
O secretário de Segurança Pública, Jefferson Portela, distanciou-se perigosamente da realidade ao comentar os números da violência na região metropolitana de São Luís em entrevista que concedeu ontem ao programa Ponto Final, apresentado pelo jornalista Roberto Fernandes na Rádio Mirante AM. O gestor da pasta responsável pelo combate à criminalidade no Maranhão afirmou categoricamente que é um equívoco comparar as estatísticas de crimes de um mês para o outro, alegando que o correto é confrontar os dados anualmente, como se a barbárie não fosse um fenômeno diário, cujo enfrentamento deve se dar de forma mais intensa e permanente à medida que os casos aumentam.
Como em São Luís a violência faz parte do dia-a-dia da população e a atormenta de forma crescente, nada mais adequado do que haver parâmetro mensal para que se possa avaliar até que ponto o cidadão está expostos no presente ao risco de sofrer um assalto, seqüestro ou até mesmo ser vítima de um homicídio. Ou prefere o secretário que as providências sejam tomadas com base nos dados que serão divulgados somente no futuro?
A doutrina na qual Jefferson Portela baseia seu raciocínio é que carece de reformulação, de modo a ajustar-se à realidade cruel que assombra os habitantes da Ilha de São Luís todos os dias. Se a abordagem excessivamente teórica da violência em detrimento de uma ação concreta já não é recomendável, imagine quando a tese defendida apresenta distorção em relação ao que se vê na prática. Quão trágico não pode ser o desfecho?
Mesmo contrário à divulgação mensal das estatísticas de crime, Jefferson Portela exaltou, na entrevista, a redução de 40% das ocorrências de homicídio doloso antes do fechamento do exercício. Nesse caso, quando os números lhes foram favoráveis, o secretário não escondeu seu contentamento com o resultado. Já o aumento dos latrocínios e das explosões de caixas eletrônicas não mereceu mais do que poucas palavras do gestor.
Também não houve abordagem específica sobre o tráfico, que avança vorazmente por todos os recantos do estado, com consequências devastadoras para os usuários, para as famílias e para toda a sociedade. A guerra travada por facções criminosas que disputam o controle das bocas de fumo também passou ao largo na entrevista. O secretário só se ateve de forma mais prolongada à violência no ambiente escolar, drama que tem ocupado o noticiário diariamente nos últimos tempos. Mas mostrou-se muito mais preocupado em explicar o fenômeno do que em apresentar ações efetivas, capazes de solucionar o problema.
Em plena sintonia com os ideais do governador Flávio Dino, Jefferson Portela seguiu à risca a cartilha comunista, empenhando-se ao máximo na tarefa de mostrar o que de melhor a sua pasta tem feito pela segurança pública. Em seu intento, o secretário não hesitou em defender o indefensável, questionar o inquestionável e menosprezar as estatísticas, mesmo sabendo que os números não mentem.