A Decisão Enferma II

Dependentes de álcool e outras drogas padecem de um dilema há muito conhecido por todos: o de postergar a decisão de parar o uso a droga. Algumas expressões são por demais conhecidas e já fazem parte do cotidiano de muitas pessoas: “essa foi a última vez que bebi” ou “depois dessa não bebo mais” e assim por diante. Essas afirmações são quase sempre precedidas de um consumo descontrolado ou exagerado de bebidas ou outras drogas e a pessoa, em geral, sente-se culpada e muito arrependida de ter abusado. E qual é nossa surpresa? Pouco tempo depois ou no próximo final de semana,  tudo acontece novamente, às vezes até pior que na semana anterior. E assim vai, dia após dia, semana após semana, mês a mês, ano a ano.

Pela dificuldade em cumprir suas promessas, perdem o crédito quando dizem que vão parar, especialmente na família. Muitas vezes, os familiares atribuem o desejo de parar à famosa ressaca da segunda-feira, como se fosse conversa fiada: “fulano só diz isto depois da ressaca”.

Esse dilema pessoal, verificado entre os dependentes de substâncias como álcool e de drogas, foi por muitos anos entendido como um problema de caráter ou um problema moral. Muitos os consideravam – e ainda hoje, lamentavelmente, – como fracos, frouxos, covardes, sem vergonha e mentirosos.

O próprio sujeito que tem esse problema se sente muito mal com tudo isso, pois percebe que bebendo e consumindo drogas vai gerar mais problema a cada dia que passa e que se não mudar, a situação vai piorar. Ocorre que, muitas vezes, o seu desejo sincero é o de deixar de beber ou de usar drogas, pois sempre exagera, mesmo assim não sabe o que o leva a repetir tudo de novo, apesar de todos os aborrecimentos e constrangimentos que beber demais provocara.

Passam então a viver com mais um problema angustiante, de não conseguir, por si, mudar a situação que tanto o prejudica e aos outros.

Muitas contribuições vem surgindo nos últimos anos do ponto de vista médico e psicossocial, procurando esclarecer essa dificuldades e os conflitos que isso provoca nos dependentes e seus familiares. Todavia, embora haja muito esforço nesse sentido ainda permanecem obscuras as causas  desse problema.

Do ponto de vista psicopatológico, a dependência de drogas compromete uma das aspirações fundamentais dos seres humanos que é a de ser livre, isto é, de poderem ter o domínio pleno de sua vida e disporem amplamente de sua consciência e por isso mesmo garantir sua autonomia para escolher e decidir sobre o que querem e para onde querem ir. Essa prerrogativa garante sua saúde mental e sua sobrevivência.

De tal sorte que, quando alguém está dependente de uma droga, conforme vimos acima, o que está em jogo é sua capacidade de tomar decisão, que nesses casos está muito prejudicada, ao ponto dessas pessoas não a executarem corretamente.

Na realidade, não é tão nova esta constatação clínica, pois há alguns anos se sabia que uma das maiores dificuldades apresentadas pelos dependentes químicos era a de decidir a seu favor, isto é, tomar uma decisão que interferisse diretamente nos mecanismo intrínsecos da compulsão para consumo da droga da qual dependem.

Tomar decisão é uma atitude que tem a ver com o equilíbrio neurofisiológico e comportamental, de tal forma que qualquer alteração que haja nas áreas cerebrais que controlam esta função cognitiva acarretará prejuízos em diferentes atividades mentais. A tomada de decisão implica também em integrar estímulos recebidos, relacionar valores, verificar objetivos e o estado emocional e situação social. Envolvem flexibilidade e planejamento e, sobretudo pensar nas consequências sociais e pessoais de sua atitude.

Sobre isso, não há dúvidas que nos últimos anos a neurociência tem oferecido relevantes contribuições para melhor se compreender a fisiopatologia de diferentes comportamentos psicopatológicos.

Hoje se sabe que dependentes químicos apresentam alterações severas nas áreas cerebrais responsáveis pelo processo de decidir sendo um dos transtornos mas bem estudados sobre esses doentes. Uma das mais importantes contribuições da neurociência, ramo da ciência que estuda essas assunto, ocorreu há pouco mais de 15 anos, quando os cientistas identificaram a região cerebral denominada córtex órbito-frontal, área responsável por esta disfunção na tomada de decisão.

Essa região, anatomicamente, compõe uma superestrutura cerebral das mais importantes para o comportamento humano. Trata-se de uma região neurofuncional, que torna o homem diferenciado dos outros animais.

É uma parte do córtex cerebral que está situada logo abaixo dos olhos. O papel desta região  não pode ser definido precisamente, pois o comportamento que depende dessa região não pode ser categorizado facilmente. Todo comportamento tem relação com córtex órbito-frontal, mas não se pode classificar a sua função em relação ao comportamento em uma única categoria, justamente porque ela estabelece amplas ligações neurofuncionais com dezenas de outra regiões cerebrais responsáveis por inúmeras atividades humanas.

Portanto, o córtex órbito-frontal é uma região extremamente importante para processar, avaliar e filtrar informações sociais e emocionais e garantir nossa saúde mental. Lesão nesta área ocasiona déficit na habilidade de tomar decisões que é o que ocorre entre os dependentes de álcool e doutras drogas.

