Amigo é pra essas coisas…

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chargecandidato.jpgAs eleições se aproximam e os candidatos começam a se mostrar. Alguns já conhecidos, outros nem tanto, porém todos em busca do assento na cadeira de prefeito ou de vereador.

O momento é oportuno para as discussões de temas que interferem na vida de cada cidadão e os postulantes precisam apresentar suas propostas e convencer os eleitores.

A tarefa é bem complexa e o candidato deve vencer inúmeros obstáculos.

Primeiro de tudo, necessita de muita disposição!

Para ser ungido como candidato, o interessado deve costurar suas alianças políticas, passar pelas convenções, elaborar estratégia de campanha, contratar pesquisas de opinião pública para identificar os anseios da comunidade, definir suas propostas e seu discurso e partir para a luta.

Há tempos, recebi um arquivo pela internet e vejo agora a oportunidade de divulgá-lo. Trata-se de um texto escrito por um nordestino de nome Jessiê Quirino, que havia sido sondado para candidato a prefeito de uma cidade lá na Paraíba.

Para os candidatos e especialmente aos meus amigos que estão no páreo, o texto transcrito a seguir poderá auxiliá-los a tomar a melhor decisão:

“Cabra pra ser político no Brasil precisa de no mínimo, minimorum, dos seguintes adjutórios:
Primeiro, começar a juntar dinheiro pra depois, começar a juntar gente.
Desatar “nó cego” de convenção, escutar caqueado dificultoso de partidário que só tem um voto e olhe lá!
Engolir muita rimunheta de cabra falso, filho da puta e pidão.
Prometer como sem falta e faltar como sem dúvida.
Ficar refém da língua do povo, fazer conchavo com reservista da ditadura.
Levar fama de ser corno, baitola e ladrão.
Acompanhar enrolamento de papel de justiça.
Pagar cana pra pingunço desocupado.
Agüentar fazimento de pouco de eleitor embriagado.
Levar fama de ter descabaçado moça donzela.
Gritar “Aleluia!” em igreja de crente, alegrar sessão espírita, assistir meia missa e sair comungado.
Botar no braço menino novo de fundo cagado.
Batizar menino feio e chorão.
Dar de comer do bom e comer porcaria.
Almoçar em lata de goiabada.
Aplaudir discurso disvirgulado, sem rumo e sem ponto final.
Aturar gente furona e desconhecida dentro de casa.
Viver rindo e fumaçando pelo fundo feito ferro de engomar.
Acabar sua Hi-luxizinha na buraqueira.
Aturar babões civis e militares.
Tomar cerveja em copo de plástico, quente e de espuma murcha.
Beber whisky Drurys sem gelo, numa xícara de louça, com tira gosto de canjica.
Entregar taça de campeão pra time safado de ruim.
Chorar em velório de desconhecido.
Escrever bilhete em lápis de ponta quebrada.
Gritar “ô de casa!” em casa vazia.
Farejar poeira de bunda em palanque
Levar “dedada” no “cá pra nós” quando está carregado nos braços do povo.
Escutar destampatório de foguetão no pé do ouvido.
Apertar mão de cotó.
Ganhar abraço fedorento.
Enfiar a mão em saco de dentadura pra distribuir pra mundiça.
Comprar voto em dia de eleição e estelionatar voto em boca de urna.
Levar choque de microfone desencapado.
Cair do palanque e sair todo relado.
Apertar mão de eleitor oportunista.
E depois de eleito começar toda essa camumbebagem tudo de novo!?”

E aí, meu amigo, vai encarar?
Se a resposta for positiva: Boa sorte!

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Um compadre muito esperto

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cumpadiesperto2viaj_048.jpgChegou o auge da estação invernosa e os campos de Pinheiro estão mais belos que nunca. As flores amarelas produzidas pelo “mata-pasto”, aparecendo no horizonte dos campos do rio Pericumã, nos dão a sensação de um grande manto dourado flutuando sobre as águas que teimam em lamber as casas ribeirinhas. As jaçanãs, japeaçocas, marrecas, socós e as garças com sua plumagem branca, enfeitam e dão vida a este cenário de rara beleza.

Contemplando os verdes campos de Pinheiro lembro-me de um fato pitoresco ocorrido na casa de um amigo meu de infância. Seu pai chamava-se Wilson Marinho, e era o dono da fazenda Teresópolis, antiga propriedade da família Gonçalves, portugueses desbravadores a quem devemos muito o desenvolvimento de Pinheiro.

Assentada sobre as terras de Peri-Mirim, do outro lado do campo, a fazenda Teresópolis dominava o horizonte e tinha uma das mais belas vistas de Pinheiro.

