A Angústia

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Angústia é uma condição que sempre despertou muito interesse em todos nós. E isso se deve à incógnita sobre sua natureza e ao imenso sofrimento que provoca nas pessoas, que a descrevem como algo insuportável. É um sentimento profundo de dor, de amargura, de solidão, de irrealização e de intenso sofrimento que ocorre nos seres humanos. É a pior expressão de amargura e de fracasso diante de nós mesmos. Traduz a insignificância humana, sua incompletude e sua pequenez.

Desde a antiguidade clássica que a filosofia, através de suas diferentes escolas, tenta descrever a angústia, desenvolvendo estudos importantes para compreendê-la. O mesmo ocorre com psicólogos, psiquiatras, geneticistas, neurocientistas, antropólogos, para desvendarem a natureza da angústia e suas diferentes formas de expressão. Por isso mesmo é que nessas áreas do saber não faltam teorias que buscam explicá-la. O fato é que, apesar de todos os avanços nessas áreas de conhecimento, permanece até os dias atuais uma grande incógnita.

Nesse artigo, trato do enfoque médico, em que a angústia é considerada um sintoma grave de distintas doenças, entre as quais a doença mental. Esse enforque, todavia, não desconsidera que a angústia possa estar presente em muitas outras condições humanas.

O termo angústia se origina do latim “angustia”. Indica algo desconfortável ou doloroso como apertar, sufocar, esganar, atormentar, estreitar, brevidade, escassez, concisão. É um mal estar profundo, inexplicável, indefinível e inarrável, um medo sem objeto determinado (que é diferente de outros tipos de medo e que possuem um objeto definido). A sensação é de “estreiteza, limite, redução, restrição, aflição intensa, ânsia, agonia, sofrimento, tormento, tribulação”. Em todas essas conotações depreende-se algo que estreita a própria existência das pessoas nessas condições. Vejam que uma expressão comum dos que padecem de angústia é a de aperto insuportável no peito que o sufoca e o deixa sem respirar, põem a mão no peito como se sufocados.

Já vimos que, como sintoma, a angústia pode estar presente em muitas condições médicas e psicossociais e, entre essas, a mais referida é na depressão, considerada por muitos como uma das piores doenças humanas. Não é à toa que a depressão responde por mais de 80% dos suicídios, fato que já demonstra o grau de significância dessa doença na nosologia médica. Boa parte do sofrimento intenso relatado pelos depressivos relaciona-se à angústia, a qual se confunde com a própria depressão, antítese primária da condição fundamental aspirada por todos nós que é o prazer.

Nessa perspectiva, a angústia reforça os efeitos do nosso pior inimigo, a dor, já que por natureza somos hedônicos. Na angústia, porém, a sensação de dor não é na carne, no corpo, muito menos localizada em qualquer região, é uma dor na alma, no seu sentido mais profundo e aqui não há um local que ela possa se manifestar, é uma dor na existência. Contrariamente a outro tipo de dor, não se origina do corpo, embora essa possa ser uma de suas vias de expressão. Dá-se na alma, a sede de expressão. Por isso é uma dor indefinida, inexplicável, insuportável e impalpável. Por isso mesmo o poder, o dinheiro, a arrogância, o egoísmo, a vaidade, o ostentação, o orgulho, aspirações comuns do homem contemporâneo, perdem seu sentido nas vivências angustiantes.

Do ponto de vista psicopatológico, a angústia nos recolhe para dentro de nós mesmos e nos conduz a nossa própria intimidade. Só que esse caminho é repleto de dor, medo e sofrimento. Eis porque tanta gente se mata ao se deprimir. Esses perdem a importância e valor da vida, os torna sem rumo e sem destino. Emudece-nos, isola-nos e deixa-nos sós. Há algo pior que isso? Um homem sem rumo, sem valor e sem destino?

Eis a angústia, o pior sentimento dos seres humanos. É uma experiência dentro de nós mesmos, da qual poucos sobrevivem. A sensação da angústia como fenômeno do adoecer é de morte iminente. As pessoas não conseguem descrevê-la e dizem abertamente que não queriam aquilo nem para seu pior inimigo. Essa sensação revela uma disfunção severa entre o homem, os outros e sua ambiência.

Como outros fenômenos existenciais, a angústia tem intensidades variadas, manifesta-se desde uma sensação leve até severa. E surge, em geral, de forma lenta e sorrateira, aprofundando-se inexplicavelmente para o interior do ser, podendo surgir em diferentes situações.

Atualmente, verifico um tipo de angústia que se desenvolve no homem tecnológico e contemporâneo, que nasce da relação dele com a máquina (tecnologia). Verifica-se que todos esses bens e serviços tecnológicos a seu serviço têm contribuído para a construção de um ser solitário, imediatista, materialista e muito afastado de si mesmo. Os sentimentos tonam-se raros e sem profundidade, superficial e fugaz. Quando os fatos conduzem-nas para dentro de si mesmas, as pessoas se deparam com muitas dificuldades em manejar com seus próprios sentimentos, valores e senso ético, conduzindo a sensações de insegurança, perplexidade, medos e incertezas. Isso gera uma angústia que se insere no homem moderno.

Isso o define como um ser simplório, voraz, imediatista e superficial, que não se aprofunda em nada que faz, muito menos ante sua própria realidade interna. Mantêm relações superficiais com os outros e são frágeis. Não experimentam relações profundas, são conformados e se contentam com pouca coisa. Estão despreparados para grandes investidas na vida e são débeis. Não é uma angústia gerada por condições psicopatológicas obrigatoriamente, como a que vimos acima, mas produzidas por uma sociedade tecnocrática que pensa e sente muito pouco. Esse ser de consumo, oportunista e improvisado e sem origem consistente, voltado exclusivamente para uma modernidade, se angustia por pouco.

 

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