Esses novos achados abrem janelas para a conquista de novos tratamentos, bem como inauguram novas perspectivas e oportunidades de se compreender melhor a clínica da indecisão patológica desses enfermos.

 

 

Sexo compulsivo: as contradições do prazer

O desejo sexual se manifesta de diversas formas e diferentes intensidades. Uma das condições muito estudada pela psiquiatria e pela neurociência, é o comportamento sexual compulsivo (sexo compulsivo) ou hipererosia. Para as mulheres, denomina-se ninfomania, termo que lembra as ninfas dos bosques greco-romanos que estariam sempre disponíveis ao sexo, e messalina, relativa à imperatriz romana que diziam sair às noites, disfarçada para orgias nas tabernas, além de manter escravos para satisfazer suas necessidades sexuais.

Mitologicamente a figura utilizada para designar esse fenômeno foi Príapo, para configurar a necessidade de excesso de sexo (criaturas metade bode e metade homem com chifres) que corriam atrás das ninfas dos bosques. Daí o nome priapismo ou satiríase, que diz respeito a uma ereção anormal, prolongada e dolorosa em que o pênis permanece ereto e intumescido por tempo indeterminado sendo, às vezes, necessária intervenção cirúrgica para torná-lo flácido.

Semelhante à outras disfunções, o sexo compulsivo se manifesta clinicamente com o seguinte quadro: pensamentos sexuais ou atos compulsivos recorrentes: “só pensam naquilo”, os pensamentos giram em torno da sexualidade: idéias, imagens ou impulsos que entram na mente do indivíduo repetidamente de uma forma estereotipada podendo ser angustiantes (violentos, repugnantes ou obscenos), sem sentido, e a pessoa não consegue resistir a eles. Podem ainda apresentar comportamentos sexuais impróprios, exagerados ou cognições que causam sofrimento subjetivo e comprometimento das funções ocupacionais e interpessoais. Esse comportamento tem sido comparado a uma espécie de dependência (adição ao sexo). Há outras designações como: sexo impulsivo e aditivo para descrever esses transtornos.

Ocorre frequentemente em pessoas na faixa dos 40 anos. O processo tende a ser mais denso e “aperfeiçoado” com o correr dos anos. Essas pessoas em geral não admitem ter o problema e dificilmente se dispõe a se tratar. Atinge em torno de 3% a 6% da população, predominantemente homens, e costuma ter início no final da adolescência ou no início da terceira década de vida.

O sexo compulsivo é um transtorno de natureza crônica, com episódios de piora e melhora. Existem quatro etapas na sua manifestação clínica: a primeira é a preocupação, na qual a pessoa apresenta um afeto semelhante ao do transe, estando completamente absorta em pensamentos de sexo e partindo para a busca obsessiva de se relacionar sexualmente. A segunda é uma ritualização: a pessoa desenvolve uma rotina que leva ao comportamento sexual, que serve para intensificar a excitação. A terceira é da gratificação sexual, mediante o ato sexual em propriamente dito, onde a pessoa se sente incapaz de controlar seu desejo. A quarta é o desespero, que vem após o comportamento sexual compulsivo e se caracteriza por uma sensação de impotência e desânimo.

Essas enfermos podem desenvolver complicações clínicas em decorrência direta de seu comportamento sexual, que incluem lesões genitais (contusões) e doenças sexualmente transmissíveis (hepatite B, herpes simples ou infecção pelo vírus da imunodeficiência humana). Pode ocorrer lesões físicas nos comportamentos sexuais de alto risco ou na atividade sadomasoquista. Nas mulheres, podem ocorrer gestações não-desejadas e complicações de aborto.

As causas do sexo excessivo, embora haja poucos estudos, há evidências de diferentes sistemas cerebrais envolvidos em sua causa. Lesões frontais, por exemplo, podem ser acompanhadas por desinibição, por resposta hipersexual impulsiva. Lesões ou disfunções estriatais podem ser acompanhadas por desencadeamento repetitivo de padrões de resposta gerados internamente. Lesões límbicas temporais podem ser acompanhadas por desequilíbrios do próprio apetite sexual, inclusive alteração do direcionamento do impulso sexual. Enfim, a neurobiologia desse transtorno está sendo muito estudada e acredita-se que em um futuro próximo o fato seja melhor esclarecido.

As repercussões desse comportamento se dão em várias áreas: social, pode ocorrer desafetos com amigos e familiares, envolvimentos policiais, perda de emprego, perda da reputação social e moral e toda sorte de desadaptação social e familiar em decorrência direta de investidas, assédios e relacionamentos sexuais. Familiar: costumam ter relações cônjuges complicados. Primeiramente devido ao apetite sexual exagerado, vindo a submeter o parceiro(o) a uma atividade nem sempre prazerosa ou desejada. Em segundo, devido às maiores probabilidades à infidelidade e, em terceiro, devido à maior possibilidade de envolvimentos sexuais com amigos ou familiares, aumentando mais ainda o constrangimento. Por últimos os problemas pressoais, pois apesar dos inúmeros problemas que o transtorno pode ocasionar o mesmo não se dispõe a se tratar nem a mudar seus hábitos inspirados nessa condição.

O Trânsito, a saúde e o comportamento II.

