28 de maio de 2009
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Era quinta-feira, dia 21 de maio, quando o meu telefona toca. Minha mãe diz do outro lado da linha que a sua casa havia sido inundada pelo rio Mearim. Não acreditei no que estava ouvindo. Dois dias depois, peguei um ônibus e segui rumo à cidade. Para meu espanto, quando me aproximei do município deparei-me com os campos próximos à estrada completamente inundados. Em Vitória do Mearim, contemplei uma cena que não via in loco desde quando tinha 11 anos de idade. A minha terra natal estava debaixo d’água. Na porta da casa da minha mãe, que fica a mais 300 metros da margem do rio, a água dava na cintura. Ao andar pela cidade, percebi que a cheia era mais grave do que imaginava. Porém, o Maranhão não sabia.
Enquanto as populações de cidades como Pedreiras e Trizidela do Vale comemoram a redução do nível do rio Mearim, moradores de Vitória do Mearim, a 165 km da capital, começam a se mudar de suas casas por causa da enchente. O fato é registrado em todas as grandes cheias do maior rio maranhense. Quando começa a baixar na cabeceira, o volume das águas aumenta nas cidades próximas à foz, como está acontecendo agora em Vitória e Arari, cidades vizinhas uma da outra.
Ruas e avenidas que passam próximas à margem do rio estão debaixo d’água. O nível subiu tanto que até na rodoviária estão atracando pequenas embarcações. Cerca de 70 porcento da cidade foram inundados. Apenas o centro e os bairros do Alto das Palmeiras e Tapuitapera ficaram imunes à cheia. Milhares de famílias estão desabrigadas em todo o município. O comércio não está vendendo como dantes. Famílias estão procurando outras cidades para passar a cheia, pois já não há tantas casas disponíveis no município para alugar. As lavouras foram arrasadas pela enchente.
Com o transbordamento do rio e a mistura com o conteúdo dos açudes, a população está sem água em condições adequadas para ingerir. Em uma igreja que está servindo de abrigo, crianças dormem no chão por falta de colchonetes. À noite, o drama aumenta com a presença de mosquitos. A dona-de-casa, diz que os desabrigados do local não recebem ajuda oficial há cinco dias. “Aqui está faltando comida, água para beber e até para tomar banho. Hoje o meu bebê de 1 ano não tomou banho. E para piorar, ele está com muita coceira. Nós não temos médico para atender tanta gente desabrigada”, comentou ela ao ser questionada sobre a situação das famílias do local.
A história conta que para vencer a luta a força do rio Mearim, a cidade teve que mudar de local por três vezes. Mas em 1924, 1974 e 75 e 1985 e 86, Vitória do Mearim registrou as maiores enchentes de todos os tempos. Com a construção da barragem do rio Flores, o fenômeno da natureza deixou de atormentar os moradores da cidade. Agora, 23 anos depois da última grande cheia, uma outra página dessa história de luta pela sobrevivência está sendo escrita às custas de muito sofrimento e perdas para milhares de vitorienses.
Vitória do Mearim pede socorro.
Texto e fotos: Ciro Nolasco, jornalista
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