O cérebro, a consciência e a saúde mental.

              Estamos vivendo um período magnifico da neurociência, um capítulo do conhecimento científico relacionado com a atividade cerebral e nosso comportamento. É uma das áreas da ciência mais importantes, pois, a cada dia os avanços são significativos no sentido de se saber como funciona este órgão magnifico e a repercussão de suas atividades em nosso comportamento tanto na saúde quanto na doença. É composto por um trilhão de células nervosas, sendo cem bilhões só de neurônios. Cada um destes neurônios tem identidade própria em forma e função daí por que sabem muito bem o que fazer neste emaranhado conjunto de células que compõe o tecido nervoso.

             É um órgão que pesa 1/20 avos de nosso peso corporal, aproximadamente 1,300 kg e, consome cerca de 20% de todo oxigênio que precisamos para viver. É o órgão que comanda todas as atividades humanas desde um simples piscar de olhos, até atividades ultra-complexas como pensar, sentir, decidir, ter vontade, amar e ter consciência. Portando, o cérebro é a sede material onde são processadas todas as vivências humanas.

Através dos estudos de neurofisiologia e da neuroquímica sabe-se que o cérebro se renova constantemente, não é um órgão estático, como se pensava antes, ao contrário graças às atividades de suas células ele se renova continuamente para garantir suas diferentes tarefas. É um órgão que registra todas as experiências vividas e a partir delas criam-se novos circuitos cerebrais específicos para cada uma delas. Só o fato de você sair de uma rotina, por ex., optar por fazer um trajeto novo, diferente do que é feito regularmente, os neurônios já desenvolvem novos circuitos cerebrais que se agregaram aos já conhecidos para garantir esta nova atividade e assim por diante, de tal forma que as experiências diárias mudam o cérebro constantemente, para novas adaptações.

Sabe-se hoje que quanto maior forem as experiências positivas na vida do indivíduo, seu cérebro funcionará melhor, e como ele funciona em consonância com outros órgãos e sistemas do nosso corpo, as atividades deles também funcionaram melhor.

Todas estas prerrogativas podem ser sintetizas imaterialmente através do se conhece pelo nome de mente que é a representação abstrata e simbólica que nos orienta, nos comanda, nos controla, interpreta e traduz em expressão material o comportamento. De tal forma que quando o cérebro não está bem, isto repercutirá na mente e esta, por sua vez, em ações. Portanto o cérebro não cria o seu próprio destino, embora se autorregule sendo a genética que lhe fornece as bases para seu funcionamento regulando a si mesmo e o restante do corpo.

A parte do cérebro, denominada de neocortex, que é a estrutura mais nova hierarquicamente desenvolvida a partir da evolução humana, é dotado de uma enorme responsabilidade para nossa vida que é, entre outras coisas, a de tomar decisões, optar, escolher sobre o que queremos, além de discriminamos, de adoramos, estimamos, controlamos e evoluímos em nossa cadeia biológica como seres humanos. Muitos outros comportamentos relacionados com nosso modo de vida estão todos irremediavelmente ligados às inúmeras outras áreas e funções específicas de nosso cérebro. Um fato notório e muito importante é que nossa saúde mental e social depende diretamente da forma como estas distintas funções se relacionam umas com as outras, de tal forma que qualquer alteração por menor que seja, alterará o funcionamento global deste sistema interconectado, resultando no aparecimento das chamadas doenças mentais.

