
O avanço exponencial das inteligências artificiais (IA’s) movimenta não apenas a transformação digital mas também impõe um novo e colossal desafio à infraestrutura energética brasileira.
A implantação crescente dos data centers no país, essenciais para armazenar e processar os volumosos dados gerados e utilizados pelas IA’s, traz à tona uma demanda energética sem precedentes, que requer soluções eficazes, escaláveis e ambientalmente conscientes.
A demanda energética impulsionada pelas IA’s
Data centers são verdadeiros “corações digitais” do mundo tecnológico contemporâneo, operando 24 horas por dia para garantir o funcionamento das IA’s. Com o Brasil sediando um número recorde de novos centros de processamento, ligados a grandes players globais e startups de inovação, o consumo de energia elétrica sobe vertiginosamente.
Essa crescente demanda coloca pressão sobre as redes elétricas existentes, sistemas de geração e transmissão e no Sistema Interligado Nacional (SIN), que precisa ampliar e se adaptar rapidamente para evitar riscos de desabastecimento e garantir a segurança energética. O mais viável tecnicamente é o abastecimento de data centers com fontes de energias firmes como as hidrelétricas com reservatório, termelétricas a gás natural, e não apenas depender de fontes renováveis que são intermitentes, e por isso, não atendem a essa demanda de data centers que precisam operar com total confiabilidade, 24 horas por dia, sem quedas ou oscilações de energia.
O papel do gás natural: uma fonte estratégica e menos poluente
Neste cenário, o gás natural surge como uma alternativa firme e estratégica, que aliada a fontes renováveis, alia eficiência energética, menor geração de poluentes e flexibilidade operacional. Embora ainda seja uma fonte fóssil, o gás natural é amplamente reconhecido como a matriz de transição ideal rumo a uma economia energética de baixo carbono, devido à sua queima limpa em comparação com o carvão e o óleo combustível.
- Redução das Emissões: O gás natural emite significativamente menos dióxido de carbono (CO₂), enxofre (SOx) e material particulado, contribuindo em 60% para a mitigação das mudanças climáticas.
- Flexibilidade na Geração: Usinas movidas a gás possibilitam ajustes rápidos na oferta energética, essenciais para compensar as intermitências das fontes renováveis solar e eólica e suprir com garantia as demandas impostas por grandes centros de processamento de dados.
- Convergência Energética: Pode atuar integralmente com fontes renováveis, suprindo com garantia os momentos de intermitência em que a geração eólica ou solar não atendem à totalidade do consumo.
Gás natural como matriz de transição para a energia verde no Brasil
O Brasil, apesar de grande referência mundial em matrizes renováveis, enfrenta limitações na integração de suas fontes renováveis devido a fatores climáticos, geográficos, de infraestrutura e sistemas avançados de controle do sistema elétrico.

Fontes como a solar e a eólica não conseguem fornecer energia de modo constante por terem natureza intermitente, ou seja, dependem de condições climáticas. A solar só é gerada durante o dia, enquanto a eólica é sujeita a sazonalidades climáticas.
“O gás natural é visto como matriz intermediária, assegurando estabilidade energética, enquanto o país avança nos estudos de tecnologias de alternativas limpas associadas com a gestão de armazenamento de energia. O investimento em rede de gasodutos e termelétricas modernas, com maior eficiência, embarcando novas tecnologias de ciclo combinado, gerando menor emissão de gás de efeito estufa (GEE), está alinhado às políticas nacionais para uma transição energética justa, factível e economicamente sustentável. O Maranhão já deu um grande passo com a inauguração do primeiro gasoduto de distribuição de gás para a VALE na capital, operado pela Gasmar. Agora é buscar ampliar a oferta de gás natural e o transporte com mais projetos de gasodutos interligados a rede nacional que possam elevar o status do Maranhão como um importante player no fornecimento de energia, sem esquecer que possuímos no Estado duas das cinco bacias de petróleo e gás da “Margem Equatorial” e no subsolo do Maranhão a Bacia do Parnaíba, que ainda com tecnologia offshore convencional a ENEVA explora e gera 5 usinas com Gás Natural, sendo a maior geradora do Brasil, defende o Superintendente de Planejamento e Desenvolvimento Econômico da SEDEPE Fraga Araújo.
Desafios e perspectivas
Para consolidar o gás natural como vetor de transição, é imprescindível ampliar investimentos em infraestrutura e fazer uso da moderna tecnologia de estimulação na exploração do gás natural offshore no Maranhão.
Além disso, buscar sinergia entre reguladores, setor privado, sociedade civil e meio ambiente para acelerar essas mudanças de maneira transparente e sustentável.
À medida que o Brasil se consolida como polo de desenvolvimento tecnológico através das IAs, a energia necessária para sustentar essa revolução precisa ser pensada de forma estratégica e responsável. O gás natural desponta como a fonte de energia chave para junto às fontes renováveis suportar o crescimento dos data centers, aliando eficiência, sustentabilidade, menor impacto ambiental e sendo o principal componente dessa transição gradual rumo a um futuro energético verde.
Como sugere o documento “Energia Firme e Data Centers” elaborado pelo Instituto Pensar Energia (IPE) “Energia é Poder. Dados são Poder. Mas é a convergência entre ambos – com coesão institucional e inteligência estratégica – que define a soberania do século XXI” atesta o documento que afirma taxativamente: não há digitalização crítica sem energia firme.
E mais, o estudo defende o gás natural como um vetor confiável da transição energética: “a chegada dos data centers oferece uma oportunidade estratégica para consolidar o gás natural como base firme de uma transição energética pragmática, eficiente e digitalmente robusta”.
Essa discussão energiza não apenas debates técnicos, mas também compromissos políticos e sociais e ambientais, evidenciando que a sustentabilidade e a inovação devem caminhar juntas para garantir um amanhã equilibrado e tecnológico.