Eu, os outros e o mundo

0comentário

Conversando recentemente sobre diferentes assuntos com um dos ícones da medicina brasileira e um dos mais respeitados médicos desse estado, Dr. Haroldo Silva e Sousa, meu mestre, professor e amigo, exímio cardiologista, houve certo instante que me disse: “Ruy, temos que entender o homem em sua relação consigo, com os outros e com o mundo”, é dessa forma que entenderemos o que acontece conosco e todos na vida.

Disse-lhe, Prof. Haroldo o Senhor tem razão temos que sempre ter essa visão do homem para poder entendê-lo. Depois dessa conversa, prosseguimos, tratando de outros assuntos. Já em casa, voltei a pensar na conversa que tínhamos tido e vi que a relação: eu, os outros e o mundo, representam de fato o paradigma de nossa existencialidade. Tudo ocorre e funciona a partir disso. Veja que tudo que nos diz respeito e o que se passa conosco está subjugado a essa realidade. Nada ocorre sem ser por essa via.

As circunstâncias, as rotas que traçamos para nós mesmos, nossas relações com os outros e com o mundo são atribuições e consequências diretos dessa tríade de fatores justapostos uns aos outros. De tal forma que quando algo se distancia desse triângulo, as consequências aparecerão cedo ou tarde na vida de alguém.

Atrevo-me a dizer que aquilo que entendemos como felicidade, que todos querem alcança-la, essencialmente só brota em nossos corações quando estamos em absoluto consonância e equilíbrio com essas dimensões. Só somos felizes quando essas três entidades se alcançam, a um só tempo, se unem em um único sentido por isso é difícil a alcançarmos a todo o momento, pois não é a todo o momento que estamos nesse equilíbrio desejado.

Nessa perspectiva cada dimensão desta, eu o outro e o mundo, têm identidade própria, importâncias e valores distintos entre si. São dimensões diferentes uns dos outros, porém não se sustentam isoladamente. Da mesma forma como nós, só nos tornamos seres humanos havendo plena harmonia entre nós, os outros e o e o mundo. Nessa triangularidade é que serão construídos e garantidos todos os pressupostos necessários para uma vida promissora e feliz. E, entendo que o resultado dessa triangulação é que vai dar sentido á nossa existência.

Há teorias que julgam que nós humanos somos o centro do universo, e as outras coisas secundárias á isso – antropocentrismo. Outras vêm na natureza (o mundo), o centro de tudo e a razão da própria vida – geocentrismo. Por último, há os que afirmam serem as relações sociais a razão maior da vida humana(sociogênese). Todas essas teorias têm suas razões, mas vejo que nenhuma dessas sozinhas, faz qualquer sentido. A primazia da existência está nas relações entre essas diferentes forças especiais e singulares interagindo entre si, isso faz brotar a vida que temos e o que somos.

O ambiente, o ar, as árvores, os animais, os rios, o mar, os sons, a lua o sol, o céu, a noite, as estrelas, o infinito, o outro e tudo mais, que nos toca, nos diz respeito e que ocupa nossa consciência, nos compõem. O mundo, nós e os outros formamos um único ser através da qual nos definimos, damos sentido á nossa existência. Essa relação triangular é tão estreita, que se tornam inseparáveis, íntimas imprescindíveis umas as outras, surgindo, por isso mesmo, algo novo e uma nova ordem nessa relação. Essa nova realidade, somos nós.

No transcurso da vida, dependendo das circunstâncias, haverá momentos em que o eu se sobressairá sobre o outro e sobre o mundo. Em outros, o mundo se sobressairá sobre o eu e o ou outro e haverá outros momentos em que o outro se sobressaíra sobre o eu e o mundo. Mas nunca se separam na relação. Essas dimensões estão ligadas intestinamente uma a outras garantindo a viabilidade da vida. É através dessa dialética e dessa dinâmica existencial que a vida caminha. A flexibilidade entre essas dimensões é que irá definir e garantir a primazia da nossa existência

Portanto, nós, os outros e o mundo somos facetas distintas de um mesmo fenômeno, onde reside a essência da vida humana. Achar que somos uma coisa totalitária independente é um tremendo equívoco. Temos que ter e desenvolver uma consciência plena e total, onde somos uma parte importante no processo do viver, mas sem o outro e o mundo os quais nos cercam, fatalmente iremos fracassar.

Essa é a visão singular da vida que nos dá autonomia e a certeza de nossa existência. É a partir dessa visão biopsicossocial e geopolítica do ser, que garantiremos e damos sentido da de nossa existência. A valorização só de um aspecto dessa trindade sagrada desrespeitaria, em principio, a universalidade da nossa existência.

 

Sem comentário para "Eu, os outros e o mundo"


deixe seu comentário

Twitter Facebook RSS