Mau-caráter

0comentário

Frequentemente, nos colóquios, ouve-se: fulano, não presta, não vale nada, é mentiroso, enganador, safado. Cicrano, não tem escrúpulo, engana as pessoas, não tem o menor constrangimento, ou ainda beltrano é indecente, não tem pudor, é mau e insensível. Essas, são algumas designações atribuídas aos chamados maus-caracteres.            

São figuras que se notabilizam por serem antipáticas, desconsideradas, mentirosas, que tem uma imagem social ruim, justamente, por se comportarem fora dos padrões éticos, serem complicados e agirem sempre em proveito próprio. Mas, antes tratar sobre essas figuras, vejamos rapidamente, o que venha a ser caráter. Em significado. com.br, caráter é um conjunto de características e traços relativos à maneira de agir e de reagir de um indivíduo ou de um grupo.

É um feitio moral. É a firmeza e coerência de atitudes, próprias de alguém ou de um grupo. É o conjunto das qualidades e defeitos de uma pessoa, que irá determinar a sua conduta e a sua moralidade. Os seus valores e firmeza moral, definem a coerência das suas ações, do seu procedimento e do seu comportamento.Em Aurélio, caráter, é a qualidade inerente a uma pessoa, animal ou coisa, que os distingue de outras pessoas, animais ou coisas.

É sua marca registrada ou o conjunto dos traços particulares de alguém, é o modo de ser de um indivíduo ou de um grupo. É a índole, a natureza. Essas qualidades, podem ser boas ou más, as quais determinaram a conduta e a concepção moral dessas pessoas. Pode ser também coerência ou firmeza de atitude, domínio de si mesmo.Depreende-se, a partir dos conceitos acima, que caráter é algo marcante, inconfundível, próprio, peculiar de alguém ou de um grupo. É uma marca, expressa no conjunto das caraterísticas delas, que dá ênfase, sobretudo, à conduta moral, dos valores éticos de alguém ou de um grupo, muito embora, conceitualmente, outros aspectos, como os físicos, geopolíticos, socioculturais, genéticos, étnicos e biológicos, possam também colaborar essa designação. Sobre o mau-caráter, objeto desse artigo, são indivíduos, os quais comportam as descrições acima, mas de uma forma negativa, pejorativa.

Uma das mais contundentes caraterística é a inconfiabilidade. Isto é, o mau-caráter, é inconfiável, mentiroso e incapazes de estabelecerem relações permanentes, profícuas e duradouras. Essas relações quase sempre, resultam em decepções. Em princípio, são também desonestos, pois não apresentam firmeza de princípios ou de moral.Sabe-se, do ponto de vista das relações humanas, que confiar é um pressuposto vital, indispensável, para manter-se sólidas relações sociais. É fundamental, que se confie em alguém, com quem nos relacionamos. Quando isso não ocorre, qualquer relação, seja amorosa, de negócios, de fraternidade ou de amizade, estarão fadadas ao fracasso.

A confiança no outro é uma extensão da confiança em si mesmo, confiar em alguém é a base de relações seguras e duradouras.  Confiar é a disposição de nos tornarmos mais íntimos, mais seguros, abertos e aceitos no trânsito das nossas intimidades. É uma prerrogativa vital e de garantias, que nossos sentimentos, nossos afetos, nossos desejos, sonhos e particularidades, mais profundos, possam ser compartilhados de forma autêntica e segura. E, é justamente, o que não ocorre quando se tem a infelicidade de nos relacionarmos com um sujeito de mau-caráter.

Geralmente, essas pessoas estabelecem relações utilitárias, aproveitadoras, e em situações que menos se espera, dão o golpe. Golpe esse que pode ser uma traição, uma desconsideração, uma falsidade ou uma maldade quase sempre no seu sentido próprio e de tirar proveito sobre a pessoa com as qual se relaciona. As relações não se aprofundam, são enigmáticas e fisiológicas, só a mantém, enquanto há interesses em se apropriar de algo ou de uma situação que possam desfrutar. Não zelam por ninguém, e por serem destituídas de apreço e afeição pelo outro, isso logo começa a ser percebido. São figuras, escorregadias, disfarçadas, camuflam e mimetizam trejeitos e sentimentos para os golpes.

