No país do abuso do abuso

0comentário

por aí um país em que puta goza, gigolô tem ciúme, traficante fuma maconha e comunista é de direita. Por mais que muita gente não saiba, ou finja não saber disso para não ter que pensar a respeito, esse país é o nosso Brasil e precisou ser definido dessa forma no século passado pelo sagaz e  irreverente cantor Tim Maia para que pela primeira vez nos déssemos conta do quanto é, frequentemente,  bizarro, afrontoso e absurdo viver neste país em que vivemos.

E olha que em termos de gigantismo do  absurdo o que disse o cantor é muito pouco diante do que se vê até hoje! Tivesse um pouco mais de requinte Tim Maia teria complementado: e em que puta goza,  é artista de cinema e pastora de igreja; em que comunista é de direita , milita no Centrão e tem filho de esquerda;  em que traficante fuma maconha, se elege com cocaína e dá festa com ecstazy; em que gigolô tem ciúme, casa com artista e vira celebridade.

Sem contar que tantos anos  depois que Tim Maia se foi, os absurdos evoluíram  a ponto de o Brasil ser hoje também um país em que bandido tira férias, jogador de time grande morre queimado em centro de treinamento,  mala entupida de dinheiro não tem dono e ateu reza pra Deus, pra Exu, pra Buda e para Maomé. É mole ou quer mais?

Pior é que tem. Quando no século passado um senador da república disse que esta era uma Nação feita por bandidos para bandidos não previu que as gerações seguintes fariam tudo para sacramentar  o que ele disse.  Bote-se, pois, na conta dessa estranha  vocação para o absurdo ( para não se atribuir a coisa pior ) a lei recentemente criada  para proteger bandidos intitulada Lei do Abuso da Autoridade, segundo a qual não se deve punir  o bandido , mas sim aquele que o prende,  enquanto  estabelece que é abuso de autoridade prender o bandido, mas não soltá-lo. Nada mal para um país em que a primeira assembleia constituinte reuniu-se  numa antiga cadeia pública. Faz sentido, ou não?

Pobre Tim Maia!,  não  viveu a ponto de ver sua irônica frase aperfeiçoada com tanto esmero. Não chegou a ver figuras como Renan Calheiros e Gilmar Mendes, estabelecidos como representantes do povo,   e, portanto, devendo ser guardiões da moralidade, saltitando de felicidade com a nova lei, da mesma forma com que  traficantes e meliantes  vibram por viver em um país  que reserva sempre uma absurda cota de leniência para criminosos de todo tipo, principalmente  os corruptos .

A revolta do povo com essa tal lei está dando tanto o que falar que escutei, em uma livraria,  uma conversa de um grupo de idosos na qual um deles   ponderou  que ainda bem que não havia   a tal Lei do Abuso da Autoridade na época de Jesus Cristo. Senão ele teria sido preso por abuso da autoridade ao expulsar a chicotadas os vendilhões do templo, comerciantes corruptos que usavam a Igreja local para enriquecimento fácil.

Impulsivamente,  dei asas à minha imaginação para conceber a cena. Os acólitos dos infratores  afrontando  Jesus Cristo após os criminosos terem sido enxotados.  

-Com que autoridade  fazes essas coisas?

– Sou filho de Deus, não posso ver maculada sua santa casa.

– Tem provas disso?

-Não? Não preciso de provas.

-Considere-se preso então, por abuso de autoridade.  

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis
sem comentário »

A verdadeira história de Wilson Simonal

0comentário

Uma nuvem de mistério pairou  sobre três de nossos grandes cantores da década de 70.   A dúvida sobre Belchior era “Por onde andará Belchior?”; sobre Geraldo Vandré “O que foi feito de Geraldo Vandré?” e sobre Wilson Simonal  “ Como pode ter desaparecido depois de um sucesso tão avassalador?”

Sobre Simonal vamos encontra-lo em começos da década de 70, pleno e esfuziante como show-man e apresentador. Mas não era apenas isso, Simonal era muito bom cantor: Juca Chaves e Jô Soares o consideravam o melhor cantor do Brasil. Para Maria Bethânia era nota 10 e melhor do que Chico Buarque. Idem Vinícius de Moraes.  Para Roberto Carlos era um dos três melhores do Brasil ao lado de João Gilberto. Ah, sim, tem mais: Wilson Simonal era negro, envolvente, e ostentava a riqueza adquirida. Teria isso alguma coisa a ver com seu declínio? Mas o que aconteceu mesmo?

Vamos ao que sei de sua ótima biografia Simonal, de Gustavo Alonso:

 Em pleno apogeu Wilson Simonal montou sua própria empresa visando maximizar seus lucros e sua imagem.   Ao suspeitar de que estava sendo lesado, socorreu-se de amigos que tinha no DOPS ( a polícia da ditadura) para dar uma lição no seu antigo contador. Em tempos de repressão, o episódio ganhou contornos de escândalo nacional, quando a vítima denunciou o ocorrido. Isso bastou para que intelectuais da esquerda passassem a acusá-lo  de informante e traidor.

