SAMPAIO. A história do time que FAZ HISTÓRIA

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1.Corria o ano de 1922 em São Luís. Quer dizer, nem corria tanto assim. As notícias do resto mundo chegavam atrasadas, o dinheiro no bolso era lerdo, rapidez só mesmo em se falar mal da vida alheia. Avião, por exemplo, era novidade maior do que Seleção Brasileira de Futebol ganhar em Copa do Mundo neste século XXI.

 

Pois foi por essa época que Pinto Martins, cearense e Walter Hinton, norte-americano, se uniram numa empreitada. (Normalmente, mistura de cearense com norte-americano ou dá Estátua da Liberdade libertando-se e fazendo ponto na praia de Iracema, ou cabeça-chata fazendo exibição de forró no East Village). Mas, Pinto e Walter, surpreendentemente, estavam era cruzando os céus das Américas, pela primeira vez,  em um hidroavião, com escala prevista em São Luís. Ora, se o primeiro voo do mais pesado que o ar   havia sido feito somente há 16 anos por Santos Dumont, em seu 14 Bis, e, muito longe, em Paris, imagine-se o alvoroço da cidade para participar também da brincadeira e ver de perto que raios de troço era esse tal de avião. Os comentários só podiam ser dessa ordem:

 

 

Pinto Martins

“Já vi muito pinto voar, mas nessa altura, não. Ainda mais cabeça-chata

 

2.O certo é que tudo era mesmo extraordinário e jamais visto. Ainda mais que o avião tinha nome,  e se chamava Sampaio Correia, ou melhor Sampaio Correia II.  A explicação para um nome de gente no aparelho é que o avião foi doado aos pilotos aventureiros pelo presidente do Aero Clube Brasileiro, o senador José Matoso Sampaio Correia, carioca, sendo bastante normal, já  nessa época,  que os pilotos retribuíssem a gentileza botando no avião o nome do doador. Não se diga, porém, baseado no que fazem os políticos  hoje em dia , que o senador Sampaio Correia doou o avião em troca da  propaganda de seu nome. Não havia IBOPE e televisão muito menos. Talvez quisesse mesmo era se  eternizar, coisa que de outra forma jamais conseguiria.

 

3.Foi então que no dia previsto, 7 de dezembro de 1922 uma multidão de quinze mil pessoas (grande parte da população da cidade) se acotovelou para ver o show da chegada do dito cujo, mais ou menos como se acotovelam hoje as pessoas para saudar celebridades da música Como toda celebridade que se preze Sampaio Correia, o avião, também não compareceu no dia do show. Ficou retido em Belém, não por jogada de marketing, mas por razão mais vulgar: falta de combustível, o que só fez aumentar a ansiedade do povo. Quando aqui aterrissou dois dias depois  dá para imaginar a festa: discurso de político, homenagens, passeios em clubes, etc.

 

Quando os pilotos se despediram da Ilha do Amor, só uma semana depois, Pinto estava definitivamente consagrado. Se seu outro pinto (o de baixo) trabalhou enquanto  seu  dono tirava férias, já que mulher pra isso não deve ter faltado, nunca se soube. A herança principal deixada foi justamente o nome do avião.

4.Nome por nome, o time de São Pantaleão  até que , já tinha um : se chamava Remo. Mas, quer coisa melhor do que um nome de gente e,  ao mesmo tempo, de avião? Pois foi essa brilhante ideia que ocorreu ao taberneiro Almir Vasconcelos ao colocar na pequena agremiação o nome do avião: quem simpatizasse com o time lembrava logo do avião e quem sabe, depois dessa  ele começasse a decolar. E foi o que, definitivamente, aconteceu.

A partir daí todos sabem da história. Às vezes esquecem é que o time é um dos mais originais do mundo, não só pelo nome como por muitos outros motivos. Entre eles:

 

1.O único no mundo que tem nome de um avião.

2.O único que no seu uniforme, inicialmente visava as cores do Maranhão e dos Estados Unidos e acabou  dando na Bolívia. Ou seja, o único que tem as cores de três países.

3.O único cujo distintivo foi de autoria de um sapateiro.

4.O único time que já foi campeão da terceira divisão , da segunda e da quarta. (E que em breve vai ser da primeira).

  1. O único que tem o calção cáqui.
  1. O único do Maranhão que AGORA é, de fato, O Papão do Nordeste .

                                                        

                                                      

Sei que algum leitor já está contestando: calção cáqui, cadê o calção cáqui? O calção cáqui, senhores está na história do clube e jamais devia ter sido conspurcado. Que figurinistas, torcedores, diretoria, políticos, embaixadores e presidentes do Brasil ou da Bolívia se unam contra a corrupção de um de seus símbolos, que tornam o time de São Pantaleão o mais original do mundo, enfim, “aquele que se coloca à parte”.

 

 

p.s Algumas dessas Informações foram colhidas no livro Terra, Grama e Paralelepípedos (imprescindível para quem gosta de História e nosso Futebol) de Claunísio Amorim Carvalho.

 

Este texto e outras informações sobre São Luis estarão na segunda edição do livro O ABC  bem humorado de São Luis, prevista para  setembro deste ano.

 

 

2 comentários para "SAMPAIO. A história do time que FAZ HISTÓRIA"


  1. Verdade Solene

    Boa noite, senhor Ewerton Neto.
    Segundo inúmeras fontes, inclusive dos EUA, quem doou o hidroavião Sampaio Corrêa II foi o jornal “The New York World” e não o senador Sampaio Corrêa que era apenas um dos motivadores da travessia e presidente do Aeroclube do Brasil, sediado no Rio de Janeiro. Aliás, o primeiro Sampaio Corrêa, caíra bem próximo a Cuba, e também não fora doado pelo senador, mas adquirido com o financiamento do banqueiro Andrew Smith Jr.
    Para completar a amerrissagem em São Luís se deu no dia 14 de dezembro de 1922, ficando aqui até o dia 19 do mesm mês e ano.

  2. Ewerton Neto

    Obrigado pela sua informação. Baseei-me num livro de Claunísio, autor maranhense com um livro (bom ) sobre os primórdios do futebol no Maranhão.
    Se houver como me enviar a fonte onde você se baseou, endereço net,
    ou cópia de conteúdo impresso, eu agradeceria.
    e.mail [email protected]

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