São aproveitadoras e sempre saqueiam a boa-fé dos mais descuidados, mais crédulos, desatentos ou ingênuos. Se percebem que serão descobertos, adotam mais camuflagem de emoções, de sentimentos ou de atitudes, tentando enganar disfarçar suas realidades, mantendo-se na situação.Não compartilham, e se o fizerem, estão de olho nos dividendos. São incapazes de se compadecerem, de zelar ou fazer o bem a alguém, justamente por terem sentimentos de propriedade exuberantes e serem incapazes de aprofundarem sentimentos de consideração e apreço. A consciência do mau-caráter é imediatista, e sempre procuram ampliar seus interesses exclusivos, procurando sempre tirar proveito.  

O mau-caráter, é sagaz, superficial, mentiroso, são obstinados na arte de enganar e dos disfarces, sempre na defesa de seus interesses. Esses comportamentos são invasivos e inflexíveis, surgem na infância e prosseguem, por isso mesmo, os repetem sempre da mesma forma, sob a mesma perspectiva, qual seja, o de tirar proveito e ganhar.São dissimulados, violentos e insensíveis. São impiedosos, e insensíveis. Geralmente, não revelam isso, imediatamente, no início das relações e sim posteriormente.

Em geral são simpáticos, agradáveis, benevolentes, gentis, inteligente e sagazes. São bons conversadores e contadores de lorotas. Se locupletam fácil, porém potencialmente estão latentes, suas idiossincrasias, aguardando oportunidades para se manifestarem. Do ponto de vista Psiquiátrico e psicopatológico, comportamentos dessas pessoas, maus-caracteres, são melhor explicados e encontrados nos Transtornos de Personalidade, sobretudo, no tipo Antissocial, onde a inexistência arrependimento, culpa e remorso, ante os danos que suas atitudes provocam aos outros, ocorrem indiferentemente. 

Do ponto de vista social, nos dias atuais, o que não falta são os maus-caráteres, comportamentos muito incentivados pelo modelo social vigente das relações sociais. Onde, o oportunismo, a insensibilidade a dor dos outros, a indiferença afetiva, a possessividade e o privilégio de interesses individuais ante os dos outros, é exortado, cultivado.

sem comentário »

Automutilação e suicídio conhecer é preciso

0comentário

Como já é do conhecimento de todos, no último sábado de cada mês acontece no auditório da AMEI, no Shoping São Luis um encontro comigo proposto pela própria Livraria. Nesta ocasião, tratamos sobre diferentes temas da Psiquiatria, da saúde mental e da área comportamental e social. Ontem, dia 15, fizemos a oitava edição desses encontros e tratamos de dois temas atualíssimos: suicídio e automutilação e, sem exagero, lotou o auditório da livraria. Estacemos um debate profícuo com os presentes com uma importante colaboração da Dra. Cristiane Castro, psicóloga e Tenente Coronel da Polícia Militar do Ma. Além de repleto o auditório, o que não faltaram foram perguntas de nossos participantes. Obrigado a todos e fiquem ligados, no último sábado de cada mês haverá um Bate papo com Ruy Palhano. 

sem comentário »

Automutilação

0comentário

           É, surpreendente, o número, principalmente de adolescentes, que se automutilam. Ao longo dos meus 40 anos como Psiquiatra, lidando com doentes todos os dias e as vezes o dia todo, me surpreende, a quantidade dessas queixas, em meu consultório. E, não é só comigo que isso vem ocorrendo, em conversas com colegas psiquiatras, psicólogos e outros profissionais da área comportamental, eles relatam também achados semelhantes. Em nosso país, estudos sobre automutilação são poucos, sobretudo, estudos longitudinais, em populações com idade acima da adolescência e em adultos jovens.

           Também denominada de autoflagelo ou autolesão, a automutilação na prática clínica, ocorre, predominantemente, entre adolescentes e entre adultos jovens e, mais raramente, entre pessoas de maiores idades. O fato é que essa prática predomina entre adolescentes com idades entre 13 e 18 anos.