Uma das questões que permanece na pauta do dia, é o da mobilidade urbana entendida como um conjunto de políticas de transporte e circulação entre as pessoas no espaço urbano, sobretudo através dos modos de transporte coletivo e não motorizados de maneira efetiva visando garantir o bem estar de todos. É um tema que nos leva repensar questões da inclusão social, sendo o trânsito nas gandes cidades, um dos temas que mais se destaca.

Tenho viajado com razoável frequencia e aonde chego uma das perguntas que sempre faço é: como está o trânsito em sua cidade? A resposta é sempre a mesma: “tá um caos, e em determinadas horas de pique a situação é bem pior”. As pessoas respondem indignadas, aborrecidas e inconformadas.

Ocorre que apesar deste assunto ser reconhecidamente importante em políticas públicas e que se transformou em mais um apelo de campanha políticas para eleções de candidatos, observa-se que as soluções que são oferecidas para se resolver tais problemas quase sempre são ineficases e sem resolutividade, não havendo qualquer indicador que sinalize para soluções de curto, médio e em longo prazo quanto a esses problemas de trânsito, tanto no país quanto em nossa cidade, levando-nos a crer que terempos que conviver com isso por muitos anos.

Já afirmei isso algumas vezes que cconsidero esse tema como de primeira ordem, pois afeta diretamente a saúde, a segurança e o bem estar das pessoas. E, que para se oferecer soluções efetivas e duradouras para os problemas que aí se encontram, teremos que considerá-lo como um epifenômeno, onde fatores como, ausência de uma malha viária moderna que garanta maior trafegabilidade, veículos velhos e sucateados transitando nas ruas, engenharia de trânsito deficitária, aumento descontrolado do número de veículos, falta de investimentos na área de educação para o trânsito nas escolas, fiscalização precária das leis do trânsito, calçadas mal projetadas e principalmente um trânsito voltado mais para veículos que para os pedestres estão presente em sua expressão.

O impacto que um trânsito caótico provoca nas pessoas e na vida social é tão grande que poderíamos considera-lo prioritariamente como sendo de saúde pública e não somente de segurança como muitos o consideram, pois o mesmo está relacionado a uma variedade enorme de agravos e sofrimentos à vida de muita gente provocados pelos acidentes,  invalidezes, danos materiais , mortes prematuras, prejuízos financeiros, altos índices de violência, estresse, depressões graves, entre outros transtornos.

Vejam por exemplo que só em nosso país 45 mil pessoas morrem atropelas por um motorista dirigindo embriagado e 75 mil, em outros acidentes. O sofrimento que isso ocasiona nas famílias, amigos, e outros parentes é enorme. As perdas econômicas avaliadas giram em torno de R$ 28 bilhões de reais por essas ocorrências. Sem contar o fato de os veículos de transportes terrestres, principalmente os carros de passeio (mais de 80%), jogam na atmosfera quantidade superior a 27,5 milhões de toneladas de resíduos poluentes, conforme dados de 2007. São prejuízos de tosos os lados.

Os transtornos mentais do tipo estress, estress – pós-traumático transtorno do sono, irritabilidade, comportamento agressivo, distúrbios psicossomáticos, impaciência alterações da atenção e da memória, e comportamento além de muitos outros distúrbios emocionais e sociais são queixas muito comuns especialmente em populações que trabalham e/ou vivem no trânsito. Outro grave problema de saúde relacionado ao trânsito é o uso de álcool e outras drogas entre motoristas que trafegam em nossas ruas e estradas. 75 mil, nos acidentes. Estes índices provavelmente aumentarão nos próximos anos se não forem tomadas decisões mais rigorosas nesta área.

O importante, portanto, que os gestores públicos entendam de uma vez por todas que trânsito não é somente garantir trafegabilidade de veículos é também e principalmente, garantir a saúde e o bem estar da população em um transito seguro e humanizado que respeite e valorize a vida e que possa produzir prazer e não tristeza e sofrimento nas pessoas que dele fazem parte.

