A Base Material do Amor

Com o avanço do conhecimento científico e tecnológico, hoje se sabe muito sobre o que se passa com a mente dos amantes e dos apaixonados. Estamos a cada momento caminhando a passos
largos no sentido de descobrir os segredos dos sentimentos e das emoções mais
profundas que coloram a vida afetiva dos seres humanos, situação nunca antes
examinada.

Um dos sentimentos mais estudados é o amor, indiscutivelmente, um dos mais importantes, por garantir a vida do homem e de muitas outras espécies. Em torno dele todos querem viver. É o sentimento especial a que mais aspiramos, pois nos torna feliz e em paz conosco e com os outros, dá prazer e nos impulsiona na vida.

Durante muitos anos, poucos foram os estudos que trataram
das bases biológicas do amor, porém da década de 1990, conhecida por “década do
cérebro”, para cá, surgiram inúmeros trabalhos relacionando-o com as atividades
do cérebro e as conexões deste com muitas outras regiões cerebrais que explicam
o comportamento de quem ama.

Com o prosseguir das pesquisas, utilizando-se métodos muito sofisticados como o PET- SCAM, ressonância
magnética nuclear e outros métodos de neuroimagem, os cientistas passaram a ter
um enorme interesse em decifrar os enigmas das sensações que se apresentam
quando estamos amando. Os estudos concluíram que a área de nosso cérebro
estimulada quando amamos é a mesma estimulada quando alguém usa drogas que
viciam, como o álcool, tabaco e muitas outras.

As conclusões foram obtidas através de imagens de ressonância magnética do cérebro de mulheres e homens que afirmaram
estar profundamente apaixonados, em períodos de tempo que variavam de um mês a
dois anos. Nesses estudos eram mostradas fotos da pessoa amada e de pessoas
parecidas com as dos participantes da pesquisa. Os pesquisadores perceberam que
haviam mudanças acentuadas na atitude das pessoas que estavam sendo pesquisadas.

O cérebro dos participantes apaixonados reagiu às fotos de seus companheiros, produzindo respostas
emocionais nas partes do cérebro normalmente envolvidas com a sensação de
motivação e recompensa, as mesmas áreas do sistema cerebral ativadas quando uma
pessoa é dependente de uma droga.

Essa região cerebral é designada de área de recompensa cerebral ou área do prazer. É uma região formada por outras
pequenas subestruturas localizadas no hipotálamo, região situada logo abaixo do
córtex cerebral. Os neurocientistas dizem que o amor romântico é uma das
emoções mais complexas e poderosas, controlada por esta região. Além do mais, a
área de recompensa é a parte indispensável para garantir a nossa sobrevivência,
sendo ela que nos ajuda a reconhecer que algo é bom.

A área de recompensa cerebral é riquíssima em dopamina cerebral, um neurotransmissor envolvido com o prazer,
com a alegria e com a felicidade. A dopamina desta região está presente em
grande quantidade, todas as vezes que ocorre uma estimulação desta região. A
área de recompensa cerebral se articula com muitas outras regiões do cérebro,
onde outras funções são realizadas, portanto é uma região interarticulada.

Os trabalhos demonstram que amar é uma experiência altamente prazerosa e indispensável para nossa vida e, em
particular, para nossa saúde. Através do amor nós nos sentimos mais aptos, mais
inteligentes, e com mais disposição. Sentimo-nos mais corajosos e mais seguros.
Todo nosso corpo funciona melhor, a autoestima e autoconfiança ainda mais.
Todos os que amam se sentem mais seguros, mais companheiros e mais solidários.
O amor desperta em cada um de nós, um sentimento de fraternidade e torna as
pessoas mais sensíveis, fato, por sinal, incomum nos dias atuais.

Nosso sistema imunológico se torna mais hígido, os sistemas cardiorrespiratório,
renal, digestivo e osteomuscular melhoram seus desempenhos e todo corpo torna-se
melhor e mais saudável. Sexualmente há uma maior disposição e melhor
desempenho, bem como na qualidade dessa experiência.

Porém como a expressão do amor reflete a integridade de muitas funções neuroquímicas e neurofuncionais do cérebro, há
a possibilidade de muitos adoecerem sob a égide da experiência amorosa, são os
que adoecem expressando o amor. Os disfuncionais se expressam através de ciúmes
patológicos, amores exageradamente possessivos e violentos, dependência
mórbida, perda da identidade, da autonomia e da liberdade. Essas expressões
psicopatológicas fazem com que os amantes se desconfigurem nas relações
afetivas, restando tão somente sofrimento de dor. Às vezes, de tão doentia a
relação, as pessoas chegam a cometer crimes ou praticar o suicídio.

A fobia, o fóbico e o telefone celular.

A Era da Informação, também conhecida como Era Digital,
que compreende o período que vem após a Era Industrial, surge no princípio do
século XX mais especificamente a década de 1980 e caracterizou-se como o
momento da redefinição de novos paradigmas da comunicação, pelo surgimento, entre
outras coisas, dos microprocessadores, da rede de computadores (internet), da
fibra óptica, do computador pessoal e, entre outras tecnologias. Foram inovações
que vem marcando a história e o desenvolvimento do homem na terra, e estes
descobrimentos redefine um novo processo nas experiências pessoais e sociais. Pode-se
afirmar que a era digital, na escala do desenvolvimento antropológico, colabora para a reinvenção de outro homem, o “homem tecnológico”.

