A sede por álcool e outras drogas

No curso natural da dependência do álcool e outras drogas, existem diferentes sintomas que, de conformidade com a evolução da doença, se destacam entre os outros sintomas. Neste artigo, tratarei da compulsão vulgarmente chamada de “fissura”, que é um dos mais importantes sintomas para o diagnóstico dessas doenças. Esse sintoma interfere diretamente na disposição do enfermo para se tratar, bem como nas sucessivas recaídas que se observa no processo de recuperação e tratamento.

Fissura e compulsão são dois termos já largamente conhecidos pelo público em geral, graças às centenas de artigos já publicados a seu respeito, embora ainda permaneça obscuro do ponto de vista de sua origem.

“Fissura” é um termo popular em nosso idioma. Entre os ingleses é denominada de “craving”, que nada mais é do que um desejo ardente, incontrolável, irrefreável de consumir a droga da qual dependa. Em princípio, só sente fissura quem é dependente, seja de que droga for. É um sintoma que pode estar presente em outros transtornos psiquiátricos, portanto não é exclusivo dos dependentes de drogas.  O alcoólatra, portanto, sente fissura sempre que para de beber ou reduz a dose da quantidade de álcool; o tabagista sente o mesmo; o dependente de cocaína e de outras substâncias também sentirá fissura e assim por diante. Este fenômeno apresenta as seguintes características:

1 – está presente na síndrome de dependência;

2 – surge quando o consumo da droga é interrompido;

3 – a ânsia (compulsão) de consumir é quase sempre superior ao seu controle;

4 – favorece sempre a recaída;

5 – a obtenção da droga cessa os sintomas;

6 – é classificada como leve, moderada ou grave.

7– sua intensidade está associada à intensidade da dependência;

8 -é involuntário, evolutivo e envolve mecanismos neurobiológicos, circunstanciais/psicológicos;

9 – há drogas que aliviam os sintomas do “craving”;

10 – interfere na decisão de se tratar;

Estes 10 itens acima mostram claramente a gravidade deste problema e todos são muito importantes em sua caracterização, a dificuldade de aderir a um tratamento e as recaídas são indiscutivelmente as mais importantes consequências do “craving”, justamente por interferir no tratamento e na recaída.

Do ponto de vista da neurobiologia do “craving”, já temos acumulado um vasto conhecimento sobre como ele surge, muito embora se saiba que ainda falta muito para esclarecer totalmente sua natureza. O fato é que tudo se dá em determinadas áreas do cérebro intermediado por reações envolvendo os neurotransmissores cerebrais: dopamina, serotonina, acetilcolina e outros.

Estudos de neuroimagem utilizando técnicas como a tomografia por emissão de pósitrons (PET) têm permitido a identificação de tais anormalidades neurofuncionais criando condições favoráveis para que em um futuro próximo se possa manejar melhor com este sintoma. Além do mais, graças aos recentes os avanços da ressonância magnética (RM) funcional, já se pode vislumbrar as áreas afetadas pela compulsão, fato que está certamente favorecendo uma maior compreensão da fisiopatologia desse fenômeno.

Do ponto de vista do tratamento, nos últimos 10 anos se avançou muito no controle e na prevenção da compulsão. Na área farmacológica os avanços foram expressivos, sobretudo com o surgimento de drogas denominadas de anti-compulsivas, anti-fissura ou ainda, anticraving, as quais impedem ou reduzem a busca incontrolável pelo álcool ou por outras drogas, e diminuem drasticamente o mal estar físico, psicossocial e emocional ocasionado pela privação do uso da droga. Esses dois mecanismos de ação farmacológicos, são considerados atualmente como fundamentais para o manejo clínico dos dependentes de drogas.

Entre os transtornos psiquiátricos que mais se beneficiam com estes medicamentos são o alcoolismo e o tabagismo. Outras drogas estão sendo testadas e que deverão ser lançadas em breve se destinam ao controle do “craving” dos dependentes de cocaína, através de mecanismos, diferentes aos anteriores.

Outros avanços significativos ocorreram na área ocupacional e psicossocial com técnicas avançadas no tratamento e reabilitação destes pacientes, as quais possibilitarão diretamente maior adesão aos tratamentos propostos, impedindo também, por conseguinte, altos índices de recaídas frequentemente encontrados ente estes doentes.

 

A medicina pede apoio aos parlamentares maranhenses

Com todo respeito aos caros leitores deste importante Jornal Pequeno me dirigirei especialmente aos parlamentares maranhenses, Deputados Federais e Senadores, pois na terça feira dia 20 votarão dois temas polêmicos neste país: os vetos que a Presidente Dilma Rousseff concedeu à lei denominada Lei do Ato Médico e o MP 621 que trata do Programa Mais Médico.

Ambas as matérias são muito importante para a saúde pública brasileira. Uma a meu ver técnica e ética, pois trata da vinda de médicos estrangeiros para trabalharem em nosso país sem o exame tradicional de reavaliação do diploma destes médicos (REVALIDA), fato que poderá causar problemas à população por não se saber sobre a competência, a experiência e as habilidades técnicas destes médicos.