Os psiquiatras e outros estudiosos do comportamento humano recomendam algumas atitudes que colaboraram muito para a proteção, promoção e garantia de nossa saúde mental: procure cultivar bons amigos; participe de tudo que puder e não se isole; procure manter um relacionamento com um companheiro ou companheira estável e duradouro; engaje-se em projetos pessoais ou sociais que lhe ocupem a mente e que valham a pena; dê valor e importância para si mesmo; aproxime-se de pessoas que possuem um bom estilo de vida e que tenham hábitos saudáveis e lhe inspire confiança; tenha um propósito em sua vida; deixe tempo para lazer, praticar esportes e brincar; aborde as questões que o fizeram ficar com raiva e não as guarde sobre qualquer pretexto; mantenha uma boa e frequente atividade sexual; evite a qualquer custo tudo que lhe gere stress e, se não puder evitar procure administrá-lo; evite ou saiba lidar com condutas impulsivas e com os rompantes negativos; quando você tiver uma reação negativa, pare, volte atrás, respire, e observe como você está se sentindo; procure fazer o bem ao próximo, isto nos ajuda muito a vivermos melhor e não cultive inveja ou ódio por ninguém. Estas recomendações são simples, mas funcionam no sentido de promover nossa saúde mental e vivermos bem melhor, pois seu cérebro irá prosperar, mesmo que a vida se apresente com altos e baixos. Você é que vai liderar o seu cérebro.

 

O Brasil Insone

Com este titulo muitos podem pensar que nosso país adoeceu, que não esta dormindo bem ou que algo de muito grave o atingiu ao ponto de tirar-lhe o sono, já que se sabe que este adjetivo insone representa uma condição psicopatológica relativa a uma alteração do sono de alguém. Todavia, permitam-me a ousadia, ao propor o titulo deste artigo, minha intenção era tão somente dizer que nosso Brasil continua sintonizado com suas reinvindicações, permanece em alerta, não baixou a guarda, continua na luta e em prontidão, vendo que muitas de suas reinvindicações ainda não foram atendidas.

Portanto, insone aqui, não diz respeito à distúrbios do somo e sim ao fato da população mais jovem deste país manterem-se  acordada, atenta e com os olhos acessos para saber-se que rumos darão aos seus pleitos e, para tanto se mantém inquieta, esbravejante, gritando alto para que todos ouçam suas reclamações, ao meu ver  justas e plausíveis diante do indiferentismo que vêm ocorrendo com nossa nação na gestão da coisa pública.

Este levante nacional, portanto é, sobretudo uma demonstração de saúde mental do povo brasileiro reveladas pelas atitudes seguras e determinadas e por saberem muito bem o que querem. A demonstração de coragem, espírito de luta, de um caráter altivo e rebelde estão sendo confrontados com as incompetências e negligências do poder público e com a famigerada corrupção que se alastra por este país em todos os cantos e que por tantos anos alimentou os donatários do poder.

No dia 03 deste mês, na última quarta feira foi a vez dos médicos brasileiros se incorporarem às lutas que encantam a todos. E isto aconteceu de forma democrática, ordeira e sensata, que a uma só voz, em todo Brasil, manifestaram sua indignação diante dos problemas graves da nossa saúde pública, ante uma proposta politiqueira do governo federal visando importar milhares de médicos de outros países para aqui exercerem suas atividades profissionais.

Em princípio, nada contra, até porque nós também saímos muito daqui para trabalhar e estudar alhures, além do mais não há nada melhor do que trocar experiências com colegas de outros países, bem como estabelecer alianças internacionais de colaboração mútua para se enfrentar certas situações no âmbito da saúde pública de um povo ou de uma nação.

Ocorre que a proposta do governo Brasileiro desconsidera preceitos institucionais que regulam idas e vindas de profissionais médicos entre países, normas estas criadas e validadas pelos próprios governos entre as quais a validação do diploma destes profissionais – REVALIDA – para exercerem suas atividades em nosso país. Esta norma foi criada com o intuito inclusive de se saber o preparo e qualidade técnica dos serviços que serão prestados ao nosso povo. O governo quer atropelar esta prerrogativa internacional permitindo que os profissionais importados não se submetam a tal avaliação, fato que poderá expor a nossa população a muitos riscos.