Estes novos conhecimentos impostos pela evolução
científica e tecnológica, não se estabeleceu de forma imediata, abrupta e
imprevista, muito pelo contrário, surge de forma progressiva e sistematizada,
porém com uma velocidade surpreendente que nos dá a sensação de estarmos
vivendo em outro mundo, totalmente diferente ao que vivíamos até então, ao
ponto de já se notar claramente o “passado e o presente” sem grandes lapsos no
tempo.  Isto é o “ontem e o hoje” parecem coisas
muito diferentes apesar de estarmos no “presente”. São inovações que
conferem ao homem moderno sensações múltiplas de medo, insegurança, prazer e
apreensão sobre sua vida, já muito distante do calor de sua caverna.

Como não podia ser diferente, esta nova era está também
interferindo sobremaneira, na definição transcultural do adoecer psiquiátrico do
“homem tecnológico” redefinindo comportamentos psicopatológicos disfuncionais estabelecidos
nas suas relações com estas tecnologias atuais, que estão ao seu serviço. Isto
é, já se identifica clinicamente, nos dias atuais, grupo de pessoas que estão
adoecendo mentalmente por causa de usos inadequados destas ferramentas de uso
no seu cotidiano. Isto é, estão surgindo enfermidades psiquiátricas eletrônicas
e, as que mais se destacam e que mais vem sendo estudadas, é o jogo patológico
dependência de celulares( nomofobia)

O jogo disfuncional ou patológico já está classificado
psicopatologicamente como doença relacionada ao controle dos impulsos. E os pacientes
se caracterizam clinicamente como tendo dificuldades para controlar (impulso)
seu desejo de jogar, apesar dos prejuízos que isto lhe acarreta além de outros
danos psicossociais.  Depreendem muito tempo no jogo, e apresentam dificuldades em abandoná-lose e quando o fazem,
passam mal.

Este quadro também é encontrado entre os usuários
disfuncionais de telefones celulares, fato que levou os pesquisadores ingleses
a designarem este fenômeno de “nomofobia” denominação proveniente
da justaposição de dois termos: NOMO (no móbile) e FOBOS (pavor, medo
disfuncional). Este transtorno está localizado psicopatologicamente no âmbito da
ansiedade.

Neste sentido, dois aspectos merecem ser colocados. O Primeiro é que o jogo patológico já é uma doença reconhecida e classificada pela OMS, desde 80. A nosofobia, ainda não foi classificada como doença,
merecendo ainda muitos estudos para sê-la. Estima-se que na a próxima
classificação da OMS, prevista para 3013, estes transtornos já figurem na nova
Classificação Internacional das Doenças.

O segundo fato, é que muitos destes “enfermos eletrônicos”,
já são portadores de muitos transtornos psiquiátricos que ainda não havia se
revelado e que por conta destas ligações patológicas com equipamentos ou
atividades eletrônicas, passaram a apresentar. Das doenças mais comuns encontradas
em populações pesquisas, destaca-se:  depressivos, tímidos, solitários, inseguros de si mesmo, fóbicos sociais, esquizofrênicos,
ansioso, personalidades doentias. Enfim os eletrônicos, equipamentos ou
atividades podem representar escapes psicopatológicos para muitas pessoas.

 

Drogas, descriminalização em foco

Mais uma vez o tema da descriminalização de drogas vem à baila. Desta vez reaparece com força total na grande imprensa motivada pelo projeto de lei da Comissão de Juristas que trabalham na reforma do Código Penal Brasileiro.

Embora seja um tema antigo e controverso, o assunto em si, avançou muito nos últimos
anos e sempre tem como ponto central as propostas de mudanças na legislação
brasileira que prevê sanções a usuários de drogas em diferentes áreas do
direito. O ponto alto do debate foi a proposta de se mudar o artigo 16 da Lei
6.368/76, que previa prisão a usuários de drogas. Desde então foram surgindo
outras legislações com o propósito de tirar definitivamente da égide do Direito
Penal a prerrogativa de lidar com a questão.

Surgiu, então, a Lei 10.259/2001 que deu mais um passo importante no sentido de
despenalizar o uso de drogas. A última alteração legislativa ocorreu com a
promulgação da Lei 11.343/2006, que em seu artigo 28 propõe penas alternativas
aos usuários de drogas.

Agora, uma comissão de juristas nomeados pelo Senado Federal para rever o Código Penal Brasileiro elabora um
anteprojeto sobre descriminalização do uso de drogas, recomendando, também,
outras medidas neste âmbito, incentivando ainda mais a polêmica.

Um dos argumentos que sustentam as propostas é que nosso país deveria seguir a tendência internacional de
descriminalização do uso de drogas. Porém, nunca houve uma reflexão profunda
sobre se as evidências internacionais se adequariam ou não a nossa realidade.
Não se deve, por melhor que seja uma experiência internacional, replicá-las em
nosso país sem a devida adequação à nossa realidade, nossa história, nossa
cultura, nossa etnia e nossas características sócio demográficas. Não se deve,
em uma situação tão complexa como essa, fazer-nos engolir “goela abaixo”,
qualquer experiência, por mais bem sucedida que seja.

