HIV: Maranhão soma mais de 9 mil novos casos em três anos 

Só em 2024, foram 2.568 novos casos de HIV e 629 casos de aids, com 201 gestantes diagnosticadas e 358 óbitos 

“E se eu tiver contraído o HIV? O que devo fazer?” A pergunta, feita em voz baixa e tremendo, saiu da boca do jovem Lucas Ribeiro* , de 29 anos, quando ele chegou ao Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) no bairro do Centro, em São Luís, 48 horas após uma relação sexual sem camisinha. “Eu entrei em pânico. Achei que minha vida tinha virado de cabeça para baixo”, lembra.  

No atendimento, ele fez o teste rápido, recebeu aconselhamento e iniciou imediatamente a PEP, tratamento de 28 dias que impede que o vírus se fixe no organismo após uma exposição de risco. “A médica me explicou tudo com calma, mas, mesmo sabendo que estava tomando as medidas corretas de segurança, eu ainda me tremia todo. Foi um susto que eu nunca mais quero sentir”, diz Lucas, que segue tomando os comprimidos diariamente, no mesmo horário, e voltará para novos testes após concluir o ciclo da medicação. 

A corrida de Lucas ao serviço de saúde não é um caso isolado e acontece em um cenário que ainda exige atenção. Entre os anos de 2022 e 2025, o Maranhão registrou 9.049 casos de contaminação pelo vírus HIV, 3.284 de aids, 782 gestantes vivendo com o vírus e 1.405 mortes relacionadas às complicações da doença.  

Em 2024, foram 2.568 novos casos de HIV, 629 casos de aids, 201 gestantes diagnosticadas e 358 óbitos. Já este ano, até o fim de de outubro, o estado contabiliza 1.414 novos casos, 124 gestantes vivendo com HIV e 265 mortes. Esses números reforçam a urgência de disseminar informações sobre as estratégias de prevenção.  

Para a médica infectologista da Hapvida, Ana Saldanha, o primeiro passo é entender que a prevenção não depende de uma única ação. “A prevenção combinada envolve várias estratégias, todas eficazes”, explica. Ela reforça que a camisinha, embora seja uma das formas mais seguras e acessíveis de impedir a contaminação pelo vírus, ainda é subutilizada pela população.  

A infectologista destaca também a existência da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), indicada para quem tem risco frequente de exposição, e da Profilaxia Pós-Exposição (PEP), que deve ser iniciada em até 72 horas após uma situação de risco. “A PEP é gratuita e está disponível nos Centros de Testagem e Aconselhamento e nos Serviços de Atendimento Especializado. A pessoa é testada, acolhida e recebe toda a orientação necessária”, explica.  

Além disso, Ana chama atenção para as vacinas contra HPV e hepatite B, que também fazem parte do cuidado preventivo. “Testar regularmente é fundamental. Diagnóstico precoce muda tudo”, destaca. 

 TRATAMENTO 

Quando o diagnóstico de HIV é confirmado, outro passo se torna decisivo: iniciar o tratamento imediatamente. A infectologista explica que isso pode ser feito nos Serviços de Atenção Especializada (SAE) e nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA).  

No entanto, ela ressalta que o maior obstáculo não é a terapia medicamentosa, que hoje é simples, eficaz e feita, muitas vezes, com apenas dois comprimidos diários.  

Segundo Ana, outro vilão enfrentado é o preconceito. “O estigma ainda é o principal desafio. Muitas pessoas evitam ser vistas pegando a medicação ou entrando em um centro de testagem. Isso compromete a adesão e pode levar à evolução de contaminação por HIV para aids”, alerta. 

Um dos objetivos centrais do tratamento é alcançar a carga viral indetectável. É nesse ponto que se confirma o conceito “Indetectável = Intransmissível (I=I)”. “Se o vírus não está se replicando no sangue, a pessoa não transmite mais o HIV”, explica Ana Saldanha. Segundo ela, esse conhecimento transforma a vida clínica, afetiva e social das pessoas vivendo com HIV.   

“O tratamento impede a replicação do vírus e garante qualidade de vida. O paciente vive bem, trabalha, ama, sonha”, completa. 

Enquanto espera os resultados finais após a conclusão da PEP, Lucas vive uma mistura de medo e alívio. “Eu aprendi do pior jeito. Hoje eu tenho mais responsabilidade comigo e com o outro”, diz. A médica reforça que histórias como a dele revelam a importância de três pilares no enfrentamento do HIV: prevenir, testar e tratar sem medo. “A informação é mais poderosa do que o pânico. Quanto mais cedo a pessoa busca ajuda, melhores são as chances de controlar o vírus e evitar a transmissão”, conclui.

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