A meu ver, se o governo pretende demonstrar sua intenção em resolver os problemas da saúde deste país através desse expediente, irá dar com a “cara na parede”, pois tudo indica que haverá mais confusão e menos solução.  Ao mesmo tempo se sabe que esta medica isoladamente passa de longe das soluções aos graves problemas já identificados de nossa saúde pública, por isto eu pergunto: porque não se propor um plano geopolítico de carreira e salário médico como o que já ocorre com o Ministério Público e o Judiciário e outros órgãos importantes da nossa vida profissional? Porque não fiscalizar ainda mais a aplicação dos recursos financeiros destinados a saúde em nossos municípios? Porque que não se oferecer melhores condições de trabalho as médicos que irão trabalhar nos interiores? Porque não garantir salários dignos evitar que os médicos tenham que trabalhar uma carga horária exagerada para garantir uma renda mínima digna a estes profissionais?

Por não responderem estas e muitas outras perguntas é que nos encontramos nesta situação e não é com importação de outros profissionais que iremos resolver estes impasses ou atingir nossos objetivos. Agora, nós médicos e a população brasileira, mais do que nunca, deveram estar atentos, pois cutucamos “a cobra com vara curta” e baseado na lei da inércia insistirão em manter esta situação nos fazendo engolir estas propostas descabidas e ineficazes. Devemos, portanto permanecer insone, pois em um cochilo, podemos colocar tudo a perder perdendo a chance de estabelecermos um grande pacto nacional que garanta uma saúde de qualidade à população brasileira.

Parabéns aos médicos, ao Conselho Federal de Medicina – CFM, à Associação Médica Brasileira – AMB e a Federação Nacional dos Médicos – FENAM e a todas as entidades que fazem saúde em nosso país e que estão apoiando este movimento que visa tão somente readquirir as condições mínimas de trabalho para se poder oferecer uma assistência médica de qualidade ao nosso povo.

Ameaça à vista, cuidado com o que se usa.

Há algumas semanas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, através do Boletim de Farmacoepidemiologia, nos surpreendeu com uma notícia QUE aponta para o aumento no consumo de metilfenidato na população brasileira, esta substância é conhecida comercialmente pelo nome de Ritalina, e está indicada para o tratamento de pessoas portadoras de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Pelo relatório o aumento foi de 75% e os consumidores foram crianças e adolescentes com idade de 6 a 16 anos, entre 2009 e 2011. Segundo o órgão da vigilância isto indica que está havendo “um diagnóstico mais apurado das alterações de conduta especialmente com hiperatividade e déficit de atenção” e que os médicos têm sido mais atentos quanto ao diagnóstico e efetivo tratamento do TDAH.

Há alguns anos este transtorno, predominantemente infanto juvenil, era designado pelo nome de Disfunção Cerebral Mínima – DCM e até 1994 esta síndrome era conhecida, tão somente, pela intensa hiperatividade que acometia estas crianças e adolescentes, daí por que muitas delas eram consideradas atrapalhadas, bagunceiras, peraltas, mal educadas e pelas dificuldades comportamentais que as mesmas apresentavam eram segregadas psicológica e socialmente.

Muitas destas crianças não conseguiam superar isto, indo com estes problemas até a vida adulta com todas as conseqüências que o fato de não terem sido tratadas acarretaria. Com o surgimento do metilfenidato ou Ritalina na década de 70 abriram-se novas perspectivas no prognóstico, no tratamento e na reinserção social destas crianças e adolescentes considerando que de fato trata-se de uma medicação efetiva no controle clinico desta síndrome.

As crianças de agitadas, desatentas e agressivas se tornam mais tolerantes, dóceis, amáveis e com melhor rendimento escolar pelo fato da substância melhorar a performance de várias funções cognitivas e conseqüentemente a desatenção, comum nestes pacientes. Por outro lado sabe-se que o metilfenidato é uma substância psicoestimulante poderosa (excitante cerebral) que age em nosso cérebro semelhantemente às anfetaminas e a cocaína exigindo, portanto, dos órgãos de fiscalização federa e estadual um rigoroso controle tanto na prescrição médica quanto na utilização desta droga especialmente por serem os usuários crianças e adolescentes.

Ouro fato importante é que temos notícias do abuso (sem indicação médica) de metilfenidato entre adolescentes e adultos jovens que estão utilizando-o para outras finalidades que não seja aquelas para as quais seu uso é  indicado do ponto de vista médico.