A comissão propõe também reduzir em um terço a pena de reclusão de traficantes de
15 anos para 10 anos, na tentativa de se reduzir a superpopulação carcerária
presa por tráfico de drogas. Porém, o problema da superpopulação carcerária
terá de ser resolvido por medidas específicas e não liberando traficantes de
drogas, que todos querem ver na cadeia em razão de todos os males que causam à
sociedade.

A comissão de juristas propõe que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
defina a quantidade de drogas a ser consumida pelos usuários. Ora, como um
órgão de governo com tamanha responsabilidade pode se dispor a dizer para quem
é dependente ou mesmo usuário qual quantidade consumirá? Quem vai respeitar
esse limite, já o dependente não tem controle sobre essa decisão?

A comissão vislumbra também a possibilidade
dos usuários plantarem pés de maconha e ou de outras drogas em suas casas. Como
se estas plantas fossem inofensivas ou não pudessem causar inúmeros problemas a
nossa saúde.

Estes três pontos elencados neste artigo são de fato polêmicos, merecerão mais
oportunidades de nos aprofundarmos mais em cada um deles para vermos melhor as
consequências para nossa na sociedade e para os usuários e dependentes de
drogas,  para os quais qualquer esforço
de nossa parte em ajudá-los, torna-se pequeno ante ao tanto que precisam.

O nosso maior interesse é ver florescer neste país leis mais avançadas que possam
contribuir de fato para o crescimento de todos. Estas e muitas outras questões
serão postas para que os parlamentares decidam que rumo tomaremos nesta área e
que o façam com bastante lucidez, conhecimento e bom senso para que este debate
nos faça avançar na direção de um maior e melhor controle deste e de muitos
outros problemas que assolam a sociedade brasileira.

 

Dia 31 de maio, Dia Mundial SemTabaco

O link abaixo nos leva a página do INCA, que trata da data de hoje onde se comemora, desde 1987 o Dia Mundial sem Tabaco. A data foi criada pela OMS com o intuito de prevenir os danos a saúde provocado pelo consumo de tabaco. Particularmente, considero uma das datas mais significativas para a saúde individual pública, pois como se sabe, o cigarro responde por 50% das doenças humanas evitáveis, isto é, se nós seres humanos nos livrássemos do fumo deixaríamos de morrer de 50% das doenças que nos matam. Só no Brasil morrem 200 mil pessoas por ano por causa do tabagismo.

O tabagismo é uma das mais graves dependências químicas e, contrariamente ao que muita gente pensa deixar de fumar não é uma tarefa simples. Exige esforço, determinação, disposição psíquica e acima de tudo motivação. A dependência tabágica, em nosso país responde por 9% dos usuários de tabaco daaí porque estima-se que haja neste país próximo de 20 milhões de pessoas dependentes(viciadas) em tabaco em suas diferentes formas de uso. Graças a evolução dos conhecimentos desta matéria, chegamos a patamares de recuperação muito grande. O surgimento de modernos farmacos antitabágicos, modernas técnicas de abordagem do tabagista, as psicoterapias cognitivo-comportamentais, (por sinal uma das técnicas mais recomendadas na recuperação destes paciente), as grande ações do governos especialmente desenvolvidas pelo INCA, todas estas medidas justapostas fizeram com que houvesse mudanças acentuadas no cenário de recuperação e tratamento do tabagismo no Brasil.

Este país dispõe de um dos mais importantes programas de combate ao tabagismo do mundo e o melhor da América Latina. Portanto, é hora dos fumantes se tocarem e tomarem medidas mais ostensivas sobre sua doença e procurem tratamentos sobre este grande mal que assola a humanidade. A Secretaria de Saúde do Estado atravésda da Coodenação do Programa de Tabagismo, muito bem conduzido pela minha amiga Tereza Carvalho, oferece, através dos consultórios de tabagismo, que já existem em nossa cidade, assistência integral a quem deseja parar de fumar. Portanto, procurem este apoio só você ganha. Vá em frente e VIVA este 31 DE MAIO, e MUITOS OUTROS COM MUITA SAÚDE. PARABÉNS A ESTA DATA E ABAIXO O TABAGISMO

http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/dia_mundial_sem_tabaco/site/2012
www2.inca.gov.br

Atividade física, envelhecimento e doença de Alzheimer

A cada dia crescem as evidências que o homem
contemporâneo, produto de uma era repleta de novos conhecimentos, pode viver
mais e melhor. Esta é certamente uma das mais importantes notícias que todos
nós queríamos ouvir, pois a busca da longevidade e da vida eterna é uma das
mais antigas aspirações dos seres humanos e isto está se concretizando a passos
largos.

Não é utópico nem exagero. O homem moderno em
pouco alcançou patamares significativos de longevidade como nunca houve em
outra época em seu desenvolvimento histórico.

