1968: O AI-5 E O MANIFESTO DE SARNEY

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No final de 1968, o Brasil viveu uma grave crise institucional, pelo fato de a Câmara Federal rejeitar o pedido do ministro da Justiça para processar o deputado Márcio Moreira Alves, por pronunciar um agressivo discurso contra as Forças Armadas.

No auge da crise, chegam a São Luís o ex-presidente Juscelino Kubitscheck e o deputado Renato Archer, ambos não bem vistos pelo regime militar. A presença de JK entre nós decorria do convite dos alunos do curso de Economia que o escolheram paraninfo da turma.

Na solenidade de colação de grau, o ex-presidente do Brasil pronunciou um discurso que fez agravar o clima político reinante no país, levando o presidente Costa e Silva a editar a 13 de dezembro de 1968, o famigerado Ato Institucional nº 5, que suspendia as garantias constitucionais e dava ao chefe da Nação o poder de governar sob o império do arbítrio.

No dia seguinte à diplomação, os novos economistas homenagearam Juscelino com um lauto banquete no Clube Jaguarema, que contou com a presença do governador do Maranhão, José Sarney, que, no seu discurso, não economizou palavras de elogios ao ex-presidente da República e ao seu governo, por ele considerado o mais democrático e operoso do País.

A repercussão dessa solenidade ecoou em Brasília e nos meios militares obteve estrondosa reação. Resultado: no dia seguinte, JK embarcava de volta ao Rio de Janeiro, sob a mira de forças policiais, e Sarney começava a viver um tremendo um inferno astral, alvo de intimidações de parte da linha dura do governo militar, que já não o via com bons olhos, pelo fato de contar com auxiliares, considerados esquerdistas.

Essas represálias foram num crescendo tão grande, que chegaram ao ponto de o governador ser ameaçado de perder o mandato. As notícias que diariamente chegavam ao Palácio dos Leões davam conta de que um ato do regime revolucionário, com base no AI-5, seria implacavelmente assestado contra Sarney para deixá-lo vulnerável e sem defesa.

Nesse clima de terror, Sarney, depois de ouvir amigos e políticos que o cercavam com o sentimento da solidariedade, decidiu lançar um manifesto ao povo maranhense, para mostrar o drama a ele submetido.

No dia 17 de dezembro de 1968, os jornais de São Luís rompiam a censura imposta aos órgãos de comunicação, levando ao conhecimento da opinião pública o pensamento do governador sobre o quadro de incertezas que atravessava o País e a situação periclitante em que se encontrava como detentor de um mandato que recebera livremente do eleitorado do Maranhão.

Cinquenta anos depois daquele momento crítico, o manifesto de Sarney, na sua íntegra, volta a ser publicado por iniciativa deste colunista: “O Brasil vive uma hora difícil de sua história contemporânea”. “Como governador do Maranhão, no exercício deste encargo, coloquei a minha função no campo do idealismo mais alto, procurando dar a essa missão o máximo do meu sacrifício, afirmando a presença do nosso Estado no País, através de uma administração honesta, dinâmica, marcada de obras públicas e na afirmação de atitudes que me fizeram político”.

“Fui eleito pelo povo, meu mandato trouxe a marca da luta e só foi possível graças à moralização eleitoral, às garantias surgidas, e à liquidação da oligarquia política, obra, como tantas vezes afirmei, da Revolução que eu apoiei e por ela fui apoiado.”

“Isto, contudo, nunca me obrigou a pagar com a minha consciência, a não externar pontos de vista, tomar ou deixar de tomar atitudes que eu achava compatíveis com a minha vida pública.”

“Meu mandato é um mandato livre, que me foi outorgado pela vontade popular e até hoje tenho procurado exercê-lo com absoluta independência, e no dia em que não puder fazê-lo não poderei mais prestar nenhum serviço ao Estado do Maranhão.” “Nessa hora, o meu caminho é o caminho da minha casa, de cabeça erguida, respeitado e sendo digno do nome do povo desta terra”.

“Não posso parecer nunca subalterno, omisso ou açodado”. “Tenho a noção exata da grandeza do cargo que ocupo e das minhas responsabilidades com o passado, com o presente e o futuro do Maranhão”.

“Compreendo perfeitamente, homem de governo, as dificuldades enfrentadas pelo Presidente da República, marechal Costa e Silva, tendo de romper a ordem jurídica, marchando para o estabelecimento de medidas de exceção que ferem os postulados democráticos”. “Não posso dizer que estas medidas tenham sido do agrado do primeiro mandatário da nação ou das Forças Armadas do Brasil, pois conheço o seu patriotismo e creio nos seus altos propósitos e pensamentos objetivos”.