Wilson Simonal tornou-se a bola da vez. Tudo começou quando o Pasquim o taxou, em primeira página, de dedo-duro e traidor. A partir daí o cantor encarnou para  os jornalistas (que se investiam da carapaça de resistentes ao regime) o protótipo do abominável e execrável. Punir os dedos-duros era uma das intenções declaradas do Pasquim . O cartunista Jaguar desenhou Sig, o mascote do jornal  como uma estátua da liberdade em que lia-se  o mandamento “Não dedurarás”. 

Fecharam-lhe as portas. A Rede Globo  deu para trás . O circuito universitário o isolou. Em poucos dias seu talento e charme que antes magnetizavam plateias foram soterrados Até as minorias o esqueceram. (Estranhamente, até hoje, inclusive, sua bela composição de exaltação à raça negra Tributo a Martin L. KIng). Os colegas  viraram-lhe as costas, esquecidos de que, além de ter ajudado o início da carreira de Chico e Caetano, Simonal foi o primeiro a gravar Toquinho.

Havia se transformado, a partir de uma Fake-news da época,  em um Negro Dedo-Duro. Num gesto desesperado e vão solicitou ao Ministério da Justiça pós-ditadura o desagravo que tanto necessitava. O documento o reabilitou, nunca se provou que tivesse sido informante, mas era tarde demais, a injustiça se perpetrara.

Um único  gesto de solidariedade lhe foi prestado por Geraldo Vandré, que o visitou, ao fim, sendo, talvez,  o único dos seus colegas cantores com legitimidade para isso, por ter enfrentado , de fato a Ditadura. Vandré  nunca foi um aproveitador de ideologias, como disse Millor Fernandes de Chico Buarque de Holanda ao ser perguntado porque a amizade entre ambos acabara  “Não confio naqueles que lucram com a ideologia que defendem”.

Millor. Decepção c Chico

Simonal não era político e nem propagava ideologias. Apenas, ao seu modo, defendia a sua raça. Um grande cantor cujo filme a seu respeito, recém- lançado  e anunciado, merece ser visto por admiradores ou não.

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis    

sem comentário »

Outramento e alguns tormentos

0comentário
Começando com Fernando Pessoa

Descobri a palavra outramento. Estava fazendo uma pesquisa sobre Fernando Pessoa quando me deparei com esse termo, que me soou bizarro mas,  ao mesmo tempo,  instigante. E, mais ainda quando conheci seu verbo correspondente: Outrar-se. Fiquei imaginando como se conjugaria o dito cujo: “Eu outro-me, tu outras-te, ele outra-se…” e por aí vai,  salvando-se quem puder.

Se o termo não deve constituir novidade para os especialistas na obra do poeta lusitano imagino que alguns leitores estejam, assim como eu então, querendo saber do que se trata.  Outrar-se é fazer-se de outro, adotar várias personalidades dando-lhes vida e independência como fez Fernando Pessoa com seus muitos heterônimos.

Por indução, comecei a pensar em algumas outras palavras que, na esteira da invenção do poeta, cairiam muito bem para explicar certas atitudes comuns nos dias que correm.  

1,Patriotamento.

Patriotamento (nada a ver com patriotismo) seria a atitude de alguém  se produzir como patriota, investindo nisso para tirar proveito na competição da alavancagem social .  Aliás, o que é mesmo ser patriota?

Guardo a convicção de que qualquer cidadão honesto, probo e cumpridor de seus deveres faz mais pelos cidadãos e sua Nação  do que um outro que sai por aí beijando a bandeira nacional, cantando hino e torcendo por time de futebol em época de copa do mundo.  Patriotar-se seria a ação correspondente a essa velhacaria.

Se alguém não captou a semântica exata deste neologismo proposto nem precisa recorrer a Samuel Johnson que dizia,  com muita propriedade,  que o “Patriotismo é o último refúgio dos canalhas”. Basta observar ao redor. O que tem de gente patriotando-se neste país dá  para encher vários estádios de futebol.  

2.Corruptamento.

É o termo faltante em nosso dicionário capaz de traduzir a atitude, tão comum hoje em dia, daquele que se adapta à corrupção não pelo talento (corrupto natural), mas por costume ou mimetismo. Ou seja, como se já não bastassem os corruptos nascendo a torto e a direito adicione-se às desgraças deste país o Corruptamento, que viria a ser uma contaminação, um vício, ou até mesmo um aprendizado.