           É definida como sendo qualquer comportamento intencional, envolvendo agressão direta ao próprio corpo, sem que haja intenção consciente de suicídio. Portanto, em se tratando de suicídio, haveria outras bases psicopatológicas para se explicar esse comportamento.

           A automutilação, portanto, é diferente da tentativa de suicídio, pois aqui nesse caso, a pessoa sabe que ao cortar-se, ou se machucar, não vai morrer por causa disso, além do mais dizem que a principal motivação para sua atitude é aliviar sensações ruim ou desagradáveis: sensação de vazio, angústia, raiva de si mesmo, tristeza, com ou sem motivo, e até para relaxar são outros motivos comumente apresentados.

          As formas mais frequentes de automutilação são cortar a própria pele, queimar-se, bater em si mesmo, morder-se e arranhar-se, beliscar-se. Os locais em geral escolhidos, são face interna do antebraço, coxa, braço e tórax. As lesões podem ser superficiais e profundas. Alguns pacientes apresentam rituais de automutilação e passam muito tempo pensando em como executá-la, lembrando sintomas compulsivos, porém com intenso componente de impulsividade, é o que nos diz Jackeline S. Giuste, em sua tese de doutorado sobre automutilação.    

           O comportamento de autoagressão é repetitivo e as lesões são superficiais, na maior parte dos casos. Os cortes na pele são mutilações mais frequentes, especialmente, nos braços e pernas, justamente por serem de fácil acesso, e essas partes do corpo serem fáceis de se esconder dos pais, amigos, professores, etc., em geral esses adolescentes não querem ser descobertos.

          A pesquisadora diz ainda, que o critério de diagnóstico da Associação Psiquiátrica Americana – APA, em sua quarta edição (DSM-IV), a automutilação estava classificada como um dos critérios de diagnósticos para transtornos do controle dos impulsos, não classificados em outro local ou Transtorno de Personalidade Borderline – TPB.

           Já o DSM-V, edição atual, a Associação Psiquiátrica Americana – APA, propõe que a automutilação seja uma entidade diagnóstica à parte, (Automutilação está incluída no Transtorno de Escoriação (Skin-Picking) – 698.4 (L98.1): ganhando, pois, mais autonomia diagnóstica e não se tratando, somente, de um sintoma de um transtorno.

         Para a Classificação Internacional das Doenças – CID 10 (OMS), a automutilação é Transtorno caracterizado por movimentos intencionais, repetitivos, estereotipados, desprovidos de finalidade (e frequentemente ritmados), não ligado a um transtorno psiquiátrico ou neurológico identificado. Os comportamentos estereotipados automutiladores compreendem: bater a cabeça, esbofetear a face, colocar o dedo nos olhos, morder as mãos, os lábios ou outras partes do corpo. Os movimentos estereotipados ocorrem muito habitualmente em crianças com retardo mental (neste caso, os dois diagnósticos devem ser registrados).

       Porém, ainda falta homogeneidade na descrição da automutilação e isso dificulta as pesquisas, tanto epidemiológicas como clínicas. E isso dificulta a busca de uma melhor caracterização clínica e psicopatológica do comportamento de autoflagelar-se fato que é, absolutamente, indispensável, e fundamental para que se evolua no tratamento dessa condição médica e psicológica.

Tres fatores, entre outros, predominantes, em situações de automutilação.

Do ponto de vista clínico, esses comportamentos auto lesivos, estão frequentemente associados a outros transtornos mentais tipo: Transtorno de Ansiedade, quadros depressivos relevantes, stress, bullying, transtorno por uso de substâncias, Transtorno de Personalidade Boderline – TPB e outros transtornos de personalidade. Nos casos, de TPB e de outros transtornos de personalidades, os pacientes já são adultos, com idade de18 anos para cima. Além de todos esses quadros clínico, o comportamento de autoagressão, pode também, estar associado a outras doenças psiquiátricas.

