Os Caminhos das Drogas no Brasil e no Mundo

Ruy Palhano

Psiquiatra

Nesta semana Nacional sobre Drogas, precisamente no dia 26 deste mes, a Organização das Nações Unidas – ONU através do setor especializado em crimes e drogas – UNODC lança o seu Relatório Mundial sobre a situação do tráfico e uso de drogas, fato que já era esperado, pois tradicionalmente nesta ocasião a ONU nos informa sobre esta situação.

Um dado que chamou muito atenção neste documento foi o incremento do mercado de drogas sintéticas, comparativamente ao mercado das drogas tradicionais como cocaína, heroína e maconha que segundo estas informações, estão estabilizados. “A diminuição dos níveis gerais de cultivo e produção de ópio e de coca foi contrabalanceada pelo aumento de produção de drogas sintéticas”, explicou a ONU.

A apreensão anual no mundo de metanfetamina (ICE como é denominada esta droga) duplicou entre 2008 à 2010 e chegou a 45 toneladas, graças às operações realizadas na América Central e Ásia. Na Europa, as apreensões de ecstasy foram de 1,3 tonelada em 2010.  Os consumidores de anfetaminas se situam entre 14 e 52 milhões de pessoas, enquanto o número de usuários de ecstasy fica entre 10 e 28 milhões de pessoas no mundo.

Estas drogas sintéticas, são excitantes, atingem com rapidez surpreendente o cérebro dos usuários, provocam uma hiperatividade acentuada deste órgão e pode por descuido provocar facilmente a morte dos usuários, por “over dose”. São drogas poderosas, fabricadas de forma clandestina, com ingredientes de substâncias conhecidas, e com alta letalidade.

Outra informação importante é que segundo o Relatório, 5% da população adulta mundial, entre 15 a 64 anos de idade perfazendo um total de 230 milhões de pessoas no mundo, consumiu alguma droga pelo menos uma vez em 2010, número parecido com dos relatórios anteriores, o que levou a ONU a afirmar que o consumo “parece ter se estabilizado no mundo todo”.  Os “consumidores problemáticos de drogas”, em sua maioria viciados em cocaína e heroína, são 27 milhões de pessoas, ou 0,6% da população adulta mundial.

“A heroína, a cocaína e outras drogas seguem matando cerca de 200 mil pessoas todos os anos e permanecem destruindo famílias e causando sofrimento a milhares de pessoas, disseminam insegurança e contribuem para a propagação do HIV”, afirmou o diretor-executivo da UNODC, Yuri Fedotov.  Este cidadão diz ainda: existe “um crescente reconhecimento de que o crime organizado e as drogas ilícitas obstaculizam a execução dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio”.  Isto comprova que a interface entre droga e crime constitui-se como uma das piores conseqüências que se pode prever entre os inúmeros problemas provocados pelo consumo e tráfico de drogas.

O cultivo de coca diminuiu 18% entre 2007 e 2010, sobretudo pela redução na Colômbia, enquanto o número estimado de consumidores de cocaína oscilou em 2010 entre 13,3 e 19,7 milhões, ou seja, entre 0,3% e 0,4%  da população adulta mundial. Os principais mercados desta droga estão nos EUA e na Europa.  Excepcionalmente houve no Brasil aumentou no consumo de cocaína provavelmente pela explosão do consumo de crack que segundo a Federal Nacional dos Municípios, mais de 90% dos nossos municípios já fazem uso regular desta substância.

Tradicionalmente, a maconha é a substância ilícita mais consumida no mundo. Com taxas que variam entre 119 e 224 milhões de pessoas provaram a droga em 2011, sendo a Europa seu principal mercado.

Dois outros fatos relevantes apontados no Relatório. Um é sobre o crescente consumo de substâncias obtidas pela internet fato que podem representar um sério risco para a saúde. O outro é que “o uso indevido de tranqüilizante e sedativo pode se transformar em um hábito crônico entre as mulheres”, embora a maioria dos usuários de drogas tradicionalmente sejam os homens, advertiu a ONU.

