Se não vem atendendo a contento à finalidade de proporcionar organização e conforto aos passageiros nas operações de embarque e desembarque devido à interminável reforma, o Aeroporto Marechal Cunha Machado passou a servir como ponto estratégico da rota do tráfico de drogas. De abril deste ano até a última quinta-feira, a Polícia Federal fez cinco apreensões de cocaína no terminal, totalizando 75,7 kg, mas ninguém garante que quantidades maiores da substância estejam adentrando o Maranhão por via aérea, em razão da insistência dos traficantes em escolher esse caminho para o transporte de entorpecentes.
Assim como os demais aeroportos brasileiros, o de São Luís conta com forte aparato da Polícia Federal para coibir qualquer tipo de delito em suas instalações. Mas nem mesmo esse esquema de segurança, que além de efetivo humano conta com avançados recursos tecnológicos, tem sido capaz de intimidar os traficantes. Diante da audácia, é de se presumir que mesmo com todo o rigor adotado nas revistas, os criminosos consigam transpor o bloqueio ou pelo menos acreditam que podem fazê-lo.
A verdade é que a cocaína vem se alastrando como praga em São Luís. A droga, cujo consumo antes era restrito às classes abastadas, nos últimos anos está cada vez mais presente em eventos voltados às camadas mais baixas da sociedade, principalmente em casas que promovem shows de samba e pagode. A fartura com que a substância é encontrada induz à conclusão de que as barreiras impostas ao tráfico na capital maranhense são falíveis, inclusive no aeroporto, que teve sua rotina sensivelmente alterada por causa das obras estruturais, iniciadas há quase 15 meses, com prazo de conclusão para o fim de agosto.
Não há qualquer elemento técnico que confirme a influência da reforma para o aumento das investidas de traficantes no terminal aeroportuário. Por outro lado, é evidente que o improviso que hoje marca o dia a dia do local, com destaque para as tendas instaladas para abrigar os passageiros no embarque e desembarque, torna o ambiente mais suscetível a anormalidades. Por isso, a coincidência entre a reforma e o aumento das apreensões de cocaína no aeroporto é uma situação que requer uma análise criteriosa das autoridades envolvidas na administração e na segurança das operações de voo.
Outro dado a ser levado em conta é o aumento progressivo da movimentação de passageiros. Em 2011 foram contabilizados mais de 1,8 milhão de embarques e desembarques no Aeroporto Marechal Cunha Machado. Este ano, a previsão é que as operações superem a casa de 2 milhões. Um fluxo tão intenso dá origem a um sistema altamente complexo, que requer pessoal altamente capacitado e recursos materiais adequados para funcionar a contento. A falta dessa estrutura em São Luís propicia às organizações criminosas condições favoráveis para violar as normas de segurança.
Espera-se que a Polícia Federal e a Empresa Brasileira de Administração Aeroportuária (Infraero), cada uma dentro da sua esfera de atuação, se mantenham vigilantes para conter as ações do tráfico no aeroporto de São Luís. Investir em segurança e em obras físicas que dificultem o transporte de drogas por via aérea é uma medida de extrema urgência, já que as quadrilhas que adotam esse modus operandi são as mais sofisticadas e com maior poder de fogo.
Editorial publicado neste sábado em O Estado do Maranhão