As meninas estão bebendo muito mais

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             Sabe-se, modernamente, que as mulheres estão bebendo bem mais e em proporções bem parecidas com a dos homens. A forma como as mulheres estão bebendo se assemelha, também, à forma dos homens beberem. Atualmente, ambos, estão adotando, uma forma de beber que os ingleses chamam de binge drinking, também conhecido, tecnicamente, por “Beber Pesado Episódico – BPE”, que significa consumir 5 ou mais doses de bebida alcoólica, no caso dos homens e 4 ou mais, no caso das mulheres, em uma única ocasião, em um intervalo de 2 duas horas. Esse BPE está relacionado a graves acidentes de todos os tipos e é mais uma forma de expor esses usuários a muitos danos relativos à sua saúde.

          Um estudo global publicado neste mês pela BMJ Open, citado pelo Prof. Dr. Arthur Guerra de Andrade Presidente do International Council on Alcohol and Addictions (ICAA) e Professor Associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, analisou os hábitos de consumo de álcool de 4 milhões de pessoas durante um período de mais de um século, a partir da compilação de dados de 68 pesquisas internacionais publicadas entre 1891 e 2014, e mostrou que a diferença entre homens e mulheres com relação ao consumo de álcool, tem diminuído cada vez mais.

          A BMJ Open, concluiu que os homens nascidos entre 1891 e 1910 apresentaram risco 3 vezes maior de beber de forma nociva e sofrer consequências negativas relacionadas ao álcool do que as mulheres nascidas na mesma época. Diz ainda o psiquiatra, “essa relação de risco diminuiu para 1,2 vez entre aqueles nascidos de 1991 a 2000, ou seja, praticamente não houve diferença entre os gêneros”.

          Observa-se, que essa mudança de padrões de consumo tem ocorrido também entre as adolescentes. Segundo relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2015), entre estudantes com idade de 13 a 17 anos, mais de 20% das meninas e 28% dos meninos relataram já ter sofrido um episódio de embriaguez na vida.

          No Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2015 (IBGE, 2016), realizada com 10.926 estudantes nessa mesma faixa etária, também aponta índices semelhantes de episódio desse tipo: 26,9% entre as meninas e 27,5% entre os meninos. Informa, ainda o estudo, que pelo menos 1 em cada 4 estudantes já se expuseram a riscos importantes referindo-se à caso de embriaguez.

           Artur Guerra, cita ainda resultado de outra pesquisa analisada pelo PeNSE, realizada entre alunos do 9º ano do ensino fundamental (entre 13 e 15 anos). Tanto a experimentação quanto o consumo atual de bebidas alcoólicas (nos 30 dias que antecederam a pesquisa) foram maiores entre as meninas: 56,1% versus 54,8% (experimentação) e 25,1% versus 22,5% (consumo atual).

            Uma das conclusões desse estudo, nos permite inferir que as meninas adolescentes querem ser aceitas socialmente e o álcool faz parte desse cenário, pois ajuda a desinibi-las. O consumo do álcool nessa população também está associado às aspirações dessas adolescentes de se tornarem mais independentes, o mesmo que houve quando as mulheres modernas se emancipadas e passaram a ocupar funções de destaque na sociedade contemporânea.

             Um fato notório, importante, é que as mulheres reagem, biologicamente, de forma diferente ao homem, ante a molécula do álcool. Elas são mais sensíveis aos efeitos dessa molécula, por vários motivos. O fato é que elas expostas a um consumo exagerado ou excessivo de álcool as tornam mais vulneráveis para o desenvolvimento de dependências, em se tornando dependentes de álcool, responderem bem menos aos tratamentos para essa situação.

              Outro fato importante, é que o cérebro do adolescente é altamente maleável, é capaz de produzir bilhões de células nervosas (neurônios) nessa faixa de idade e, por sua vez, esses volumes enormes de células nervosas se articulam com outras dezenas de milhares de outras (sinapses), para assegurarem funções realizadas pelo cérebro. Ocorre, que o álcool, por ser uma substância, psicoativa, (age no cérebro), não só impede o nascimento de outros neurônios (neurogênese) quando impede e reorganização da fabulosa rede e interconexões (sinapses), que neurofisiologicamente, iriam ocorrer nesse sistema, prejudicando, sobremaneira, o desenvolvimento e execução de todas as funções regidas por esse órgão. Imaginem, portanto, os graves problemas por que passam essas meninas ao começarem a beber precocemente. 