A outra situação que será votada pelos Srs. diz respeito aos 10 vetos, realizados pela Presidente Dilma Rousseff, sobre a lei que institui o Ato Médico que nada mais é que um conjunto de normais e regras que estabelecem e definem a função do médico brasileiro. Esta lei já tinha sido aprovada pelos Senhores no Congresso Nacional na íntegra e, de forma desrespeitosa e antiética rasgam-na desconsiderando todo o esforço que os Senhores parlamentares desprenderam, juntamente com o órgão que representam a nossa classe médica, bem como outros órgãos representativos de outras profissões ao longo destes 12 últimos anos.

Todos os vetos foram largamente examinados tecnicamente e se constatou que os mesmos carecem de sentido técnico e ético para garantir sua aplicabilidade. Entre todos os vetos o mais acintoso é o que concerne ao artigo 4º desta Lei que tira literalmente do profissional médico a prerrogativa do diagnóstico e respectivamente do tratamento das enfermidades humana. Este veto simplesmente mutilou nossa profissão, foi um ato inconsequente e impensado do ponto de vista técnico, histórico e político que entre outras coisas rasga a tradição da medicina umas mais antigas profissões do mundo.

Só a guisa de esclarecimento: Diagnóstico é um termo proveniente do grego que significa conhecer (dia= através de; e gnos = conhecimento). É uma das mais importantes etapas da prática médica, pois é através dele que se garante a efetivação de um tratamento. Não se faz tratamento sem diagnóstico. Sem diagnóstico estamos cegos e não sabemos o que fazer a nenhum enfermo que nos procura. Quando alguém busca o médico entre outras coisas ele espera que este médico lhes diga o que ele tem, o que pode acontecer com ele e como será realizado seu tratamento.

Quando a Presidente da República retira do médico esta prerrogativa ela mata a lei e o médico, o mesmo que lhe salvou a vida. Todo seu argumento alega que o Art 4º desta lei provocaria problemas na execussão de alguns programas do SUS tais como o de prevenção e controle à malária, da tuberculose, da hanseníase e das doenças sexualmente transmissíveis. Alegando ainda que a sanção do texto original poderia comprometer as políticas públicas da área de saúde, além de introduzir elevado risco de judicialização da matéria.

Diante disso os órgãos que representam a classe médica argumentam que os diagnósticos realizados por outros profissionais da área da saúde estão garantidos pelo § 2º do Art. 4º e pelo § 7º do Art. 4º. É uma interpretação errônea dizer que a prerrogativa do diagnostico médico e o respectivo tratamento (Inciso I) impediria a continuidade de programas do SUS. Quanto aos programas de prevenção e controle citados são conduzidos por equipes multiprofissionais que contam com a presença do médico. No ingresso de um paciente em um programa de saúde pública, quem faz o diagnóstico, por exemplo, de tuberculose, é o médico e a equipe conduz o programa terapêutico que foi elaborado por toda a equipe, com a participação do médico. Lembramos ainda que o § 7º do Art. 4º resguarda as competências próprias das outras profissões. Como exemplo de competência de outras profissões nos programas de saúde pública citamos a Lei 7498/1986 que regulamenta o exercício da enfermagem.

Estas competências do Enfermeiro e dos outros profissionais estão resguardadas pelo §7º do Art. 4º desta Lei. Assim, fica bastante claro que esta Lei do Ato Médico não compromete as políticas públicas da área de saúde nem oferece risco de judicialização da saúde do nosso país. Trabalhar em equipe não significa que diversos profissionais possam realizar os atos uns dos outros. Mas sim, que cada membro da equipe realiza os atos próprios de sua profissão de maneira harmônica com os demais. Não existem rotinas e protocolos consagrados nos estabelecimentos privados de saúde nos quais profissionais que não são médicos realizem diagnóstico das doenças.

Portanto, caros parlamentares maranhenses, o que nós queremos não é impedir que outros profissionais sejam lesados em suas prerrogativas profissionais no exercício da saúde brasileira e sim que nós médicos semelhantemente aos outros profissionais que trabalham na saúde pública e privada deste país tenha sua identidade profissional estabelecida e com isto desenvolver com dignidade suas ações. Aos Srs. Parlamentares que terão esta histórica responsabilidade nas mãos no dia 20 lhes pedimos que votem com razão e de forma suprapartidária garantindo com seus votos a forma original da Lei do Ato Médico derrubando os vetos que só trazem problemas para a saúde pública deste país.

Depressão: é melhor prevenir do que remediar

Esse é um provérbio antigo e que tem um significado especial, apesar de muito pouco ser feito no sentido de sua ampla aplicação. Prevenir significa antecipar-se, chegar antes, impedir que algo aconteça evitar que um fato conhecido reapareça e cause danos ou problemas já conhecidos. A prevenção é uma das mais importantes ferramentas na área da saúde, embora não seja de fato aplicada em sua plenitude.