Certo dia, bem cedinho, no quintal da Casa grande, seu Wilson estava “dando de comer” aos animais domésticos, que se estranhavam uns aos outros na disputa pelos restos de comida que lhes eram atirados.

Diariamente, as pacas, cotias, patos, galinhas, perus, marrecos, catraios, cabritos, carneiros, porcos, além da revoada de pássaros, aproveitavam a farta alimentação matutina.

Acocorado bem ao lado, descalço e com um surrado chapéu de palha na cabeça, estava Zé Rodilha, compadre de Wilson Marinho.

Atento à movimentação dos bichos, Zé Rodilha botou os olhos numa pequena leitoa branca, toda roliça e lançou a proposta:

– Cumpadi. É muito bicho pra pouca comida! – Me dê essa bichinha pra eu “criar de meia”, que em pouco tempo nóis tem uma fazenda! Apontou ele para a leitoa que disputava com os patos uma tamboeira de milho seco.

Wilson passou a vista pelo terreiro e, vendo que tinha muitas outras leitoas para alimentar, coçou o queixo e concordou:

– Tá bom compadre, leve pra criar pra nós dois. Mas lembre-se, é de meia, hein?!

Zé Rodilha tratou logo de pegar a leitoa, botou a peia, arrumou uma vara, colocou nos ombros e partiu célere no rumo de casa.

Morava nas terras da fazenda e, ao chegar, falou para Rosilda, sua mulher, do negócio que havia feito com o compadre Wilson.

No dia seguinte, bem cedo como de costume, Wilson Marinho levantou-se e, ao abrir as portas de casa, já encontrou Zé Rodilha sentado na calçada.

– Compadre, chegou tão cedo! Por que? E ao observar um cofo ao lado de Zé Rodilha, indagou?

– O que é que o compadre traz dentro desse cofo?

– Meu cumpadi!  Aconteceu uma tragédia hoje de manhã cedo! Me levantei no “cagá dos pinto” pra dar de cumê pra nossa leitoinha e quando botei a “caroeira”   a bichinha se afogou toda, começou a ficar roxinha e a muié gritou:

– Mata logo, Zé! Pro cumpadi Wilson não ficar no prejuízo todo.

– Não tive outra coisa a fazer cumpadi, e com muita pena, mas muita pena, mesmo, tive que sangrar a bichinha… E vim logo cedo lhe trazer a sua metade…

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Os bem-te-vis

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298945-16735-12802.jpgNo final de semana que passou, recebemos alguns amigos aqui em casa para um almoço. Discorria eu sobre as vantagens comparativas de morar em uma casa versus em um apartamento. Sou daqueles que valorizam a natureza a ter que conviver com vizinhos…

Aqui em casa, dizia eu, posso armar uma rede na varanda, ficar lendo meus livros, jornais, escutando música. Posso observar os raios de luz que sangram entre as folhas do pé de sapoti, contemplar o quintal da casa, e os pássaros que ainda teimam em me visitar e me são companhia das mais agradáveis: são rolinhas-fogo-pagou, bando de ciganinhas que aparecem para beber água na piscina, as pipiras pardas, as azuis e até mesmo as de cor vinho com bico branco são presenças permanentes para compartilharem das minhas sapotis e outras frutas que cultivo. As corujas brancas que habitam o coqueiro e as algazarras dos bandos de vin-vins fazem parte, também, do meu viveiro aberto.

Tem até os meus preferidos: dois casais de sabiás, que a cada ano no mês de maio, retornam para fazer os seus ninhos no topo das duas colunas, bem aqui dentro da varanda da casa.

Acompanhar, dia após dia, o incansável trabalho de construção dos dois novos lares é um prazer inigualável. Sou acordado diariamente pelo canto melodioso dos meus amigos sabiás.

E mais, tem ainda os bem-te-vis! Esses, mais numerosos, nos espiam do varal da área de serviço, dão vôos rasantes na piscina para se refrescarem e fazem ninho por toda a parte. Nesse sábado, mostrava aos meus amigos um casal de bem-te-vi que iniciava a construção de um ninho bem na ponta de um galho de um cajazeiro, a três metros do local onde estávamos.

Hoje, uma semana depois, observo que o ninho está pronto, os bem-te-vis se cortejam um ao outro e, em breve, a família estará mais numerosa. Um novo casal encherá de cantos o meu jardim.
E falando em bem-te-vi, faço questão de compartilhar com meus leitores um conto de Cecília Meireles, escrito há 45 anos, sobre os bem-te-vis.

“História de bem-te-vis                                                                                                             
          O ano passado, aqui nas mangueiras dos meus simpáticos vizinhos, apareceu um bem-te-vi caprichoso, muito moderno que se recusava a articular as três sílabas tradicionais do se nome. Limitava-se a gritar: “ … te vi! … te vi!…” com a maior irreverência gramatical. Como dizem que as últimas gerações andam muito rebeldes e novidadeiras, achei natural que também os passarinhos estivessem contagiados pelo novo estilo humano.

