Mohana, a ausência que virou doce presença

Por Natalino Salgado Filho*

A Feira do Livro de São Luís (FeliS) é daquelas iniciativas que enchem de orgulho: um encontro em que a cidade inteira respira cultura, onde novos leitores nascem e a literatura se afirma como força transformadora. Encerrando em 5 de outubro, na Praça Maria Aragão, a FeliS mostra que São Luís é, sim, uma cidade que valoriza sua memória e aposta no futuro pela palavra escrita.

Nesta 18ª edição, a festa literária presta homenagens à escritora Conceição Aboud e ao professor Raimundo Teixeira, cujas trajetórias se entrelaçam à história cultural do Maranhão. Mas é a figura de Padre João Mohana que ocupa o centro da cena, convidando-nos a revisitar sua obra e sua vida como quem retorna a um manancial inesgotável.

Mohana foi múltiplo: sacerdote, médico, escritor, pensador. Viveu como quem acreditava que fé e ciência não precisavam se excluir, mas se completar. Fez do bisturi gesto de cuidado e da batina testemunho de entrega. Transformou o teatro em evangelização e a psicologia em diálogo vivo com a alma humana. Era, como poucos, capaz de unir oração e análise psicológica numa mesma frase.

Ao longo de sua vida, publicou mais de 40 livros. Sua pena se movia entre o espiritual e o humano, entre o sagrado e o cotidiano. Em títulos como Plenitude Humana, refletiu sobre a busca da inteireza, e em obras como Namoro é Isto e Ajustamento Conjugal, falou de afetos, escolhas e convivência — provando que a espiritualidade não precisa fugir do concreto da vida, mas iluminá-lo.

João Mohana não escrevia para elites, mas para pessoas reais. Sua linguagem tinha a doçura dos que sabem ouvir e a firmeza dos que têm convicções. Ele entendia que a literatura é também remédio e companhia — e talvez por isso tantos leitores encontraram em suas páginas uma espécie de aconchego, como quem descansa num banco de praça à sombra das árvores.

Três décadas após sua morte, sua ausência se tornou presença. Ainda o escutamos quando buscamos coragem para viver. Ainda nos lembramos de que a fé não é inimiga da cultura, mas sua irmã; que a ciência não precisa apagar a espiritualidade, mas pode florescer junto dela; (continua nos comentários).

*Medico, membro da Academia Maranhense de Letras (AML) e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Busca

E-mail

No Twitter

Posts recentes

Categorias

Comentários

Arquivos

Arquivos

Mais Blogs

Rolar para cima