Então podemos estar entrando em mais uma tremenda enrascada do ponto de vista da saúde pública diante do aumento surpreendente de metilfenidato pela população brasileira, isto é se de fato, o aumento do consumo, for atribuído por indicação médica devemos aplaudir a classe médica por ter melhorado os instrumentos de diagnóstico e tratamento destes jovens paciente com TDAH e certamente estarão colaborando para a melhoria da saúde mental e social desta população se, por outro, lado este aumento estiver atrelado ao uso abusivo desta substância será lamentável, pois, o abuso de metilfenidato , que parece que é o que também está havendo estaremos entrando em mais um problema grave de abuso de drogas. Vejam, por exemplo, que em 2009, foram vendidas 156.623.848 miligramas (mg) do medicamento, já em 2011, o mercado atingiu um montante de 413.383.916 mg do produto.

O boletim aponta ainda que, em 2011, foram comercializadas 1.212.850 caixas do referido medicamento nas farmácias e drogarias do país. Esse número representa uma alta de 28,2 % em relação a 2009 (557.588 caixas de metilfenidato), já considerando o aumento do fluxo de informações recebidas pelo sistema da ANVISA neste período. Portanto vamos ficar muito atentos a este fato para evitarmos maiores problemas.

 

Aviso aos navegantes, perigo a vista.

 Mais uma vez o Instituto Nacional de Pesquisa sobre o Àlcool e outras Drogas – INPAD e a Univesidade Fedral de são Paulo – UNIFESP se aliam para brindar à população brasieira com novas pesquisas importantes e reveladoras sobre o consumo de álcool e doutras drogas em nossa população.

Desta feita, trata-se do II Levantamento Nacional sobre Álcool e Drogas – II LENAD publicado há tres dias atrás pela grande mídia nacional. Trata-se de uma pesquisa complexa, realizado em 149 municípios em todas regiões do país. Foram entrevistadas 4.607 pessoas com idade acima de 14 anos.

Um dos fatos mais mais relevantes é o aumento de 20% no consumo de álcool entre os que consomem álcool uma vez ou mais por semana, que é um padrão sócio-cultural de consumo de álcool do nosso país. Também houve aumento no número de pessoas que ingerem grandes quantidades de álcool (quatro unidades para mulheres e cinco para homens) em um curto período de tempo (duas horas) padrão de consumo denominado de “berber em bing”, isto é, as pessoas estão bebendo muito em pouco tempo. Entre esses consumidores, essa forma de beber passou de 45%, em 2006, para 59% no ano passado.

O II LENAD destaca ainda o aumento do consumo abusivo de álcool entre as mulheres, ao meu ver o fato mais preocupantes, Isto é as mulheres estão bebendo mais se aproximando muito do padrão de consumo de álcool verificado entre os homens. A pesquis revelou que a proporção das mulheres que passaram a beber uma vez ou mais por semana cresceu 34,5% já que em seis anos, onde o índice passou de 29% para 39%. As mulheres que ingerem quatro doses em até duas horas passaram de 36%, em 2006, para 49% no ano passado, isto é as mulheres estão bebendo mais e mais rapidamente um padrão histórico comum entre os homens.

A preocupação maior está no fato de que as mulheres se tornam mais facilmente dependente do álcool que os homens quando ambos tem o mesmo padrão de consumo. A pesquisa mostra ainda que quando comparamos os índices de consumo de álcool com o de outros países, a taxa de pessoas que não bebem no Brasil é baixa, cerca de 50% da população.

Para a mesma pesquisadora entre os fatores que podem explicar o crescimento desse modo nocivo de beber, está na ascensão econômica da população nos últimos anos, isto é , a população tem mais recurso para gastar com bebida. “A grande mudança de 2006 para cá foi o aumento da renda, especialmente nas classes C e D. Quem não bebia continua não bebendo. Por isso não tivemos aumento do número de bebedores. Agora, quem já bebia demonstraram a tendência de poder beber mais.

