A geração que se perdeu

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Por Yglésio Moisés
médico

Quando eu vejo pessoas com idades de 24 a 38 anos envolvidas numa conspiração como essa que vitimou Décio Sá, eu não consigo simplesmente pensar na pessoa que se foi… O problema é bem maior…

Meus amigos, nós perdemos uma geração completa de jovens: aqueles que nasceram no fim da década de 70 e no começo da década de 80… Perdemos porque , ao ver jovens que cresceram no caminho da criminalidade disfarçada em práticas como agiotagem e conspiração, corrupção e assassinato, temos que nos perguntar: onde foi que se perdeu o caminho? Lamentar é preciso…

Lamento porque em um país em que as oportunidades cresceram, mesmo após um longo período de instabilidade política e econômica, sim, neste Brasil que lentamente começa a encontrar seu caminho, nós ainda presenciamos os nossos jovens procurando o enriquecimento fácil e desonesto, trocando uma vida promissora inspirada no trabalho duro e na honestidade pela comodidade de milhares/milhões de reais, carros importados, vida noturna descontrolada e o culto ao desperdício de dinheiro, à ostentação injustificada, tudo isso conseguido de maneira ilegal, vergonhosa, marginal….

Vemos esses jovens encomendando assassinatos…Vemos esses jovens matando por tão pouco… Vemos as pessoas simplesmente morrendo de maneira desnecessária… Repito : desnecessária…

Se pararmos para pensar, há entre os assassinos alunos de escolas tradicionais, inclusive com nome de congregações religiosas. Eu pergunto: o que ensinaram de valores religiosos nessas escolas? Teriam falhado em ensinar o “não matarás, não furtarás” ? Teriam ensinado realmente algo de humano nessas escolas? Qual o ambiente que formou pessoas com essa natureza? Os seus pais esqueceram deles? Onde foi que se errou?

Aí eu continuo a pensar e me lembro que no meio desses criminosos, temos um membro da Polícia Militar envolvido. Lembro que um policial, seja civil, militar ou federal, qualquer um desses profissionais, ao cometer ou ser cúmplice de um crime bárbaro, dessa covardia toda, termina tornando-se pior que o próprio criminoso, pois além de matar ele protege o criminoso, além de mentir para a sociedade, ele também a destrói lá no fundo e na superfície aquilo que ela tem de mais valioso: o seu código de autoproteção, a partir de agora deixado de lado….

E qual o resultado disso ? Percebam: a nossa segurança enquanto espécie humana foi brutalmente comprometida… Ninguém mais está seguro…Não há mais liberdade de expressão e o medo de perder a vida faz com que o justo se cale perante o criminoso, faz com que o nobre se acovarde, faz com que o bem esmoreça…Mata a nossa humanidade a sangue frio, diante de nossos olhos.

Nossos jovens estão matando a nossa sociedade, como nesse caso do jornalista e nós, os próprios jovens, muitas vezes acusamos os nossos “velhos” dos males que ainda temos disseminados na nossa tão chamada “sociedade”. Chamamos os mais antigos de “velhas raposas”, mas os jovens se comportam como novas “aves de rapina”.

Se não houver uma mudança de atitude da nossa geração e se , ao contrário, as práticas cruéis continuarem a se reproduzir como agora, não me resta dúvida que não haverá muito o que fazer e teremos muito pouco a ser sonhado e com certeza muitas lágrimas a serem derramadas, assim como o nosso sangue, que é tão sangue quanto aquele “sangrado” das vítimas da indústria da morte,onde cada vida tem o seu preço e cada assassinato é como um comando “Enter” no teclado.