Nos últimos 50 anos demos um salto muito
grande na qualidade e em nosso estilo de vida atingindo índices de longevidade
nunca antes alcançados, pois estamos vivendo mais e melhor. Sabe-se, que para
atingirmos isto houve uma coincidência de fatores que garantiram estas
conquistas quanto nossa maior longevidade: os avanços no crescimento da nutrologia,
da bioquímica da imunologia, na farmacologia (surgimento de modernos e fármacos
mais eficientes para o controle e combate ostensivo de doenças, da ergonomia e,
principalmente, os conhecimentos de neurofisiologia e neuroquímica cerebral e do
comportamento. Não se pode desconsiderar os avanços imprescindíveis no campo da
tecnologia médica, os avanços sociais e econômicos, sobretudo na distribuição
da renda e a maior participação de todos na cadeia produtiva e no trabalho.

Particularmente, na área da neurofisiologia e da neuroquímica cerebral, muitas pesquisas científicas têm evidenciado que a
atividade física protege o envelhecimento cerebral e da doença de Alzheimer. Duas
condições que ameaçam a nossa saúde e a nossa longevidade.

Estudos com um grupo de mais de 700 indivíduos idosos sem demência, desenvolvendo níveis
elevados de atividades físicas nas 24 horas, avaliada objetivamente pela actigrafia
(que mede o ciclo de atividade/repouso através dos movimentos do pulso), verificaram
que estes indivíduo apresentavam um menor risco para o desenvolvimento da
doença de Alzheimer, bem como uma taxa mais lenta de declínio cognitivo. Esta
descoberta dos pesquisadores apóia os esforços dos mesmos para incentivar a atividade
física, mesmo em pessoas muito idosas.

A maioria dos estudos demonstra que a atividade física diminui o risco de
declínio cognitivo e demência. Por outro lado segundo os pesquisadores, uma
pessoa com baixa atividade física diária apresenta um risco mais de 2 vezes
maior de desenvolver Doença de Alzheimer (DA), em comparação com um que
participe com alta atividade física cotidiana global. O nível de atividade
física cotidiana global também foi associado com uma taxa mais lenta de
declínio cognitivo global, particularmente para a memória episódica, memória de
trabalho, velocidade na percepção e habilidades visuais / espaciais. Isto é,
todas as funções cognitivas se beneficiam com atividade física regular.

Os estudos também demonstram que não é só de exercício físico, mas
também um incremento das atividades sem exercício, estão associados com uma
maior desempenho cognitivo na velhice. Indivíduos mais velhos, para quem a
participação no exercício formal esteja limitado por problemas de saúde, pode
se beneficiar de um estilo de vida mais proativo através do aumentos de todo o
espectro de atividades de rotina. Isto é mesmo que a pessoa não pratique
formalmente o exercício mas se tem uma vida ativa, também se beneficiam
evitando muitos transtornos neuropsiquiátricos.

Estes resultados podem ter importantes implicações práticas para a saúde
pública, pois motivar os idosos a serem fisicamente ativos, mesmo que a
mobilidade seja limitada, pode diminuir seu risco de desenvolver Alzheimer e
muitas outras doenças. Práticas como cozinhar, lavar pratos, jogar cartas, e
até mesmo a atividade no cenário de mobilidade reduzida, como mover uma cadeira
de rodas com os braços, são exercícios e atividades físicas, em que as pessoas
idosas podem se beneficiar.

Portanto acabou-se definitivamente o  mito e a falsa crença preconceituosa que
atividade física é coisa só para manter a beleza, o que também é salutar ,
porém a atividade física e a adoção de uma vida ativa nos faz viver mais e
melhor, pois estas práticas nos impede de sermos acometido de doenças senis
graves e avassaladoras em populações de idosos, tais como a demência de
Alzheimer e outras demências vasculares.

 

O STF, o traficante e a sociedade.

Há duas semanas, caiu como uma bomba entre nós a decisão do Supremo Tribunal
Federal – STF de conceder um Habeas Corpus a um traficante de drogas que se
encontrava preso, há três anos, sem ter sido julgado.

A decisão do Tribunal foi baseada em entendimento da maioria dos ministros sobre
a inconstitucionalidade do artigo 44 da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas), o qual proíbe a concessão de liberdade provisória aos que cometem crime de tráfico de entorpecentes.

Ao ouvir a notícia fiquei estarrecido, pois a meu ver estaria havendo um tremendo
abrandamento da prisão de criminosos terríveis que abastassem nossa sociedade,
e particularmente nossos jovens, de drogas, um dos mais sérios problemas sociais, de segurança e de saúde do nosso povo.

Além do mais, ao examinar melhor a situação, percebi que minha perplexidade e indignação se baseavam também no fato de ver que a decisão do Egrégio STF poderia, entre outras coisas, gerar um tremendo precedente no Brasil, embasando os Tribunais de outras instâncias a decidir de igual maneira, ou seja, permitindo que traficantes de drogas, presos em flagrante, sejam soltos e respondam em liberdade.

Pus-me a pensar que a decisão do STF poderia pôr em risco as conquistas da sociedade brasileira, que aspira por normas jurídicas mais rígidas, mais severas e mais ostensivas contra estes bandidos que representam um elo fortíssimo para a manutenção dos problemas do uso e tráfico de drogas entre nós.

