O mau-humorado em foco

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Um problema muito comum nos dias atuais e que gera graves problemas de todos os tipos é o mau-humor, condição psicológica desagradável, reprovável socialmente e que sempre mereceu a atenção especial dos neurocientistas e psiquiatras. O mau humor, do ponto de vista médico, está relacionado à instabilidade do humor, que é uma das funções indispensáveis à saúde mental dos indivíduos.

O termo que traduz essa condição clínica é distimia, do grego dys (“defeituoso, anormal ou irregular”) e thymia (relativo ao humor). Portanto, significa “mau funcionamento do humor”. Foi reconhecida como condição médica nos anos 80 e é uma forma leve de depressão. Seus sintomas cursam pelo menos por dois anos, embora, à rigor, esse tempo seja bem maior no curso natural da doença. Quando ela se instala na infância, meninos e meninas são igualmente atingidos; quando ocorre na adolescência e na vida adulta, as mulheres são mais atingidas.

Esse transtorno mental atinge, pelo menos, 180 milhões de pessoas no mundo, que, se não tratadas, tendem a se tornar pessoas isoladas, das quais 30% podem desenvolver quadros depressivos graves. O mau humor é herdado, embora fatores ambientais interfiram no processo. Quase sempre inicia-se na adolescência, desencadeado por um acontecimento marcante. Porém, como essa fase da vida já é, de modo geral, conturbada, há dificuldade de identificar a doença.

A doença é sorrateira, instala-se de forma lenta e insidiosa, tornando as pessoas pessimistas, mau humoradas, irritáveis e rabugentas, reclamam de tudo e quase sempre estão  insatisfeitas. Apesar de cursar sem gravidade, semelhante a outras formas de depressão, a distimia prejudica muito a funcionalidade dessas pessoas, do ponto de vista cognitivo, familiar e social, embora, apesar disso, os elas mantêm seus trabalhos, estudos e outras atividades do dia-a-dia.

A perda do prazer e o desinteresse por tudo são características marcantes da doença. Levam uma “vida descolorida e sem sabor”. Não sentem graça em quase nada, se desanimam facilmente, são desmotivados, sempre reclamam e quase sempre estão descontentes com tudo. Quando esboçam alegria ou prazer, é de forma breve e discreta.

O distímico apresenta auto-estima prejudicada. Não se dão valor, menosprezam suas atitudes e não valorizam o que fazem. Não se dão importância embora, outras pessoa os valorizem. Tendem ao isolamento social e têm poucos amigos, falam pouco e na maioria das vezes se voltam muito para si mesmos e só veem o lado negativo de tudo.

Outros sintomas vão surgindo ao longo do tempo: desmotivação para os estudos, para o trabalho, para atividades de lazer, vida social e muitas outras atividades. Por isso mesmo quase sempre perdem a esperança e passam a nutrir ideias de que são incapazes.

Queixas como insônia ou hipersônia; perda ou exagero no apetite; dificuldade de concentração e na memória, levando a queda significativa no desempenho nas atividades que exijam uma boa performance dessas funções, poucos amigos e vida social limitada e uma sensação de falta de capacidade. Alguns chegam ao ponto de apresentar pensamentos suicidas e com clara tendência para abuso de tranquilizantes, álcool, tabaco e outras drogas.

Esses traços psicopatológicos acabam marcando psicológica e socialmente essas pessoas, as quais passam a ser vistas como “rabugentas, pessimistas, mau humoradas, negativas, etc”. Só procuram auxílio psiquiátrico se houver uma crise depressiva, pois “acham que são assim mesmo” e que não vão mudar.

A Distimia deve ser tratada com medicamentos, pois os estudos demonstram que a base da doença está em disfunções de algumas áreas do nosso cérebro (sistema límbico, o hipotálamo e o lobo frontal) que comandam a fisiologia do nosso humor. Como é uma doença de evolução longa, se não houver uma intervenção, haverá cronificação da doença, dificultando a recuperação das pessoas. Em geral, são utilizados medicamentos altamente eficazes e deve-se sempre associá-lo à psicoterapia, sobretudo, a cognitivo-comportamental.

 

 

 

 

 

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