Atenção quanto ao uso de tranquilizantes

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Atenção quanto ao uso de tranquilizantes
A descoberta dos tranquilizantes representa um marco histórico da medicina. Um grupo de medicamentos altamente importantes, usado largamente na prática médica em diferentes especialidades para tratar uma infinidade de doenças ou situações médicas especiais e relevantes. Entre os tranquilizantes, os benzodiazepínicos, (BZ) são um dos mais importantes e um dos mais utilizados na prática médica. Uma das áreas que mais se trabalha com esses medicamentos é a psiquiatria, muito embora não seja os psiquiatras, quem mais as prescrevam.
Sabe-se que todos os medicamentos são potencialmente prejudiciais, quando prescrito ou utilizado de forma correta. Não é à toa, que os ilustres farmacêuticos, nos informam que a diferença entre um veneno e um medicamento, está na dose, pois um pode se converter no outro e vice versa. Esse axioma pode e deve ser aplicado quanto ao uso dos tranquilizantes, pois apesar de serem medicamentos excepcionais, o abuso dos mesmos pode representar uma grande ameaça à saúde, em todos os sentidos, particularmente quanto a saúde mental, pois o uso exagerado dessas drogas pode determinar entre outras coisas, dependência severa nos usuários.
O consumo exagerado desses medicamentos pela população brasileira, sempre foi algo que nos despertou muito interesse, pois somos um grande país consumidor de medicamentos, ao ponto de figurarmos como o quinto maior mercado no mundo na área da indústria farmacêutica. Portanto um mercado pungente, na venda de medicamentos comparativamente aos outros países no mundo. Entre os medicamentos mais vendidos, guardando a devidas proporções, estão os tranquilizantes. E, esse consumo exagerado desses medicamentos é um assunto muito sério e grave do ponto de vista da saúde pública e, que de certa forma, se mantém no anonimato, pois não se trata abertamente desse assunto nem mesmo em congressos e em outros eventos científicos, muito embora, já exista evidências deste fato em nossa população.
Os dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) confirmam isso. Em nosso país os ansiolíticos são os mais vendidos, comparando-se com a venda de antidepressivos e emagrecedores. Em seus relatórios, a ANVISA elencou os medicamentos de receita controlada, mais consumidos em nosso país, desde 2007. É um trabalho digno de nota da Agência, pois quantifica o consumo dessas drogas vendido através de receita controlada que os quais podem causar dependência química, entre seus usuários. Os ansiolíticos dominam a lista, que inclui todos os medicamentos de venda controlada, como emagrecedores, antidepressivos e anabolizantes. Os princípios ativos mais consumidos no país entre 2007 e 2010 foram clonazepam, bromazepan e alprazolam, cujas marcas de referência são, respectivamente, Rivotril, Lexotan e Frontal.
Mais de 10,5 milhões de caixas do Clonazepam foram dispensados em 2010, segundo informaram 41 mil farmácias cadastradas no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados e este número são crescentes desde 2007. A Vigilância Sanitária estima que este sistema de controle deva ter alcançado quase o total das farmácias em 2010, o que deverá permitir comparações a partir de agora. Acredito que o consumo exagerado de ansiolíticos, muitas das vezes sem indicação médica, é certamente uma das causas principais que provocam dependência química destes medicamentos e o que mais atrai seu consumo exagerado, são seus efeitos de modificarem rapidamente estados emocionais psicopatológicos e desagradáveis como medos, fobias, insegurança, tristeza, irritações, desadaptações psíquicas e sociais.
Essas substâncias de fato podem “obrar milagres”, ao se verificar pacientes enfermos graves, com poucas possibilidades de recuperação, se constata que ao usando adequadamente esses fármacos, se recuperam plenamente de seus problemas, após certo tempo de uso. Nesses casos, o que está em jogo é a utilização médica correta, quanto à dose e o tempo de uso destes medicamentos, ocorre que, tem que haver um controle rigoroso, tanto quanto para os que prescrevem, no caso os médicos, quanto para os que consomem, os pacientes, para que não haja problemas em decorrência do uso inadequado da medicação.
Quanto se trata da utilização dos benzodiazepínicos, a atenção deverá se redobrada devido ao risco de provocar dependência. Essa condição ao se instalar, fará com que a pessoa use os medicamentos não mais por sua indicação clínica, mas pela necessidade mórbida de utilizá-lo, pela falta angustiante que ele fará, ao deixar de usá-lo. Nessas condições, se instalou a dependência química, que é uma condição grave e complexa, que todos deveremos lutar para combatê-la. Para a indústria, que produz e vende esses medicamentos, acredito eu, que muito pouco lhe interessa saber por que razão alguém toma seus medicamentos, se por necessidade mórbida (dependência), ou por necessidade clinica (médica), mas nós que fazemos saúde com ética e seriedade, temos que nos preocupar com milhões de pessoas que estão viciados nesses medicamentos e não sabem mais o que fazer para se livrar disso. Portanto, todo cuidado é pouco, quanto ao uso desses fármacos.

