
Não bastasse estar presente nas ruas e nos presídios, a violência é uma situação cada vez mais recorrente nas escolas da região metropolitana de São Luís. Ano passado, o Grupo Especial de Apoio às Escolas (Geape), vinculado à Polícia Militar, registrou um total de 3.800atendimentos, uma média superior a 10 ocorrências por dia. A morte de um menino de apenas 12 anos dentro de uma unidade de ensino de Paço do Lumiar, no último dia 10, foi o mais recente alerta de que estudantes, professores, diretores e demais pessoas que convivem no ambiente escolar estão sob risco permanente. Vítima de um tiro acidental, disparado de uma levada por uma colega, o garoto engrossou as estatísticas de criminalidade em meio à rotina educacional, que incluem, também, ameaças, agressões físicas e até tráfico de drogas.
A violência acentuada nas escolas resulta, segundo especialistas, da combinação entre mau exemplo familiar, ambiente hostil no entorno dos colégios e incompetência e omissão de diretores em relação ao problema. Por isso, é preciso agir em várias frentes, para devolver a tranquilidade a alunos, professores, pais e demais envolvidos no processo ensino-aprendizagem. Como em boa parte das escolas a situação é dramática e tem comprometido o desempenho dos estudantes em sala de aula, a tomada de providências deve ser urgente.
A pobreza é um fator determinante para a violência no ambiente escolar. Nessas áreas, os alunos estão muito mais sujeitos a roubos, furtos, agressões, ameaças, entre outros crimes. A exposição ao tráfico também é maior e muitos acabam seduzidos ou mesmo coagidos a levar a droga para dentro da sala de aula, ocorrência registrada com frequência pelos conselhos tutelares. Mas as vítimas não são apenas os estudantes. Professores, diretores e coordenadores também sofrem com a intimidação e alguns já chegaram a pedir transferência de local de trabalho, interrompendo o ciclo pedagógico, o que causa prejuízo ao ensino.
Em muitos casos, a solução do problema esbarra na questão política. Isso porque a direção escolar é um cargo de confiança, exercido por indicação. Daí não ser interessante ao gestor expor a situação, o que atestaria o seu mau desempenho à frente do colégio. Assim, o problema vai se ampliando, até ultrapassar o limite do aceitável, com consequências gravíssimas. Diante do prejuízo, é preciso reverter essa conduta, o que cabe unicamente aos governantes, já que a violência está muito mais presente na rede pública de ensino.
Em meio ao clima tenso em muitas escolas, algumas experiências positivas começam a ganhar destaque. Um exemplo é a Unidade Integrada Maria Aragão, na Cidade Operária, antro de indisciplina no passado, e que chegou a ser descrita pela comunidade com o incômodo lema “Maria José Aragão: entra burro e sai ladrão”. Hoje, a realidade é outra, graças a um projeto voltado à leitura e à produção de textos, que resultou na criação do Grupo de Arte Maria Aragão (Gamar), conhecido em todo o Maranhão. Com a iniciativa, a tensão de outrora deu lugar à produção artística e ao reconhecimento como ação eficaz no combate à violência.
A criminalidade no ambiente escolar traz consequências altamente negativas. O medo gera pressão psicológica, prejudica as notas e em casos extremos afasta alunos de sala de aula. Por vitimar, em maior escala, estudantes pobres, acaba ceifando a chance de um futuro melhor, um golpe duríssimo na esperança.
Editorial publicado nesta segunda-feira em O Estado do Maranhão