“O seu gesto não busca o poder pessoal nem o poder político, mas conjurar uma situação difícil e transitória”. “Espero que essa fase possa servir para apressar a retomada da normalidade democrática”. “E para essa tarefa, reafirmo a confiança e a solidariedade do Maranhão que nunca faltaram para a manutenção da ordem e do progresso do Brasil”.

“Minha atitude nada tem de pessoal e nem de preservação do meu mandato”. “O exercício do cargo de Governador, para mim, tenho de repetir, é cada vez mais um grande sacrifício”. “Minha consciência, livremente, me impõe a continuidade do trabalho e do bem estar do povo maranhense”.

“Concito todos os maranhenses, neste instante, a permanecerem unidos, sem divergências, nem ressentimentos, com um só objetivo: a da tranquilidade do futuro do Maranhão e do bem estar do seu povo”.

Segundo alguns observadores, esse manifesto decididamente contribuiu para livrar Sarney da decapitação.

O ÚLTIMO MILLESISTA

O senador Clodomir Millett, enquanto líder político e atuante militante das oposições ao vitorinismo, sempre teve ao seu redor grande número de amigos e correligionários.

De 1950, quando ingressou no Partido Social Progressista e o comandou, até 1974, ao exercer o seu último mandato político, de senador da República, Millet marcou sua trajetória na vida partidária do Maranhão pela coerência e lealdade.

Um dos maiores amigos de Clodomir Millet, Simeão Rios, faleceu na semana passada. Este, ao longo de sua atividade política, pertenceu aos quadros do PSP e da Arena, através dos quais se elegeu prefeito de Coroatá, na década de 1960, e deputado à Assembleia Legislativa, nos anos 1970.

ANIVERSÁRIO DE MAURO

Nos últimos anos, o engenheiro Mauro Fecury tomou gosto pela comemoração de seu aniversário no Rio de Janeiro, no confortável apartamento de sua propriedade, localizado na avenida mais movimentada do Leblon.

Festeiro como o é, Mauro, além dos familiares, convida amigos de São Luís e do Rio de Janeiro, para festejarem com ele a mudança de idade, que ocorre, hoje, 13 de janeiro.

Como fraterno amigo de Mauro, estou na Cidade Maravilhosa, para participar, com outros colegas de geração, de tão marcante vida, marcada para a realização do bem, ele, o construtor da maior e melhor instituição de ensino superior, de natureza privada, no Maranhão.

PRESIDENTES DA ASSEMBLEIA

O deputado Humberto Coutinho não foi o primeiro a falecer no exercício do cargo de presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão.

Antes dele, outro parlamentar, também, em plena atividade de presidente do Poder Legislativo do Estado do Maranhão, não resistiu ao peso da morte: Nagib Haickel.

Enquanto Humberto faleceu em Caxias, em decorrência de uma doença cancerígena, Nagib morreu em Coroatá, em 7 de setembro de 1993, vítima de fulminante infarto do miocárdio.

A MORTE DE CONY

Eu devotava a Carlos Heitor Cony, falecido recentemente no Rio de Janeiro, a maior admiração pela sua elevada categoria de jornalista e ficcionista.

Como quase todo brasileiro, dei conta da presença de Cony na cena literária do País nos idos de 1964, quando escrevia no Correio da Manhã e teve a coragem de ser o primeiro jornalista a enfrentar, com a fúria de sua pena brilhante, o regime militar.

Aquelas crônicas, reunidas no livro “O ato e fato”, deram a Cony o reconhecimento nacional e fizeram com que eu passasse a ter na minha biblioteca tudo que ele publicava.

De sua imensa e rica produção literária, destaco o livro “Quase Memória”, que já li diversas vezes, escrito em homenagem ao pai, falecido em 1985, mas que permaneceu vivo no espírito e na lembrança de Cony.

ABSURDO DOS ABSURDOS

Nada mais absurda e falaciosa a afirmação de que o povo de São Luís não gosta e tem aversão à figura pessoal e política de José Sarney.

Sou testemunha ocular e auditiva dessa inominável e grosseira inverdade, inventada pelos seus adversários e inimigos políticos.

Nos últimos tempos, tenho acompanhado Sarney em suas andanças e visitas públicas e particulares, e vejo exatamente o contrário do propalado pelos invejosos e frustrados.

No domingo passado, por exemplo, ele marcou presença no clube em que o ex-deputado Manoel Ribeiro festejava o seu aniversário. Sarney não sentou um minuto. Passou o tempo cumprimentado e posando para fotos com o mundo de gente que ali compareceu.

 

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