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Que país é esse, que encarcera seus doentes mentais?

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Sem atendimento médico adequado, pessoas com transtorno psiquiátrico, dependentes químicos, esquizofrênicos e portadores de outros transtornos mentais vivem presas em celas do sistema prisional do nosso estado e pelo Brasil afora, sem uma atenção adequada do sistema de saúde público. Essa é uma constatação lamentável, inaceitável e cruel.
Há quase um ano, em levantamento feito pelo Jornal O Globo junto às Secretarias de Administração Penitenciária, ao Sistema Judiciário e as Defensorias Públicas desse país constatou-se que havia pelo menos 800 pessoas absolvidas pela Justiça em razão de transtornos psiquiátricos, cumprindo penas em presídios comuns e, em muitos casos, dividindo celas com outros detentos.
O que se sabe é que as recomendações feitas pelo Conselho Nacional de Justiça, a partir desse trabalho, no sentido de dirimir tais contradições e idiossincrasias, não foram ainda plenamente efetivadas, o que gera sentimentos de indignação e revolta, considerando-se que se trata de um fato grave e desumano, para o qual deveriam ser apresentadas saídas dignas.
Cela nunca foi, não é e nunca será o ambiente onde esses enfermos deveriam estar. Nada, atualmente, poderia explicar o recolhimento de enfermos psiquiátricos em celas ou em presídios, considerando os avanços da psiquiatria e das técnicas psicossociais e reabilitadoras em saúde mental, que são praticadas no Brasil e em qualquer outro país o mundo. E, mais ainda, estarem inadequadamente em celas e completamente desassistidos em suas necessidades médicas e psicossociais. Boa parte desses enfermos cumprem Medidas de Segurança, um recurso ou prerrogativa jurídica, imposta por um magistrado ao verificar que um determinado crime fora cometido na vigência de um transtorno mental e, para esses casos, tais pessoas deveriam ser tratadas e não encarceradas e presas, conforme o sentido mais profundo desse termo.
A par dessas contradições, existem algumas particularidades sobre as doenças mentais, que se deve realçar quando se trata um assunto tão importante e delicado como esse. A própria doença mental, independente dos aspectos circunstanciais que se venha examinar, já é por si só, uma forma grosseira de encarceramento do sujeito em si mesmo. É uma doença que, por comprometer formalmente as faculdades mentais, aliena, impede que o paciente exerça plenamente seu direito sagrado de ser livre. Essas doenças, por serem prisões em si mesmas, tornam as pessoas incapazes de optar, de decidir, de gerir sua própria vida e seu destino e, quando o fazem, são inspiradas em condições psicopatológicas. São doenças que tornam os enfermos escravos de suas próprias enfermidades, impedindo que os mesmos tenha sobre sua condição qualquer crítica de seu estado mórbido. Haveria coisa pior que isso quando nós nos colocamos em uma situação como essa?
Essa é a condição natural dessas enfermidades. Mas, não é só isso, o pior, embora o fato apontado acima, por si só, já seja complicado e inaceitável, é vermos que, quem deveria assumir a total responsabilidade sobre esses enfermos, sobretudo aos que cumprem medidas de segurança, é o estado, que constitucionalmente deveria cuidar da saúde da população. Mas, se mantém incólume e indiferente a essa desumana situação. O estado, como responsável pelos cidadãos e mantenedor de uma política pública de saúde deveria garantir propor, cuidar e oferecer a todas essas pessoas, pleno direito aos tratamentos da melhor qualidade possível, por tempo indeterminado, ou o necessário para se recuperem e voltarem a conviver com os outros, em condições satisfatórias. É dever do estado, fazer isso. Propondo o que há de melhor em matéria de tratamentos tecnicamente adequados, seja de que tipo for: hospitalar, ambulatorial, nos Caps, nas fazendas terapêuticas etc., como preconiza a lei e com isso garantir a recuperação desses enfermos, libertando-os das amarras de suas doenças.