Fiquei a pensar, como um leigo nas letras jurídicas e como um cidadão que sou, será que o Egrégio Tribunal, atento exclusivamente à inconstitucionalidade do artigo da lei, não suspeitou que isto poderia influenciar estes criminosos a se manterem no crime sabedores que são agora que poderão responde-los em liberdade. Pedagogicamente se sabe que a certeza da punição pode inibir a conduta delituosa.

Sabemos que o enfrentamento do problema das drogas passa obrigatoriamente pelo controle ostensivo ao tráfico e, para tanto, é necessário que se busque leis mais severas contra os criminosos. Da mesma forma que estamos caminhando para a busca de “tolerância zero ao álcool”, para punir infratores que dirigem embriagados no trânsito deste país, devemos também buscar “tolerância zero ao tráfico de drogas”, para punir criminosos que fomentam a violência, enriquecem ilicitamente com a morte e infelicidade de muita gente inocente.

Eis o drama. Por um lado, os Doutos da lei defendem rigorosamente a Constituição contestando  um artigo de uma lei que é importante e que vem contribuindo muito para se avançar no trato destas questões. Por outro lado, a sociedade ficou confusa e perplexa com a medida,pois em sua realidade e em seu imaginário, quer medidas mais severas e mais ostensivas contra os estes criminosos.

Espero que esteja completamente equivocado, mas com a decisão  tomada pelo STF, a impressão que tenho é que haverá um terrível abrandamento no trato com traficantes de drogas e o que todos querem é que haja cada vez menos tolerância com estes criminosos.

“Um ponta – pé na bunda”

Finalmente encerran-se os debates em torno da
redação final da chamada “Lei Geral da Copa”, um texto que regulamentará os jogos
da copa do mudo de 2014. Alguns temas polêmicos desde o início esquentaram os
debates sobre a lei, entre os quais, a liberação do consumo de bebidas
alcoólicas nos estádios brasileiros por ocasião dos jogos.

Da forma como o projeto foi apresentado para o debate no
Congresso Nacional não havia muito que fazer para mudar as exigências da FIFA.
Mesmo assim, esperava-se que os parlamentares, especialmente acerca da
liberação de bebidas alcoólicas nos estádios, pudessem dar outro rumo à questão,
já que sabidamente o consumo de álcool neste país é um grave problema de saúde
pública.

Mas isso não aconteceu. Enquanto na Câmara dos Deputados passou-se
mais de seis meses debatendo a assunto, no Senado Federal, sob rigorosa pressão
do executivo, pelo menos é o que alegam alguns, não houve demora e logo a
matéria foi aprovada na íntegra, conforme texto enviado pela Câmara.

Que pena! O parlamento brasileiro, ao aprovar essa lei, perdeu uma
grande chance de demonstrar seu compromisso em defender nossos interesses e não
se subordinar à pressão econômica de grupos internacionais que não querem saber
se temos ou não problemas com álcool.

O consumo de álcool entre nós representa um grave problema na
área da saúde pública. Infelizmente não disseram isso ao aprovarem a lei, mas
ao contrário, demonstram-se indiferentes às inúmeras questões do consumo de
álcool. Apresentaram à população brasileira desculpas esfarrapadas para
justificar seus votos. Mas nós sabemos que, no fundo, o que estava em jogo são
lobbys poderosos de representantes das indústrias internacionais fabricantes de
cervejas e de outras bebidas. Nosso país se curvou aos interesses da FIFA,
muito bem representada pelos Srs. Blatter e Jérôme, este último protagonista do
episódio do “pé na bunda” na comissão organizadora da copa.

O que fizeram com a aprovação desta lei foi rasgar um
dispositivo histórico que tínhamos em nossas mãos, o Estatuto do Torcedor, que
proibia a venda destas bebidas nos estádios há 10 anos, interferindo nos
gravíssimos problemas que tivemos com essa prática nesses ambientes. Com o Estatuto,
houve uma redução drástica da violência nos estádios, que resultou em redução
de mortes de muitos torcedores.  Nada disso
adiantou, rasgaram o documento e autorizaram a venda de álcool.

Os parlamentares aprovaram um documento que, entre outras coisas,
mantém os índices de 70% dos acidentes de trânsito que estão relacionados ao
uso de bebida alcoólica. Ignoraram que, destes acidentes, 60% dos envolvidos
morrem no local; que mais de 90% dos homicídios brasileiros são cometidos sob a
influência de álcool; que 1/3 dos suicídios, idem; que 25% dos acidentes de
trabalho estão relacionados ao consumo de álcool e altos índices de absenteísmo
laboral.

Então vejam: o que o parlamento nacional fez, ao aprovar a Lei
Geral da FIFA, foi referendar outros interesses que não os nossos. Desconsideraram
o sofrimento da população na luta pela redução do consumo de álcool entre nós. Agora
o Sr. Blatter e o Sr. Jérôme não se preocuparão mais com os atrasos das obras, muito
menos com a votação de seu projeto no Brasil, “país do futebol”. Agora, seus
interesses estão garantidos, tudo é festa e sorrisos de ambos os lados. Jamais
mandariam de novo um “ponta-pé na bunda” de ninguém,
porém nós brasileiros envolvidos com a saúde coletiva, com a moralidade
pública, com o bem estar e a segurança de nossa população, poderiam tê-lo feito.