O consumo do álcool entre as mulheres

              Resultados de pesquisas recentes mostram que as mulheres brasileiras estão bebendo mais e de forma exagerada, o que sinaliza para o agravamento desse problema entre nós. O consumo do álcool sempre foi significativo na pulação brasileira, tanto é que nosso padrão de consumo se encontra entre os mais elevados do mundo. Os dados foram revelados pelo II Levantamento Nacional sobre o Consumo de Álcool e outras Drogas (II LENAD), realizado pela Universidade Federal do São Paulo e pelo Instituto Nacional de Políticas sobre Drogas – INPAD, publicado há alguns meses.
             A pesquisa mostra que de 2006 a 2013 as mulheres aumentaram em 20% o consumo de álcool. Além disso, o que mais chamou atenção é que o padrão de consumo da bebida entre elas se modificou: além de beberem mais, o fazem de forma rápida. Esta forma de beber é conhecida como “beber em binge” que é definido como um padrão de consumo de cinco doses de álcool em uma mesma ocasião e em pouco tempo, condição que leva à embriaguez mais rapidamente.
             Todos sabem que alcoolismo, do ponto de vista médico, é uma doença grave, que evolui de forma crônica e que um dos sintomas cruciais dessa doença é o descontrole na ingesta.  Assim, a pessoa, quando começa a beber, tem grande dificuldade em parar, de tal forma que muitos só conseguem quando já se encontram absolutamente embriagados. Outros sequer se lembrarem do que se passou durante o consumo do álcool.
             Os dados do levantamento confirmam que as pessoas estão começando a beber muito cedo, em torno dos 12 anos. 7% dos adolescentes com idade entre 12 a 17 anos já são dependentes do álcool. Entre os jovens de 18 a 24 anos, 78% já fizeram uso da substância e 19% são dependentes. São índices muito altos que representam ameaça real à saúde mental, social e física desses jovens brasileiros.
             Em entrevista recente, falei sobre as fronteiras entre o bebedor social e o alcoólatra, e, na oportunidade, mostrei que um dos mais importantes indicadores do beber social está no fato do consumo do álcool não provocar qualquer dano psicológico, social ou físico ou mesmo de outra natureza ao indivíduo. Já no alcoolismo, a presença de problema social, psicológico ou físico ante o consumo do álcool sugere um padrão disfuncional ou psicopatológico de consumo.
               No primeiro grupo encontram-se as pessoas que bebem no sentido recreativo, por lazer e prazer e, no segundo grupo, encontram-se os bebedores disfuncionais, abusadores e os alcoólatras. A situação atual é muito preocupante do ponto de vista médico, psiquiátrico e social: 1) as pessoas estão começando a beber muito cedo (12 anos);
2) 7% dos adolescentes já são dependentes de álcool;
e 3) as mulheres estão bebendo mais e em “binge”. Essas são condições encontradas na pesquisa que mostram o tamanho do problema que temos de enfrentar nos próximos anos. No caso de se iniciar o consumo precocemente, já se tem conhecimento, na neurociência, de que o cérebro desses jovens em torno de 12 anos ainda está em desenvolvimento, portanto não preparado para suportar a presença do álcool ou de outras drogas, condição que fatalmente irá provocar surgimento de inúmeras doenças mentais, físicas e sociais relacionadas aos danos cerebrais.
               Imagine-se em um país como o nosso, que praticamente a metade da população é jovem, desengajada de trabalho, com baixo acesso à educação e com renda incerta. Isso tudo associado ao uso compulsivo e doentio do álcool definirá uma juventude sem perspectivas, forçosamente enferma pelas doenças provocadas pela dependência química e, na conjuntura atual, sem assistência médica e psicossocial. Em relação ao consumo de álcool entre às mulheres, já sabemos que elas respondem diferentemente ao álcool se comparadas com o consumo dos homens, isto é, as mulheres são menos tolerantes e mais sensíveis a molécula do álcool, graças à sua genética e à sua estrutura física, metabólica e funcional. Doses baixas de álcool provocam mais danos ao seu organismo.
               As doenças mentais e a dependência ao álcool se instalam mais facilmente entre mulheres, além de se embriagarem mais facilmente. Isso explicaria o aumento cada vez maior de casos de Síndrome Alcóolico-Fetal – SAF, que cresce assustadoramente entre as mulheres que ingerem álcool quando grávidas.
               Os fatos revelados na pesquisa reafirmam o que tenho dito há anos: a necessidade de uma política pública mais arrojada, mais consistente e mais embasada em evidências epidemiológicas sobre o consumo de álcool na população brasileira, especialmente em relação a crianças, adolescentes e mulheres. A continuar como se está, com autoridades que fazem vista grossa ao problema e não assumem as responsabilidades que lhes competem, as consequências fatalmente serão nefastas para todos nós.

Para onde querem levar o país com a cubanização da saúde

            Apesar de terem sido largamente anunciado os argumentos das entidades médicas que se posicionaram contrárias ao “programa mais médicos”, o Governo Federal, de forma autoritária, antidemocrática e pela força de seu poder, fez valer o referido programa, apesar das mais de 560 emendas sugeridas para melhorá-lo do ponto de vista técnico, ético e político.  Ocorre, que todo o esforço empreendido pela classe médica e por alguns parlamentares foram em vão, pois o programa está sendo implantado, os médicos estrangeiros já estão trabalhando, os Conselhos de Medicina, por força da justiça, estão concedendo os registros provisórios desses médicos estrangeiros, os tutores estão sendo escolhidos e o cursinho de português a todo vapor.

Mesmo assim, permanece viva em cada um de nós a consciência do dever cumprido ao denunciar a inconsistência desse programa em suas bases, pois muitos outros fatores que não foram contemplados no  “mais médicos” e que colaboram para o agravamento da situação atual da saúde deste país  nos levam a acreditar em sua inocuidade, ineficiência e enganação para enfrentar os reais problemas de nossa saúde pública.

Por outro lado, nota-se a surpreendente importância que este governo está dando para programa, pois de forma autoritária e com notório despudor executa-o a todo custo, dê-se no que der, pois não há qualquer argumento que o faça repensá-lo. Vejam a desconsideração que o mesmo apresentou em relação às inúmeras contribuições que lhes foram oferecidas, especialmente pelas entidades médicas deste país no sentido de aperfeiçoá-lo. A arrogância do Ministro da Saúde, aliada à inflexibilidade ideológica e a interesses políticos ao implantá-lo, rompe com leis, com as regras institucionais e com as tradições médicas deste país nos levando a acreditar que o programa, de fato, é parte de uma audaciosa e requintada ambição política que certamente fomenta projetos de poder, juntamente com os que ocupam a cúpula de seu partido.