Mas, triste e vergonhosamente não é isso que se vê. O que vemos é um estado truculento, desumano, incapaz de olhar diferentemente para esses doentes. Permitindo que vivam nessas masmorras, muitos dos quais sem qualquer possibilidade de sair das celas e ganhar o mundo. Muitos sem ter acesso a um medicamento, muito menos a um médico que lhe dê atenção e cuidado. Muitos sem qualquer chance de se libertarem de suas amarras existenciais, reclusos em ambiente inóspito, sem quaisquer condições que possam ser tratados com decência e dignidade. Que pena, que dó é ver isso.
E, eu pergunto. Onde estão as autoridades que têm suas responsabilidades sobre esses enfermos, que sabem do problema, e pouco fazem para mudar essa realidade? Que estado é esse que prende, encarcera, e mantém em cárcere doentes mentais, sem cuidados e sem tratamento especializado? Que estado é esse que proíbe a criação de hospitais ou outros serviços especializados que pudessem acolher, orientar, tratar e recuperar de forma decente e humana a maioria desses enfermos, permitindo-lhes acesso a ambientes dignos, humanos e tecnicamente aparelhados para realizar os modernos tratamentos psiquiátricos que poderiam debelar tais doenças? Essas autoridades não sabem disso ou fazem de conta que o problema não existe? Onde estão os parlamentares de direita, de esquerda, de centro, ou seja de onde for, que se calam, não denunciam, e não fazem nada para mudar isso? Ou são coniventes com os tentáculos de um estado mau e negligente?
Há alguns dias, aqui em São Luís, houve manifestações públicas de diferentes setores da comunidade, em homenagem a chamada luta antimanicomial, movimento que reinventou o que está aí em matéria de assistência psiquiátrica, mas não vi um cartaz sequer, tratando dessas questões de doentes enjaulados nas celas de presídios e penitenciárias dessa cidade. O que houve, também não veem nada disso? O que é isso que colocaram dentro do Hospital Nina Rodrigues? Uma cela, um presídio, um manicômio, um Caps, enfim, o que é aquilo que criaram nesse hospital?
Eis as distorções de um sistema cruel, desumano e corrompido, que à luz da saúde, do direito e da vida social, permite que essas coisas aconteçam em nossas barbas, nos dando a clara impressão de indiferentismo, descuido e negligência no trato dessas questões. Tornando esses pacientes presos em suas próprias condições psicopatológicas e, pior, presos nas malhas de um estado insensível, indiferente aos direitos e aos princípios de humanidade e ética, quanto aos cuidados que deveriam oferecer aos doentes mentais.

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Psiquiatria sem Fronteiras – Preconceitos em Psiquiatria

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Trata-se de um vídeo que aborda uma temática importante em Psiquiatria e Saúde mental, qual seja , os PRECONCEITOS que existem em torno dos pacientes, dos tratamentos, das famílias e sobre os médicos que ratam desses enfermos. Colabore, vamos enfrentar juntos esses preconceitos e abrir os braços e o coração para esses enfermos.

