O EXISTIRMOS DE JOMAR MORAES

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EXISTIRMOS: a que será que se destina? Se pensarmos na existência da humanidade, como um todo, não se encontrará resposta fácil para essa questão na ciência, sendo necessário que nos socorramos da religião e da fé como solução para essa indagação tão vital, mas tão secundarizada no dia a dia dos homens. “Não se preocupe em entender, a vida é absurda!”, já sentenciava Clarice Lispector.

Diante das falas emocionadas das últimas homenagens prestadas a Jomar Moraes (não cabe aqui  a descrição de sua rica biografia tão conhecida de todos)  por representantes da AML, da sociedade, amigos e parentes, ficou-me a convicção  de que o “existirmos” de Jomar Moraes se destinou, por vontade própria, à cultura e aos livros, usando como veículo para a consumação dessa sina,  por ele escolhida, a AML, instituição à qual dedicou quase uma vida inteira.

Ao enfatizarem essa simbiose, os confrades Benedito Buzar, presidente da AML e Lourival Serejo, em ocasiões distintas,  sugeriram que Jomar Moraes tantas vezes foi a própria AML, enquanto teve vida para incorporá-la, no exercício dessa capacidade de encontrar essa destinação, tão rara em muita gente, que motiva a própria existência. “O segredo da  existência humana consiste não apenas em viver mas em encontrar um motivo para viver”. O resto ( e como foi grande esse resto!) foi, entre outros dons, a sua generosidade tão decantada e exaltada pelos parentes e amigos.

No meu caso, essa generosidade se manifestou através de uma amizade de raízes antigas e familiares (meu pai Juvenil Ewerton aprendeu a tocar saxofone com o seu Alípio de Moraes, que era músico e compositor) e facilitou-me a posterior inclusão na vida literária maranhense, primeiro ao possibilitar a publicação, pelo extinto Sioge que dirigiu, do meu primeiro livro de poesias  chamado Estátua da Noite quando, vindo da adolescência, eu não sabia que podia vir a ser poeta e, depois,  ao enviar para o escritor e cineasta José Louzeiro, sem que eu soubesse, os originais da novela  O prazer de matar   que, depois de uma resposta encorajadora e entusiasmada do consagrado escritor maranhense,  mostrou-me  que eu podia vir a ser escritor.

“Pois quando tu me deste a rosa pequenina ” é o verso seguinte de Caetano Veloso, que sucede  ao verso-indagação do início desta crônica e que pertence à, talvez , sua mais bela composição, o xote Cajuína, que foi escrita em homenagem ao poeta e compositor piauiense Torquato Neto, precocemente morto. Esse verso, que não é uma rima e, muito menos, uma solução, como diria Drummond,  sugere que o “Existirmos” de determinadas pessoas, quando especiais ( por terem encontrado a sua destinação), complementam e ajudam o Existirmos de tantas outras. O que  também foi evocado pelo poeta Chico Poeta em sua homenagem póstuma a Jomar Moraes quando exaltou jamais haver se constrangido,  pelo contrário sempre se orgulhou, de ter usufruído e tirado proveito dessa generosidade intelectual de Jomar Moraes , uma Biblioteca Ambulante a serviço da comunidade, como eu também me referi , em entrevista no mesmo dia de sua morte , reproduzida nas páginas deste jornal.

Pois foi essa rosa cristalina da esperança na cultura e nos livros,  que densamente povoou o seu EXISTIRMOS  e que ele espalhava  para iluminar a destinação de tantos outros, como eu, no rumo da vocação literária ou artística , a que repousava,  entre  outras rosas que lhe foram presenteadas em seu ato final;  oferendas recíprocas que levou  em sua viagem, no rumo de sua , agora sim, imortalidade.

 

Jose Ewerton Neto, autor de O oficio de matar suicidas                                                                                  [email protected]

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