Eu não consigo entender, na qualidade de cidadão brasileiro, médico e membro titular do CRM do meu estado, como propostas lúcidas, consequentes, responsáveis, inovadoras, éticas e tecnicamente competentes, como as que foram recomendadas pela classe política e entidades médicas para este governo, possam ter sido tão desprezadas, rechaçadas e vilipendiadas pelos mandatários do poder, responsáveis pela elaboração do programa.

O constrangimento ao vê-lo funcionando é geral, por ser imoral, ilegal e enganador. Por outro lado, nos revolta ver um conjunto de documentos, tradições e leis importantes que regulam o funcionamento da saúde pública de nosso país sendo mutilados pelo próprio governo. Vejam o que fizeram com o Exame “Revalida”, instituído pela Lei Federal de nº 9.394/96, a qual assegurava que todos os diplomas obtidos em universidades estrangeiras deveriam ser revalidados nos termos e nas condições da referida lei.

Vejam o que fizeram com os Conselhos de Medicina, que são obrigados, por decisão judicial, a certificarem de forma provisória médicos estrangeiros a trabalharem com nossa população e não sabemos nada sobre suas habilidades, sua formação, suas competências e o pior, somos obrigados a fiscalizar suas práticas! Isto é uma tremenda brincadeira e um tremendo casuísmo vergonhoso. Onde já se viu médico trabalhar com um tutor representado por outro médico brasileiro? Outra aberração histórica e vergonhosa.

Como se não bastasse, todas estas idiossincrasias políticas aplicadas à saúde pública brasileira, ficamos mais uma vez estarrecidos e indignados ao se saber que a Comissão Mista do Congresso Nacional (Deputados e Senadores) aprovou no dia 01 deste mês o Relatório sobre o programa mais médico (MP 621/2013), apresentado pelo Deputado Rogério Carvalho do PT (Sergipe), mantendo as mesmas incongruências e idiossincrasias éticas e técnicas do programa e o pior, atribuindo ao Ministério da Saúde a prerrogativa de conceder os vistos de trabalho para médicos estrangeiros, prescindindo de uma função histórica dos Conselhos Regionais de Medicina que desde 1947 detinham esta honrosa atribuição.

Por conta disso todas as entidades da classe médica representada pela Associação Médica Brasileira – AMB; Associação Nacional dos Médicos Residentes – ANMR; Conselho Federal de Medicina – CFM; e a Federação Nacional das Academias de Medicina – FNAM lamentam que esta Comissão Mista tenha aprovado este relatório da forma como está, apesar de todo esforço que fora feito pelas entidades médicas, por parlamentares, por pesquisadores de renome nacional, e por universidades deste país de onde emanaram as propostas relevantes que tocam em pontos essenciais ao bom exercício da medicina e à qualificação do atendimento em saúde de nossa população. É lamentável, porém vamos ver para onde estão querendo nos levar.

 

 

 

 

A prevenção é a melhor arma contra o suicídio

Pesquisa do núcleo de epidemiologia psiquiátrica da Universidade de São Paulo (USP) concluiu que 9,5% da população urbana brasileira já tiveram pensamentos suicidas e 3,1% tentaram tirar a própria vida. O resultado deste trabalho foi apresentado às vésperas do Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, comemorado dia 10 de setembro em todo mundo. A intenção, ao se comemorar este dia, é justamente chamar a atenção do mundo para um dos temas mais importantes em psiquiatria, saúde mental e em saúde pública e que precisa ser melhor tratado para evitar que milhares de pessoas no mundo percam suas vidas.

O impacto afetivo, econômico e social do suicídio, como um fenômeno humano é gigantesco e sempre despertou muito interesse na esfera científica, para se conhecer suas bases fisiopatológicas e psicopatológicas, pois apesar de já se ter grandes conhecimentos sobre o assunto, ainda precisamos avançar muito para se ter uma compreensão fenomenológica e clínica, mais consistente.

Na data de sua comemoração foram desenvolvidas inúmeras atividade pelo Brasil afora com o mesmo objetivo, chamar a atenção da população brasileira para um dos mais importantes problema da saúde pública do mudo e deste país. O Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul são os dois estados que permanecem com os maiores índices de suicídio entre os demais estados brasileiros.

Ainda sobre o Brasil, estima-se que ocorram 24 suicídios por dia, e a quantidade de tentativas é de dez a 20 vezes mais alta que a de mortes. Entre os jovens, a taxa multiplicou-se por dez de 1980 a 2000: de 0,4 para 4%. De tal forma que nos últimos 45 anos o número de suicídios cresceu 60%, de acordo com a OMS.

A OMS estima que, de 2002 a 2020, o aumento será de 74%, chegando a um suicídio a cada 20 segundos, hoje, a taxa é de um a cada 40 segundos. E, o que se sabe o que há de mais concreto é a associação de suicídio com transtornos mentais, principalmente a depressão. O Brasil é o país com a menor taxa de suicido no mundo, variando entre 3,9 a 4,5/100 mil habitantes. Mas, como somos um país de dimensões continentais e um dos mais populosos, estamos entre os 10 países com maior número absoluto de suicídio. O que mais nos comove é que esta taxa cresce entre os adolescentes, uma das mais importantes fases do nosso desenvolvimento pessoal e social.