Outro pesquisaor e coordenador do LENAD Prof. Ronaldo Laranjeira destaca ainda, deficiências na política publica sobre o álcool como causa do aumento do consumo abusivo desta substância em nosso país, pois a falta de política pública desincentiva a ingestão de bebidas alcoólicas. “O mercado do álcool permanece intocado. Temos 1 milhão de pontos de venda que são estimulados a aumentar cada vez mais o consumo, com isto constata-se que para cada 200 pessoas há um ponto de venda de bebida alcoólica em nosso país sem qualquer controle médico social.

Diante destes fatos temos que repensar muitas coisas que não aparecem no grande debate público sobre drogas em nosso país. A prioridade absoluta no controle do consumo do craque nos deixando cegos ante o aumento do consumo nocivo do álcool, os preços baixos de bebidas alcoólicas, a propaganda vergonhosa para se vender bebidas, a juventude bebendo cada vez mais e com menos idade, a facilidade de acesso ao álcool, o fato das mulheres estarem bebendo mais, enfim temos que ficar atentos, pois daqui há pouco teremos olimpíadas, copa do  mudo, copa das confederações  e todas estes eventos patrocinados pelas grandes cervejarias internacionais o que acarretará mais consumo e por conseguinte mais mazelas por demais conhecidas provocadas pelo consumo abusivo de álcool.

 

 

Atividade Física, saúde mental e bem estar social

Ontem, comemorou-se em todo mundo, o dia mundial da atividade física certamente um das datas mais importantes que temos para referenciar a uma atividade, a meu ver, indispensável para garantir e promover a nossa saúde, bem maior da nossa existência.

No mundo, nos últimos trinta anos, a prática e o conceito de atividade e exercício físico, coisas diferentes, vêm se transformando. Na década 70 houve a introdução do famoso método Cooper que provocou uma verdadeira revolução no mundo todo no conceito e na prática da atividade física, movimento internacional sumarizado na famosa expressão “mexa-se” onde as pessoas começaram a perceber o quanto era importante prática da atividade e o exercício físico na promoção da saúde.

Na década de 80, prevaleceu o movimento universal da atividade física aeróbica nesta época surgem as academias e a figura do “personal training”, profissionais importantes na orientação e execução das atividades. Na década de 90 deflagra-se o culto ao corpo através do exercício físico, o fisiculturismo, e todos, homens e mulheres indo atrás do corpo belo e “sarado”, uns passaram a viver quase compulsivamente na nas academias de ginástica e fisiculturismo, atrás do corpo musculoso e bonito. Finalmente nesta evolução histórica surge a propostas designada de Wellness que é a busca de um novo estilo e qualidade de vida, através da atividade física regular, de uma dieta equilibrada e de uma atitude mental positiva, constituindo-se o bem-estar geral e como se pode alcançá-lo, que, como se pode notar esta proposta coincide com a designação de saúde conforme a OMS: bem estar físico, psíquico e social.

Todas estas fases colaboraram para a construção de uma consciência individual e social que vem a cada dia ganhando força total que é a de que praticar atividade física é um recurso indispensável para a promoção da saúde em seus diferentes sentidos.

Do ponto de vista neurofuncional, emocional e psiquiátrico sabe-se que uma boa parte das doenças mentais que acometem a população em geral advém de uma vida sedentária, desvinculada de qualquer atividade física. Depressão, transtornos de ansiedade, fobias, por exemplo, são enfermidades que poderiam evoluir de forma diferente, caso seus portadores praticassem uma atividade ou exercícios físicos. Nosso cérebro, que é a sede material das nossas vivências e de grande parte destas doenças, produz várias substâncias neurobiológicas e neuroquímicas indispensáveis à saúde mental e muitas delas só se efetivam na vigência de atividades física, e, por conseguinte, sem as quais irão fatalmente provocar problemas de saúde mental.

Danos precoces de memória, déficits de atenção, isolamento social, fobias distúrbios de relação social, são entre outros, os distúrbios onde o exercício físico exerce um papel muito importante na recuperação destes enfermos. Muitas doenças senis, pré-senis e neurológicas como doenças de Parkinson, Alzheimer, acidentes vasculares cerebrais, epilepsias, etc, melhoram clinicamente e se recuperam mais facilmente quando praticam estas atividades.

