sem dúvida um bom título de um best-seller recente. Claro, está longe de ser uma solução  mas pelo menos sugere que o essencial de um belo título estaria forçosamente  por trás da invisibilidade proposta e sua arte. Pois o essencial, como diria outro, é invisível para os olhos.

 

José Ewerton Neto é autor de O menino que via o além, um belo título de um livro, para Josué Montello

 

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A VERDADEIRA HISTÓRIA DO CHÁ

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artigo publicado no jornal O estado do Maranhão

 

Admitindo que Deus nunca tenha ficado doente a ponto de ter pedido aos anjos uma xícara de chá para  aguentar o tédio da eternidade,  tudo começou –pelo menos para o ser humano – em 2737 a.c.

Aconteceu que o imperador  chinês Shen Nung pediu ao servo um copo de água fervida e nele caíram folhas de cammellia sinensis ( o popular chá branco). O imperador bebeu e gostou e, assim, 3 coisas aconteceram: um servo se livrou de levar chicotadas, um imperador ficou para a história e, a mais importante:  nasceu uma das mais saborosas bebidas que se conhece.

1.Nem precisou decreto imperial para que a população chinesa logo o imitasse. O gosto da folha fervida na água era tão bom que seu sabor, depois  de ultrapassar as fronteiras da barriga de Shen Nung, chegou, de xícara em xícara,  por volta de 805 ao Japão onde começou a ser cultivado. A bebida virou cerimônia religiosa: uma forma de encontrar a paz.

  1. Séculos depois, em 1662, a portuguesa Catarina de Bragança, casada com o rei Carlos 2º da Inglaterra, trouxe chá de Portugal e ensinou a corte a prepara-lo, popularizando o chá no Reino Unido. Com isso mostrou que enquanto os portugueses gozavam os muitos prazeres que encontravam no Brasil ( as frutas, as índias e etc.), suas prendadas esposas cultuavam outras delícias.

3.Em 1773 os norte americanos se revoltaram com as taxas de chá impostas pelo Reino Unido. Vendo que estava ficando caro demais se aliviarem  das intempéries com o chá que chegava da Corte, jogaram no mar todo o estoque que havia sido embarcado. Se o mar não estava pra peixe, quanto mais para chá!  Americanos e ingleses partiram para a guerra começando a revolução que culminou na Independência dos USA. Demonstrou-se, assim, que “se existe uma casca de banana por trás de toda grande tragédia” deve existir, também, “uma xícara de chá por trás de toda Independência”.

4.Tanto assim que, no Brasil,  assim que as primeiras mudas de Cammellia Sinensis chegaram ao Jardim Botânico em 1812 logo depois,  em 1822 , o Brasil se tornou independente de Portugal, comprovando a Teoria. ( Parece que o  príncipe D. Pedro I, ao contornar o Ipiranga, berrou de dor por causa de uma puta  dor de barriga, provavelmente, por não ter tomado o seu chá. Como se sabe,  isso foi confundido com um grito de Independência, para o bem de todos).

 

 

 

5.Por essa época, em 1820 a duquesa Ana de Bedford começou a tomar chá sempre às cinco da tarde fazendo  com que o hábito virasse moda no Reino Unido e perdurasse até hoje, sendo, reconhecidamente, a moda mais duradoura desse país. A segunda é a dos Beatles.

6.Até que  em 1904 nos EUA começou-se a vender o chá em saquinhos de musselina fazendo com que  os infusores fossem aposentados. Logo se inventou o chá gelado fazendo com que hoje se degluta chá de todos os tipos e todas as maneiras, inclusive o suchá, mistura de chá com suco,  sendo uma de suas últimas versões o  suchá de Açaí – egresso do Pará!

Lamenta-se, por fim,  que o brasileiro não faça uso, como deveria, do chá, o que o tornaria mais cordial.  Ninguém duvida que no próximo encontro de Trump e King-Jong-Un não faltará chá. Todos torcendo para que, finalmente, se dê uma colher de chá para a Paz.

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José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas

 

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O OSCAR Brasileiro – 2018

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Domingo, a festa de premiação do Oscar 2018 empolgou milhões  em vários cantos do mundo. Poucos brasileiros , no entanto , se deram conta que por aqui também se consagravam os vencedores do  Oscar Brasileiro.

O mesmo talento, a mesma dramaticidade dos enredos, a mesma  extraordinária semelhança dos títulos, a ponto de não se saber quem inspirou quem e vice-versa:

1.Melhor Filme: A forma da Água

Versão Nacional: A forma da água (do Lava-Jato).

Ao contrário da fita americana que aviva o amor da relação de uma mulher com uma criatura da água, a versão brasileira é uma estória de repulsa à imundície que sai da água utilizada, no lava- jato, para limpar nossa  Nação. Não poderia ser outra a reação dos espectadores senão de asco diante das formas que emergem dessa água imunda: Michel Temer, Lula, Eike Batista, Geddel, Sérgio Cabral, Aécio Neves etc. Um horror!

 

 

 

2.Melhor Atriz: Frances McDormand, do filme   3 anúncios para um Crime.

Versão Nacional: 3 anúncios para mais um crime, com a   atriz Gleisi Hoffman, presidente do PT.

A versão nacional aconteceu quando a atriz Gleisi Hoffman anunciou:  “Caso Lula seja preso, represálias irão acontecer em todo o país”. Ou seja, considerando a ameaça da deputada de que não sobraria  pedra sobre pedra em meio a  choro e ranger de dentes, é  fácil concluir que os 3 anúncios para o seu crime foram choro, ranger de dentes e pedra. Nada mais justo que a raivosa fizesse jus  ao prêmio.