Corruptamento esse  que tem se tornado tão frequente na vida deste país que até mesmo gente boa,  tida como incorruptível,  sucumbe aos seus atrativos ou sua contaminação,  como por exemplo na mudança de atitude em relação ao juiz Sergio Moro. Sobra para essas pessoas, vítimas do corruptamento, abrirem a boca com feroz loquacidade (imitando a fala abjeta e oportunista de Gilmar Mendes) para vociferar contra o juiz Sergio Moro, justamente ele, um caçador de corruptos que botou na cadeia, indistintamente, políticos de todas as ideologias e partidos com o propósito de limpar o país  e que, surpreendentemente, não conseguiu agradar a todos;  mesmo conseguindo a proeza de, caçando corruptos, devolver a todo cidadão brasileiro  uma parte do  dinheiro que lhes foi roubado.

Pessoas assim, que não são corruptas profissionais ou de nascença,  mas abrem a boca para vociferar contra autoridades bem intencionadas, tentando acobertar seus dignos propósitos e  seus feitos que são de todos; a bem dizer corruptaram-se, o que, contudo,  ainda não é o mesmo que corromper-se. Pelo menos por enquanto.

Artigos publicados no jornal O estado do Maranhão, às quintas

José Ewerton Neto é autor da novela policial premiada O ofício de matar suicidas, em terceira edição

                                               [email protected]

sem comentário »

ESTES SÃO ÚNICOS

0comentário
artigo publicado no jornal O estado do Maranhão

De todas as listas especiais talvez nenhuma seja tão única quanto esta, justamente por ser uma lista de…ÚNICOS

1.Elvis Presley  fez apenas um único show fora dos USA. Foi no Canadá em 1957.

Isso deve ter sido lamentável para seus fãs do resto do mundo, que não puderam vê-lo pessoalmente. Em compensação, tendo morrido cedo, se livrou de ter participado do Rock in Rio, onde acabaria sendo chamado de gordo decadente e tendo de cantar com Luan Santana. Já pensou que desgraça?

2.Uma única pessoa acompanhou o caixão de Mozart da Igreja ao cemitério, onde foi enterrado em uma vala comum.

Esse fato concretiza uma verdade absoluta. Não se mede a glória póstuma de uma pessoa pela quantidade de gente que vai aplaudir seu caixão. Essas enormes e barulhentas aglomerações vistas nos enterros de políticos ou autoridades, quase sempre medíocres, serve pouco para a sua memória e, menos ainda, para o próprio defunto.

4.O único escritor da língua portuguesa a ganhar O Prêmio Nobel de Literatura foi José Saramago.

Pois é, nem Fernando Pessoa, nem João Cabral de Melo Neto! Enquanto isso, Chico Buarque de Holanda foi o único cantor a ganhar o prêmio Camões, o Nobel da Língua Portuguesa.  

Quem sabe se Milton Hatoun, ou  Cristóvão Tezza,  pegassem um violão e começassem a cantar teriam também, um dia,  chances de abocanhar o mesmo prêmio.   

5. O famoso escritor Oscar Wilde escreveu apenas contos, exceto um único romance: O Retrato de Dorian Gray.

E que romance! Que ideia genial! Emily Bronte também inglesa, também escreveu um único romance O Morro dos Ventos Uivantes. E que romance! Que ideia genial!

8.O morcego é o único mamífero que voa.

Na realidade, o homem também, mas de avião. E  possui também o dom de viajar mais do que voa, a maioria das vezes no mesmo lugar.

9.O elefante é o único animal que tem 4 joelhos. E o chimpanzé é o único animal que é capaz de se reconhecer no espelho.

 O chimpanzé, portanto,  é capaz de se reconhecer no espelho , ao contrário do homem. Uma prova disso são as fotos das colunas sociais abarrotadas de humanos assemelhados a chimpanzés, sem que estes se reconheçam. E menos ainda os repórteres, que vivem propagando que nesses encontros  só tem gente bonita.  

10. O caracol faz um único acasalamento na vida. Que dura  doze horas.

Os caracóis deveriam ensinar aos seres humanos o que fazer também para terem um acasalamento longo e um casamento curto já que, hoje em dia, o acasalamento dos caracóis está durando mais que os casamentos dos humanos.

11. A única estrela que fica acima da frase Ordem e Progresso na bandeira Nacional é a Spica ( Alfa da Virgem) representando o Estado do Pará.

Só não se sabe é porque o Pará foi Parar por lá. Quem souber informe à Redação.  

12.Deodoro da Fonseca e Hermes da Fonseca foram os únicos presidentes do Brasil que não tiveram filhos.Já o único presidente do Brasil que teve 4 filhos homens e botou um deles para ‘fritar’ general (Carlos), e outro para fritar hambúrguer ( Eduardo), foi Jair Bolsonaro.

E será o único, também, a fazer  de um dos seus fritadores embaixador do Brasil nos USA.

sem comentário »
https://www.blogsoestado.com/ewertonneto/wp-admin/
Twitter Facebook RSS