Sociedade enferma

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          Caiu como uma bomba, em nosso país, dias atrás, a notícia que de dois jovens um de 17 anos e outro de 25 cometeram vários homicídios e depois da chacina, uma mata o outro e depois se suicida. De fato, foi chocante para todos nós esse ocorrido. Pessoas, adultas e jovens, que perderam suas vidas, inesperadamente, e de forma inexplicável por dois outros jovens que também, inexplicavelmente, se dispuseram a cometer tais crimes.

           Foi algo, realmente consternador, comovente. Imaginem crianças, adolescentes e adultos, dentro de uma escola pública, de referência da cidade, correndo, desesperadamente, de um lado para outro, fugindo de uma situação que poderia a qualquer momento lhes tirar a vida, barbaramente, sem qualquer motivo que pudesse explicar o que estava ocorrendo. De outro lado, o desespero das famílias, que não sabiam se seus filhos se encontravam vivos ou mortos diante de tamanha tragédia. É de fato, algo terrível e lamentável.

           Dificilmente, nesse primeiro momento, nem a polícia nem ninguém, teria a necessária tranquilidade e conhecimento para explicar o que acontecera. Uns acham, antecipadamente, que foi loucura, desses jovens cometerem tais crimes, outros tentam explicar tais comportamentos a partir da desagregação psicossocial e familiar que vivemos na atualidade, outros ainda, explicam tal fato baseados nos conflitos e problemas psicológicos que tais jovens, passaram nessa mesma escola, como os bullying, etc. E assim foram sendo dadas as devidas explicações sobre tais atrocidades. Enfim, começou a surgir inúmeras possibilidades que viessem esclarecessem a real motivação dos dois jovens a cometerem esses crimes.

           Em princípio, pode-se até supor que tais fatos tenham ocorrido devido a todas essas possibilidades acima aventadas e que cada um delas, isoladamente ou em grupo, guardando as devidas proporções, tenham tido mais influência uma sobre as outras, na determinação dos mesmos, contudo, nenhum deles, isoladamente, teria razões suficientes para explicar a dimensão total desse evento. Até, porque, há muitos anos já foi demonstrado, que todos os comportamentos humanos, sadios ou não, adequados ou não, normais ou não, do mais simples aos mais complexos, são causados por uma múltipla fatorialidade, onde aspectos pessoais, genéticos, socioculturais e conjunturais, colaboram para sua expressão.

          Sobre o fato em si, sabe-se que nosso país não tem tradição quanto a esses acontecimentos, se compararmos, evidentemente, ao que ocorre com Estados Unidos da América e em outros países, que de vez em quando anunciam esses tristes acontecimentos. Nesses últimos 10 anos, a informação que se tem, é que pelo menos 5 acontecimentos semelhantes a esse último, ocoream entre nós.

           Sobre isso, assim que a triste notícia começa a circular nas redes sociais e pela grande mídia, ouvi um comentário de um ator de novela, que me chamou a atenção, ele dissera: a “sociedade está enferma”, tentando atribuir esse acontecimento aos problemas, mazelas e contradições observadas na sociedade contemporânea.

            Pus-me então a pensar. De fato, a situação porque passa a sociedade moderna é no mínimo constrangedora preocupante e às vezes assustadora. Os inúmeros e problemas verificados nos relacionando uns com os outros tem se modificado muito. Ao ponto de todos nós, frequentemente, ficamos estarrecidos com tais mudanças, cada vez mais pronunciadas e profundas.

            Entre esses, destaca-se o uso cada vez maior de drogas de abuso, causadora de graves transtornos emocionais e psiquiátricos em pessoas ainda muito jovens. O empobrecimento sistemático e relevante da nossa cultura, tornando-a obscura e sem limites próprios, (veja o caso da música). A disputa insana e desenfreada no mercado de trabalho em diferentes áreas de atuação. Um volume impressionante de homicídios, só em nosso país são pelo menos 65 mil por anos, especialmente, feminicídios e infanticídios. Uma onda lamentável de suicídios, em adultos jovens e adolescentes, fato que em nossos pais já passam dos 10 mil/ano.

             A quebra dos valores tradicionais como a honradez e a ética. A prática descarada de crimes de todos os tipos (corrupção, lavagem de dinheiro, e outros de lesa pátria). O inegável enfraquecimento da justiça em suas diferentes formas de aplicação, o desrespeito aos outros e a insensibilidade humana, o gravíssimo aumento das doenças mentais e emocionais na população do mundo, a falta de solidariedade uns pelos outros, a derrocada dos valores da família, a perca progressiva da autoridade paterna, especialmente em relação a educação dos filhos e muitas outras mazelas, poderíamos aponta-las como os grandes sintomas dessa enfermidade social.

             Evidentemente, que diante de uma tragédia como essa, praticadas com requintes de crueldade, planejada e executada com detalhes, não nos permite apontar uma única causa, conforme os fatos elencados acima. Porém, devida a barbárie e a violência que foram praticados tais crimes pelos jovens, isso pode sugerir a presença de transtornos psiquiátricos, graves e profundas, nessas personalidades bem como outros tipos de distúrbios emocionais, afetivos e comportamentais, influenciados severamente pelos fatores associados à uma sociedade enferma e decadente. Certamente, ao longo das investigações muitos outros aspectos, serão revelados para se esclarecer melhor sobre as motivações desses fatos.

           O fato é que temos que aprender com ele. Além de lamentarmos profundamente ante o ocorrido e nos solidarizarmos com ambas as famílias, tanto às dos homicidas quando às dos que se foram, devemos entender que precisamos tirar nossos filhos do anonimato e da orfandade. Precisamos conversar mais com nossos jovens, ouvi-los mais, abraça-los mais, refletir mais sobre seus propósitos e projetos de vida, pois é isso que está faltando na sociedade atual. Isto é, estamos vivendo em uma crise profunda nas relações humanas ao pondo de, à pretexto dos avanços tecnológicos, atribuir aos smartphones, aos tabletes, aos PCs, às redes sociais, aos vídeos games e aos outros, a responsabilidade de proteger e educarem nossos filhos, e isso nunca irá acontecer.

           Se há uma situação que deveria mudar, profundamente, para evitarmos outras tragédias semelhantes a essa, será desenvolvermos ações que promovam a solidariedade entre os homens, promover o bem-estar comunitário em todos os sentidos e garantir boas relações entre pais, filhos e a escola, no processo de educar esses meninos para a vida.

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