É preciso governar sem fazer média
O prefeito de São Luís, João Castelo (PSDB), virou o inimigo número um de agentes de trânsito e guardas municipais e pode ser apontado, sem sombra de dúvida, como o pivô da paralisação de advertência iniciada ontem pelas duas categorias e que, salvo algum imprevisto, deve ser encerrada nesta sexta-feira. Atribuir a responsabilidade ao prefeito é mais do que justo, pois a greve é uma reação ao seu desprezo em relação aos requerimentos aprovados pela Câmara Municipal concedendo ganhos nos vencimentos dos trabalhadores.
Não fosse sua habitual teimosia, Castelo poderia, muito bem, ter evitado a paralisação e os transtornos ocasionados pelo movimento. A instransigência do chefe do Executivo municipal fez com que o trânsito da capital entrasse em colapso por duas manhãs consecutivas. Revoltados por não ter suas reivindicações atendidas, os manifestantes saíram em passeata e obstruíram o tráfego em algumas das principais avenidas da cidade. O saldo poderia ter sido trágico, pois na manhã de hoje agentes, guardas municipais e homens da tropa de choque da Polícia Militar por pouco não entraram em confronto. O pior só não aconteceu porque houve bom senso de parte a parte.
Alheio ao que acontece ao seu redor, o prefeito, pelo menos nos bastidores, parece ignorar as conseqüências de sua postura intolerante. Quando diante dos holofotes da mídia, ele passa por uma transformação radical. Em atitudes visivelmente dissimuladas, Castelo muda sua figura de algoz para encarnar o mais fiel dos aliados. Mas seu mimetismo só convence mesmo quem não quer enxergar o contrário, quase sempre por pura conveniência.
Na última quarta-feira, durante a solenidade em que foram anunciados investimentos em melhorias no trânsito de São Luís, o prefeito posou de bom moço ao lado de um boneco caracterizado com o novo uniforme dos agentes (foto). No dia seguinte,a máscara caiu: dezenas de fiscais da SMTT e guardas municipais saíram às ruas em uma manifestação raivosa e barulhenta, que, certamente, fará Castelo pensar duas vezes antes de tentar fazer média.
Foto: Flora Dolores/O Estado do Maranhão
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