Do ponto de vista da saúde pública existem três modalidades de prevenção: primária, secundária e terciária. A prevenção primária evita que um fato por demais conhecido ocorra a um indivíduo ou a uma sociedade. Como exemplo, temos o processo de vacinação da população, através da qual evita-se que inúmeras doenças apareçam na população em  geral.

Na prevenção secundária, o problema já aconteceu, todavia, procura-se impedir que o mesmo evolua e gere mais danos ao indivíduo ou à sociedade. Na prevenção terciária, procura-se reparar os danos ocasionados pelos problemas, isto é, procura-se reabilitar os indivíduos em suas diferentes funções físicas ou psicossociais.

Nesse sentido, a depressão é uma das doenças mais prejudicadas por não se prevenir sua recorrência. Sabe-se que é um transtorno que reaparece ao longo da vida, que até 2030 será a doença mais prevalente entre os seres humanos, que é a segunda principal causa de incapacidade funcional até 2020, e, mesmo assim, ainda não se dispõe de políticas em saúde que impeçam seu reaparecimento.

A depressão atinge mais de 120 milhões de pessoas no mundo e responde por mais da metade dos suicídios, acarretando muitos sofrimentos à humanidade. Uma em cada 4 mulheres e um em cada 10 homens terão depressão ao longo da vida e um terço dos que já tiveram, recairão. Quem já teve uma crise de depressão na vida terá 50% de chance de ter outra; quem já teve duas crises, terá mais de 65% de chance de ter a terceira e, quem já teve mais de três crises de depressão na vida, terá 100% de chance de ter outras. Sendo assim, atualmente, recomenda-se que a partir da segunda crise depressiva, o médico institua inexoravelmente medidas preventivas para evitar que esta doença reapareça.

Devemos, portanto, adotar três grandes medidas diante da depressão: tratar a crise atual; prevenir a ocorrência de outras e reparar os danos que as crises anteriores determinaram na vida desta pessoa (reinserção). Se forem adotadas todas essas medidas já consagradas pela experiência e pelo conhecimento científico, estes enfermos não mais adoecerão. Essas medidas deverão ser tomadas em bloco para serem efetivas. Um relatório recente a OMS mostra que 45% das recaídas de depressão são atribuídas a pacientes que deixaram de tomar seus medicamentos ou interrompem o uso de forma inadequada, tornando-os vulneráveis a mais crises da doença. Neste contexto, conclui-se que o uso correto destes medicamentos evitará que haja recaídas.

Além da utilização criteriosa dos medicamentos, dispomos de dois outros meios físicos para se prevenir recaídas largamente utilizadas na Europa no Canadá e Estados Unidos: a Estimulação Magnética Transcraniana – EMT e a Eletroconvulsoterapia – ECT, ambos os tratamentos efetivos na prevenção de recaídas de depressão.

Sem prevenção, fatalmente ocorrerá sucessivas recaídas, os pacientes se tornarão refratários aos efeitos dos medicamentos, sua recuperação será mais difícil, as crises se tornam mais longas, profundas e mais severas e tenderão a se cronificar. Ao contrário, se forem prevenidas tais crises tudo pode se evitado, pois se manterão assintomáticos por muitos anos.

Devemos investir maciçamente na prevenção de recaídas entre os depressivos, pois é umas das poucas doenças em que a recuperação é plena, isto é, as pessoas se recuperam completamente, o que não ocorre quando o paciente recai várias vezes. Além do mais, já se dispõe de um vasto conhecimento de suas causas, de seu tratamento e do seu prognóstico.

Os avanços com novos fármacos para depressão e o surgimento de modernas técnicas de psicoterapia e reabilitação psicossocial através da terapia ocupacional deram um grande passo no tratamento, na recuperação e na prevenção de recaídas da doença. Portanto, vamos evitar que os pacientes voltem a adoecer, agora é a vez da prevenção.

 

 

Mais médicos, menos governo

Mais médicos, menos governo

O Governo Federal através dos ministérios da saúde e da educação, já começou a se dá conta do grande equívoco que cometera ao propor o famigerado Programa Mais Médico como uma das medidas para se enfrentar o problema da saúde pública brasileira. As reações a este projeto estão sendo executadas através de diferentes ações: das entidades médicas (Federação Nacional dos Médicos – FENAM; Conselho Federal de Medicina – CFM e Associação Médica Brasileira – AMB), ajuizaram ação judicial junto ao Supremo Tribunal Federal – STF, alegando inconstitucionalidade desta medida; ações políticas junto ao Congresso Nacional na tentativa de influenciar os parlamentares a votarem contra este projeto; ações de mobilização da classe médica em todos os estados brasileiros procurando sensibilizar a população quanto as precária situação da saúde pública de nosso país e, por último, a avalanche de emendas parlamentares na Câmara dos Deputados, em um total até hoje 560, onde os deputados federais recomendam mudanças no texto deste anteprojeto ante as distorções éticas, política e jurídica do mesmo. Sendo que tudo isso aponta para uma única direção, qual seja, o desnorteamento do governo federal em lidar com problemas da saúde de nossa população.