Tabagismo, o grande desafio

Ruy Palhano

Professor de Psiquiatria – UFMA

O Brasil é um país que pode se orgulhar da política que desenvolve acerca do tabagismo, prática milenar considerada uma das piores tragédias da saúde pública de um povo e de uma nação.

Aqui, quem comanda as estratégias de combate ao tabagismo é o Ministério da Saúde, através do Instituto Nacional do Câncer – INCA, entidade que há muitos anos  trabalha incansavelmente na formulação de políticas públicas que amenizem o impacto do tabagismo na população em geral.

Em âmbito internacional, pode-se destacar a atuação da Organização Pan-Americana de Saúde/Organização Mundial da Saúde – OPAS/OMS no desenvolvimento de políticas e estratégias internacionais para o enfrentamento do tabagismo.

Importante notar que o tabagismo é uma doença crônica que representa fator de risco para o desenvolvimento de cerca de 50 outras doenças, bem como constitui-se na maior causa isolada evitável de mortes precoces em todo o mundo. Representa uma verdadeira pandemia, em que 90% dos fumantes começam a fumar antes dos 19 anos, sendo a idade média de iniciação 15 anos. Segundo a OMS, no mundo, 100.000 (cem mil) jovens começam a fumar a cada dia e, destes, 80% vivem em países pobres. O tabaco é a 2ª droga mais consumida entre os adolescentes.

Há no mundo 1,3 bilhão de fumantes, sendo 47% homens e 12% mulheres. Nos países desenvolvidos há 400 milhões de fumantes, sendo que 42% são homens e 24% são mulheres. Nos países em desenvolvimento há 900 milhões de fumantes, sendo 48% homens e 7% mulheres. No Brasil, segundo o INCA, temos 25 milhões de fumantes, sendo 22,7% homens e 16% mulheres.

Em um cigarro comum existem cerca de 4.700 substâncias ativas, isto é, o usuário, ao tragar a fumaça do cigarro, põe para dentro de seu corpo grande variedade de substâncias e surgem muitas outras advindas do processo de metabolização.

Na fumaça do cigarro encontramos: monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído, acroleína. Em sua fase particulada, temos: alcatrão, arsênio, polônio 210, carbono 14, agrotóxicos, níquel, chumbo. O benzopireno, cádmio, dibenzoacridina e entre estas a nicotina. Já foram isolados mais de 8 grupamentos de substâncias cancerígenas, isto é, de substâncias que provocam câncer em quem tem ou não tendência para desenvolver tais doenças.

Sobre a nicotina, única substância contida no cigarro capaz de induzir ao vício, sabe-se que sua ação não se prende tão somente a essa particularidade – que por si só já seria muito prejudicial. Acarreta também muitas outras ações: diminui o calibre dos vasos sanguíneos; aumenta o ritmo cardíaco; aumenta a pressão arterial; aumenta a adesividade das plaquetas; aumenta o depósito de colesterol; aumenta a força das contrações cardíacas; e associada ao gás carbono, provoca arteriosclerose (CO e nicotina).

As principais doenças induzidas diretamente pelo consumo de tabaco são: doença coronariana, como  angina e infarto do miocárdio (25%); doença pulmonar obstrutiva crônica, como bronquite e enfisema pulmonar ( 85%); câncer no pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga, colo de útero, estômago e fígado (30%); doença cerebrovascular, tais como derrame cerebral (AVC) (25%). Essas enfermidades e muitas outras adquiridas pelo uso do cigarro colaboram também com índices muito elevados de mortalidade no mundo.

Em 2011, o “Dia Mundial Sem Tabaco” fará alusão à importância da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco da OMS – CQCT/OMS, como um instrumento de mobilização social, onde estão contidas as diretrizes políticas para o controle de tabaco.

A escolha desse tema objetiva apoiar os países na transposição das dificuldades verificadas na adoção de tais diretrizes, além de dar um enfoque político às ações de controle de tabaco.

A Convenção-Quadro é um dos mais importantes tratados internacionais de saúde pública. Foi aprovado pela Assembleia Mundial de Saúde, em fevereiro de 2005, com a participação de 192 países, que se debruçaram fortemente para que fossem adotadas medidas comuns em prol do controle do tabagismo. Todas as recomendações foram no sentido de reduzir a epidemia do tabagismo em âmbito mundial, abordando em seus artigos a necessidade de se implementar medidas de controle da propaganda, da publicidade, do patrocínio, do marketing, do tabagismo passivo, do tratamento de fumantes, bem como dos impostos e do comércio ilegal de produtos de tabaco.

A aplicação das diretrizes dessa convenção ajudará a reduzir o número de fumantes e, por consequência, diminuir a morbidade e mortalidade causadas por agravos relacionados ao tabagismo, além de diminuir, significativamente, os custos de tratamento e internações hospitalares de pacientes tabagistas.

