No ostracismo, coronel Melo quer mais espaço na PM
Mergulhado em profundo ostracismo desde que deixou o cargo de comandante-geral da Polícia Militar, na esteira da cassação do ex-governador Jackson Lago (PDT), há exatos 11 meses, o coronel Francisco Melo mostra-se ressentido pelo que chama de desprestígio. Conhecido como um policial atuante, habituado a acompanhar as ações dos seus comandados diretamente nas ruas, ele amarga hoje a condição de mera peça figurativa, excluído de qualquer missão importante na tropa. Como prova do tratamento nada cortês que lhe vem sendo dispensado, Melo cita a demora na cessão de uma sala no quartel do Comando Geral da PM, no Calhau, para que ele passe a exercer sua nova função, a de chefe do Comando de Policiamento de Área (CPA) de Pinheiro, com abrangência em toda a Baixada Maranhense. Nomeado há alguns meses, ele revela que jamais viajou à região para conhecer a estrutura que terá à disposição, ou seja, nunca atuou efetivamente no cargo.
Em uma breve conversa com o autor deste blog, no último sábado (13), o oficial falou ainda de violência, não escondeu sua insatisfação com o esquecimento ao qual foi relegado e descartou qualquer possibilidade de ingressar na política. A seguir, algumas declarações do coronel, que certamente causarão forte repercussão no seio da PM:
Desprestígio
“Sinto-me muito mais do que desprestigiado. É uma situação difícil, pois resolveram simplesmente me excluir. Para se ter uma idéia, somente na semana passada é que arranjaram uma sala no quartel do Comando Geral para que eu e dois auxiliares comecemos a atuar efetivamente no Comando do Policiamento de Área (CPA) responsável pelas ações da PM na Baixada, com sede em Pinheiro. Apesar de ter sido nomeado há alguns meses, eu jamais viajei à região para conhecer a estrutura com que vou trabalhar”.
Disposição
“Quero voltar a contribuir com a Polícia Militar, mostrar o que sei fazer, independente de quem esteja no governo, pois não sou político, sou um policial. O Estado investiu alto na minha formação, foram anos de preparação para chegar ao posto de coronel. É um absurdo abrir mão de um profissional tão qualificado. Quero retribuir com trabalho, quero voltar a fazer o que sei, que é combater a criminalidade”.
Quebra de hierarquia
“Não acho que os comentários que fiz no programa do Roberto Fernandes feriram a hierarquia da PM – referindo-se ao desentendimento que teve ao vivo com o atual comandante-geral, coronel Franklin Pacheco, em julho do ano passado, durante participação de ambos no programa Ponto Final, da rádio Mirante AM (veja aqui). Fiz as críticas como cidadão, não como policial. Eu disse o que pensava, pois não estava percebendo uma ação eficiente da tropa. Além disso, antes de deixar o cargo de comandante-geral, entreguei mais de 1.100 pistolas e não estava enxergando, na prática, o resultado de tamanho investimento”.
Violência
“Não vi nenhuma melhoria em termos de combate à criminalidade com a mudança que houve na segurança. A violência está aí e precisa ser combatida. Não vou me estender nos comentários, mas uma coisa é certa: as ações de segurança que temos hoje poderiam ser muito mais eficazes”.
Imprensa
“Sempre procurei manter uma relação transparente e de respeito com a imprensa. A todo o tempo busquei uma aproximação com os veículos e os profissionais de comunicação, ouvir as críticas, assimilá-las e rebater quando necessário. Adotei essa postura desde quando comandei o batalhão da PM de Imperatriz. A relação com o Sistema Mirante – que fazia forte oposição ao governo anterior – foi sempre a melhor possível. Posso dizer tranqüilamente que a Mirante muito mais me elogiou do que criticou”.
Política
“Não penso em me candidatar a cargo político este ano ou em qualquer outra eleição. Mesmo se eu quisesse, não poderia, pois o Estatuto da PM proíbe que militares da ativa disputem cargo eletivo na política partidária. Sou policial e pretendo contribuir com meu estado como tal”.
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