 

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Psiquiatria sem Fronteiras

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Havia dito anteriormente, a alguns amigos, que esse mês de maio iniciaria a publicação de um Programa denominado de Psiquiatria sem Fronteiras com o objetivo de tratar de temáticas ligadas á área da saúde mental, neurociência, psiquiatria e muitas outras, no âmbito do interesse médico e psicossocial, destinado aos profissionais, estudantes e muitas outras pessoas que tenham afinidade por essa temática. Gostaria de solicitar aos prezado amigo, que divulgasse esses vídeos entre seus pares, recomendando, sugerindo temas, criticando, comentando sobre os mesmos. Obrigado a todos, espero que gostem, forte abraço.
Eis o primeiro vídeo:

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A propaganda de bebida alcoólica, as tragédias e a reação socia

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A propaganda de bebida alcoólica, as tragédias e a reação social           Há uns 10 dias, nossa cidade fora mais uma vez foi abalada por uma tragédia, ao ser anunciada a morte de Laura Burnett Marão, uma criança de apenas 8 anos de idade, que nem começou a viver que, na companhia de seu pais, fora vítima de mais um grave abalroamento entre o veículo que a conduzia e outro dirigido por uma pessoa em estado de embriaguez alcoólica.

Junto a Laura, se vão milhares de outras vítimas nessas mesmas condições diariamente nesse país. Vão-se sonhos, esperança, e ficam a imensa dor e a tristeza insuperável de se perder um filho, uma filha ou um ente querido nessas condições inaceitáveis. Pais, filhos, mães, e muitas outras pessoas em estado deploráveis por verem seus entes queridos sumirem, como um sopro de mágica, desaparecerem na vida. Como Laura, são milhares de pessoas, que já não estão mais conosco, porque, alguém embriagado, irresponsavelmente sem qualquer condição de dirigir um veículo, lança o contra outrem, que esperava viver mais. Estima-se que no Brasil 45 mil pessoas, morram anualmente nessas condições.

Em consequência dessas tragédias, ontem a litorânea foi sede de mais manifestações sociais, de apoio e de solidariedade à família de Laura e de milhares de outras vítimas desses acontecimentos. A Avenida, repleta de pessoas que foram solidarizar-se com a família dessa criança e com todas as outras famílias vítimas dessas tragédias e que no fundo alimentam uma grande esperança de não se vê mais isso em nosso cotidiano. Esperança de termos medidas mais ostensivas e que sejam aplicadas ás pessoas que irresponsavelmente tiram a vida dos outros protegidos por um manto da impunibilidade e do esquecimento.

Pessoalmente acho que temos que continuar avançando no rumo de medidas mais ostensivas, mais preventivas e mais educativas que nos auxiliem a lidar melhor com tais problemas, muito embora se reconheça que se avançou nessa área nos últimos 5 anos. Temos hoje leis mais pontuais, mais duras definindo medidas mais efetivas, que estão sendo aplicadas em nosso território nacional para controlar todos esses abusos e transgressões á vida e as regras sociais.

Algumas dessas medidas funcionam outras não, pela fiscalização deficiente na aplicabilidade dessas medidas, ou ainda pelo exagerado abrandamento das penalidades sobre os que transgridem, de forma grave, as regras e as leis que existem nesse contexto. Porém, há uma situação que me parece intocável, á vista do que é feito no sentido de controlar o uso de álcool em diferentes contextos, qual seja, a permanência da vigorosa propaganda de bebidas alcoólicas em nossos meios de comunicação. Quanto a isso, nos dá a impressão que estamos diante de algo sagrado, intocável, pois ninguém ousa mexer um dedo sequer, nas diferentes áreas do poder, para se alterar essa questão.

Todos sabem do grande impacto que estas propagandas exercem quanto ao consumo de álcool pela população e os danos que esse consumo ocasiona á saúde pública, ao bem estar social, á segurança da população, aos custos previdenciário, á economia e ao setor trabalhista deste país. Há incongruências estabelecidas na acintosa permissividade de se fazer propaganda de bebidas alcoólica, ante os índices alarmantes e assustadores das mazelas de todos os tipos ocasionados pelo consumo de álcool. E, a questão é mais relevante ao se verificar que essa propaganda é feita em um país como nosso, que tem uma população predominantemente jovem, o seguimento mais influenciado diretamente por essas propagandas.

