O debate realizado pela TV Mirante na noite e madrugada passadas com três dos seis candidatos ao governo transcorreu quase o tempo todo em clima ameno, apesar de estarmos na reta final da campanha e da troca de acusações que vem marcando as últimas semanas que antecedem o pleito. A organização foi impecável e seguiu o padrão imposto pela Rede Globo às suas afiliadas. Mas, durante uma hora de programa, o que se viu foi o excesso de cautela de Flávio Dino (PCdoB), Lobão Filho (PCdoB) e Antônio Pedrosa (PSol) na abordagem dos temas, até mesmo os mais polêmicos.
Somente no segundo bloco houve um princípio de tensão entre Dino e Lobão, os únicos com chance na disputa. De resto, o tom foi brando, o que levou o mediador Fábio Willian a elogiar os três concorrentes pelo alto nível das discussões, sinal de que os debatedores apresentaram desempenho fraco.
O tema segurança pública predominou no primeiro bloco. Cada candidato expôs o que pretende fazer nessa área caso seja eleito. Apesar de divergirem uns dos outros em quase todos os pontos, os postulantes não partiram para a agressão. No máximo, houve tentativa de desqualificação de uma ou outra proposta, como a intenção de Flávio Dino de dobrar o efetivo da Polícia Militar de 8 mil para 16 mil homens, algo temerário, segundo Lobão Filho, pelo risco de violação da Lei de Responsabilidade Fiscal, e a ideia do peemedebista de implodir o Complexo Penitenciário de Pedrinhas, criticada por Pedrosa.
No bloco seguinte o clima esquentou quando o mediador sorteou o tema corrupção. Era a vez de Lobão Filho perguntar e o peemedebista não hesitou em dirigir seu questionamento a Flávio Dino, indagando-o sobre os processos que ele responde da época em que presidiu a Embratur. Dino não só negou como atribuiu condenações ao rival, que, na tréplica, classificou a acusação de mentirosa e criminosa.
Outros temas foram abordados, como saúde, saneamento, economia e desenvolvimento humano, sempre com cordialidade. Ficaram de fora do debate assuntos espinhosos levados ao público durante a campanha, como o vídeo em que um criminoso acusa Flávio Dino de liderar uma quadrilha especializada em assaltos a bancos e tráfico de drogas; a revista feita pela Polícia Federal no avião, em carros e nos integrantes da comitiva de Lobão Filho no aeroporto de Imperatriz e as acusações feitas pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa contra a governadora Roseana Sarney e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.
Considerado o último evento significativo da campanha eleitoral, o debate promovido pela TV Mirante provavelmente não terá o peso esperado na disputa. Tudo porque os candidatos foram comedidos ao extremo.