No contexto, esta proposta apresenta vários equívocos, tecnicamente o melhor seria propor mais equipes de saúde e não só “mais médicos” pois há muito tempo se sabe que o médico é um profissional que para funcionar bem terá que participar de uma equipe de saúde. Médico sozinho não faz milagre, especialmente se não houver condições para trabalhar situações muito comuns nos dias atuais. Promover saúde é uma responsabilidade compartilhada, é trabalhar em equipe para se compartilhar experiências e conhecimentos com outros profissionais, entre os quais enfermeiros, dentistas, assistentes sociais, psicólogos, farmacêuticos, terapeutas ocupacionais, técnicos em saúde, e assim por diante. Aonde já se viu se praticar saúde seja em que nível, primário, secundário ou terciário só com o médico?  Será que o governo não sabe disto? Ou quer subestimar a inteligência dos profissionais da saúde deste país ou do povo brasileiro?

Outro aspecto: onde já se viu se desconsiderar a barreira linguística na execução das ações em saúde, que é uma condição muito importante para se garantir uma boa relação médico (equipe) paciente e, não deram a menor importância a esse fato? Nos leva a crer que pelo fato da população se encontrar literalmente desassistida, especialmente em lugares longínquos, e por não disporem de condições para buscarem alternativas, qualquer coisa que for oferecido a estas pessoa, está bem. Em sendo verdade, acho que ao invés de ajudar a população mais carente e pobre deste Brasil, estaríamos enganando-os mais uma vez. Há um velho e consagrado aforisma que diz: “faz de conta que te trato e você faz de conta que ficou bom”, máxima que vem predominando há anos entre nós.

Eu pergunto: qual destes grandões da política brasileira mandaria seu filho, sua esposa, seu pai ou a si mesmo, ir se consultar com um médico que não entende nossa língua, nossas leis, nossa cultura, nossa práxis e notadamente nossa ética médica? Condições indispensáveis para uma boa prática médica. Há algo de muito errado em tudo isto.

Como se pode enfrentar os problemas da saúde coletiva deste país impondo um AI-6, ou obrigando os estudantes a trabalharem por dois anos no SUS, sem definição de seus direitos trabalhistas, sem uma carreira profissional de cargos e salários? Sem supervisão clínica e muitas outas prerrogativas importantes para o bom exercício ético e profissional da medicina? Aonde já se viu falar-se de “CRM provisório”, onde a própria ação médica exige total responsabilidade ética e jurídica do médico sobre seu ato? Onde anda a tradição do ensino médico, rasgada por um projeto de lei demagógico? Onde está a democracia para garantir aos cidadãos trabalhar com dignidade onde lhe aprouver? Onde está a liberdade de escolher inclusive sua especialidade médica?  Com este programa esdrúxulo, sem pé e sem cabeça, onde em seu próprio conceito já se torna ambíguo: “mais médico e não mais saúde”, isto tudo foi corrompido.

O que nós queremos, portanto é mais saúde, é mais seriedade na aplicação dos recursos públicos, é menos corrupção neste setor, queremos mais equipes multiprofissionais capacitadas comprometidas com a saúde coletiva garantindo saúde de qualidade em nossos interiores, queremos ética na gestão da coisa pública, enfim queremos é oferecer o melhor para todos seja pobre, ou seja, rico. Espero que o bom senso prevaleça na cabeça dos parlamentares brasileiros não deixando que o tradicional rolo compressor ideológico, nos atropele e nos faça engolir mais uma enganação.

 

Depressão: é melhor prevenir do que remediar

Esse é um provérbio antigo e que tem um significado especial, apesar de muito pouco ser feito no sentido de sua ampla aplicação. Prevenir significa antecipar-se, chegar antes, impedir que algo aconteça evitar que um fato conhecido reapareça e cause danos ou problemas já conhecidos. A prevenção é uma das mais importantes ferramentas na área da saúde, embora não seja de fato aplicada em sua plenitude.

Do ponto de vista da saúde pública existem três modalidades de prevenção: primária, secundária e terciária. A prevenção primária evita que um fato por demais conhecido ocorra a um indivíduo ou a uma sociedade. Como exemplo, temos o processo de vacinação da população, através da qual evita-se que inúmeras doenças apareçam na população em  geral.

Na prevenção secundária, o problema já aconteceu, todavia, procura-se impedir que o mesmo evolua e gere mais danos ao indivíduo ou à sociedade. Na prevenção terciária, procura-se reparar os danos ocasionados pelos problemas, isto é, procura-se reabilitar os indivíduos em suas diferentes funções físicas ou psicossociais.

Nesse sentido, a depressão é uma das doenças mais prejudicadas por não se prevenir sua recorrência. Sabe-se que é um transtorno que reaparece ao longo da vida, que até 2030 será a doença mais prevalente entre os seres humanos, que é a segunda principal causa de incapacidade funcional até 2020, e, mesmo assim, ainda não se dispõe de políticas em saúde que impeçam seu reaparecimento.