                O T P Boderline, clinicamente, caracteriza-se, entre outras coisas, por serem pessoas instáveis, quanto as suas relações interpessoais, quanto a sua autoimagem, quantos aos afetos e a impulsividade. Apresentam, marcada variação do humor. O transtorno aparece no início da vida adulta e está presente em vários contextos das relações dessas pessoas. Esses pacientes tentam de tudo evitar abandono, real ou imaginário. São pessoas inseguras, carentes afetivamente, lábeis emocionalmente, referem baixa estima pessoal, e dispõe de baixa autoconfiança. São vulneráveis à separações, sentimento de rejeição e de perdas. São muito sensíveis às circunstâncias ambientais e apresentam forte tendência de se auto agredirem.

              Apresentam medos intensos de abandono, real ou imaginário, e experimentam raiva inadequada, explosivas, por motivos muito das vezes fugazes e banais, especialmente, diante de uma separação de curto prazo, ou quando ocorrem mudanças inevitáveis de seus planos. Gostam ainda de chamar a atenção dos outros e se colocarem em posições agressivas de auto piedade. São ciumentos mórbidos, dominadores e se irritam facilmente com episódios de violência. Essa instabilidade afetiva e emocional é uma condição de destaque na clínica desses pacientes.

              Quanto ao tratamento, recomenda-se, combinação de diferentes abordagens. Por um lado, farmacoterapia, através da utilização de medicamentos que impedem o descontrole dos impulsos de se automutilarem. Entre esses fármacos, temos os alguns antidepressores, antpsicóticos e ansiolíticos, em geral utilizados em baixas doses. O uso de estabilizadores de humor, também pode ser indicado. Por último, as psicoterapias, são ferramentas indispensáveis para o tratamento desses enfermos, especialmente, a Terapia Cognitivo Comportamental – TCC, um grande recurso terapêutico na abordagem desses pacientes.

             Outra comorbidade, frequente relacionadas à automutilação ocorre no Transtorno Afetivo Bipolar – TAB, condição psiquiátrica caracterizadas por alterações profundas na regulação do humor básico, onde esses pacientes apresentam uma alternância, patologicamente, significativa nessa área, pois desenvolvem episódicos distintos, depressivos e de euforia. Nos episódios depressivos é onde ocorre, com certa frequência, a automutilação. Episódios depressivos unipolares, onde não há picos de euforia também a automutilação está presente.

          Quadros graves de Transtornos de Personalidade Obsessiva-compulsiva, nos casos de Transtornos Obsessivo-Compulsivo – TOC, Estres Pós-Traumáticos, traumas na infância (violências, espancamentos, privações) abuso sexual, bullying, todas essas condições vivenciais e psicopatológicas podem despertar comportamento de automutilação em proporções de gravidade distintas. Os tratamentos para todas essas condições, já foram apontados acima: psicoterapia Cognitivo-comportamental – TCC farmacoterapia.

sem comentário »

O que muda com a nova lei sobre drogas?

0comentário

Publicada, recententemente, nova lei traz avanços no manejo das questões envolvendo usuário de drogas e gera polêmica. https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/05/16/o-que-muda-com-a-lei-sobre-drogas-que-o-senado-correu-para-aprovar.ghtml

sem comentário »

Os vícios da vida moderna

0comentário

      O termo vício segrega, marginaliza e não define essencialmente o sentido para o qual é aplicado, muito embora ainda seja muito utilizado em diferentes sentidos e ocasiões. É um termo preconceituoso e excludente do ponto de vista pessoal e social. Em Dicionário Etimológico Nova Fronteira, do Latim, “vitiun”, significa “defeito grave que torna uma pessoa inadequada para certos fins ou funções”. O viciado se inclina para o mal e é considerado desagregado, descontrolado e sua conduta é desaprovada e condenável, sendo ainda considerado por alguns um “devasso licencioso”.

             À luz da Psiquiatria moderna, o termo está em desuso e quando ainda se aplica relaciona-se aos indivíduos com maus hábitos, em especial para usuários de álcool, tabaco e outras drogas. Sobre esses usuários, ainda hoje predomina uma visão moralista sobre o assunto, por isso mesmo eram pessoas, injustamente, alijadas do convívio social. Modernamente, a designação de “viciado” foi substituída por “usuário disfuncional ou dependente”.