Entre nós existe o Centro de Valorização da Vida – CVV, uma das mais respeitadas e importantes instituições que tata deste tema e nos informa que de 2005 a 2009, foram atendidas mais de um milhão de pessoas que apresentavam ideias sobre o assunto. O Ministério da Saúde (MS) trata o suicídio como um problema de saúde pública e recentemente reconheceu o CVV como a única entidade do terceiro setor, no Brasil, que faz o trabalho de prevenção de suicídio e valorização da vida. Isso demonstra a validade do trabalho da entidade, durante os mais de 48 anos de atuação, e aumenta a sua credibilidade junto ao público.

Este Centro de Valorização da Vida completou 50 anos, no ano passado, conta com aproximadamente 2.000 voluntários em 39 postos distribuídos pelo Brasil, e oferece apoio emocional 24h por dia através do telefone número 141. O apoio pode ser feito pessoalmente, por telefone, carta, e-mail e via internet, no portal www.cvv.org.br.

Um assunto que cada vez mais desperta interesse entre os investigadores é a relação entre suicídio e outras doenças mentais, isto é, o suicídio não tem vida própria, ocorre sempre secundariamente à existência de outra condição psicopatológica, entre estas a depressão responde por mais de 60% destas ocorrências.

O uso de álcool e de outras drogas especialmente os dependentes destas substâncias são também pessoas muito vulneráveis a cometerem suicídio. O próprio uso desregrado e disfuncional dessas drogas já pode ser considerado formas veladas de se auto – destruir.

Como sintoma, o suicídio pode ser prevenido como qualquer outro sintoma. Particularmente na depressão na maioria das vezes isto ocorre quando as pessoas estão se recuperando de episódio depressivo e nunca ou quase nunca no franco processo depressivo. De qualquer forma é um assunto que deve ser tratado na vigência de um tratamento por depressão.

 

 

Novela reacende preconceitos sobre tratamento psiquiátrico.

Nos quatro (4) últimos capítulos da novela das 08 da Rede Globo, “Amor à vida” foram exibidos cenas grotescas e chocantes ocorridas em um hospital psiquiátrico as quais faziam parte de uma trama diabólica entre dois irmãos e o restante de uma família poderosa repleta de problemas e conflitos provocados por diferentes interesses.

Houve muitos comentários na população sobre o assunto e o mesmo ressoou muito mal no seio da psiquiatria brasileira. Muitos pacientes me ligaram, comentando sobre as cenas da novela, uns ainda assustados e perplexos questionava as mesmas, outros ainda, comentavam que não deveriam tratar este assunto daquela forma, etc. Procurei em todos os casos mostrar-lhes que isto fazia parte de uma novela, e que, em princípio, tanto a TV, quando o autor das mesmas, o que queriam na realidade era aumentar a audiência sobre a novela para haver retorno de seus investimentos.

Eu também fiquei estarrecido com tais cenas, porque as reconhecia como cenas pertencentes a um passado da psiquiatria que já havíamos ultrapassa há anos. A repercussão foi tão grande que a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP enviou correspondências à Rede Globo e ao autor da novela, Valcir Carrasco, tecendo algumas ponderações sobre a forma como este tema psiquiátrico fora tratado nesta novela. E, que tais cenas, destituídas das técnicas modernas de tratamento, dos conhecimentos e da ética na formulação do diagnóstico, e da forma ofensiva e violenta que a “paciente” fora tratada refletia mais violência, vingança, tortura e crueldade do que um tratamento psiquiátrico propriamente dito. Fatos que não combinam de forma nenhuma com uma prática atual da psiquiatria que é ética, eficiente e humanizada como a que existe hoje em dia.

Só a guisa de informação, os psiquiatras brasileiros e outros profissionais da saúde mental , há pouco menos de 15 anos, deflagraram, neste país, uma das mais importantes lutas já realizadas em prol do doente mental, de suas famílias e sobre os tratamentos que lhes eram dispensados. Este movimento nacional passou-se designá-lo de reforma da Assistência Psiquiátrica Brasileira destinada a enfrentar todas estas mazelas preconceituosas que há anos imperavam e que vilipendiavam , maltratavam, desrespeitavam estes doentes em todos os sentidos: ético, técnico e humano.  Embora tenhamos avançado muito na lua contra estes preconceitos existentes nesta área a luta não parou aí, pois até hoje se reconhece que ainda existem enormes preconceitos em torno da doença mental, do doente, do médico, e sobre os tratamentos que são oferecidos a estes pacientes e as suas famílias.

A preocupação maior da ABP, era a de que a pretextos das novelas ressurgissem os preconceitos que fizeram muito mal a esses enfermos, pois para quem não sabe, existem 460 milhões de pessoas portadores de uma doença mental em nosso país, em que tais cenas poderiam reforçar tais preconceitos que há muitos anos vem se lutando para eliminá-lo.

É importante também comentar que a Eleroconvulsotrerapia – ECT, certamente a cena mais chocante e comovente da novela, desde quando o mesmo foi instituído em psiquiatria, em 1935 por dois psiquiatras italianos, Cerlleti e Bine que vem sofrendo profundas modificações tanto em sua indicação médica quanto em seu processo de aplicação, onde evoluímos muito, ao ponto de hoje o mundo inteiro reconhecê-lo como um grande recurso a disposição da psiquiatria, para tratar casos incomuns e refratários à outros tratamentos psiquiátricos. O próprio Conselho Federal de Medicina – CFM, o reconhece como um tratamento legítimo, ético e tecnicamente recomendado.

