As famílias e os dependentes de drogas

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No último dia três deste mês, foi anunciado dados de mais um trabalho de pesquisa realizado pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, sob a coordenação do Prof. Ronaldo Laranjeira, que desta feita tratou de questões relevantes sobre as famílias que possuem dependentes químicos, assunto importante porém pouco tratado em políticas públicas sobre a temática das drogas.

O Levantamento Nacional de Famílias de Dependentes Químicos mostrou que cerca de 28 milhões de brasileiros vivem com um dependente químico. Foi uma pesquisa inédita que mostrou também o impacto que ocorre na família, quando alguém do seu núcleo, faz uso de álcool e de outras drogas.

O levantamento mostrou que entre os parentes entrevistados, 80% são  mulheres, sendo que 46% delas são mães dos dependentes de drogas. Mais da metade delas (66%) são responsáveis pelo tratamento. Essas mães também são consideradas chefes da família, fazendo com que, além da sobrecarga de cuidar do filho usuário de drogas, cuidam tambem dos outros membros da casa.

Esse dado nos faz refletir sobre o papel de homens e mulheres em nossa cultura e no ambiente familiar pois, quem assume mesmo a lida com esses doentes são as mulheres. E, de fato, é o que se verifica na prática, pois na maioria dos casos são elas que tomam a frente para conduzir o tratamento recomendadado para esses dependentes quimicos.

Pelo estudo, mais da metade (57,6%) das famílias têm outro parente  usuário de drogas, isto é, não se trata somente de um caso, o que já seria por si só muito difícil, mas são mais de um. Para as pessoas entrevistadas, (46,8%) acreditam que maus  companhias e baixa autoestima pessoal dos usuários (26,1%) são fatores de risco mais relevantes que influencia no problema.

Na realidade, o ambiente onde se vive, as companhias, a auto-estima, as frustrações, o desengajamento em atividades sociais e no trabalho, o baixo nível educacional, a presenca outras doenca mentais ou problemas sociais, psicológicos ou comportamentais, são situacoes relevantes como fatores de risco para o uso de drogas, além de influenciarem nos mecanismos de recaídas que se veifica entre esses doentes.

A pesquisa avaliou também o tempo que as familias gastam para buscarem ajuda após o reconhecimento do uso dessas drogas, que é de três anos. Entre os usuários de cocaína e crack, o tempo é menor, dois anos. E, entre  usuarios de álcool esse tempo sobe para 7.3 anos.

 

Tempo muito longo para se buscar ajuda, para usuários de crack e cocaina, pois essas drogas provocam dependência em pouco tempo. Entre os consumidores de álcool,  sete anos também já é um tempo longo, embora se saiba que o álcool provoca dependência por maior tempo de uso. Em ambos os casos, muitos já apresentam sinais de cronificação da doença, fato que dificulta sobremaneira a recuperação dessss pessoas. Sabe-se hoje, que quanto mais cedo se empreender prevenção, as famílias evitarão muitos dissabores relacionados com o uso dessas substâncias.

Um terço dos parentes (44%) descobriram o uso de drogas entre familiares por causa da mudança de comportamento e apenas 15% por terem visto o paciente usar droga fora de casa e que se gasta muito com o tratamento desses enfermos, pois 58% desses tratamentos foram custeados exclusivamente pela família, afetando drasticamente o orçamento das mesmas, em 45% dos casos.

Esses fatos demonstram claramente a necessidade dos governos investirem mais em prevenção e em reabilitação psicossocial desses doentes. Oferecer uma rede de atendimento mais abrangente e mais eficiente que cubra as necessidades dessas famílias, deveria estar em primeiro plano nas políticas desse setor.

Podemos concluir, a partir desses dados, que as famílias de dependentes químicos estão praticamente sozinhas e desamparadas, não têm a quem recorrer, essa que é a realidade! Volto a dizer: tem-se que investir massicamente em prevenção e rabilitação psicossocial, para evitar os alarmantes índices de recaídas que se verifia entre essas pessoas. Alem do mais, ampliar a rede de cuidados primários para identificação precoce da dependência e começar desde cedo a tratá-los, pois, quanto mais cedo, maiores serão as chances de se livrarem desses problemas.

 

 

 

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