            Com o avanço científico e tecnológico, marca indelével da vida moderna, vem surgindo diferentes comportamentos humanos, que do ponto de vista pessoal e social, não são muito diferentes dos que existiam antes do desenvolvimento destas tecnologias. Alguns dos comportamentos da modernidade e da pós-modernidade são bem parecidos aos comportamentos dos “antigos viciados em drogas”. A grande diferença é que no lugar das drogas de abuso, estão presentes os modernos equipamentos tecnológicos desta nova sociedade tecnocrática. Esses “vícios modernos”, produzidos pela era digital e tecnológica, e muitos outros comportamentos originados das modernas tecnologias, passaram a ser denominados vícios eletrônicos”.

            Capitaneando todas estas inovações e redefinido novos paradigmas nas relações humanas, está a internet, um recurso fabuloso inventado pelo homem moderno a partir da grande teia de computadores que está transformando o mundo real em um mundo virtual e o homem em um Cyberman. A internet o deixou menos singular e mais global, menos local e mais telúrico, menos material e mais virtual, mais cético e menos crítico, mais lógico e menos sensível.

            Entre os filhotes dessas tecnologias modernas estão os tabletes, os smartphones, as redes sociais, os computadores modernos, as TVs inteligentes e interativas e muitos outros aparelhos eletrônicos, fabulosos, que conquistaram o homem moderno, definitivamente. Esses compõem a tecnologia digital contemporânea, os quais nos dão tudo que precisamos para viver com o menor esforço possível, o que nos agrada muito.

          Os brinquedos e jogos eletrônicos, o ensino, o conhecimento, o lazer, o trabalho tornaram-se mais simples e fáceis, efetivamente ao nosso alcance. Os avanços prosseguem e a todo instante nos surpreendemos com tantas novidades, descomplicando a vida.  Houve tanta mudança nessa área que hoje namora-se, noiva-se, casa-se, viaja-se, forma-se, estuda-se, sem sair de casa ou do local onde se está.

            As filhotas da internet são as redes sociais. O Brasil detém o terceiro lugar no ranking internacional de acessos às redes sociais, especialmente Faceboock, Instagran, Tweter e Linked-in. Talvez não haja algo mais sedutor e prazeroso do que você falar com todo mundo sem abrir a boca, cumprimentar a todos sem estender as mãos, tornar-se visível ao mundo com um selfie, ir a todos os lugares sem sair de casa.  Amar ou se apaixonar por alguém sem sentir seu cheiro, seu corpo ou sua voz. Seguir ou ser seguido por milhares de pessoas sem conhecê-las, sem apertar suas mãos, ou abraçá-las. De trabalhar, produzir e ganhar dinheiro sem sair de casa. E todos esses comportamentos carregados de muito prazer e contentamento. Que coisa fabulosa! Diante de tudo isso, o que mais queremos para o futuro?

            Todos esses ganhos e benefícios fizeram com que os incautos e exagerados fossem “fundo ao pote”. Mergulharam de cabeça, profundamente, neste mundo virtual, maravilhoso e mágico e perderam os limites. Ficaram doentes e adoeceram suas famílias. Esta é a mais nova categoria de doentes mentais que se insurge nos tempos modernos, produzidos pela era eletrônica, ou seja, os dependentes em eletrônicos.

            O perfil epidemiológico dessas pessoas, dependentes de redes sociais, smartphones, tabletes, WhatsApp, e outros meios e equipamentos tecnológicos, está sendo construído, acredito que em um futuro próximo se possa saber melhor psicopatologicamente quem são esses “viciados em tecnologias”. Por enquanto, de oficial, somente os dependentes de jogos eletrônicos estão incluídos na nosologia psiquiátrica pela Organização Mundial da Saúde – OMS. São enfermos tão graves quanto os dependentes de álcool e de outras drogas, pois se revelam de forma sutil, progressiva e insidiosamente e vão evoluindo lentamente. Quando menos se espera, já apresentam distúrbios comportamentais, emocionais, afetivos e relacionais graves, acompanhados de desadaptação psicossocial, ocasionados pelo apego disfuncional aos eletrônicos e redes sociais.