O prazer, uma das mais importantes aspirações humanas, só é garantido quando os níveis de produção das endorfinas cerebrais são adequados e, caso haja o contrário, teremos vários problemas médicos e comportamentais. Esta substância além de garantir o prazer é um poderoso analgésico endógeno. E, a atividade física é que garante a disponibilidade deste aminoácido.

Enfim, viva o dia 06 de abril, viva a atividade física, viva os professores de educação física, os personais training e todos que dedicam suas vidas promovendo saúde e bem estar de todos e se de fato querem ter mais saúde, mexam-se.

Novos conhecimentos sobre as origens da dependência química.

Neste artigo, destaco uma das mais importantes contribuições científicas na área da dependência química, no que diz respeito às bases etiopatogênicas, isto é, as origens deste transtorno.

Por se tratar de um fenômeno ultracomplexo as contribuições para o entendimento destas doenças vem de várias áreas do conhecimento: psicologia, sociologia, fisiologia, bioquímica etc. e, cada uma destas contribuições são relevantes e muito importanes.

Um assunto muito atual, que está sendo debatido no mundo todo pela neurociência e pela psiquiatria é o conceito de Patologia Dual, aplicada a área da saúde mental. Este conceito é definido como sendo a concomitância entre um transtorno mental e a dependência química de uma droga em que ambas as condições fariam parte de um mesmo complexo neuropatobiológico, isto é, um substrato neurofisiológico único com manifestações clinicamente diferentes. Ocorre que este conceito novo vem ocasionado muita confusão pela semelhança que pode existir com o conceito de comorbidade tema já tratado neste jornal em artigos anteriores.

Por comorbidade entende-se a coexistência de mais de um transtorno psiquiátrico em uma só pessoa, como é o caso do alcoólatra ser portador de depressão, o esquizofrênico ser dependente de cocaína, o fóbico ser tabagismo e assim por diante. Ocorre que nestes casos as doenças têm origens distintas umas das outras, são independentes, e não se vinculam quanto a sua causalidade e seu aspecto clínico. Na patologia dual, a dependência química, é um endofenótipo, isto é, é uma característica estrutural interna de nosso organismo que não pode ser observada a olho nu, associado a um transtorno mental mais abrangente, que é uma doença mental.

A patologia dual, embora seja um conceito novo, o mesmo vem despertando interesses muito grandes entre os cientistas que trabalham na área da dependência ao ponto da Associação Mundial de Psiquiatria já dispor de um departamento que trata desta nova abordagem do problema da dependência de drogas.

Este novo conceito de dependência modifica a conduta tradicional em relação ao doente mental e o próprio dependente porque a abordagem de uma ou outra condição de forma independente não é suficiente justamente porque ambas fazem parte de um mesmo complexo neuropatobiológico.

A dependência também apresenta aspectos genéticos bem caracterizados, por exemplo, 10% (em média) das pessoas que fazem uso ou abuso de substâncias (álcool e outras drogas) desenvolvem dependência química que sugerem uma predisposição genética. Por outro lado, a alta prevalência de adição entre doentes mentais, com índices acima de 60%, sugere ser a patologia dual um endofenótipo ligado a esta condição psicopatológica. Ao mesmo tempo, em que a dependência química nesse grupo de indivíduos aumenta significativamente a vulnerabilidade aos transtornos mentais de base. Na clínica verificamos estes achados quando usuários de crak, álcool e cocaína  além de dependentes destas drogas apresentam característica de concomitância de outra patologia mental, sobretudo com distúrbios de personalidade, depressão e transtornos de ansiedade.

            A dificuldade no diagnóstico da patologia dual decorre, segundo os pesquisadores, do fato dos complexos sintomáticos estarem compartimentalizados diferentemente nas classificações psiquiátricas atuais (CID-10 e DSM-IV), que não levam em consideração que complexos sintomáticos clinicamente diferentes estejam relacionados aos mesmos substratos neurobiológico e etiológicos.