3.Melhor Roteiro Adaptado: Me chame pelo seu nome.

Versão Nacional: Não me chame pelo meu nome.

Este roteiro foi adaptado por  Gilmar Mendes. A versão brasileira focada nos episódios da lava-jato  trata da adaptação, feita pelo jurista,  das verdades e dos fatos para que jamais os acusados fossem chamados pelos seus nomes a prestar contas pelo mal que fizeram a esta Nação. Enfim, personagens que preferiram ser chamados de pilantras, a serem chamados pelos próprios nomes nos corredores das cadeias.

  1. Melhor filme em língua estrangeira: Uma mulher fantástica!

Versão Nacional: Uma mulher no Fantástico.

A versão nacional foi filmada quando Pablo Vittar esteve no programa Fantástico. Além de estar no programa havia outras coisas fantásticas acontecendo como o fato de Pablo rebolar como mulher sem ser mulher, cantar sem ser cantor e emitir sons de música sem que aquilo fosse música.

  1. Melhor Canção Original Remember Me, do filme A vida é uma festa!

Versão Nacional:  Que tiro foi esse! Do filme A vida tá uma droga!

A vantagem da canção nacional sobre a americana é que além de se poder dançar de qualquer jeito  o fundo musical, originalíssimo,  é de bala perdida.

  1. Melhor atriz coadjuvante: Eu, Tonya com Margot Robbie

 

 

 

Versão Nacional: Eu, Bruna, com Bruna Marquezine.

O filme nacional,  tão épico quanto o norte-americano sobre a saga de uma atleta, descreve o formidável esforço da brasileira Bruna em seu papel de coadjuvante, para tratar da bicheira no dedo mindinho do pé do craque  Neymar durante 2  meses, com intervalos para sentar sobre seu colo, todo dia,  em cima de uma cadeira de rodas.

Ao invés do coro de  ‘Força, Neymar!’ que bombou na net, a nação agora está desejando: “Força Bruna!”

Como vai longe essa meninNA!

José Ewerton Neto é autor de

O ABC bem humorado de São luis

 

 

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A difícil arte de provar que se vive

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Estamos vivos ou não? Se você acha que vive, porque respira, é bom não confiar muito nisso. No Brasil carece de mais, muito mais:

Não basta pagar imposto de renda, ter cartões de credito de lojas e bancos, ser síndico de condomínio, ter documento de idoso e o escambau,  ter multa de trânsito a três por quatro, ter feito exame de próstata, do coração e do pulmão, ter página no Instagram  e facebook, ter diploma de advogado, juiz de futebol e de dono de Escola de Samba etc. etc.  Se você não for ao banco para provar que ainda está vivo, será considerado  morto e, sendo assim,  estará na lista dos mortos vivos desse país. Mortos vivos? Praticamente. Para o Governo o ideal é que você seja um morto-vivo. Vivo para pagar as contas e morto para não ter direito.

Estava pensando nisso, quando vi  a informação de que o presidente Michel Temer havia realizado a sua prova de vida e, como tal, estava pronto para receber um retroativo de três meses, equivalente a uns 90 mil reais.   A primeira impressão que tive foi a de que o presidente da república estava querendo incentivar os aposentados desta Nação a fazerem o mesmo. Ora, todo mundo sabe que Michel Temer se mostrou especialista em se fazer de morto (no episódio da mala)  mas  nunca em se fazer  de vivo , o que comprovaria essa impressão. Mas eis que me  surgiu , como numa epifania de heurecas!   a sugestiva revelação de que a Vida, no Brasil, tem várias graduações, segundo a vida que cada um leva. Mais ou menos assim:

VIVOS EM DOBRO.

 

Compõem essa classe  o presidente da República e equivalentes (os que convivem com malas de dinheiro). Ao saírem de uma prova de vida com tanta grana  mostram que pertencem a uma casta especial: aqueles que acabam comprovando não só que vivem, mas que vivem em dobro.

O curioso  é que em relação a essa vidas,  tão plenas que transbordam pelo ladrão ( sem trocadilhos),  os cofres do Tesouro se esmeram em reconhecer-lhes  os direitos que os outros não possuem. A matemática soa perfeita: para vidas em dobro, o dobro de ganhos.

APENAS VIVOS

Um grande contingente. Normalmente constituído por trabalhadores que dão duro a vida inteira e  que se  consideram vivos, mas que não deveriam ter tanta certeza disso . Gente que sobrevive sabe-se lá como, mas que parecem satisfeitos com o ato de subsistir. É uma população que parece aceitar, conscientemente,  que suas vidas  foram  construídas para gente como Temer viver em dobro, mas que preferem (talvez sabiamente), jamais pensar nisso.

SEMI-MORTO  (OU MAIS PARA MORTO)

 

 

A imensa maioria da população brasileira. Na realidade, quando estes vão fazer a Prova de Vida  estão também testemunhando a sua condição de quase mortos.  Não seria essa a intenção dos governantes? Parece que sim, porque esse grande contingente jamais poderia  ser considerado vivo com a aposentadoria que o governo lhes concede – como se fosse uma esmola. Vai daí que a exigência dessa Prova de Semi-Morto  obrigando  cadeirantes, doentes e inválidos a se locomovem, sem que se tente evitar isso promovendo uma simples pesquisa nos sites da Internet, funciona como uma espécie de escárnio , ou um estímulo para que morram logo.

Que tal mudarem o nome de Prova de Vida para Prova de Morto-Vivo? Seria cômico se não fosse trágico.

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

 

 

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