Ao me deparar com essa “indústria da morte”, comandada por jovens operários, alguns deles nossos amigos de escola, nossos conhecidos da noite, nossos irmãos na Terra, só me fica a pergunta:- Existe ainda lugar seguro no mundo? E em quem podemos confiar? O que está acontecendo com o ser humano? A verdade é que não sei de quase nada nesse momento..Só posso dizer que estou com medo desse mundo aí fora, onde os jovens que mudariam o mundo, escolheram fazer dele um lugar cada vez pior… E mais perigoso de se viver…

Pensem nisso… E por favor, amem seus filhos!!! abracem-nos sempre e conversem com eles!!! Perguntem o que andam aprendendo na escola além da matemática… Talvez a próxima geração ainda tenha chance de fazer mais pelo mundo do que a nossa está fazendo.

1 comentário para "A geração que se perdeu"


  1. José de Oliveira Ramos

    Meu caro articulista, é rara a minha passagem por aqui. Participa muita gente que não tem respeito por ninguém, tampouco respeita a opinião diferente da sua. Mas, vamos à minha visão disso tudo.
    A resposta para essas suas indagações estão, acredito, em algumas páginas e parágrafos do livro O Capital, de Karl Max. É um livro atualíssimo que, infelizmente, muitos não conhecem. Lá encontramos esse mundo atual do consumismo exagerado, falso e desnecessário. O ter tentando sobrepujar o ser. Vale mais quem tem e nenhuma importância tem quem é. “Ser” é nada. “Ter” é tudo. Se eu sou um sujeito correto, cumpridor dos meus deveres, educador dos meus filhos e ando num fusquinha mil e lá vai pedrada, eu não significo nada. Eu não sou nada. Mas se eu sou um carinha desses aí e ando no carro do ano e de marca importada, não importando como eu adquiri aquele veículo, aí em “sou alguém”. Há uma mudança de valores e tudo isso, para satisfazer ainda mais o capitalismo, o consumismo, o modernismo.
    Isso tudo, paralelamente, tem mudado o foco e a ética de muitas coisas. Veja a profissão do Bacharel em Direito. Ele se constitui para defender alguém e pouco lhe interessa a ética, se o acusado é culpado ou não, se cometeu ou não algum crime, da mesma forma que muito pouco lhe interessa a forma e os meios como vai fazer a defesa. A primeira orientação é para o acusado “negar” tudo, ainda que existam provas materiais. Isso cria a instabilidade e a dúvida. Ele deixa de ser o réu e passa a ser “apenas” o acusado. Há todo um conglomerado de mudanças que contribuem, hoje para todos os itens que você, com muita sorte, colocou no texto.
    Essa “geração Nescau” está no comando. O capital incucou na mente e nos hábitos da sociedade que, para ter alguma coisa, o casal tem que trabalhar junto, produzir junto, ganhar junto para as férias, as viagens, os carrões, as baladas, e tudo mais. Com isso, conseguiu uma coisa simples e importante no meio social: tirar a esposa, a mulher, a dona de casa de casa e, ainda que para ganhar um salário mínimo, deixar os filhos ao abandono, jogados à própria sorte e como presa fácil do ócio, um elemento suscetível ao tráfico, ao desmando, ao desrespeito. Essa geração cresceu e está crescendo sem o “olhar da mãe”, que saiu de casa para trabalhar e atender às falsas necessidades do consumismo. É simples corrigir isso, mudar o rumo? Não, não é. É trabalho para várias gerações. O caminho é cada um fazer a sua parte, respeitando o próximo, valorizando a vida e aceitando que, para viver, um precisa do outro.
    Veja apenas um exemplo: um policial militar de qualquer estado brasileiro, ganha quanto por mês?
    Ganhando o que ele ganha, sendo casado, com filho para sustentar, mandar para a escola, ele pode possuir um carro? Ele ganha o suficiente para manter uma família e um carro com todas as despesas legais? Ele pode trocar de carro todo ano, se não ganhou herança, se não ganhou na loteria? E por que os superiores dele não olham para isso? E não é diferente para o policial civil?
    Por que alguém vive a vida inteira estudando para se formar em Medicina e, depois de formado vai ser Prefeito numa cidadezinha do interior? Há alguma explicação para isso? Há sim. Todas as explicações estão colocadas no seu texto, ainda que de forma rápida.

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