De acordo com o presidente da Sociedade Espanhola de Patologia Dual, Néstor Szerman, as altas taxas de prevalência de patologia dual orientam a afirmar que todos os programas dirigidos a indivíduos com doença mental grave deveriam se organizar como programas de patologia dual, já que isto é mais a regra que a exceção.  

Esta, portanto, é mais uma importante porta que se abre no rumo do tratamento e recuperação destes milhares de dependentes de drogas que há mundo e em nosso país e que seja sempre bem vinda estas aportações científicas, pois só quem ganha somos nós.

 

Há algo na vida mais importante que as mulheres?

Há dois dias comemorou-se o Dia Internacional da Mulher, data que por tamanha importância, não poderia deixar de tecer alguns comentários, até como demonstração de gratidão, respeito e reconhecimento pela importância que as mesmas dispõem na minha vida.

Deixei meu coração e meus pensamentos soltos para que pudesse dizer o que sentia sem a preocupação de retocá-los ao falar sobre as mulheres. Comecei a me fazer inúmeras perguntas e as respostas sempre apontavam para as mulheres. Se não, vejamos: o que há de mais importante na vida do que as mulheres? O que seria de nós homens se as mulheres não existissem? Como nasceríamos sem as mulheres? Como iríamos prorrogar a espécie humana, sem as mulheres?   Como seria nosso crescimento, nosso desenvolvimento, sobretudo nos primórdios? Quem nos amaria, sem ser as mulheres? Quem nos defenderia quando estamos inseguros e indefesos? Quem nos colocaria no colo nas angústias, no sofrimento e na dor? Quem cuidaria dos nossos filhos mais que as mulheres? Quem nos daria prazer com paixão? Quem nos acompanharia até a morte e umas preferem inclusive morrer a deixar que o homem morra?

Fui mais longe quando constatei que minha inquietude refletida nestas perguntas obscureceu minha razão, ao ver que em tudo a mulher está presente, e, exercendo um papel indispensável em vários sentidos da vida. Poderia eu, até sem exagero, dizer que não fossem as mulheres, nós não existiríamos ou se viéssemos a existir certamente não seria na forma como nós nos concebemos, pois está na mulher, nossa maior inspiração.

Então, percebo que é muito pequeno o tributo às mulheres quando se consagra apenas um dia, mesmo sendo internacional, para exaltá-las e referenciá-las, pois são elas as grandes razões da vida. Portanto deveríamos exortar nossa gratidão sempre, todos os dias.

Este reconhecimento do valor de vocês mulheres na vida não é só meu e sim de todos. Apesar disto, ainda não sanamos nossa dívida com vocês. Fomos maus, injustos, preconceituosos, arrogantes ao segregá-las, subjugá-las, discriminando-as ao longo da história.

Foram séculos de dominação machista sem a qual cresceríamos bem mais do que crescemos na vida, porém graças a sua arrojada capacidade de luta, sua tenacidade, braveza e inconformação, estão virando jogo adquirindo reconhecimento, importância, notoriedade e valor e, sobretudo dignidade pela relevância de seu ser.

Há quem diga, erroneamente, que por trás de um grande homem há uma grande mulher. Nenhuma mulher está por trás de homem nenhum, a mulher ou está na frente ou no mínimo ao seu lado, para compartilhar. Homem e mulher são faces distintas de uma mesma moeda. Nenhum é mais importante do que o outro, sobretudo em gêneros. Homem e mulher devem estar um do lado do outro sempre para dar sentido à vida.

Quero, portanto, nesta minha crônica, homenageá-las tão somente, reconhecendo de forma muito modesta o quão são importantes e imprescindíveis na vida, ao mesmo tempo pedir a Deus que as protejam sempre e que prossigam com suas lutas de reconquitas.

Para finalizar gostaria de enviar um beijo e um abraço muito carinhoso às mulheres mais importantes de minha vida, sem as quais não chegaria a lugar algum: Rita Palhano, minha mulher, Pilar e Ludmila, minhas filhas e a minha mãe Lalá Palhano, que embora já tenha falecido, a mantenho viva dentro de mim. Parabéns às mulheres!