A depressão atinge mais de 120 milhões de pessoas no mundo e responde por mais da metade dos suicídios, acarretando muitos sofrimentos à humanidade. Uma em cada 4 mulheres e um em cada 10 homens terão depressão ao longo da vida e um terço dos que já tiveram, recairão. Quem já teve uma crise de depressão na vida terá 50% de chance de ter outra; quem já teve duas crises, terá mais de 65% de chance de ter a terceira e, quem já teve mais de três crises de depressão na vida, terá 100% de chance de ter outras. Sendo assim, atualmente, recomenda-se que a partir da segunda crise depressiva, o médico institua inexoravelmente medidas preventivas para evitar que esta doença reapareça.

Devemos, portanto, adotar três grandes medidas diante da depressão: tratar a crise atual; prevenir a ocorrência de outras e reparar os danos que as crises anteriores determinaram na vida desta pessoa (reinserção). Se forem adotadas todas essas medidas já consagradas pela experiência e pelo conhecimento científico, estes enfermos não mais adoecerão. Essas medidas deverão ser tomadas em bloco para serem efetivas. Um relatório recente a OMS mostra que 45% das recaídas de depressão são atribuídas a pacientes que deixaram de tomar seus medicamentos ou interrompem o uso de forma inadequada, tornando-os vulneráveis a mais crises da doença. Neste contexto, conclui-se que o uso correto destes medicamentos evitará que haja recaídas.

Além da utilização criteriosa dos medicamentos, dispomos de dois outros meios físicos para se prevenir recaídas largamente utilizadas na Europa no Canadá e Estados Unidos: a Estimulação Magnética Transcraniana – EMT e a Eletroconvulsoterapia – ECT, ambos os tratamentos efetivos na prevenção de recaídas de depressão.

Sem prevenção, fatalmente ocorrerá sucessivas recaídas, os pacientes se tornarão refratários aos efeitos dos medicamentos, sua recuperação será mais difícil, as crises se tornam mais longas, profundas e mais severas e tenderão a se cronificar. Ao contrário, se forem prevenidas tais crises tudo pode se evitado, pois se manterão assintomáticos por muitos anos.

Devemos investir maciçamente na prevenção de recaídas entre os depressivos, pois é umas das poucas doenças em que a recuperação é plena, isto é, as pessoas se recuperam completamente, o que não ocorre quando o paciente recai várias vezes. Além do mais, já se dispõe de um vasto conhecimento de suas causas, de seu tratamento e do seu prognóstico.

Os avanços com novos fármacos para depressão e o surgimento de modernas técnicas de psicoterapia e reabilitação psicossocial através da terapia ocupacional deram um grande passo no tratamento, na recuperação e na prevenção de recaídas da doença. Portanto, vamos evitar que os pacientes voltem a adoecer, agora éandre a vez da prevenção.

 

 

O vandalismo e suas diferentes formas de expressão

A grande insurreição do povo brasileiro ainda está viva. Hoje, passado alguns dias do apogeu das manifestações, setores mais organizados da sociedade se mantêm firme, atenta e lúcida reivindicando seus direitos.

Aqui e acola ainda vê-se focos destas manifestações demonstrando que a população, apesar de tudo, permanece atenta, ligada aos compromissos já firmados. Ocorre que as manifestações agora são mais setorizadas, localizadas revelando queixas e solicitação especifica de setores mais organizados da vida civil. No início eram basicamente os estudantes, e agora o Brasil mostra sua cara revelando insatisfação de todos os tipos através de seus protestos da classe trabalhadora.

Destas manifestações muita coisa boa aconteceu e nos ensinou a todos. Uma delas foi se redescobrir a força gigantesca que nós temos quando nos unimos em torno de ideais. Observe que todo movimento se verificou graças a comunhão de aspirações comuns pretendidas por todos, isto é, todos lutavam pelas mesmas coisas, pelos mesmos ideais e pelos mesmos propósitos através do mesmo espírito de luta e contra as mesmas situações que prejudicam a população: desmandos, incúria e negligência, corrupção e muitas outras mazelas dos dirigentes públicos no trato dos interesses sociais e coletivos.

A moralidade deste movimento social, portanto, ocorre na busca de mais justiça, de igualdade social, de melhores condições salariais, melhores condições de saúde, educação, de melhores condições de moradia entre outras coisas. Ocorre que associado a este grande movimento reivindicatório inspirado na democracia, na dignidade e na ética, surge outro que vem merecendo toda nossa atenção, qual seja, a manifestação de violência e vandalismo entremeado nestas manifestações sociais reivindicatórias.

O quebra-quebra, a badernagem, a violência designadas de vandalismo que ocorre juntamente às manifestações reivindicatórias mais pacatas e ordeiras, também podem sociologicamente representar expressões de insatisfação popular de seguimentos ou grupos de pessoas que se encontram na mesma sociedade que nós fazemos parte. Não são seres de outro planeta, ou de uma sociedade excêntrica diferente, mas pertencem à mesma sociedade que construímos. São pessoas ou grupos, portanto, que expressam os mesmos dilemas, as mesmas insatisfações, inseguranças e contradições reveladas por outros grupos desta mesma sociedade que de forma ordeira e pacata reclamam. Estas ações, todavia, são condenáveis em si mesmas por prejudicarem a todos e serem destituídas de um sentido ético e de direito que deem bases à suas ações.  Todos demonstram frustações, desigualdades, injustiças proveniente de um estado desatendo com as questões sociais.

