O espírito natalino enfrenta a Pandemia

0comentário

Lá vem ele, de novo. É o ESPÍRITO DE NATAL. Nestes tempos pandêmicos desconfiava-se que ele pudesse não aparecer. Sabe como é, vírus, pandemia, pânico, medo, horror. Temia-se que o velho Espírito de Natal recuasse, ou desse para trás, já que faz parte do grupo de risco naturalmente, pela antiguidade.

Chega trazendo tanta coisa junta que andava escondida, depositando-a aos pés da população alvoroçada e ansiosa: amor, alegria, solidariedade, esperança, de tal forma abundantes e  gratuitas que pouca gente se dá ao trabalho sequer de perguntar: afinal de contas, quem é esse cara?

Ora, para simplificar, porque nem Freud explica, conjecturamos  logo que seja alguém da parte de Deus, um anjo, enfim. Alguém dessa turma especial, generosa pra valer, mas inatingível, alguém que só convêm aparecer na Terra uma vez por ano com essa estranha capacidade de coisas bonitas, mas, até certo ponto,  inexplicáveis.

Alguém que tem o dom até de alterar o clima da natureza. Os objetos inanimados parecem mais atraentes, diferentes, mais receptivos. O sol ardente já não queima da mesma forma, a chuva já não incomoda tanto, até a melancolia para de rondar como uma sombra para transformar-se numa névoa tão solidária, quanto íntima.

Sua visita, porém, todo ano tem um fim indefectível e, lá pelo dia 29, véspera do réveillon, como faz todo ano, ele levanta sua mala, sacode suas asas e, como um pássaro repelido, vai embora. Os humanos voltarão aos seus mesquinhos afazeres, às suas rotinas de se debaterem nas redes sociais por ideologias de araque, de se xingarem no trânsito, de mandarem para o inferno uma suposta paz que fingiam procurar.

As crianças logo se aperceberão que ele se foi. Os pais voltarão a ficar mal humorados e tensos. Os desejos de paz e felicidade serão  deixados para trás e os adultos se encaminharão para afogar as mágoas e apreensões rumo ao réveillon saudando, como histéricos, uma passagem de tempo que não tem significado algum.  

Mas isso serão outros quinhentos e outros covides. O ESPÍRITO DE NATAL finalmente apareceu, tratemos então de aproveitar e guardá-lo em nossos corações, transbordando sua presença em nossas confraternizações e desejando um Feliz Natal a todos.

Mas, como seguro morreu de velho, será oportuno não olvidar  algo fundamental para nossa segurança. Fiquemos alertas, no réveillon o ESPÍRITO DE NATAL terá partido e não estará mais de sentinela para nos ajudar a enfrentar os Covides. 

José Ewerton Neto é autor de O abc bem humorado de São Luis

O abc bem humorado de São Luis chega à sua terceira edição e já pode ser encontrado nas boas livrarias da cidade.
sem comentário »

MARADONA E GARRINCHA. Mágicos e trágicos

0comentário
artigo publicado no jornal O estado do Maranhão

Personagens chaplinianos, anti-atléticos, desprovidos de beleza física  ou inteligência especial, a quem somente a genialidade seria capaz de sacá-los do lodo da história para convertê-los em mitos, no panteão de guerreiros e ídolos cultuados por uma nação .

Personagens que parecem saídos da ficção mas que, com certeza, vieram  da dura realidade dos desesperançados das favelas e periferias. Personagens que, não fosse pelo futebol, estariam condenados ao esquecimento e ao abandono,  mas a quem Deus, um dia,  parece ter depositado na testa dos mesmos uma estrela dizendo: “Vai estrela, brilha no caminho desses gauches da vida, e os torna  dribladores do destino”.

E deu-lhes a paixão por uma bola de futebol para exercitar justamente isso: o drible. Ao iniciar no Botafogo, Garrincha foi visto de longe pelo  craque Nílton Santos, merecendo dele o comentário irônico: “A coisa ta feia por aqui. Até aleijado aparece para  jogar futebol!” Mas o aleijado tinha paixão, de fato, pelo drible e ao colocar a bola pelo vão das pernas do craque começou a escrever a sua  história .

O outro, argentino, franzino, atarracado, cara de índio,  cujo biotipo parecia mais apropriado a um futuro vigia de puteiro.  A quem tive a sorte de ver quando sua fama despontava, no Maracanã em amistoso contra a seleção brasileira. Então, o índio atarracado não precisava driblar o inferno da droga para chegar ao céu,  tanto que eu pude ver o paraíso em seus pés, sem que ele sequer se esforçasse para isso.

A trajetória de ambos fora dos campos todo mundo sabe. Um se entregou à bebida, o outro às drogas. Após a morte do ídolo argentino, sob o manto da comoção  generalizada esperei que  da parte dos comentaristas houvesse uma menção à Garrincha , o gênio das pernas tortas que nos deu duas Copas . No entanto, veio a alusão  a um Airton Sena, parecido ao argentino apenas no final precoce.  

A comparação nada tem a ver. A engenharia e a precisão das corridas de Fórmula 1 não permitem a magia do futebol para amaciar mecanismos, como a uma bola. Ali o que predomina é a condição tecnológica do equipamento onde  não há espaço para mágicos, mas para os intrépidos. Sequer nas origens se pareciam. Ayrton Sena era filho de gente aquinhoada, se pareceu com Maradona na tragédia que comoveu os dois países, mas foram distintos nas paixões, na irreverência e nos sonhos.  

 “Sua ilusão entra em campo no estádio vazio, e ainda na rede balança seu último gol ”. O som da antiga balada composta em homenagem a Garrincha, interpretada  por Moacir Franco, ressoa insistente em meus ouvidos Talvez porque  devesse ser executada agora também nas rádios argentinas, transformada num tango,  que os meninos da Villa Fiorito, onde nasceu Maradona, cantariam  para homenagear aquele que foi seu maior ídolo.

José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas, novela de ficção sobre lendas maranhenses em segunda edição
sem comentário »
https://www.blogsoestado.com/ewertonneto/wp-admin/
Twitter Facebook RSS