 

O consultório psiquiátrico, os preconceitos sociais e a doença mental

Uma coisa que gosto de fazer e o faço com certa freqüência é pensar e refletir sobre a vida, sobre os meus hábitos e costumes, sobre as relações com os outros, sobre o que é ou não importante, sobre meu papel social como ser humano, sobre meus compromissos e responsabilidades, enfim sobre mim mesmo.  É uma prática que cultivo com muito zelo, pois reconheço que é a forma mais simples que disponho, para que eu possa me aproximar mais de mim mesmo.

Esta peculiaridade eu atribuo à minha condição de ser médico e psiquiatra atividades que exerço há 35 anos. Esta condição me fez aprender muito e a encontrar sentido em muitas coisas em minha vida que não tinham significado algum. Sempre procurei exercê-la com dignidade, competência e ética pela responsabilidade que a mesma me impõe, além do mais a prática do psiquiatra é inspiradora, inquietante e surpreendente, por ser inusitado e inconfundível a lida com estes enfermos.

No consultório as relações são singulares, pois é onde se firma um dos mais importantes compromissos da prática profissional que é a “relação médico-paciente” um dos capítulos mais importantes e mais apaixonantes da prática médica, onde o conhecimento, a dor, a técnica, o sofrimento, a angústia, bem como a alegria, a satisfação dos enfermos, nos ensinam a compartilhar, colaborar, ter esperanças, a compreender mais, ter compaixão e a nos resignarmos ante ao que não se pode mudar.

A prática da psiquiatria em si mesma não é nada diferente das outras práticas médicas, pois as doenças mentais obedecem às mesmas regras e lógicas das outras doenças humanas, sem qualquer diferença, ressalvando-se apenas o fato dos doentes mentais, contrariamente aos outros, apresentarem muita expectativa, incógnitas, e níveis de angústia incomparavelmente superiores a qualquer outro enfermo. Por isto mesmo, se sentem inseguros, desprotegidos e desamparados diante de sua própria enfermidade.

Neste contexto estes doentes sempre foram vítimas de terríveis preconceitos e discriminações, mais do que qualquer outro enfermo, graças a isto foram sempre segregados socialmente e prejudicados tanto em seu tratamento quanto em sua reabilitação social. Esta constatação constrangedora se vê estampada em seus rostos ao manifestarem vergonha de ser taxado de doente mental.

Esta rejeição e discriminação sempre existiram, onde o medo, a desconfiança e a hostilidade sobre os mesmos, caminham juntas. A ignorância médica, a negligências do poder público e o desprezo social a estes pacientes envolto por uma cultura discricionária, forma a base do preconceito histórico, gerando desamparo, desumanidade e violência contra estes enfermos.

Considero particularmente um dos mais importantes compromissos da psiquiatria manter a luta contra estes preconceitos haja vista os profundos prejuízos ocasionados a estes pacientes. Podemos citar como exemplo a iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, criando um movimento nacional contra a discriminação dos doentes mentais, designado de PSICOFOBIA.

Contraditoriamente, a doença mental por ser uma doença da pessoa e não de um órgão, do comportamento e não de um sistema, sua expressão é a mais pessoal e humana. São pessoas que revelam mais afetividade, mais bondade, mais paixão, mais sentimento em suas queixas. Por isto mesmo exigem mais carinho, mais atenção, afeição em seus gestos. Há, portanto, uma enorme discrepância entre o famigerado preconceito que lacera, maltrata e faz sofrer estas pessoas e a singeleza dos seus sintomas incompreensíveis baseadas em suas profundas necessidades.

O mínimo que poderíamos fazer diante de tudo isto para corrigir estas profundas distorções seria garantir acessibilidade digna e plena a estes enfermos através de um sistema de cuidados bem planejado, referente, humanizado, amplo e tecnicamente competente para assegurar sua total recuperação, pois como os outros, os doentes mentais também se recuperam e podem levar uma vida dígna e saudável.

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