São também manifestações com forma diferente de tratarem as grandes questões, que dizem respeito a todos nós. São pessoas que falam através das pedras nas mãos, com os paus, com o fogo, com os desatinos, com o crime e através da violência revelam suas insatisfações diante de tudo que vem ocorrendo no mundo e em nosso país.

O vandalismo é uma expressão diferente, contrária a ordem e/ou à desordem social. São atitudes disfarçadas onde as condições que as incentivam não se justificam em si mesmas. São comportamentos sem limites, irresponsáveis e criminogênicos, mas que fazem parte do nosso viver e que podem expressar as profundas contradições que nos sustentam.

Veja por exemplo a violência contra nosso patrimônio moral e ético ao vê o Renan Calheiros, um homem que há bem pouco tempo fez o que fez em nossa república, ser presidente do Congresso Nacional a mais importante instituição política deste país; vê os bandidos do mensalão exercem cargos de notoriedade pública na Câmara dos Deputados, embora já julgados e condenados pela Corte Suprema deste país e até hoje soltos por aí; vê políticos chefes de estado passearem de aviões das forças armadas gastando fortunas indo para casa de campo e/ou vê jogo de futebol; ver parlamentares que se omitem em votar as matérias que irão beneficiar a população; vê o ministro de a saúde importar médicos de outros países para atender nossas populações desassistidas por falta de cama, de soro, de medicamentos e de condições dignas para realizar o trabalho médico.

Estas e muitas outras situações revelam as idiossincrasias sociais e políticas que ainda não tivemos forças para impedir, que podem ser consideradas também violências ou formas de vandalismo contra nossa ética, nossa dignidade, nossa cidadania e contra nosso maior e mais importante patrimônio público que é a ingenuidade e a fé do povo brasileiro, fatos que nos inspiram a ser tolerante ante estas contradições.

Portando, sou absolutamente contra qualquer forma de violência ou vandalismo, porém é muito importante que ao se examinar tais manifestações a contextualize com todas as particularidades que lhes digam respeito, para se entender bem o que se passa com este fenômeno neste momento histórico da vida nacional.

Reinserção psicossocial dos dependentes de drogas

            Um dos temas sobre os quais mais se debate em nosso país, na atualidade, é a questão das diferentes modalidades de internação que se deve oferecer ao dependente de álcool e outras drogas. Boa parte da celeuma gira em torno do tratamento involuntário e compulsório, previstos em lei. E, no foco da atenção, estão os pacientes que já se encontram em condições precárias do ponto de vista médico e psicossocial, não dispondo de recursos neuropsicológicos e emocionais para decidir se querem ou não se tratar.

            A moral da lei é garantir proteção da saúde e da vida dos enfermos e dos outros. Ela regulamenta procedimentos das instituições, dos profissionais e das famílias, além de definir as atribuições de cada um no curso do tratamento dos dependentes.

Como especialista na área, entendo que só as garantias já definem a lei como um grande instrumento jurídico a favor da vida e da saúde. Pois, contrariamente ao que muita gente ainda pensa, os usuários de álcool e drogas, quanto mais afetados em sua saúde mental pelo uso da substância, perdem progressivamente sua capacidade de decidir, optar ou escolher o que é o melhor para si, sendo que, na maioria das vezes, quando o fazem, estão sob a influência dos efeitos da droga.

Toda essa situação provoca dramas pessoais e sociais graves, em geral, afetando gravemente as famílias dos dependentes químicos, que ficam desesperadas, desiludias e descrentes, não sabendo onde encontrar ajuda. Muitas já perderam tudo financeiramente, seja por conduta transgressora do dependente, que vende tudo de casa para se drogar, ou por já terem perdido o controle total da situação. Muitos familiares têm sua saúde metal abalada pelo sofrimento e frustração impostos pela situação e já perderam a esperança na recuperação.

O que agrava mais ainda a situação é que há deficiências grosseiras na política de saúde sobre este assunto, pela inexistência de leitos hospitalares para desintoxicação dos enfermos, pronto-socorro especializado para agudos, ambulatórios de especialidades que sejam referências às famílias e aos pacientes e, por último, deficiência de pessoal treinado e especializado para garantir a exequibilidade da assistência aos enfermos.

Duas estratégias relevantes nesta área e ainda muito pouco debatidas são prevenção e reinserção social de dependentes químicos, mas negligenciadas pelo poder público na composição de suas medidas. Elas compõem o quadripé das políticas públicas sobre este assunto: redução da oferta (tráfico de drogas), tratamento e reabilitação (saúde), prevenção e reinserção social (educação e social). Em nosso país a ênfase é dada prioritariamente a assistência e redução do tráfico de drogas, executadas muito bem pelas polícias, apesar de deficiências apontadas acima. Porém, sobre estratégias de prevenção e reinserção social, trata-se muito pouco ou quase nada.