 

A depressão vai além da dor e do sofrimento

Ruy Palhano

Psiquiatra

Há alguns dias, a grande mídia nacional destacou os rumos que a depressão seguirá nos próximos anos. Os dados foram surpreendentes, pois de acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS, até 2020, a depressão será a principal causa de incapacitação em todo o mundo. Muitas pessoas se tornarão incapazes e improdutivas do ponto de vista laborativo (absenteísmo) e social, fato que acarretará mais prejuízos econômicos para o país e mais ônus para o caixa da previdência.

Há no globo, atualmente, mais de 120 milhões de pessoas que sofrem de depressão e estima-se que, só no Brasil, existam acima de 17 milhões de pessoas afetadas pela doença. Cerca de 850 mil pessoas morrem, por ano, em decorrência da enfermidade, especialmente por suicídio, onde a depressão corresponde ao principal fator de risco. A OMS informa também que nos próximos 20 anos a depressão deve se tornar a doença mais comum do mundo, afetando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde, incluindo câncer e doenças cardíacas.

No aspecto sócio-econômico, a OMS nos informa que a depressão será a doença que mais acarretará custos econômicos e sociais para os governos, devido aos gastos com seu tratamento e por afetar a capacidade produtiva das pessoas. Na Europa, estima-se que a depressão gere um custo de 250 euros por habitante e atinja 21 milhões de europeus, produzindo custos para a economia em torno de 118 bilhões de euros por ano.

Ainda de acordo com o órgão, os países pobres são os que mais sofrerão com o problema, já que são registrados mais casos de depressão nestes lugares do que em países desenvolvidos. E os custos da depressão serão sentidos de maneira mais aguda em países em desenvolvimento, já que eles registram mais casos da doença e têm menos recursos para tratar de transtornos mentais.

Esses dados mostram claramente que, embora a ciência já tenha desvendado o caráter biológico da doença, o ambiente sócio cultural, as condições psicossociais e econômicas exercem um peso enorme na clínica, na epidemiologia e na recuperação destes pacientes.

O fato de vivermos em uma época conflitante, ameaçadora e instável do ponto de vista político, econômico e social, acarreta danos irreparáveis na estabilidade emocional, psicológica e social das pessoas, afetando diretamente os predispostos a desenvolverem a doença. A descrença, as decepções e a desesperança, sentimentos comuns nos dias atuais, provocam profundas rupturas psicossociais, resultando também na geração de comportamentos depressiogênicos (geradores de depressão). Por último, as frequentes e rápidas mudanças em nossas referências sociais, éticas, religiosas e afetivas promovem a ocorrência de depressão.

As perdas também foram objeto de estudo da OMS, que estima que em 2030, a depressão será isoladamente a maior causa de perdas (materiais, sociais e afetivas) entre todos os problemas de saúde, afirmou à BBC o médico Shekhar Saxena, do Departamento de Saúde Mental da OMS.

Além de todas estas conseqüências graves que a doença provoca em diferentes setores de nossa vida e de toda evolução que vem ocorrendo quanto ao conhecimento de sua origem e seu tratamento, a depressão permanece como sendo uma das doenças humanas que mais causa sofrimento intenso e dor nas pessoas, sendo às vezes, insuportável, ao ponto de levar muitos enfermos a se voltarem contra si mesmos.

É preciso, portanto que haja urgência nas mudanças de atitudes em relação a este problema: “A depressão é uma doença como qualquer outra doença física e as pessoas têm o direito de ser aconselhadas e receberem os mesmos cuidados médicos que é dado aos portadores de qualquer outra doença. É uma doença evitável, prevenível e curável”, Infelizmente, ainda existem muitos preconceitos em relação a ela fato que ao mer ver complica mais ainda seu manejo.

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