A incrível sedução do(a) F***

0comentário
F***, Poder e outras seduções

Se você acha que tem pendores para a escrita, quer ganhar muita grana e não tem pudor de escrever um monte de bobagens para iludir tolos, uma opção é candidatar-se a escritor de auto- ajuda e escolher bem as palavras do título de seu primeiro livro. Uma dessas soluções sedutoras tem sido  a de adicionar à letra F alguns asteriscos.

Por causa do F ou por causa dos asteriscos? Alguma dúvida, futuro escritor? Certamente não seria por causa da originalidade explícita em um sinal substituindo letras ou  por causa de um efeito visual irresistível. A essas alturas você já colocou sua sagacidade a seu serviço e já deduziu que não são os asteriscos ou o F a fonte da sedução, mas o que o tal do F   cercado de asteriscos entende ou subentende. Uma pitada de mistério, outra de proibição e…. Para bom entendedor meia palavra basta. Ou meio asterisco.

Pois a realidade atesta que nada menos de  vinte por cento da lista de best-sellers no segmento de auto-ajuda é composta de livros que exibem no título essa nova expressão como chamariz , o que não é pouca coisa. Isso significa grana, muita grana.  Basta contemplar a lista dos mais vendidos para concluir que essa palavra (se é que podemos chamar assim) só é superada pela palavra Poder, esta também useira e vezeira na lista  na base de 30% das amostras. Não deve ser à toa que Poder e “efes  asteriscados”  estão em 50 % dos livros de autoajuda mais vendidos. Há como explicar isso?

Ora, não precisa recorrer a especialistas para deduzir que a atração humana, e especialmente brasileira,  pelo F**** se explica pela dose anunciada de luxúria associada ao todo  inconsciente que segundo Freud tem a ver com sexo. Quanto à palavra poder, sua atração é auto explicável  por ser tudo aquilo que o ser humano almeja e aspira desde que nasce. Na lista das revistas estão os livros O Poder do Hábito, O Poder da Ação e o Poder do Agora. É poder que não acaba mais, o que leva a acreditar que o leitor nem percebe o complemento que acompanha o termo principal. Tanto faz! Se as palavras que compõem os títulos significassem o oposto dessas, a sedução à reboque da palavra Poder seria a mesma. Estivessem os livros intitulados  como o Poder do Raro, O Poder da Reação e o Poder do Futuro ou do passado, as pessoas comprariam da mesma forma.

É por isso que baseado nos dez títulos de autoajuda mais vendidos arrisco a intuir que haveria um título ainda mais irresistível do que aqueles associados a Poder e F*** : aquele capaz de conjugar numa frase todos os outros num só. Ou todas as baboseiras. Algo assim.

“ME POUPE! (3º lugar) .  A SUTIL ARTE DE LIGAR O F*DA-SE  faz com que SEJA F*** O MILAGRE DA MANHÃ .

O PODER DA AÇÃO traz O PODER DO AGORA  e OS SEGREDOS DA MENTE MILIONÁRIA,  DO MIL AO MILHÃO,   integrando-se  aO PODER DO HÁBITO”.

Quer felicidade maior do que essa? O título ficou um pouco longo, mas de uma coisa pode-se ter certeza. Venderia horrores!

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

sem comentário »

A crueldade dos contos de fadas

0comentário
Bonitos, mas cruéis

O ser humano não suporta a realidade, diz uma frase famosa.   Outra a complementa estabelecendo que um ser humano é apenas a soma de suas ilusões.  O homem, em última análise, vive de ilusões, tanto assim já existem  cientistas propondo que o que chamamos de vida não passe de uma ilusão.

Contos de fada? As histórias que nos ensinaram e que , por sua vez, ensinamos as nossas crianças se eternizaram em nosso imaginário justamente porque  extraíram da realidade o melhor que ela pode oferecer que é  justamente a sua versão ilusória. Porque a realidade dos contos de fada é muito mais crua do que qualquer escritor realista a faria. Sim senhores, a coisa era feia, muito feia, contos de fada são cruéis, muito cruéis.

1.O canibalismo. O canibalismo é useiro e vezeiro nas histórias de contos de fada. .Na época em que os contos de fada foram escritos esse hábito estava longe de ser extinto. Ou você acha que quando falta  comida , o ser humano , como animal feroz que é, vai deixar de comer o fígado de seu companheiro se sua vida estiver em jogo? Na Prússia a escassez foi tanta entre 1708 e 1711 que 41% da população morreu. Duas grandes fomes vitimaram franceses entre 1693 e 1710 matando dois milhões de pessoas. O historiador Jay Rubistein conta que nos séculos 12 e 11 havia feiras de carne humana na Inglaterra e na França – e há relatos de pais comendo seus bebês em momentos de extrema pobreza.

Portanto, as bruxas comedoras de criancinhas estão longe de ser uma licença poética de um autor de muita imaginação. Quando na história de João e Maria se diz que a bruxa esperava João E Maria para comê-las  isso não era força de expressão nem maldade de bruxa. Sobrevivência apenas.