Na novela além de não respeitarem os preceitos de sua indicação clínica, recomendados pelo CFM, dava-nos a impressão que estar sendo realizado uma  sessão de tortura na paciente (que também fora internada indevidamente), do que um tratamento médico propriamente dito, muito embora se saiba que eram cenas de uma novela.

Por último, acredito que tenha sido intencional a idéia do Sr. Valcir Carasco em tratar do assunto da forma que ele tratou, gerando polêmica já soterrada, através de cenas grotescas, e anacrônicas ao tratar de um assunto tão importante como o é o tratamento de doentes mentais, mas da próxima vez que o faça sobre a supervisão de uma equipe de profissionais competentes e responsáveis que conheça bem  o assunto para não expô-lo ao ridículo de tratar pejorativamente um assunto que desconhece, que por isso mesmo venha prejudicar muita gente.

 

 

 

 

A sede por álcool e outras drogas

                No curso natural da dependência do álcool e de outras drogas, existem diferentes sintomas que, de conformidade com a evolução da doença, se destacam entre os outros. Neste artigo, tratarei da “compulsão” vulgarmente chamada de “fissura”, que é um dos mais importantes sintomas para o diagnóstico dessas doenças. O mesmo interfere diretamente na disposição do enfermo de se tratar, bem como nas sucessivas recaídas que se observa no processo de recuperação e tratamento.

Fissura e compulsão são termos largamente conhecidos pelo público em geral, graças aos artigos já publicados a seu respeito, embora, ainda não esteja completamente esclarecido como fenômeno psicológico e comportamental.

“Fissura” é um termo popular em nosso idioma e, entre os ingleses é denominada de “craving”, se referindo a um desejo ardente, incontrolável, irrefreável de consumir determinada substância da qual dependa. Em princípio, só sente fissura quem é dependente, além do mais, o mesmo pode estar presente em outros transtornos psiquiátricos, portanto não é exclusivo dos dependentes de drogas. A compulsão apresenta as seguintes características:

1 – está presente na síndrome de dependência;

2 – surge quando há privação ou redução no consumo da droga;

3 – a ânsia (compulsão) de consumir é quase sempre superior ao seu controle;

4 – favorece sempre a recaída;

5 – a obtenção da droga diminui os sintomas;

6 – é classificada como leve, moderada ou grave.

7– sua intensidade está associada à intensidade da dependência;

8 – é involuntário, evolutivo e envolve mecanismos neurobiológicos, neuroquímicos

Circunstanciais e psicológicos em sua natureza;

9 – há drogas que aliviam os sintomas do “craving”;

10 – interfere na decisão de se tratar;

Estes 10 itens acima mostram claramente a gravidade deste problema e todos são muito importantes em sua caracterização, a dificuldade de aderir a um tratamento e as recaídas são indiscutivelmente as mais importantes consequências do “craving”, justamente por interferir no tratamento e no processo de recaída.

Do ponto de vista da neurobiologia do “craving”, já temos acumulado um vasto conhecimento sobre como ele surge, muito embora se saiba que ainda falta muito para esclarecer totalmente sua natureza. O fato é que tudo se dá em determinadas áreas do cérebro intermediado por reações envolvendo os neurotransmissores cerebrais: dopamina, GABA, serotonina, entre outros.

Estudos de neuroimagem utilizando técnicas como a tomografia por emissão de pósitrons (PET) têm permitido a identificação de tais anormalidades neurofuncionais criando condições favoráveis para que em um futuro próximo se possa manejar melhor com este sintoma. Além do mais, graças aos recentes os avanços da ressonância magnética (RM) funcional, já se pode vislumbrar as áreas afetadas pela compulsão, fato que está certamente favorecendo uma maior compreensão da fisiopatologia desse fenômeno.

Do ponto de vista do tratamento, nos últimos 10 anos, avançamos muito no controle e na prevenção da compulsão. Na área farmacológica os avanços foram expressivos, sobretudo com o surgimento de drogas denominadas de anti-compulsivas, anti-fissura ou ainda, anticraving, as quais, impedem ou reduzem nos pacientes a busca incontrolável pelo álcool ou por outras drogas, e diminuem drasticamente o mal estar físico, psicossocial e emocional ocasionado pela privação do uso da droga. Esses dois mecanismos de ação farmacológicos, são considerados atualmente como fundamentais para o manejo adequado dos dependentes de drogas.

Entre os transtornos que mais se beneficiaram com estes medicamentos foram o alcoolismo e o tabagismo. Outras drogas estão sendo testadas e que deverão ser lançadas em breve se destinam ao controle do “craving” dos dependentes de cocaína, através de mecanismos, diferentes aos anteriores.

Outros avanços significativos vêm ocorrendo em outras áreas que também controlam a expressão clínica da fissura, como por exemplo, na área ocupacional, psicoterápica e sócio-cultural com o desenvolvimento de técnicas avançadas aplicadas no processo do tratamento e reabilitação destes pacientes, as quais possibilitarão diretamente maior adesão aos mesmos, impedindo também, por conseguinte, os altos índices de recaídas frequentemente encontrados ente estes doentes.