Na linha do tempo, temos que preparar nossa juventude para assumir os papéis que hoje assumimos na vida social, na vida pública e na economia etc. Temos que promover mecanismos que garantam o crescimento e desenvolvimento saudável de nossa juventude, livre de drogas e que se reconheça que usar drogas é uma prática insalubre e nefasta que só traz problemas e que o prazer advindo do uso é uma espécie de arapuca em que, ao entrar nela, é difícil sair. Temos que garantir uma juventude que se perceba importante, participativa, de valor no cenário da vida social e institucional de nosso país. E, isto tudo deve ser construído e fomentado em políticas educacionais, sociais e de saúde bem elaboradas e bem executadas.

Reinserção social de dependentes de drogas deveria ser prioritária na política sobre este assunto, pois são estratégias que favorecem reaquisição de tudo, ou parte de tudo, que foi perdido do ponto de vista psicossocial em razão do uso de drogas, além de evitar um dos maiores problemas encontrados entre os enfermos, que é são as recaídas. A reinserção social resgata a cidadania, os direitos individuais e sociais e o valor dessas pessoas e de suas famílias. Saem da condição de pária social, uma pecha maldosamente atribuída aos enfermos, para se transformarem em cidadãos dignos, livres e produtivos.

Diagnóstico e tratamento da depressão na infância e na adolescência

Ao contrário do que muitos pensam, crianças e adolescentes podem também sofrer de depressão, uma condição que agrava mais ainda as perspectivas sobre a doença. A depressão que sempre pareceu ser um mal exclusivo dos adultos, hoje atinge cerca de 2% das crianças e 5% dos adolescentes do mundo, conforme dados da Organização Mundial da Saúde – OMS.

A OMS diz, ainda, que nos próximos 20 anos (até 2030), a depressão deverá tornar-se a doença mais comum do mundo, atingindo mais pessoas do que o câncer e as doenças cardiovasculares. Atualmente, mais de 450 milhões de pessoas são afetadas por transtornos mentais diversos, a maioria delas nos países em desenvolvimento.

Entre as crianças, o índice de depressão também é preocupante. Nos últimos 10 anos, o número de diagnósticos de depressão em crianças, entre 6 e 12 anos, passou de 4,5 para 8%, o que representa um problema ascendente. “Setenta por cento dos adultos que apresentam quadro de depressão crônica têm histórico da presença da doença desde a infância. Ou seja, se não tratarmos o paciente enquanto criança, isso pode contribuir para que ele se transforme em um adulto depressivo”, comenta Fábio Barbirato, neuropsiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Pelas próprias características dessas idades, diagnosticar depressão é bem complicado, pois nas crianças, os sintomas depressivos podem ser confundidos com mal-criação, birra, mau humor, tristeza e agressividade, irritabilidade ou nervosismo. Porém, o que vai distinguir uma coisa da outra é a evolução e as características clínicas das queixas apresentadas por essas pessoas. Na adolescência, o diagnóstico de depressão é também complexo, pois a mesma pode se revelar de diferentes maneiras, particularmente, no aspecto das relações sociais: desinteresse, apatia e retraimento social e no bem-estar geral e, nesta fase, o mais preocupante são os elevados índices de suicídio que podem ocorrer, especialmente quando a situação não é adequadamente diagnosticada e tratada.

Não devemos confundir depressão com as angústias provenientes dos conflitos naturais próprios da adolescência, pois o processo do adolescer é muito delicado e se caracteriza, entre outras coisas, pelas contradições, rebeldias, insatisfações constantes e ânsias de mudanças comuns nesta época da vida de tal forma que os sintomas próprios da depressão podem estar mascarados com estas peculiaridades naturais da idade, dificultando muito o diagnóstico da doença.

Entre os principais sintomas de depressão estão: alteração de humor, com irritabilidade e ou choro fácil, ansiedade, desinteresse em atividades sociais, como ir à escola, brincar com os amigos ou com brinquedos, falta de atenção e queda no rendimento escolar, distúrbios de sono, como dificuldade pra dormir ou ter sono o dia inteiro, perda de energia física e mental, reclamações por cansaço ou ficar sem energia, sofrimento moral ou insatisfação consigo mesmo, sentimento de que nada do que faz está certo, dores na barriga, na cabeça ou nas pernas, sentimento de rejeição, condutas anti-sociais e destrutivas, distúrbios de peso (emagrecer ou engordar demais), enurese e encoprese (xixi na cama e eliminação involuntária das fezes). Para a OMS se a pessoa apresentar cinco, entre os 13 sintomas referidos acima, o diagnóstico poderá ser efetivado.

E, neste caso ante os primeiros sinais ou sintomas da depressão, os pais devem encaminhá-los a um profissional o mais rápido possível. Na maioria das vezes, o apoio da família e a psicoterapia são suficientes para ultrapassar a situação. Se, a partir dos 9 anos de idade, persistirem ou se agravarem tais sintomas, faz-se necessário, em alguns casos, intervir com medicamentos. Além do mais a depressão infantil pode desencadear várias outras condições médicas, tais como: anorexia, bulimia, etc.