Segundo o INCA, no Brasil, a data de 31 de maio, Dia Mundial sem Tabaco, será marcada por manifestações de apoio a essa convenção nos Estados e Municípios, além da ocorrência de eventos de grande relevância técnica e política, a exemplo do Fórum de Entidades Médicas sobre Tabagismo, que ocorrerá no Senado Federal. O evento é uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Sociedade Brasileira de Pediatria, Sociedade Brasileira de Cardiologia e Sociedade Brasileira de Oncologia.

Nós brasileiros temos que nos orgulhar da iniciativa proposta por essas entidades médicas, pois entendemos que essa luta é de todos. O enfrentamento do tabagismo no mundo e em nosso país passa obrigatoriamente pela mobilização geral, afim de não permitir que as multinacionais fabricantes de cigarros, através de fortíssimos e poderosos lobbies, destruam o que já conseguimos construir nestes últimos 20 anos.

O “oxi” vem aí

Ruy Palhano
Ex-Presidente da Academia Maranhense de Medicina – AMM
Professor de Psiquiatria do Curso de Medicina da UFMA

A grande imprensa brasileira tem se encarregado nas últimas semanas de nos informar sobre a presença sorrateira de mais um composto que vem sendo utilizado como substância de abuso. Trata-se de um composto excitante do cérebro obtido de uma das etapas de fabrico da cocaína, denominado de OXI, termo simplificado da palavra oxidado.
Apesar de só agora ser objeto de destaque da grande mídia, o uso da droga já é realizado há alguns anos, especialmente nos países andinos como Peru e Bolívia. No Brasil, há indícios de que o Acre foi o estado onde começou a circular a substância e hoje, a Polícia Federal já registra sua presença no Pará, Brasília, Rio de Janeiro e em alguns pontos de São Paulo.
É importante recordar que o processo de fabricação e refino da cocaína é longo e exige técnica apurada, embora rudimentar. Ocorre a adição de várias substâncias (solventes orgânicos) até obter-se a liberação do alcalóide contido nas folhas da coca. Sabe-se que, inicialmente, as folhas de coca são arrancadas dos pés e levadas a tendas escondidas na floresta, onde são trituradas com o auxílio de cortador de grama ou manualmente e armazenadas em pequenas quantidades para, em seguida, serem manipuladas.
Sobre as folhas são colocadas porções de cimento, usados na construção civil, e, em seguida, molha-se as folhas com uma mistura composta de soda cáustica, amônia e gasolina, por meio de um regador.
A outra etapa do processo é o pisoteio, por meio do qual se macera as folhas andando sobre elas por horas, ocasião em que se adiciona uma quantidade definida de cal virgem, matéria prima do gesso utilizada em pintura. Em seguida, permanecem pisoteando a mistura para adicionar gasolina, e, posteriormente, solução de ácido sulfúrico e, depois, de amônia. Deixam o composto descansar por algum tempo em tonéis, sendo o resultado dessa mistura a pasta básica, “basuco”, “basuca” ou ainda “free base”, expressão inglesa que significa base livre. Nesse momento do processo do fabrico, já se encontra uma quantidade grande de alcalóide (substância do pó de coca).
São adicionados posteriormente outros processos químicos, como acetona e outras substâncias para formar o famoso pó branco. Quando chega finalmente nas mãos dos traficantes, esse pó é misturado com vidro moído, fermento em pó, lidocaína, procaína, benzocaína, pó de giz, pó de mármore, dentre outros produtos, para, só então, ser colocado a venda, no tão disputado e perigoso mercado do tráfico.
É de se pensar sobre os milhões de viciados que se espalham pelas favelas e condomínios de luxo por todo o Brasil, que normalmente desenvolvem graves doenças mentais a ponto de se internarem em hospitais psiquiátricos. Imaginem as inúmeras doenças orgânicas que adquirem por conta de todos esses produtos químicos e impurezas utilizadas no complicado processo de fabricação da cocaína?
Os laboratórios clandestinos ainda empregam técnicas rudimentares para adquirirem a cocaína. Estima-se que 500 kg de folhas da coca são transformados em 2,5 kg de pasta de coca; 2,5 kg de pasta de coca viram 1 kg de sulfato base de cocaína; 1 kg de sulfato base destilado resulta em 1 kg de hidrocloridorato de cocaína (pó branco); 1kg de hidrocloridrato recebe a adição de talco e outros produtos e resulta em 12 kg de droga, que finalmente é vendido ao consumidor desavisado.
O Oxi, que é um subproduto dessa cadeia de fabricação. Ocorre, todavia, que a concentração de alcalóides é maior, considerando que o Oxi é obtido logo na fase pasta base (free-base), ocasião em que se adiciona gasolina e outros solventes orgânicos.
Considerando que a concentração de cocaína é maior, os efeitos certamente são maiores, portanto, piores que seu irmão mais próximo, o crack. Assim, os usuários de Oxi estão mais sujeitos a desenvolver dependência, além de intoxicação, pois esses processos estão na razão direta da concentração (quantidade) da droga consumida, bem como na razão direta do tempo em que a substância atinge o cérebro do usuário que, no caso, ocorre de 05 a 07 segundo depois de inalada.
Há informações de que a droga é mais barata do que o crack, o que facilitaria sua aquisição. Todavia, o preço de um produto obedece a “leis” do mercado, sendo certo que as notícias não são nada amimadoras nos tempos atuais. Mais drogas, mais problemas, mais danos aos indivíduos e à sociedade, mais gastos públicos para se enfrentar o problema e mais tristeza para os pais e para todos nós.
Queiramos nós ou não, o grande desafio deste século é a questão do uso de drogas. Isso exige soluções imediatas, consistentes e duradouras no enfrentamento da problemática. No Brasil, cerca de 2% da população já é dependente de crack e ainda não foram vistos resultados práticos desde a implantação da política nacional de enfrentamento do crack, especialmente na área da saúde pública.