Aliás, isso não deve causar tanta surpresa assim. Não faz muito tempo num desastre na cordilheira dos Andes jovens universitários sobreviveram comendo seus próprios companheiros,. Não são raros na história da humanidade os registros de humanos que partiram para o canibalismo para sobreviver.Nossos ancestrais pré-históricos, por exemplo, adoravam carne humana. O hábito de comer pessoas era tão comum que há até marcas genéticas de mecanismos de defesa no nosso DNA, desenvolvidos para proteger contra doenças que surgem quando se come carne humana.

Madrastas muito malvadas. Cinderela teve uma, Branca de Neve também e assim por diante. Mas não há exagero na crueldade delas, se pensarmos bem a atitude de proteção aos de sua prole no contexto de surgimento dessas histórias se confunde com a sobrevivência.  Entre o filho gerado pelo seu ventre e o filho de outra mulher quem você preferiria, ó mãe? Nem se trata aqui de uma escolha de Sofia, entre seus próprios filhos, mas entre seu filho e o da outra  o que facilita e quase  justifica as coisas.

As mulheres tiveram no passado extrema dificuldade para a concepção pelo fato de possuírem um quadril relativamente pequeno em relação à sua cabeça. . É difícil espremer uma cabeça tão grande por um quadrilzinho tão perqueno. Antes das cesáreas e dos procedimento cirúrgicos as taxas de mortalidade das mulheres na hora do parto eram altíssimas. Na Inglatrerra no século 17 a cada mil partos 23 mães morriam. Hoje é 0,2 Parir era tão perigoso que a expectativa de vida de uma mulher grancessa no século era de 26 anos.. No reino Unido séculos16 e 17 a taxa de mortalidade das esposas era de 70 % maior do que a dos maridos umnúmero explicável pelas mortes durante o parto.

Nessas condições na França do século dezessete quase 80 % dos homens se casavam mais de uma vez. Essas segundas esposas favoreciam seus filhos ao invés das enteadas. Em época em que os recursos naturais eram tão escassos, nada mais natural que as  madrastas privilegiassem os próprios filhos, tadinhas.  

Estupro e feminicídio. Branca de Neve e a Bela Adormecida , caso vivessem hoje exigiriam que os belos príncipes que as estupraram fossem presos. Se não elas pelo menos a sociedade politicamente correta. Você, leitora já parou para imaginar se estivesse dormindo e um estranho começasse a beijar sua boca? E depois se fosse obrigada a casar com esse… violador? A história da Bela Adormecida original tem lances de estupro quando esta é violada durante o sono e fica grávida de dois gêmeos que provocam a ira da mulher do príncipe quando ela acorda e os gêmeos nascem. Quando o príncipe sabe fica com raiva da esposa e joga a esposa na fogueira. Ou seja , além de estrupador o príncipe é feminicida.   .       Quer uma vida de contos de fada ou prefere ficar na nossa, caro leitor? Eu preferirira a nossa. Pelo menos podemos ler um conto de fadas na fila do INSS, enquanto ainda não somos queimados vivos.

José Ewerton Neto é autor de O Ofício de matar suicidas

O oficio de matar suicidas tem últimos exemplares na livraria AMEI, São Luis ou pela Internet
sem comentário »

Cenas amorosas de um carnaval

0comentário
amor etc.

Mudaram os carnavais. Hoje em dia, a crônica do que aconteceu de relevante privilegia  menos às competições entre as escolas e cada vez mais os lances amorosos entre as celebridades com milhões de seguidores nas redes sociais . Eles é que são  o assunto.

Em 2019  amor não faltou. Começando exatamente à meia-noite como quase todo amor de Carnaval.

.Cronologia de um Triângulo Amoroso. (Neymar, Bruna e Anitta)

Meia Noite. Bruna Marquezine avisa que está na área. Obs. ( Nada a ver com  área de campo de futebol, apesar de haver  um craque envolvido).

00:05. Bruna chega ao Nosso Camarote (Na realidade, camarote deles, os endinheirados). Bruna chega de cabelos curtos. Desde que começou o Carnaval é a terceira mudança de cabelos de Bruna, mostrando que ela troca mais de penteado do que o ex-namorado troca de tombo (o popular cai-cai).

00:10. No camarote vizinho Neymar , Anitta e David Brasil assistem o mesmo show. David Brazil , pra quem não sabe, é alcoviteiro oficial das celebridades. Da primeira vez em que Bruna voltou para Neymar,  graças à sua interferência, ganhou uma BMW do jogador. Deve estar de olho em outra BMW.

1h. Neymar adentra o Nosso Camarote (deles) causando grande confusão e alvoroço. Ele, Anitta e os parças são levados para uma área especial dentro do camarote, que já é especial. Ou seja, coisa de Sheik das Arábias.

 Logo depois da chegada de Neymar, Bruna sobe ao palco onde Preta Gil está se apresentando.