            Para agravar mais ainda essa situação,  a “enfermidade eletrônica” revela-se não somente pelo apego doentio a esses sistemas, apresentam também profunda solidão, não conseguem viver sem esses equipamentos ou redes sociais, referem ansiedade e desprazer. Ao não ter acesso aos mesmos, isolam-se de todos, passam mal, tornam-se desadaptados, abandonam outras atividades que lhes são importantes, desrealizam-se, apresentam medos na convivência, tornam-se desconfiados, inseguros e depressivos. Esses, sãoalguns dos atributos psicopatológicas encontrados nessas personalidades.

            Do ponto de vista médico, o diagnóstico e o tratamento desses enfermos se constituirá como um dos mais importantes desafios para a Psiquiatria moderna, para a Psicologia e para a saúde mental, pois o número deles é cada vez maior e os danos à saúde mental e social são avassaladores.

sem comentário »

Sobre as compulsões

0comentário

Frequentemente se houve falar em compulsão e, nos últimos anos mais ainda, e isso é atribuído aos avanços que vem ocorrendo no tratamento e nos conhecimentos da fisiopatologia desses comportamentos, bem como os avanços sobre as bases genética das causas das compulsões.

               A propósito, você sabe o que é compulsão? É um comportamento que se repete continuamente visando proporcionar determinado alívio ou conforto emocional frente à sensação de ansiedade ou angústia. Esse comportamento compulsivo do ponto de vista psicopatológico e clínico são reações comportamentais considerados “mal adaptativos” porque a sensação de conforto ou alívio é passageira e após o ato (compulsão) temos uma sensação negativa, muitas vezes de “culpa” por não termos resistido à vontade de fazê-lo. Mesmo assim o sentimento de alívio ou gratificação, continua mais forte, levando as pessoas a repeti-los.

                Ocorre mais ou menos da seguinte forma: estou ansioso por algum motivo, essa ansiedade passa a me incomodar, a me tornar inquieta, tensa, em expectativa. Passo a mexer com as mãos e adotar outros gestos ficando em um pé e outro, para aliviar essa tensão. Resolvo ir à loja e decido comprar um objeto que tenho desejo. Passo a usar o que comprei recente, todo animado e até “esqueço” aquela sensação negativa que me fez ir às compras, mas passado esse primeiro momento eu começo a me sentir culpado pelo fato de ter comprado algo saem necessidade e vai comprometer meu orçamento, etc., etc.

                 Essa sensação vai me deixar ansioso, angustiado e inquieto. Já não dou muita bola para o que comprei por isso parto e vou novamente às compras e provavelmente voltarei para casa com algo novo, e recomeço o círculo: culpa, ansiedade, compras, prazer, culpa, ansiedade, compras…

                    Esse é mais ou menos um ciclo de acontecimentos que se observa no fenômeno das compulsões. No caso acima, em particular, me referir aos compradores compulsivos.

                  Sobre as causas dos comportamentos compulsivos, diversos fatores colaboram: predisposição genética, influência familiares, problemas psicológicos e comportamentais, doenças mentais etc.), em todos os casos é de fato de um comportamento mal adaptado de enfrentamento de sentimentos negativos (tensão, angústia, ansiedade, etc.) que frequentemente provoca inúmeros problemas familiares, econômicos, sociais, laborativas, psicológicos, podendo inclusive ocasionar doenças ás vezes graves, como no caso de Transtornos Obsessivos Compulsivos – TOC, Bulimia, Comedor e Bebedor Compulsivo  e muitos outros transtornos que tem como base a ansiedade disfuncional.

               Esse comportamento pode evoluir levando as pessoas a perderem inteiramente o controle dos seus atos, a ponto de tomar a vida delas um transtorno, como é o caso do TOC. Em casos mais graves tornam-se dependente desses rituais repetitivos, comprometendo sua capacidade de levar uma vida “normal”. Uma pessoa que lava as mãos várias vezes por dia compulsivamente, pode adquirir outras “manias” tornando a vida um problema. Tipos de compulsões:

Jogadores compulsivos – Esses enfermos podem ter sérios problemas familiares, econômicos e profissionais, uma vez que toda sua atenção está voltada compulsivamente para o jogo: jogadas futuras, quanto irá ganhar, onde conseguir dinheiro para jogar, e assim por diante. Mais recentemente temos os viciados em jogos eletrônicos que já se constitui pela moderna nomenclatura médica uma doença mental grave.

