Braide envergonhado com o vermelho do PT

Por Marlon Botão , ex-secretário municipal de Cultura de São Luís e militante político há mais de 40 anos

Marlon Botão considera pouco provável que as bases do PT no Maranhão — espalhadas pelo estado, diversas e politicamente atentas — encontrem em Braide qualquer identificação real

Milito no Partido dos Trabalhadores desde 1987. São quase quatro décadas acompanhando o PT por dentro: suas instâncias, suas disputas, suas correntes internas e, sobretudo, um traço que sempre definiu sua identidade política — o diálogo como método. É a partir desse lugar que me sinto à vontade para analisar a informação que circulou nos últimos dias sobre uma reunião, em Brasília, entre o prefeito de São Luís, Eduardo Braide, o presidente nacional do PT, Edinho Silva, e o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab.

O prefeito tratou de negar publicamente o encontro, classificando a informação como invenção. Ainda assim, tudo indica que o diálogo existiu. Mais relevante do que o fato em si, porém, é compreender o seu significado político — e, principalmente, a reação incomum de Braide diante do assunto. A negativa pública não dialoga apenas com a imprensa, mas com a base política que o sustenta e que dificilmente aceitaria qualquer sinal de aproximação com o PT. Trata-se, portanto, de controle de narrativa, não apenas de desmentido.

Eduardo Braide construiu sua trajetória política recente apoiado em um viés bastante definido: a conexão com setores conservadores da sociedade e uma liderança fortemente baseada na popularidade digital. Ele se comunica bem pelas redes, fala diretamente com parcelas expressivas da população e se sustenta, até aqui, sem a necessidade de vínculos partidários orgânicos ou compromissos programáticos mais nítidos. Esse percurso ajuda a explicar por que, mesmo a popularidade do presidente Lula, hoje elevada, não se mostra naturalmente atrativa para ele.

Da mesma forma, é pouco provável que as bases do PT no Maranhão — espalhadas pelo estado, diversas e politicamente atentas — encontrem em Braide qualquer identificação real. Não é o seu perfil, assim como não é o perfil do partido. Essa distância estrutural ajuda a compreender o ponto central deste episódio: Braide se vê constrangido porque sabe que não combina.

Mas o que levou, então, o prefeito a sair do seu comportamento habitual? Pela primeira vez, Braide desceu do pedestal do silêncio seletivo e fez questão de responder publicamente a uma informação política. Esse silêncio, vale lembrar, nunca foi casual: sempre funcionou como método, como forma de evitar posicionamentos claros e preservar uma imagem calculadamente ambígua. O fato de ele ter rompido esse padrão revela mais do que desconforto momentâneo — revela incômodo político real. E talvez esteja aí a evidência mais forte de que o diálogo, de fato, aconteceu.

Esse encontro não se deu de forma aleatória. Braide foi levado à conversa por quem opera a macropolítica. De um lado, Gilberto Kassab, presidente do PSD, articulador experiente, conhecedor da lógica das alianças nacionais. De outro, Rubens Júnior, deputado federal do PT, que atua como ponte política e dialoga com diferentes campos, inclusive com o próprio Braide. Esse tipo de interlocução faz parte do jogo político nacional, sobretudo em um momento em que o PSD se aproxima cada vez mais do governo Lula e sinaliza disposição para sustentá-lo no próximo ciclo eleitoral.

Uma coisa, no entanto, é a macropolítica nacional. Outra, bem distinta, é a tradução disso nos estados. E é exatamente aí que a tentativa de aproximação começa a perder consistência. O que pode fazer sentido em Brasília não necessariamente se sustenta no Maranhão. A política local tem dinâmica própria, atores próprios e memória política. Nesse terreno, a incompatibilidade entre Eduardo Braide e o PT se torna ainda mais evidente.

Talvez por isso o prefeito tente escamotear o episódio. No íntimo, ele sabe que não precisa dessa conexão. Hoje, ele se basta. As pesquisas lhe são favoráveis e alimentam a confiança de quem acredita poder avançar apenas com capital de imagem. Mas esse mesmo movimento revela algo maior: Eduardo Braide vem fazendo todos os gestos de quem deseja, de fato, disputar o governo do Maranhão. E, por isso, passou também a se movimentar no tabuleiro nacional.

O problema é que chegou o momento de definir lado. Liderança digital, por si só, não constrói projeto estadual. Governar um estado exige mais do que curtidas, vídeos bem editados e respostas rápidas nas redes sociais. Exige posição política, capacidade de diálogo, clareza mínima de campo e compromisso com projetos coletivos.

Eduardo Braide terá que dizer, mais cedo ou mais tarde, de que lado está. Porque, se o vermelho do PT o constrange, é porque sua trajetória aponta para outro lugar. E a política, diferentemente do marketing, não permite indefinição permanente.

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