1h30. Chega a vez de Ludmila subir ao palco. Neymar e parças permanecem do lado direito, Bruna do lado oposto. Curtos circuitos amorosos se espalham pelo ar como se fossem confetes. A nação BRUMAR (Bruna + Neymar) treme. A nação BRASIL, treme também.

1h50.Ludmila chama Neymar para cantar. Ney não sobe ao palco. Pega um microfone na parte de baixo e canta um funk com Ludmilla.

2h10.Ludmila chama Bruna de lado para dançar Favela, música feita em parceria com Anitta. Neymar vira de costas e  Anitta cochicha em seu ouvido. Seria a volta do xingamento de “ Vacilão” com o qual ela já havia presenteado o craque em Salvador?

 obs. Bom lembrar que Vacilão já é aumentativo e não existe outra palavra para expressar graus mais elevados na arte de Vacilar.

(Por algum tempo a cronologia é interrompida e dá margens a especulações. Tudo indica que o terceiro personagem do trio, Anitta, haja começado  a  introduzir seus lábios na boca de Neymar executando aquilo que em períodos fora do Carnaval  se convencionou chamar de beijo). 

2h25.Satisfeito com o que acabou de acontecer  Neymar deixa o Novo Camarote e segue para o Camarote Rio.

3h10.Por sua vez, com o poposão cansado de tanto rebolar em vão Bruna deixa o local. O popozão parece desconsolado.

3h20. Bruna deixa de seguir Anitta nas redes sociais. Teria tomado conhecimento da pegação Anitta/Neymar.

5:20.Neymar deixa a Sapucaí acompanhado de seu séquito (parças) Aparenta estar cagando e andando para a sorte do seu time, o PSG da França e menos ainda para a sua contusão no pé.  Vai se apresentar no dia seguinte em Paris com a novidade de uma conclusão científica recém-descoberta por ele mesmo:

“Carnaval faz muito bem para a saúde dos craques. E Beijo de Anitta é melhor do que chifre de Bruna para dores no metatarso do pé direito.”  

[email protected]

Jose Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

O abc bem humorado em segunda edição revista e ampliada
sem comentário »

O que ficou de um Oscar

0comentário

A cerimônia do Oscar tornou-se um evento global que, embora cafona e previsível, continua a arrebatar plateias no mundo inteiro. A tendência é que continue assim por muito tempo.

Mesmo não tendo assistido aos filmes em disputa, somos capazes de estabelecer nossas preferências  a partir do roteiro resumido, dos atores em ação ou pela memória do que já vimos, através da qual estabelecemos nossa conexão com o filme. Basta então sentar diante da TV para, conscientemente ou não,   estabelecermos torcidas e aspirações.

Destaco do que vi:.

1.Torcia para que Glenn Close fosse premiada com o Oscar de melhor atriz. Sou seu fã desde sua marcante atuação em Atração Fatal quando, de tão intensa, fez com que praticamente nos esquecêssemos de sua rival nesse filme.  A sua interpretação de uma mulher obsessiva, plena de ambiguidades, mas carente, gera inusitado desconforto para com seu destino anunciado de punição, apesar das crueldades perpetradas pelo seu personagem.

Sabedor que, aos 75 anos,  concorria pela quinta vez ao prêmio, torci mais ainda. A vencedora, no entanto, foi Olívia Colman, uma atriz inglesa, pouco badalada, que foi escolhida pelo seu desempenho no filme A Favorita. Sua descontraída emoção ao ser anunciada como vencedora e o discurso espontâneo de reverência à própria Glenn Close, desfez algum mal estar dos fãs de Close, conquistou a todos e foi um dos melhores momentos da premiação. 

2.Lady Gaga, por sua vez,  foi a rainha da noite, nem um pouco estranha no ‘ninho’ do cinema apesar de seu sucesso já estabelecido em arte distinta. Seria essa uma tendência atual, a de os talentos da área musical popular escaparem dos limites de abrangência de sua atividade para se  sobreporem em outros espaços de manifestação artística? Ora, Bob Dylan, não faz tempo,  ganhou um Nobel em Literatura. Agora, Lady Gaga ganhou um Oscar de melhor canção, mas quase abocanhou o de atriz, para o qual também foi apontada.

3. Ainda sob o peso da sugestão acima, surge uma pergunta natural quando nos referimos ao prêmio concedido de melhor ator a  Rami Malek pelo filme Bohemian Rhapsody. Teria ele ganho o prêmio fosse sua crucial interpretação, não a de Fred Mercury, ídolo popular, mas de outro biografado menos conhecido e menos apoteótico? Difícil responder, principalmente para mim que não assisti a nenhum dos selecionados.

Uma coisa é certa. Como fã de rock e da banda Queen aspirava a que esse filme fosse premiado.

Ou seja, o “não vi  mas gostei” também faz parte do Oscar.

José Ewerton Neto é autor de O ABC bem humorado de São Luis

sem comentário »
https://www.blogsoestado.com/ewertonneto/wp-admin/
Twitter Facebook RSS