No Brasil, prematuridade chega a 12% dos nascimentos, com quase 340 mil bebês por ano nascendo antes do tempo

Para muitas mães, os números da prematuridade deixam de ser estatísticas e ganham rosto, cheiro, madrugada em claro. É o caso de Emília Cândida Ferreira, 34 anos, moradora de Raposa, município da Grande São Luís. O filho de Emília nasceu com 37 semanas, no limite do tempo esperado. Desde então, ela vive entre o medo e o cuidado, tentando proteger o filho como pode. “Aqui é quente demais. Às vezes, ele fica meio amuado e eu fico logo com medo. Eu não sei muito o que fazer, só vou olhando ele o tempo todo”, desabafa ela sobre a rotina de vigilância e insegurança constantes.
Emília acompanha de perto o desenvolvimento do filho e segue à risca as orientações médicas recebidas. Cada pequeno avanço do filho traz alívio, como respirar melhor ou dormir mais tranquilo.
O clima quente do Maranhão, apesar de parecer favorável aos recém-nascidos, exige atenção redobrada quando se trata de prematuros. Segundo a pediatra e infectologista Mônica Gama, da Hapvida, esses bebês apresentam características específicas: dificuldade para manter a própria temperatura, pele muito fina com maior perda de água e pouca gordura corporal. “Mesmo com o calor do Maranhão, o prematuro perde calor muito rápido, podendo entrar em hipotermia. A observação rigorosa da temperatura do bebê e do ambiente é essencial”, explica.
Em regiões com pouco acesso a unidades neonatais, o desafio aumenta. Para Mônica Gama, a prevenção começa ainda na gestação, com um pré-natal bem conduzido para reduzir o risco de parto prematuro. E, após o nascimento, mesmo em municípios com estrutura limitada, a maternidade onde ocorreu o parto continua sendo a principal referência. “É ali que a mãe recebe orientações personalizadas e, quando necessário, encaminhamento para unidades especializadas”, explica a profissional.
Depois da alta, a prevenção das doenças respiratórias comuns no Maranhão devido ao clima quente e às variações de umidade se torna fundamental. Entre os cuidados mais importantes estão evitar locais abafados, fechados ou aglomerados; manter o bebê distante de fumaça, mofo e poluição; controlar visitas; e garantir que quem toque no bebê lave bem as mãos. Também é essencial proteger o prematuro do contato com pessoas gripadas ou com tosse. A pediatra reforça ainda a importância de manter o calendário de vacinação atualizado e seguir com o aleitamento materno exclusivo até os seis meses.
A amamentação, no entanto, nem sempre é simples. Quando surgem dificuldades, os bancos de leite humano oferecem acompanhamento especializado. E, nos locais onde não há banco de leite, a maternidade do nascimento segue sendo a referência, com equipes treinadas para amparar a mãe em todas as etapas.
Prematuridade no Maranhão e Brasil
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a prematuridade em três níveis: moderada (32 a 36 semanas e 6 dias); severa (28 a 31 semanas e 6 dias); e extrema (menos de 28 semanas). Até novembro de 2025, o estado registrou 7.070 bebês nascidos antes de 37 semanas, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. Em 2024, foram 9.464 prematuros, indicando que o desafio é constante para as famílias e para a rede de saúde.
No cenário nacional, a realidade também preocupa. Um em cada 10 bebês nasce prematuro no Brasil, o que mantém o país entre os dez com mais partos antes do tempo no mundo. Em 2024 e 2025, as estimativas apontam entre 300 mil e 340 mil nascimentos prematuros por ano, representando cerca de 11% a 12% de todos os partos, acima da média mundial. Somente nos nove primeiros meses de 2025, já foram 193.281 casos registrados no país.