Um fato importante é que depressão tem base genética e que filhos de pais com depressão têm mais chance de ter a doença, o que não significa que não se possa tratar, prevenir e curar esta condição. O importante é que tanto o diagnóstico quanto o tratamento devem ser o mais precoce possível para evitar cronificação prematura do quadro depressivo. A psicoterapia é recomendada para crianças com até 9 anos, embora a depressão possa ser diagnóstica a partir dos 4 anos. E, a partir dos 9 anos de idade, pode-se recomendar o uso de medicamentos, sempre associados à psicoterapia, pois a associação de ambos pode proporcionar respostas satisfatórias em até 95% dos casos.

 

A violência como marca assustadora da sociedade

É cada vez mais desanimadora a possibilidade de nós, nos próximos anos, vivermos em uma sociedade que viva em paz, muito embora seja o grande clamor nos dias atuais. Todos clamam por paz, por justiça, por mais igualdade e, sobretudo por segurança. Este último apelo cresce em proporções avassaladoras em consequência do aumento dos índices de violência em nossa sociedade.

É um tema que abastece a grande mídia nacional. Vejam que boa parte do tempo dos noticiosos, dos telejornais e de outras mídias é dedicado a anunciar fatos de conteúdos violentos e muitos com requinte de crueldades, inaceitáveis. Os anos passam, as reclamações se avolumam e parece que estamos imobilizados diante do avanço sistemático da violência entre nós.

A violência, sob qualquer ótica que a examinemos, nos conduz a considerá-la como um epifenômeno que tem suas raízes nas dimensões individuais e sociais, onde um grande número de fatores de diferentes matizes concorre para sua expressão final. Há uma corrente de pensadores e de estudiosos, entre os quais sociólogos, antropólogos, juristas, psiquiatras e outros tantos profissionais, que consideram a violência como uma espécie de “ponta de um iceberg”, onde os verdadeiros problemas estariam submersos e o comportamento violento seria o pano de fundo para não os vislumbrar. Isto é, a violência seria um sintoma que esconde a verdadeira doença a que estamos submetidos, e esta, por sua vez, expressaria as profundas contradições e desagregações tanto individuais quanto sociais da atualidade.

Por outro lado, há os que acreditam que devido ao alto grau da sua presença e dos graves problemas a ela relacionados, ela própria se tornaria fenomenologicamente “o problema” com identidade, autonomia e independência no contexto social. Portanto, a violência seria um fenômeno independente, com vida própria, não sendo um “sintoma” de algo que nos constrange, como vimos acima, mas ela, em si, seria a doença.

Há verdades em ambas as afirmações. Acredito que a presença da violência em uma sociedade reflete tanto uma coisa quanto a outra, isto é, sintoma e doenças caminham juntos, de tal forma que o melhor seria entendermos a violência como um fenômeno composto de ambos os argumentos. Ocorre que passa a ser tão comum e frequente a prática da violência, que se torna banalizada.

As pessoas só se dão conta de suas inseguranças e nada mais. O fato violento passa ser banal, comum e corriqueiro. As manifestações de indignação se dão de forma localizada e isolada, dissonante das medidas públicas que são utilizadas para seu enfrentamento. E como isto se daria? Através da criação de um ser humano violento, autor e vítima do próprio comportamento violento. Não somos violentos em nossa natureza, mas estamos nos transformando em seres violentos. E é este homem violento que produz, fabrica e cultiva a violência. É um novo ser que está sendo construído pela sociedade moderna, indiferente à dor e ao sofrimento do outro, um homem que a cada dia pratica a maldade com requintes de crueldade, um homem distante da ética, da bondade da crença, da fé, um homem que cultiva o desamor, arrogância, onipotência, ávido pelo poder, pela posse, sem solidariedade e sem humanidade, entre outras coisas. Posso afirmar que este homem contemporâneo expressa a própria violência em sua natureza, embora não o sejamos. A sociedade que se constrói reflete o que se passa por dentro de cada um.

A impressão que se tem é que cada um de nós vive como se fosse morrer amanhã e temos que fazer tudo de forma rápida e ao nosso modo. Matamos os outros como se não fizessem parte de nós, ou como se nós mesmos fôssemos nossos próprios inimigos. Destruímos as plantas, os animais, como se não fizessem parte de nosso universo, exortamos o ódio como se fosse um instrumento de defesa, não sabendo que o ódio destrói a quem o sente e não aos outros. O homem que está sendo construído está destruindo-se a si mesmo.

Esta é a matriz da violência. E tudo que venha a surgir com este colorido brotará daí. Não é o trânsito que mata, as drogas que destroem a humanidade, muito menos a injustiça que nos destrói, muito embora se saiba que cada um desses itens são sumamente importantes na avaliação da situação e tenha sua importância relativa, mas o essencial está dentro de cada um de nós, e o pior é que muitos não sabem nem para onde querem ir.

 

 

 

 

 

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