O babaçu e os franceses

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babacu5.jpg                                                                                                            (parte 2)

Motivados pelo início do processo de industrialização da Europa pós-primeira Guerra, os franceses perceberam o potencial do babaçu: uma matéria prima capaz de fornecer uma gama diversificada de subprodutos, principalmente destinados ao segmento da siderurgia.

A notícia da instalação de uma fábrica para o beneficiamento do coco babaçu, sobretudo com a possibilidade de extração de inúmeros derivados, logo chegou à pacata cidade de Pinheiro. A população local, movida pela curiosidade, acompanhou eufórica a implantação da primeira indústria química da região.

O Jornal Cidade de Pinheiro publicou em fevereiro de 1929, um registro da Revista da Associação Comercial do Maranhão, em seu número II – Ano V, acerca de um comunicado oficial do Itamaraty, fazendo referência a esse empreendimento:

“A Indústria do babaçu:

O sr. Henry Charbonnel, que durante alguns meses do ano passado percorreu o Brasil, acaba de comunicar ao Adido Comercial do Brasil em Paris haver constituído, para a exploração da indústria do babaçu, a “Societé Financière Franco-Brésilienne” com o capital de cinco milhões de francos.

Esta sociedade já adquiriu o material necessário à criação de uma usina para processar 70 toneladas diárias de coco, correspondendo à uma produção de cerca de 1.200 a 1.400 toneladas de amêndoas por ano. Para a quebra do coco, a sociedade conseguiu fabricar uma máquina especial e o resultado obtido com a mesma foi de tal modo satisfatório, que já foram expedidas para a usina que a sociedade está instalando no Maranhão 20 máquinas desse tipo, e o material necessário à produção de uma força de 40 HP.

Por intermédio da “Société de la Carbonisation” e da “Société des Produits Chimiques”, a nova sociedade fez proceder, durante três meses, a estudos metódicos para o tratamento do coque de babaçu e obteve nas experiências e análises o resultado seguinte:

A destilação das nozes de babaçu em vaso fechado fornecia em peso:
• 30% de carvão tipo coque metalúrgico;
• 8% de ácido acético a 80º;
• 15% de álcool metílico;
• 8% de alcatrão.

O coque obtido, analisado na “Écolle des Arts et Mettiers”, deu:
• 90% de carbono puro;
• 5,4% de materiais voláteis;
• 4,4% de cinzas;
• 0,85% de umidade total.

O Poder calorífico do combustível seco chegou a 7.700 Kcal/Kg. Este combustível constitui, pois, um coque de primeira qualidade porque não contém enxofre nem arsênico e apenas uma pequena quantidade mínima de fósforo.
Dessa forma, ou preparado em briquetes, será seguramente utilizado nos altos-fornos.

Algumas indústrias siderúrgicas francesas, especializadas na fabricação dos aços especiais, (aço-nickel, cromado ou misturado com tungstênio) pretendem mandar vir do Brasil esse coque para a fabricação direta de tais aços.

O ácido acético pode fornecer:
1. Anidrido acético para a fabricação de perfumes e de acylaturas;
2. Éteres acéticos empregados como dissolventes de vernizes;
3. Acetato de celulose utilizado na fabricação de seda artificial;
4. Acetato de sódio, de potássio, de alumínio, de uso corrente na indústria de produtos químicos e de materiais corantes;
5. Acetona, dissolvente bem conhecida e de venda assegurada.

Em resumo, o ácido acético obtido daquela forma poderá criar no Brasil uma indústria vasta e variada e ser ainda exportado, se for necessário, para os Estados Unidos ou para a Europa.

O álcool metílico é de emprego corrente em numerosas indústrias. Obtido a preço de custo muito baixo, poderá caso não encontre consumo no Brasil, ser colocado facilmente nos Estados Unidos e na Europa.

O alcatrão obtido é particularmente rico em materiais voláteis. Destilado por processo novo, ele dá essências ligeiras, gás-oil e mazout, bem como resíduos que podem ser empregados no alcatroamento de estradas e em calafetos.

À vista desses resultados, a “Societé Financière Franco-Brésilienne” conseguiu o concurso técnico da “Societé des Produits Chimiques Purs”, que lhe conferiu também o direito exclusivo de utilizar no Brasil os seus processos de destilação e de recuperação de subprodutos. Já foram encomendados 4 fornos para o tratamento de cerca de 20 toneladas de nozes por dia.

No ano de 1929 a “Societé” conta adaptar a esses fornos aparelhos de destilação para obtenção de ácido acético, álcool metílico e alcatrão; instalar a destilação de alcatrão; elevar a 10 o número de fornos de modo a poder tratar a totalidade dos cocos que a usina pode quebrar, ou seja, como já foi dito, cerca de 70 toneladas por dia.

Conseguidos esses resultados a produção diária da usina será de:

20 toneladas de coque metalúrgico
5 toneladas de amêndoas
5 toneladas de ácido acético
5 toneladas de alcatrão
1 tonelada de álcool metílico.”

No próximo artigo, será abordada a instalação, a operação e, lamentavelmente, a desativação da Usina Providência.

6 comentários para "O babaçu e os franceses"


  1. Francisc Soares

    Zé Jorge

    É verdade que o babaçu já foi oeda no MAranhão do sec XVIII ?

  2. ALEXANDRE

    ZE JORGE / SE SARNEY / DEMAIS ZÉS – PERGUNTO ???
    PINHEIRO – DESENVOLVEU E MELHOROU NOS ÚLTIMOS 10 ANOS ???

  3. marconio ribeiro

    projetei uma maquina de quebra do babaçu para cooperativas
    e de interesse das pessoas de bom senso ou politicos com sensibilidade
    o projeto e de pequeno custo e colocarei na baixada maranhense
    são joão batista , povoado do fronteira do guaribal

  4. antonio augsto

    bom dia por favor quero saber se tem aalguem que possa tira acetatto da biomassa coco do babacu par fazer fios texteis

  5. MARIA DAS NEVES ROCHA

    Babaçu pode fazer como o açaí ou só a carnauba

    • José Jorge

      Do babaçu você pode extrair o amido, o óleo, a torta, carvão vegetal com poder calorífico muito maior que o coke mineral, e uma vez carbonizado pode ser extraído uma série de aldeídos, acetatos, solventes e muitos outros derivados químicos.

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