O Beber em Binge

Ruy Palhano
Ex-Pres. da Academia Maranhense de Medicina – AMM
Prof. de Psiquiatria do Curso de Medicina da UFMA

Há algum tempo, não menos que quinze anos, estudiosos de nosso país e de outras partes do mundo, dedicados aos estudos de problemas relacionados com o consumo de álcool e de outras drogas, têm se debruçado com afinco sobre a análise de um modo de ingerir bebidas alcoólicas: o beber pesado episódico (BPE), também conhecido como beber em binge ou binge drinking. Trata-se de um padrão especial de consumo de bebida que se define como sendo o consumo de cinco ou mais doses de bebidas alcoólicas em uma única ocasião por homens, ou quatro ou mais doses de bebidas alcoólicas consumidas em uma única ocasião por mulheres.
Uma dose de bebida alcoólica tem em torno de 8 a 13 gramas de etanol, sendo que se embriagar sempre que bebe é uma das consequências diretas dessa forma de beber. O NIAAA (National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism), dos Estados Unidos, uma das mais importantes instituições americanas que trata do álcool e do alcoolismo, em 2005, definiu esse fenômeno dentro dos mesmos padrões apontados acima, tanto para homens quanto para mulheres.
A definição de BPE foi criada a partir de evidências científicas crescentes de que essas quantidades (5+/4+) aumentam o risco de o indivíduo apresentar problemas de diferentes matizes relacionados ao consumo do álcool, sendo uma das piores a pessoa sempre se embriagar. Tal comportamento é muito comum e já se sabe que os maiores problemas identificados quanto o consumo do álcool se dá entre os abusadores e não entre os dependentes, especialmente quanto aos acidentes trânsito, além de agressões, brigas, homicídio, entre outros.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, há duas definições usualmente aceitas para caracterizar esse fenômeno: a) a ocasião de beber que leva à intoxicação, frequentemente; e b) um padrão de beber pesado que ocorre por um período estendido de tempo e relacionado a definições mais clínicas de abuso ou dependência.
Estudo recente realizado em uma amostra de 165 estudantes universitários do Rio Grande do Sul relatou prevalência de aproximadamente 68% de BPE entre estudantes universitários em nosso país, com predomínio semanal desse padrão de beber. Os prejuízos mais relatados pela amostra foram o descontrole na forma de beber e todas as consequências médicas e psicossociais que este fato acarreta.
No Brasil estudos revelam que a forma de beber pesado (binge) é mais praticada por homens e está associada ao iniciante do consumo de bebidas, antes dos 15 anos. Em geral, são de baixa renda, de baixo nível educacional e indivíduos tabagistas pesados. O beber pesado em mulheres foi prevalente em todas as idades e entre solteiras.
Um ponto que nos chama atenção é a possibilidade desta prática vir a se firmar como um padrão social e cultural de consumo e bebidas alcoólicas, o que já representaria um agravo a mais associado aos inúmeros problemas relacionados ao consumo de álcool na população brasileira.
A nosso ver, vários aspectos podem, de certa forma, favorecer o desenvolvimento desse fenômeno, sendo o início precoce do consumo, quiçá, o mais importante desses fatores, isto é, a população brasileira está bebendo muito e iniciando muito cedo, aos 09 anos de idade.
Algumas pesquisas revelam que condições socioeconômicas exercem muita influência na configuração psicossocial no “beber pesado” ou em binge. Estudo realizado em Porto Alegre e outro realizado em todo o Estado do Rio Grande do Sul revelaram que o padrão beber pesado (mais de 30 g de álcool por ocasião) era mais comum entre indivíduos de baixo nível educacional e baixa renda do que o verificado em outras camadas econômicas, porém esse achado não fecha a questão, pois há outro estudo realizado em Salvador que mostra essa realidade também entre indivíduos de elevado poder aquisitivo.
O aspecto relevante de todos esses estudos que abordam facetas diferentes do problema é se perceber que, pela frequência e regularidade com que ocorre nos dias atuais, especialmente na população jovem da nossa sociedade, o beber em binge já se incorporou em nossa cultura, provocando maiores preocupações além das já conhecidas de todos.
O beber controlado é uma arte e saber beber é uma virtude que as pessoas podem apresentar e por isso mesmo desfrutar dos bons momentos e das ocasiões em que bebem. A embriaguez é uma condição que nos expõe a situações de muito risco pra si e para os outros. É uma condição em que a pessoa perde inteiramente o senso de controle sobre seus atos, deixando-os exclusivamente a mercê dos efeitos da bebida. Perdem inteiramente a razão e o prazer de beber ao ponto de não desfrutar plenamente de momentos agradáveis.

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