Só para os senhores terem uma ideia, há altos índices de suicídio entre jovens usuários e dependentes de álcool; 13% dos que bebem são dependentes; 45% dos leitos hospitalares brasileiros são ocupados por alguém com problema relacionado ao consumo de álcool; que 75% dos acidentes automobilísticos com resultados fatais envolvem motorista que dirigia embriagado; mais da metade dos leitos dos hospitais psiquiátricos têm alguém com doenças alcoólicas; e, 90% dos homicídios ocorrem após ingestão de álcool. Volto a dizer são 45 mil pessoa que morre anualmente ocasionado por um motorista dirigindo embriagado.

São índices assustadores que deveriam ser levados em conta quando se analisa a propaganda de bebida alcoólica, cuja capacidade de influenciar condutas no sentido de induzir o consumo é inegável, sobretudo entre os jovens. Esses, com idade entre 14 e 17 anos responde por 6% de todo o consumo anual de álcool do país. O número é preocupante, já que a lei proíbe o consumo de bebidas alcoólicas entre menores de 18 anos. Jovens de 18 a 29 anos são responsáveis por 40% do consumo de álcool e, segundo o IBGE, esse grupo representa 22% (1/5) da população brasileira.

Outro número estarrecedor, 7% da população jovem brasileira com até 17 anos, já são dependentes de álcool, isto é, são alcoólatras.  Se pensarmos que apenas pouco mais de 60% da população bebe 40% de todo o consumo anual de álcool e, mais ainda, que são jovens, fica evidente o risco representado pela publicidade que cada vez mais se volta para esse público.

Evidentemente, forças econômicas poderosíssimas estão por trás das decisões políticas de não se tratar nem de proibir essas propagandas. Sei que a indústria gasta, anualmente, 30 bilhões de dólares com publicidade e que emprega 30 mil pessoas de forma direta nesse negócio. Um negócio gigantesco. Só que os custos médicos, sociais, econômicos e outros já apontados acima, deveriam funcionar pelo menos como um incentivador para o debate público sobre essa questão, se não, pelo menos, incentivar um debate ético sobre propaganda dessa droga nesse país.

Quero finalmente me solidarizar com Laura e com sua família com a de todos os milhares de outras famílias que nesse país estão passando por essa dor insuportável, por perder um filho, uma filha ou um ente querido, nessas condições. E, é com muito pesar e tristeza que digo, vamos nos mobilizar cada vez mais para pressionarmos essas autoridades constituídas a combaterem de forma mais ostensiva o consumo de álcool em nossas cidades e com isso, evitar tragédia como a que houve com Laura e com sua família, que nos atingiu a todos.

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A base biológica do amor e das paixões

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Uma das prerrogativas humanas mais importantes é a possibilidade de amarmos e nos apaixonarmos, e todos nós, em qualquer época da vida, fomos, estamos indo ou iremos atrás dessa experiência. É uma condição desejada por todos nós, o que garante a felicidade, o bem estar e o prazer na vida. Uma pergunta, porém, surge sempre que este tema entra em debate: qual a sede biológica da experiência amorosa e das paixões? Onde ela ocorre, como ocorre e por que ocorre? Quais os mecanismos neurofuncionais das paixões e do amor? Por que e como se dão as paixões?

Quem responde parte dessas interrogações, há muitos anos formuladas, é a neurociência, que aponta o cérebro como local ou sede material onde ocorrem essas experiências, que tanto nos confortam.

Sabe-se que o cérebro é um órgão ultracomplexo, formado por cerca de um trilhão de células nervosas e que, só de neurônios, há 100 bilhões. Todas essas células têm papeis específicos e definidos na hierarquia das funções cerebrais e comportamentais. Toda a atividade humana, direta ou indiretamente, tem a ver com esse sistema, nada escapa da atividade desse órgão.

Uma de suas partes, o diencéfalo, que é parte de uma das regiões mais antigas do paleocortex (cérebro primitivo), intervém através do hipotálamo no desejo sexual, recolhe informações do mundo externo e dos hormônios, controla e fornece respostas da excitação sexual, da ejaculação, das sensações emocionais e do prazer.

Outra região do cérebro, o sistema límbico, formado por micro regiões cerebrais, discrimina e seleciona os estímulos, reconhece os sinais de saciedade na relação sexual e inibe o apetite sexual, além de exercer uma centena de outras funções no controle emocional em diferentes atividades humanas.