            Diante dessa situação altamente perigosa, que põe em risco a saúde mental e a segurança desses jovens, é preciso que haja maior disciplina, por parte das famílias, quanto ao maior controle dessas práticas. Uma medida importante, nesse sentido é conversar mais com os filhos, como reforça, Artur Guerra de Andrade, que essa é uma medida recomendável e sempre aconselhável, muito embora seja o que menos se faz na atualidade. Tenho dito sempre, que as famílias já não conversam com seus filhos e filhas. Deixam que esses cresçam e se eduquem por segunda intensão, uma forma de educação negligente e baseada nos eventos naturais da vida, o que nunca deu certo.

             Os adolescentes, quanto menos idades tiverem, mais precisam de pais presentes, atuantes, que conversem com eles, que os abracem, que os ouçam e que os amem. Precisam de pais que exerçam suas autoridades, de forma autentica e fiel e que sejam líderes, em suas casas e de em seu ambiente social. Basta de pais frouxos, medrosos inseguros, submissos aos filhos e que não sabem bem que rumo tomar na educação dos mesmos. Esse tipo de família é um veneno, pois farão muito mal a seus filhos agindo assim. Irão confundir tudo, a formação, a vida e a educação dessas crianças.

           Outras medidas como trabalhar a autoestima dos filhos, desenvolver o senso de responsabilidade social, destacar suas qualidades e estimulá-los à prática de atividades esportivas e de competição sadias e prazerosas, como as no esporte, são práticas que previnem o uso de álcool e outras drogas nessas etapas da vida. Criar condições para que seus filhos se sintam cidadãos, dá bons exemplos, estar sempre ao lado dos mesmos é fundamental. Provocar bons diálogos, fundamentalmente sinceros, favorecerá ao bom relacionamento.

           Essas medidas em bloco auxiliarão o crescimento emocional, afetivo e social dessas crianças e adolescentes, como também construirão barreiras solidas e consistentes de segurança para que esses filhos saiam do “tsunami circunstancial que é começarem a beber com idades muito pequenas”.

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Doenças mentais e o uso de maconha

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A cada dia reacendem os debates sobre o uso de maconha, no Brasil e no mundo. Motivos para isso é o que não faltam. Os debates são tão acirrados que podemos dizer que se vive em uma grande encruzilhada, entre os que são favoráveis ao uso e comercialização da maconha e os que são contrários à tudo isso. A legalização recente de algumas substâncias da maconha, para finalidades terapêuticas, passou a ser um marco histórico nesse debate. A disponibilidade dessas substâncias, tais como o canabidiol e o Delta-9 tetra hidrocanabinol (Delta- 9 – THC), legitimam esse feito. Para aquecer mais ainda essa situação outras atividades industriais que tem como matéria prima a maconha, entram em cena, fazendo imensa pressão nos estados e países, para promoverem a exploração comercial dessa planta.

Entre essas atividades industriais, destacamos a farmacêutica, a dos alimentos, a de roupas e cordoarias, a de beleza e cosméticos, a de combustíveis e por último a indústria tabaqueira. Todas essas industrias, estão ávidas, saltitantes e muito interessadas na famigerada liberação da maconha para poderem legalmente explorarem-na em suas atividades comerciais. A maconha passou a ser vista com o os “ovos de ouro” dessas indústrias.

Por outro lado, há outros interesses, provavelmente das mesmas indústrias, as quais vêm fazendo enorme pressão para que muitos países promovam a legalização de seu uso para finalidades recreativas, a pretexto, sobretudo, de possibilitar e assegurar o acesso livre dos usuários a erva, sob o suposto controle do estado.  Ambas as situações tanto a utilização para fins medicinais e industriais, quando para fins recreativos, definem as duas formas distintas de se utilizarem a maconha, por distintos interesses econômicos, empresariais e sociais.

Uma terceira via, dessa discussão, muito importante, são os estudos de pesquisa clínica e neurocientíficas, que vem sendo realizado em muitas universidades nacionais e internacionais de notoriedade científica sobre o uso da maconha e o impacto desse uso sobre nossa saúde mental, especialmente, entre adolescentes. Grande parte desses estudos apontam para o fato do uso de maconha determinar problemas psiquiátricos, especialmente se o uso ocorre entre a população de jovens.  

