Por Natalino Salgado*
Hoje, 28 de novembro, cumprem-se cinquenta anos da morte de Érico Verissimo, um dos romancistas centrais da literatura brasileira, cuja obra atravessou gerações e permanece viva como um espelho lúcido e sensível de nossa identidade coletiva.
Autor de clássicos como O Tempo e o Vento, Incidente em Antares e Clarissa, Verissimo edificou universos ficcionais que revelam, de modo simultaneamente épico e íntimo, tanto a saga histórica do Rio Grande do Sul quanto os dilemas universais da condição humana. Em suas páginas, o tempo deixa de ser mera sucessão cronológica e se converte em memória, herança e destino — um fio que costura vidas, séculos e imaginários.
O Tempo e o Vento ultrapassa o estatuto de narrativa: é uma verdadeira epopeia da formação brasileira, lembrando-nos que somos feitos de raízes profundas, movimentos incessantes e lutas que atravessam gerações. Já em Incidente em Antares, Verissimo ousa transgredir as fronteiras entre realismo e fantasia, devolvendo voz aos mortos para instaurar uma crítica mordaz às hipocrisias sociais, às estruturas de poder e à persistente desigualdade.
Sua literatura distingue-se pela ironia elegante, pela crítica social aguda e pela ternura com que ilumina personagens aparentemente comuns, concedendo-lhes rara densidade humana e notável profundidade moral. Ler Verissimo é compreender que a história do Brasil não reside apenas nos anais oficiais, mas também na ficção que, ao revelar-nos como povo, expõe nossas contradições, esperanças e fragilidades.
Cinco décadas após sua partida, celebramos não a ausência, mas a permanência fecunda de sua palavra. Como escreveu em O Senhor Embaixador:
“A memória é o único paraíso do qual não podemos ser expulsos.”
Que, neste cinquentenário, voltemos a suas obras para reencontrar nelas o Brasil que fomos, o que somos e o que ainda podemos ser.
*Escritor, ex-reitor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e membro da Academia Maranhense de Letras (AML)