Razão, fantasia, emoção e aprendizagem se misturam em nosso cérebro dando respostas curiosas no dia a dia das experiências sexuais e afetivas dos seres humanos, e em outras espécies, ao mesmo tempo em que procura regular e adequar tais respostas de tal forma que a expressão final no comportamento seja a de desfrutar de forma sadia de todas essas funções.

Os cientistas descobriram uma substância vital nestas atividades prazerosas e afetivas, a Feniletilamina, uma proteína neurotransmissora descoberta há cerca de 100 anos, que só recentemente passaram a associá-la às manifestações da paixão. É uma molécula natural semelhante à anfetamina e suspeita-se que sua produção no cérebro possa ser desencadeada por eventos tão simples como uma troca de olhares ou simplesmente um aperto de mãos.

Os pesquisadores perceberam que havia uma grande quantidade de Feniletilamina no cérebro de uma pessoa apaixonada e que essa substância poderia responder, em grande parte, pelas sensações e modificações fisiológicas que experimentamos quando estamos apaixonados ou estamos amando.

Outras substâncias envolvidas com a fisiologia cerebral, como a dopamina e a ocitocina, estão também muito relacionadas com a experiência afetiva de amar ou se apaixonar.

Essas substâncias químicas são todas relativamente comuns no corpo humano, mas são encontradas apenas durante as fases iniciais do flerte e do namoro. Ainda assim, com o tempo, o organismo vai se tornando resistente aos seus efeitos e toda a “loucura” da paixão desvanece gradualmente com o passar do tempo de tal forma que a fase de atração não dura para sempre. Amar e se apaixonar, portanto são experiências vitais e indispensáveis as nossas saúde mental, daí porque o melhor que podemos fazer a nós mesmos é amarmos cada vez mais uns aos outros.

Nas experiências amorosas, há uma verdadeira revolução fisiológica e comportamental nas pessoas. Toda nossa fisiologia se modifica e, isso se dá em condição natural e de normalidade. Em quem ama e se apaixonam, todos os sentidos funcionam melhor. Melhora-se a autoestima, há maior elã vital, disposição sexual, amor próprio, autoconfiança e as pessoas sentem-se mais seguras entre os outros e diante de si mesmas. Todas essas condições se alteram favoravelmente e a vida do sujeito se modifica inteiramente, para melhor.

Ocorre que esse estado de bem-aventurança não se estende por muito tempo. Alguns estudos demonstram que o amor dura mais que as paixões, do ponto de vista de sua temporalidade. Isto é, a pessoa permanece amando por bem mais tempo que  apaixonada.

Na experiência amorosa e apaixonante, há uma espécie de gradação na qualidade e na intensidade dessas vivências, especialmente quanto à expectativa da adaptação geral do sujeito, quanto a si, quanto aos outros e quanto ao seu ambiente. Essas dimensões, pessoal, relacional e ambiental, devem estar em consonância e em harmonia com o sentimento predominante, se amor ou se paixão, e devem estar em sincronia entre si.

Quando há um rompimento no equilíbrio dessas forças, pode se resvalar para relações psicopatológicas graves entre os envolvidos na relação. Por isso, muitas vezes, ocorrem crimes passionais, tal o grau de desconforto que surge nessas condições psicopatológicas. São as paixões descontroladas (amor patológico), o ciúme doentio, os crimes passionais, etc.

Portanto, devemos estar atentos sobre tais experiências comandadas pelo nosso cérebro, especialmente em situações especiais como essas.

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Prevenção de Recaídas no Tratamento das Doenças Mentais II

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Define-se prevenção de recaída, como estratégia de natureza médica e psicossocial aplicada por diferentes técnicas e métodos com o intuito de evitar o reaparecimento de diferentes doenças, posterirormente a um tratamento. Recair, é retomar, retornar, vir a acontecer, reaparecer etc. Em medicina, muitas doenças são insinuantes e sempre tendem a reaparecer, de tempos em tempos, independente do tratamento que receberam.

