BASTA DE AGRESSÃO

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Há mais de vinte anos, se a memória não me falha, sou assinante da revista Veja, por considerá-la a melhor publicação semanal em circulação no país.
Quando o tempo permite, leio-a, quase sempre, do começo ao fim. Mas se estou envolvido em atividades que consomem o meu cotidiano, abro a revista e passo uma vista d’olhos nos assuntos que interessam e dou-me por satisfeito.
Foi o que aconteceu, na semana passada, com relação à edição 2357- ano 47-nº 4, de 22 de janeiro de 2014, da mencionada revista. Por problemas de tempo, não a li de cabo a rabo. A leitura resumiu-se a poucas páginas. Mas a amiga Maria Tereza Azevedo Neves- que admiro e prezo pela sua inteligência e sensibilidade – alertou-me a respeito de uma desastrosa, infeliz e maldosa nota de Veja, sobremodo ofensiva ao Maranhão, que apesar da campanha que os poderosos meios de comunicação movem contra a nossa terra e nossa gente, ainda cultiva a áurea conquistada no século XIX, pelos grandes vultos legados ao Brasil na área cultural, de ser orgulhosamente a Atenas Brasileira.
A nota registrada na página Blogosfera, com o título Sobre Palavras, trata o Maranhão de maneira depreciativa. Para que os leitores vejam (sem trocadilho) a estupidez que a revista perpetrou contra nós reproduzo integralmente o texto inserido naquela malfadada edição: “Não se sabe ao certo se o nome do estado que a família Sarney governa há décadas – nome herdado da Capitania do Maranhão, assim batizada em 1553 – tem alguma relação com a palavra maranha, existente em português desde o século XIV e encontrada também em castelhano (maraña). Seja como for, é curioso que maranha, o hoje pouco empregado substantivo comum, tenha uma série de sentidos que giram em torno da idéia de confusão, coisa intricada, embaraçada, enrolada, ardilosa. Dele – um termo de origem também obscura, provavelmente pré-romântica – derivamos palavras de uso corrente como emaranhar e emaranhado”. “Também da mesma fonte brotou o substantivo comum maranhão, mentira engenhosa, por meio de idéia de uma maquinação de má-fé, uma trama complicada e ardilosa destinada a enganar os incautos”.
O inolvidável padre Antônio Vieira, nos meados do século XVII, num de seus brilhantes sermões pregados em São Luis, na Quinta Domingo da Quaresma em 1654, usou a palavra maranha para mostrar que a ociosidade e a mentira marcavam as terras colonizadas por Portugal. Mas o sermão foi proferido num contexto histórico que nada tem a ver com a situação vigente e numa época em que os habitantes do Maranhão eram índios e colonos portugueses. A intenção de Vieira, portanto, naquela sua catilinária, foi hostilizar os próprios compatriotas e não o povo maranhense, o qual, segundo o Dicionário Político, de Norberto Bobbio, povo, como classe social, só existe “quando está integrado, urbanizado e fazendo parte do Estado”.
Voltando ao texto de Veja, tudo leva a crer que a editoria de Blogosfera aproveitou-se da semântica para usar e dar à palavra maranha uma conotação política, exclusivamente com o fito de nos destratar e menosprezar.
Como no Brasil não há censura à imprensa, o jornalista tem o direito de dizer o que pensa. Se ele tem esse direito, qualquer um de nós também tem a prerrogativa de contestá-lo. Por isso, eu, na condição de membro da AML e de cidadão maranhense, não aceito que tão acintoso despautério seja arremessado contra um Estado que merece mais respeito, razão pelo qual manifesto o meu repúdio a um comentário cujo objetivo é o de nos humilhar perante o país. Aceitar aquele duro golpe sem esboçar a menor reação, seria silenciar diante de tamanho achincalhe.
Se alguém pensa que a agressão de Veja foi contra a família Sarney está redondamente enganado. Ela foi citada na matéria apenas para servir de biombo a um vilipendioso ataque à dignidade do povo maranhense, ao qual, com base no “substantivo maranhão” foi atribuído a fama de mentiroso, ardiloso e enrolado.
Cumprida a obrigação de contestar e repudiar conceitos desairosos contra o Maranhão, ainda que esse posicionamento possa parecer uma luta de Davi contra Golias, tomei também uma providência coerente e desprovida de qualquer conotação demagógica ou quixotesca: autorizei a direção de Veja a não enviar mais para o meu endereço nenhuma edição da revista, cuja assinatura relativa ao ano corrente está devidamente paga.
Com isto, dou por encerrado um convívio de mais de vinte anos com Veja. Lamento que este convívio tenha assim terminado, mas foi o modo que encontrei para ficar de bem com a minha consciência e por ter nascido nesta terra abençoada por Deus e bonita por natureza.

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