 

Repúdio à cena de novela da Tv Globo na novela das 08

Gostei muito da nota de repúdio da Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP ante as distorções técnicas, éticas e de forte preconceito revelados pela novela das 08 hs da Tv globo , onde uma atriz se reveste de doente mental e é vítima de …sessões de Eleconvulsoterapia, expondo de forma pejorativa e antiética a aplicações deste tratamento pela psiquiatria. É lamentável que uma empresa como a Globo não busque os melhores assessores ( consultores)par falar de um tema complexo que é a ética e as técnicas de um tratamento psiquiátrico. Vejam o link ver mais
Associação Brasileira de Psiquiatria
www.abp.org.br
A ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria, é uma entidade sem fins lucrativos, representativa dos psiquiatras no país, que atualmente reúne 5.500 associados, congrega 55 federadas, seis núcleos em todos os Estados da Federação e cinco

Personalidade Boderline

Personalidade Boderline

Frequentemente ouve-se falar nos ciclos sociais ou na grande mídia um termo que é polémico em psiquiatria que é “Personalidade Borderline” referindo-se a um grupo de pessoas que apresentam diferentes alterações emocionais, sociais e comportamentais específicas em seu comportamento. Pela etimologia trata-se de um transtorno que se encontra situado na fronteira diagnóstica da neurose e da psicose.

Este transtorno ocorre no desenvolvimento da personalidade de alguns indivíduos, portanto são doenças que ocorrem na formação e estruturação da personalidade. São transtornos diagnosticados e tratados pela psiquiatria contemporânea e por técnicas terapêuticas como as psicoterapias e a terapia ocupacional.

As características essenciais do Transtorno da Personalidade Borderline (TPB) são padrões comportamentais que sempre se iniciam na adolescência e invadem a vida adulta, muito embora alguns enfermos que já apresentam alguns sintomas do mesmo na infância.

O sintoma principal é a instabilidade afetiva verificados em seus relacionamentos interpessoais. Apresentam auto imagem muito ruim, isto é, são pessoas que não se gostam ou não se aceitam, são impulsivos e sempre querem que as coisas saiam sempre do seu jeito; são impulsivos, agressivos com flutuações momentâneas desses sentimentos. Não são chegados a planejar nada que fazem para conseguir as coisas e, quando não conseguem, apresentam “acessos de raiva intensa”, podendo apresentar reações violentas intempestivas e descontroladas, especialmente quando seus atos impulsivos são criticados ou impedidos em sua realização.

O TPB se manifesta predominante depois dos 18 anos, frente às mais diversas circunstâncias pessoais ou ambientais. São pessoas que fazem esforço muito grande para evitar um abandono real ou imaginado e quando ocorre uma separação, demonstram intensa raiva perante este fato. Não suportam e tem absoluta incapacidade de ficarem sós por isto mesmo aspiram sempre estar em companhias. Idealizam de forma exagerada as pessoas com as quais se relacionam, dotando-as de qualidades positivas, e exigem delas uma presença constante, sufocante, e um compartilhar de detalhes extremamente íntimos, já na fase inicial de um relacionamento.

Estas reações se modificam repentinamente quando suspeitam que a pessoa idealizada não está correspondendo com suas expectativas podendo inclusive mudar seus sentimentos de feição e carinho para os de raiva e desprezo.

São hábeis em manejar com os outros para adquirirem o que desejam e estimulam os outros a lhes propiciar aquilo que querem. Pode-se dizer que nas pessoas acometidas de TPB os sentimentos de carinho pelo outro estão relacionado com interesses para atender de forma incondicional às suas necessidades. Daí serem frequentes as mudanças súbitas e dramáticas de suas opiniões sobre os outros, que podem ser vistos alternadamente como bons e carinhosos ou como cruéis, maus e insensíveis.

Outra característica marcante são as flutuações de humor e do estado emocional que podem passar de um confortável sentimento de prazer à agressividade, e à explosividade. Podem passar rapidamente do papel de pessoa amável e carente de auxílio para o de vingador implacável e cruel, quando frustrados ou não amados da forma que idealizaram. São indivíduos sujeitos a acessos de ira e verdadeiros ataques de fúria, em completa inadequação ao estímulo desencadeante. Essas crises de fúria e agressividade acontecem de forma inesperada, intempestivamente e, habitualmente, têm por alvo pessoas do convívio mais íntimo, como os pais, irmãos, familiares, amigos, namorados ou cônjuges, entre outros.

Por último apresentam também depressões entremeadas por sentimentos de prazer dependendo o dos objetivos alcançados. Podem em razão das disfunções cognitivas grosseiras apresentar graus variados de desconfiança podendo chegar a quadros graves de delírios de perseguição. Podem também apresentar quadros de mutilação corporal tentativas de suicídios ou mesmo chegar a executá-los.

Quanto ao tratamento desses pacientes deve-se sempre considerar os problemas interrelacionais, reacionais, afetivos e adaptativos que apresentam. São utilizados estabilizadores do humor, antidepressivos e, em alguns casos, neurolépticos. Há indicação de psicoterapia, principalmente psicoterapia cognitiva comportamental.

 

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