Atletas compulsivo – Atletas de esportes radicais com práticas intensas nesses esportes desenvolvem um padrão de atividade tão intenso que subordinam muitas outras atividades em suas vidas por essas práticas. Se tornam “dependentes de adrenalina” e em perigos impostos por esses esportes. Podem sentirem-se tão relaxados com tais atividades e exercícios físicos ao ponto das mesmas se transformarem em obsessão, passando a prejudicar o desempenho em outras atividades e na saúde em geral.

Sexo compulsivo: insaciáveis, incontroláveis onde seus atos e pensamentos só giram em torno dessas atividades e fazem de tudo para se satisfazerem.

Comprador compulsivo – a pessoa precisa comprar para sentir-se bem, mesmo que depois se arrependa. É o caso que me referir acima. Gastam muito, mas sem necessidades reais quanto ao que está comprando.

Trabalhador compulsivo – o objetivo principal seria obter sucesso profissional, status, manter-se no trabalho. O trabalho pode ocupar a mente e o lugar de sentimentos e relacionamentos, com os quais talvez o trabalhador compulsivo não consiga lidar. Sente-se seguro e obtém gratificação através do trabalho, então continua trabalhando cada vez mais, deixando de lado a vida social e o convívio com a família. Esses, são também conhecidos pela designação Workaholic, uma gíria em inglês que significa viciado em trabalho.

              Se não tratada, essas compulsões deixam graves sequelas na vida das pessoas, isolando suas vítimas do convívio social passando a viver num círculo vicioso e isolado, totalmente dependentes de suas compulsões. O tratamento recomendado é através de medicamentos anticompulsivos, fármacos extremamente efetivos quando utilizados de forma adequada e nesses últimos 15 anos houve um crescimento fabuloso desses medicamentos usados na clínica psiquiátrica. A outra abordagem é a psicoterapia cognitivo – comportamental, técnica bastante utilizada atualmente com excelentes resultados terapêuticos a esses enfermos compulsivos.

Comedor e bebedores compulsivos: anorexia, bulimia e o alcoolismo são comportamentos compulsivos relacionados à comida e a bebidas, onde as vítimas são pessoas excessivamente preocupadas com seu o corpo ou com sua “imagem” frente aos outros e já se fala em “epidemia” quando se trata desse assunto, pois é muito grande é o número de pessoas que têm esse tipo de comportamento.

sem comentário »

Síndrome do Pânico 

0comentário

            

Resultado de imagem para pânico

Medo e pânico são duas palavras que andam em par, deflagradas sobretudo por crises de insegurança e ansiedade. A primeira é uma reação natural, fundamental para manter a vida e protegê-la. A segunda, uma deformação da primeira, uma anomalia, uma disfunção. A sensação de ambas, todavia, é muito parecida. Deixam o indivíduo em estado amplo de perplexidade, insegurança geral e sempre acompanhada de um mal-estar profuso e inexplicável. Transtorno do Pânico, que é a nomenclatura correta a ser aplicada a essa condição clínica, até bem pouco tempo era conhecida como síndrome do pânico.

               A palavra “pânico” remonta da Grécia antiga, da figura mitológica do Deus Pan. Segundo a mitologia grega, Pan era um Deus extremamente feio (metade homem, metade cabra) vivia isolado entre as montanhas da Arcádia, para não ser visto pelas pessoas. Quando Pan aparecia na Ágora, onde as pessoas se reuniam, elas ficavam horrorizadas e desesperadas com sua presença.  Sentiam muito medo, pavor e muitos se tornavam desesperados, por isso o nome, pânico.

              Nos últimos anos, inúmeros estudos e pesquisas tem sido desenvolvido, no mundo todo, com o intuito de se conhecer melhor a denominada “Síndrome do Pânico”, tanto nos aspectos clínicos, quanto os tratamentos psicológicos, biológicos ou psicossociais realizados para seu controle.

