A depressão vai além da dor e do sofrimento

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Ruy Palhano

Psiquiatra

Há alguns dias, a grande mídia nacional destacou os rumos que a depressão seguirá nos próximos anos. Os dados foram surpreendentes, pois de acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS, até 2020, a depressão será a principal causa de incapacitação em todo o mundo. Muitas pessoas se tornarão incapazes e improdutivas do ponto de vista laborativo (absenteísmo) e social, fato que acarretará mais prejuízos econômicos para o país e mais ônus para o caixa da previdência.

Há no globo, atualmente, mais de 120 milhões de pessoas que sofrem de depressão e estima-se que, só no Brasil, existam acima de 17 milhões de pessoas afetadas pela doença. Cerca de 850 mil pessoas morrem, por ano, em decorrência da enfermidade, especialmente por suicídio, onde a depressão corresponde ao principal fator de risco. A OMS informa também que nos próximos 20 anos a depressão deve se tornar a doença mais comum do mundo, afetando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde, incluindo câncer e doenças cardíacas.

No aspecto sócio-econômico, a OMS nos informa que a depressão será a doença que mais acarretará custos econômicos e sociais para os governos, devido aos gastos com seu tratamento e por afetar a capacidade produtiva das pessoas. Na Europa, estima-se que a depressão gere um custo de 250 euros por habitante e atinja 21 milhões de europeus, produzindo custos para a economia em torno de 118 bilhões de euros por ano.

Ainda de acordo com o órgão, os países pobres são os que mais sofrerão com o problema, já que são registrados mais casos de depressão nestes lugares do que em países desenvolvidos. E os custos da depressão serão sentidos de maneira mais aguda em países em desenvolvimento, já que eles registram mais casos da doença e têm menos recursos para tratar de transtornos mentais.

Esses dados mostram claramente que, embora a ciência já tenha desvendado o caráter biológico da doença, o ambiente sócio cultural, as condições psicossociais e econômicas exercem um peso enorme na clínica, na epidemiologia e na recuperação destes pacientes.

O fato de vivermos em uma época conflitante, ameaçadora e instável do ponto de vista político, econômico e social, acarreta danos irreparáveis na estabilidade emocional, psicológica e social das pessoas, afetando diretamente os predispostos a desenvolverem a doença. A descrença, as decepções e a desesperança, sentimentos comuns nos dias atuais, provocam profundas rupturas psicossociais, resultando também na geração de comportamentos depressiogênicos (geradores de depressão). Por último, as frequentes e rápidas mudanças em nossas referências sociais, éticas, religiosas e afetivas promovem a ocorrência de depressão.

As perdas também foram objeto de estudo da OMS, que estima que em 2030, a depressão será isoladamente a maior causa de perdas (materiais, sociais e afetivas) entre todos os problemas de saúde, afirmou à BBC o médico Shekhar Saxena, do Departamento de Saúde Mental da OMS.

Além de todas estas conseqüências graves que a doença provoca em diferentes setores de nossa vida e de toda evolução que vem ocorrendo quanto ao conhecimento de sua origem e seu tratamento, a depressão permanece como sendo uma das doenças humanas que mais causa sofrimento intenso e dor nas pessoas, sendo às vezes, insuportável, ao ponto de levar muitos enfermos a se voltarem contra si mesmos.

É preciso, portanto que haja urgência nas mudanças de atitudes em relação a este problema: “A depressão é uma doença como qualquer outra doença física e as pessoas têm o direito de ser aconselhadas e receberem os mesmos cuidados médicos que é dado aos portadores de qualquer outra doença. É uma doença evitável, prevenível e curável”, Infelizmente, ainda existem muitos preconceitos em relação a ela fato que ao mer ver complica mais ainda seu manejo.

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