Os crimes que a revisão comete

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Outro dia tive a grata satisfação de dar de cara com um livro de pesquisa interessantíssimo sobre cordel. Seu autor é Ribamar Lopes, maranhense de Pedreiras, e Sete Temas de cordel o título da obra que trata, como o título indica, do estudo de alguns temas recorrentes na poesia popular, entre eles Mulher, Diabo e Cachaça.
Por vários motivos o livro, publicado através do Plano Editorial Secma de 1993, me chamou a atenção. Cito dois: o primeiro, por ser de alguém natural do Maranhão, estado sem forte tradição (ou sem tradição alguma) na produção dessa linha de poesia popular e, muito menos, na produção de pesquisa acadêmica sobre o assunto. O segundo, por conta de uma historinha de fundo envolvendo a confecção do referido livro.
Reza a lenda que a revisão, esmerada em dar o merecido lustro ao trabalho de Ribamar Lopes, tirou vírgula daqui, colocou ponto ali, e convicta de que havia dado o melhor de si, mandou os originais para a impressão. Resultado: quando recebeu os livros, Lopes quase cai de costas com o que ele achou uma completa heresia perpetrada contra os versos contidos no trabalho, que agora escritos de forma “correta”, perdiam muito das nuances, ritmos e sutilezas inerentes à poesia cordelística.
Furioso, Ribamar Lopes não aceitou os volumes a que tinha direito. E apenas por sorte (alguém decidiu que o melhor seria preservar o lote), a tiragem não foi parar na fogueira, como o autor certamente queria.
Seguem uns versos do inspirado poeta Afonso Nunes Vieira (com o esmero da revisão) sobre um dos temas tratados no livro, no caso, a mulher:

A mulher é como a joia:
tem seu valor garantido.
Desde que o mundo foi feito
assim ficou definido.
Dos vivos que tem a terra
ela é o ser mais querido.

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