Prof. Dr. Ridvan Nunes Fernandes*

Com a aproximação do processo de consulta à comunidade universitária
(previsto para junho), já se nota, no ambiente da UFMA, que o tema começa a fazer parte do cotidiano acadêmico. Infelizmente, a pauta inicial, posta em discussão nas últimas semanas, está distante daquilo que se possa qualificar o debate próprio da Academia.
Vale registrar que não vemos a instituição Universidade como uma bolha. Ela faz parte e deve interagir sempre com a sociedade. No entanto, fazer política no ambiente universitário deveria se diferenciar do padrão que marca as disputas político-partidárias. São atores que se diferenciam por natureza. Lá, eles fazem política o dia todo e todos os dias – são profissionais da política; aqui, somos professores. Cotidianamente, ministramos aulas, orientamos alunos, fazemos pesquisas, extensão, participamos de colóquios, de debates, etc. Fazer política com o propósito de exercer o comando da instituição se resume, em tese, à atuação democrática de candidatos no curto período reservado pela legislação
interna.
Obviamente, essas diferenças quanto aos atores e ao ambiente político exigem um padrão de campanha também diferenciado. Na Universidade, os vícios, os dissabores e até o desrespeito, comuns no mundo da política profissional, devem ser substituídos por métodos que primam pelo respeito mútuo e o debate qualificado.
Pois bem, as preliminares da campanha para a sucessão da Professora Nair Portela estão distante disso. A troca de insultos via blogs que surgiu nas últimas semanas é algo assustador. O tom agressivo, as acusações e a desqualificação de concorrentes são recorrentes na mídia eletrônica. Além disso, o flagrante da campanha antecipada há alguns meses e até mesmo sinais de práticas de abuso do poder econômico desequilibram o processo e desrespeitam os pretensos pleiteantes.
É oportuno lembrar que a Universidade pública brasileira passa por um
momento de ataques, numa intensidade pouco vista na sua história. Apesar de ser ela responsável por algo em torno de 95% da pesquisa científica realizada no país, com o padrão de várias instituições acadêmicas sendo reconhecido internacionalmente, o seu futuro é incerto. Diante deste quadro, salvar este patrimônio da sociedade brasileira é dever, em primeiro lugar, da comunidade acadêmica e da inteligência sensata deste país. Para isso, movimentos como os encabeçados pelo ANDES, a SBPC, a ANDIFES, entre outros, e até a proposta de criação de uma Frente Parlamentar em defesa da Universidade Pública devem ser fortalecidos.
É desnecessário dizer que esse incômodo cenário impacta fortemente em
nossa UFMA. Logo, é desejável que o debate sucessório esteja focado na
realidade de uma instituição que hoje é multicampi, mas que possui um orçamento de custeio menor que há quatro anos; que precisa gerar
conhecimento e oferecer pós-graduação de nível frente ao esvaziamento
financeiro do CNPq e da CAPES; que necessita concluir obras estratégicas e
necessárias, embora com recursos zero na rubrica capital, dentre outras
relevantes questões. Sem falar no padrão de gestão centralizador, que já atingiu o nível de fadiga de material.
Dito isso, reafirmamos: é oportuna uma campanha com o padrão da Academia. Tema é o que não falta.
*Professor Titular do Departamento de Química. Diretor do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia/UFMA.