 Um estudo recente, conduzido por pesquisadores da McGill University, no Canadá, publicado pelo JAMA Psychiatry, uma das maiores revistas de psiquiatria do mundo, demonstrou o impacto do uso à longo prazo do uso de maconha. O estudo foi realizado com 23 mil adolescentes. Os resultados foram surpreendentes e reveladores: adolescentes usuários de maconha (em comparação com adolescentes não usuários) tiveram risco de 37% maior de chances de desenvolverem depressão na idade adulta, um risco de 50% de chance de apresentarem maior ideação suicida na idade adulta e um rico risco de tentativa de suicídio triplicado na vida adulta.

Para os autores “a alta prevalência de adolescentes consumindo cannabis gera um grande número de adultos jovens que podem desenvolver depressão e comportamento suicida atribuíveis à cannabis. Este é um importante problema de saúde pública, que deve ser adequadamente abordado pelas políticas de saúde pública”. Enfatizam, ainda que as políticas de prevenção devem “educar os adolescentes a desenvolver habilidades para resistirem à pressão do grupo para usarem drogas”.

Outros estudos, nessa mesma linha, demonstram que adolescentes ao se exporem ao uso de maconha têm 25% de chance de desenvolverem esquizofrenia que adolescentes não usuários.

A maconha contém em suas folhas e flores uma resina com cerca de 60 componentes denominados canabinóides. Entre esses o principal componente é o Δ9-tetrahidrocanabinol (THC). O THC que chega facilmente ao cérebro onde funcionará em locais específicos, isto é, nos receptores próprios do THC.

Usuários crônicos de maconha apresentam déficits cognitivos graves. Alterações eletroencefalográficas, também observadas entre usuários crônicos reforçam a hipótese de que a maconha pode produzir neurotoxicidade. As alterações neuropsicológicas mais consistentemente descritas em usuários crônicos de maconha são déficits em tarefas psicomotoras, atenção e memória de curto prazo. A situação é tão importante e significativa que o DSM-5 colocou a maconha entre as substâncias causadoras de dependência, fato que não havia até então ocorrido.

No cérebro, as áreas preferenciais de ação dos canabinóides são: hipocampo, córtex pré-frontal, gânglios da base e cerebelo.  Todas essas áreas, alteradas pela ação da maconha, promoverão mudanças afetivas, emocionais, cognitivas e comportamentais específicas. Na intoxicação aguda por maconha ocorre sedação, prejuízos cognitivos que envolvem dificuldade de consolidação de memória de curto prazo, alteração na avaliação do tempo, prejuízo nas funções executivas, alterações da senso percepção e alterações na coordenação. Portanto, a maior parte destes sintomas são devidos à ação do THC nesses receptores cerebrais.

 Os dados demonstram que os danos psiquiátricos e comportamentais constatados pelo uso de maconha são enormes e todos são atribuídos diretamente a ação dessas drogas no cérebro. Especialmente, se utilizadas em épocas muito precoce da vida, tais como na infância e na adolescência.

 Dados do II LENAD/2012 mostram que na população adulta brasileira, 5,8% declarou já ter usado maconha alguma vez na vida – ou seja, 7,8 milhões de brasileiros adultos já usaram maconha pelo menos uma vez na vida. Entre os adolescentes, esse número é de 597 mil indivíduos (4,3%) dentre os mais de 14 milhões de adolescentes brasileiros. Analisando o consumo de maconha nos últimos 12 meses (anteriores a pesquisa), 2,5% dos brasileiros adultos declaram ter usado e 3,4% dos adolescentes – representando, portanto, mais de 3 milhões de adultos e 478 mil adolescentes em todo país.

A partir desses dados, imaginem o impacto disso, nessa população jovem do nosso pais. Faço minhas as palavras dos pesquisadores do JAMA, citado acima: ““educar os adolescentes a desenvolver habilidades para resistirem à pressão do grupo para usarem drogas”, deve ser nossa meta. Acrescentaria, ainda: são necessárias políticas públicas mais consistentes para ajudar esses milhões de jovens a levarem uma vida mais saudável.

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