Em artigos anteriores tomamos a depressão como exemplo de uma das doenças mentais que mais tendem a recair, mesmo que tenho sido bem feito o tratamento da crise. Dissemos, também que quanto maior o número de crises depressivas que alguém venha a ter, maiores serão as chances dessas pessoas, voltarem a adoecer. Daí porque, no tratamento das depressões, exige-se que o médico estabeleça desde cedo as orientações devidas para prevenir outras crises que poderão surgir ao longo da vida desses enfermos.

Os fármacos, são medicamentos altamente eficazes, tanto para o tratamento de crises agudas, quanto de prevenirem recaídas entre essas patologias. Os estabilizadores do humor, os antipsicóticos e ansiolíticos são medicamentos altamente efetivos que são aplicados com finalidade preventiva. Todavia, é bom que se diga, que prevenção de recaída, não ocorre somente através da utilização de medicamentos, embora esses sejam os mais utilizados. Pode se também utilizar meios físicos, como Eletroconvulsoterapia – ECT e Estimulação Magnética Transcraniana – EMT, para se chegar a essa finalidade. Técnicas de psicoterapia, terapia comportamental e ocupacional são outros procedimentos e estratégias muito efetivas, largamente utilizadas em terapêuticas para se prevenir a recorrência de uma doença. A preferência ou escolha de uma dessas estratégias, ou várias dessas estratégias, dependerá do diagnóstico e da situação clínica do enfermo.

Graças aos novos conhecimentos da clínica psiquiátrica, da neurociência e dos conhecimentos baseados em evidências clínicas, que não se pode pensar em tratar somente das crises agudas desses enfermos. Deve-se, desde o início, pensar em prevenir recaídas. A equação é mais ou menos essa, em se tratando de depressão: quem teve uma crise na vida, terá cerva de 30% de chance de ter a segunda. Se, essa mesma pessoa relatar que já sofrera de duas crises depressivas, sua chance de ter a terceira será de 50 a 60%. Se, por acaso, já tiver tido três crises ou mais de depressão, sua chance de ter outras será de mais de 75% de chance. Mais de três crises na vida terá 100% de chance de ter outras. Esse conhecimento da evolução dessa doença serve de base para se garantir a necessidade de se fazer prevenção e não permitir que esse enfermos voltem a adoecer.

Nos guide lines, (orientações para se realizar os tratamentos) psiquiátricos, todos recomendam a adoção de prevenção de recaídas, independente do tratamento que seja oferecido a esses enfermos em suas crises atuais, justamente pela certeza da recorrência dessas enfermidades.

Pode e dever ser instituída praticamente em todas as grandes doenças mentais, entre essas: esquizofrenias, dependência química, transtorno bipolares, depressões etc. Ela está sendo utilizada em muitas outras especialidades médias. Todas as doenças humanas que evoluem cronicamente, independentes de sua natureza, atualmente se recomenda essa estratégia. Entre essas, destacamos doenças metabólicas, doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e muitas outras. De tal forma que é cada vez mais imperioso prevenir que remediar.

Só á guisa de informações, a Organização Mundial de Saúde – OMS em seu relatório anual sobre doenças mentais/2014 mostrou que 45 % dos doentes depressivos recaem por desuso ou uso incorreto de medicamentos, (interrupção indevida do uso de medicamentos, subdoses terapêuticas, reduzido tempo de tratamento, doses irregulares, etc).

Outro aspecto relevante são os custos financeiros com os tratamentos de crises. As famílias sabem que pesa muito no bolso custear o tratamento desses doentes. Pois, o tempo previsto de tratamento, os custos com internação hospitalar, com os medicamentos ou outros procedimentos utilizados para esses tratamentos, acabam onerando muito as famílias, provocando mais sofrimento para todos.

Dissemos acima que a resposta aos medicamentos é muito influenciada pela condição evolutiva dessas doenças. Quanto menor número de crises, melhor será a evolução, melhor será sua recuperação e melhor será sua qualidade de vida. Como são enfermidades que evoluem cronicamente, as recaídas sucessivas, dificultam a recuperação desses enfermos pela baixa resposta aos medicamentos de tal forma que o melhor que pode fazer é prevenir.

 

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