Títulos de livros

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Na primeira vez em que encontrei o escritor Josué Montello, no Rio de Janeiro,  lembro que à vista do livro, que lhe apresentei, comentou: “Tem um título muito bonito”, referindo-se a O menino que via o além.  

Mais tarde, ele me escreveria uma carta muito gentil afirmando haver gostado do livro, mas não sei se,  de fato, o leu,  já que escritores consagrados e com múltiplos afazeres não têm tempo tão disponível assim para leituras,  tantos são os livros que lhes mandam, à parte os que têm de ler por dever de ofício.

 

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Mas não deve ter sido por causa do título, que esse  livro recebeu uma condecoração nesse mesmo ano da FNLIJ Fundação Nacional do livro infanto-juvenil como “altamente recomendado para leituras em escolas de todo o Brasil” e , logo a seguir, teve quinze mil exemplares adquirido pela prefeitura de Belo Horizonte o que provocou da parte da editora uma terceira edição.

Não deve ter sido pelo título, mas guardo a convicção de que um bom título sempre ajuda, não? Embora até hoje não tenha ideia conclusiva a respeito do grau de influencia do título, ou  da capa de um  livro, na sedução inicial que se estabelece perante o  leitor, guardo a convicção de que isso encerra mais mistérios ‘do que sonha a vã inteligência humana’.  O que induz a pensar que carece da parte do mercado editorial um estudo mais sério e profundo a respeito desse tema.

Lembrando que a maioria entra numa livraria hoje quase por descuido, o bom título para impulsionar as vendas seria aquele capaz de cooptar o leitor deixando-o sem alternativa diante de uma atração intransferível. Casos exemplares em livros de autoajuda parecem ter sido elaborados com essa única finalidade. Que alma desprevenida, religiosa ou não, é capaz de resistir a um título do tipo “Jesus, o maior psicólogo que já existiu.”? Existe imaginação mais benfazeja do que aquela que o transporta  para um divã, com Jesus Cristo, ao lado lhe escutando?

Acertar na mosca, não é tarefa fácil, porém, para alguém que busque a junção do criativo com o impactante, comercialmente falando, sendo, no entanto, isso perfeitamente possível. Títulos óbvios para obras geniais existem às pencas: Romeu e Julieta; Madame Bovary; Os irmãos Karamazov; Tom Jones; e são frequentes nos textos considerados clássicos, eis que  a genialidade do autor, posicionando-se à espreita no que vem pela frente, se basta e se resolve por si. Mas sempre foi possível escrever, também, um grande clássico com nomes pra lá de belos, como Emily Bronte, em O Morro dos ventos uivantes ( realce-se aqui a feliz solução encontrada para a tradução do original Wuthering Heights, tornando-o ainda melhor),  ou Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust.

 

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Como os gênios da literatura acima citados já não surgem hoje em dia com a mesma profusão, entendo que se deva ter algum cuidado na escolha do nome que se deva dar a um livro, em paralelo à dimensão daquilo que se pretende ter escrito. Certo, muitas vezes o excesso de cuidado redunda em fracassos retumbantes, mas com cuidado – e muita sorte -,  é possível sonhar em um dia alcançar as soluções geniais encontradas por John Fante em Pergunte ao pó; Scott Fitzgerald em Suave é a noite; Carson Mc Cullers em  O Coração é um caçador solitário; ou para não citar só os estrangeiros Olha para o céu, Frederico! de J. Cândido de Carvalho ou o recente O Amor e outros objetos pontiagudos, de Marçal Aquino.

Jose Ewerton Neto, autor de O oficio de matar suicidas.

 

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