               Historicamente, desde Freud, já havia aportações sobre a natureza dessa doença. Ele procurava analisar casos hoje caracterizados como doença de pânico e já na ocasião descrevia como “ataques de ansiedade”, incluídas na categoria das chamadas neuroses atuais. Em um desses casos, detectou um “retorno de experiência traumática relacionadas com algum acontecimento trágico do passado”. Mas as teorias psicanalíticas, mesmo depois de muito aperfeiçoamento, esbarram em sérias dificuldades para explicar por que os pacientes apresentam tais quadros clínicos.

                Na atualidade, os mais importantes estudos sobre o Transtorno do Pânico ocorrem na área da Psiquiatria e das Neurociências, as quais explicam esse transtorno a partir de disfuncionalidade do sistema nervoso central, do ponto de vista, biológico e neuroquímico. Haveria, por assim dizer, uma disfunção acentuada e específica na regulação da ansiedade, em áreas especiais desse sistema (septo, amigda e hipocampo), que, em se alterando, produziria todos os sintomas hoje conhecidos que fazem parte da doença do Pânico.

                Outra área muito importante que abriu fabulosos caminhos para sua compreensão, são os estudos de psicofarmacologia clínica, um capítulo da farmacologia encarregada dos medicamentos psicotrópicos, ou seja, medicamentos utilizados para o tratamento das doenças mentais, emocionais e comportamentais.

                Outros avanços, importantes dessa matéria, se deram na abordagem psicológica no tratamento desses enfermos. Várias abordagens psicológicas são sugeridas para esse tratamento, no entanto, o que mais tem gerado melhores resultados é a terapia cognitivo-comportamental – TCC, ferramenta muito importante na recuperação desses enfermos, sobretudo quando essa técnica está associada ao tratamento médico. Outras abordagens, como as conductivistas ou comportamentais, behavioristas, psicanalistas, embora tenham suas importâncias não se revelam como as melhores estratégias terapêuticas para se tratar do pânico.                                                

            O Transtorno do Pânico (TP) é descrito como um período de intenso medo ou ansiedade, acompanhado de sintomas somáticos, psíquicos e comportamentais. Tem um início súbito e rapidamente atinge uma intensidade máxima em poucos minutos. A ansiedade, característica de um ataque de pânico, é intermitente, de natureza paroxística. Cada ataque, dura em média entre 25 a 30 minutos e mesmo que não haja uma intervenção, o ataque se encerra. O mal-estar é crescente, a ponto de, em apenas alguns minutos, o mesmo toma conta da pessoa, passando a sentir vários dos sintomas entre os elencados abaixo. Outra particularidade, é que, para se firmar o diagnóstico definitivo de Transtorno de Pânico, esses ataques deverão ocorrer no mínimo uma vez por semana associados aos outros requisitos, apontados acima. Eis, alguns dos seus sintomas:

1) Falta de ar (dispneia) ou sensação de asfixia

2) Vertigem, sentimentos de instabilidade ou sensação de desmaio

3) Palpitações ou ritmo cardíaco acelerado (taquicardia)

4) Tremor ou abalos

5) Sudorese

6) Sufocamento

7) Náusea ou desconforto abdominal

8) Despersonalização ou desrealização

9) Anestesia ou formigamento (parestesias)

10) Ondas de calor ou frio

11) Dor ou desconforto no peito

12) Medo de morrer

13) Medo de enlouquecer ou cometer ato descontrolado.

       Há Transtorno do Pânico com ou sem agorafobia, que é um medo de estar em espaços abertos ou no meio de multidões. Agorafobia, muitas das vezes, é consequência de sucessivos tratamentos malsucedidos ou mal orientados, ou por uso inadequado de medicações, ou pelo fato da pessoa não ter tido a oportunidade de procurar   um especialista precocemente, antes mesmo da doença se cronificar.

      Vale a pena lembrar que, para o médico formular o diagnóstico de Transtorno do Pânico de forma definitiva, faz-se necessário, a realização de exames clínicos e laboratoriais, para saber se o paciente não é portador de outras doenças, que podem provocar também ataques de ansiedade aguda.

sem comentário »
https://www.blogsoestado.com/ruypalhano/wp-admin/
Twitter Facebook RSS