       Mas logo a seguir, o mesmo passarinho –  ou seu pai, seu irmão, como posso saber, com a folhagem serrada da mangueira? – animou-se a uma audácia maior. Não quis saber das duas sílabas, e gritava apenas, daqui, dali, invisível e brincalhão: “… vi! …vi!…”  o que me pareceu ainda mais divertido.

       O tempo passou. O bem-te-vi deve ter viajado; talvez seja cosmonauta, talvez tenha voado com o seu time de futebol… afinal tudo pode acontecer com bem-te-vis tão progressistas, que rompem com o canto da família e mudam os lemas dos seus brasões. Talvez tenha sido atacado por esses crioulos fortes que agora saem do mato de repente e disparam sem razão nenhuma contra o primeiro vivente que encontram.

       Mas hoje tornei a ouvir um bem-te-vi cantar. E cantava assim: “Bem-bem-bem… – te vi! ” Pensei: “É uma nova escola poética que se eleva das mangueiras!…” Depois o passarinho mudou. E fez: “Bem-te-te-te… vi!” Tornei a refletir: “Deve ser pequenino e estuda a sua cartilha…” E o passarinho: “Bem-bem-bem-te-te-te-vi-vi-vi…!

       Os ornitólogos devem saber se isso é caso comum ou raro. Eu jamais tinha ouvido coisa igual. Mas as crianças que sabem muito mais do que eu, e vão diretas aos assuntos, ouviram, pensaram e disseram: “Que engraçado! Um bem-te-vi gago!” Então, talvez seja mesmo só gagueira…”

Quanto a mim, fico cá com os meus botões, aguardando como será o canto dos meus novos vizinhos!

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O cofo de farinha.

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ze-cofo-238.jpgNas cidades do interior do estado, as rodoviárias acabam se transformando num grande ponto de encontro além de ser o maior entreposto comercial, onde os produtos manufaturados na zona rural, costumam chegar a cada manhã e são comercializados ali mesmo.

Nestes tempos de inverno é o milho verde, a melancia, a macaxeira, os peixes de água doce e outros tantos produtos frescos que só conseguimos, mesmo, nas pequenas cidades do interior.

Em São João Batista, na Baixada maranhense, terra conhecida como de muita gente “esperta”, certo cidadão, que não quero aqui nomear, acabara de comprar um cofo de farinha d´água e tratou de protegê-lo dos “amigos do alheio”, abrigando-o entre suas pernas.

Falando em cofo, esta é uma das raras palavras que só se encontram nos dicionários maranhenses. Alguém que não seja do Maranhão, por acaso, sabe o que é um cofo?

Pouco provável. O dicionário registra cofo como sendo um artefato utilitário confeccionado artesanalmente, presente na cultura do homem simples do interior do Maranhão. O cofo é uma espécie de paneiro, feito da folha da pindova, palha retirada das palmeiras de babaçu.

Na verdade, cofo é uma das raras palavras de origem francesa que foram incorporadas no nosso vocabulário pelos índios tupinambás e que permaneceu até os dias de hoje.

Quando os franceses viram os índios trançando os cestos de palha, logo exclamaram: couffe, couffe… O que em francês significa cesto. O mesmo que panier, paneiro. Com a evolução da linguagem, couffe acabou virando cofo.

Mas vamos voltar ao nosso amigo da rodoviária.

Um alqueire de farinha é bastante pesado para carregar na cabeça. Ele precisava levá-lo para casa e virou-se para o lado em busca de um carroceiro. Deu um pequeno descuido e quando retornou ao local já encontrou um outro caboclo segurando um cofo de farinha na cabeça parecido com o seu…

Você não viu um paneiro de farinha que estava bem aqui, nesse momento? Perguntou o nosso personagem ao outro caboclo que segurava com as duas mãos o cofo na cabeça.

–  Siô! Aqui só tem gente ladrão! Se a gente “arreia” no chão, nêgo rouba na hora! É por isso que eu não largo o meu…

E para espanto de meu amigo, saiu de fininho, carregando o cofo que acabara de surrupiar.

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Água milagrosa.

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Minha avó Cici dizia que Deus nos deu dois ouvidos e uma boca. Certamente para mais ouvir do que falar.
Desde criança me acostumei a ouvir histórias de “gente grande” com muita atenção. Atualmente, nas reuniões da Academia e nos encontros sociais, sempre que posso, relembro e conto algumas delas que armazenei ao longo da vida.
Quando falta assunto para o meu Blog lanço mão de algumas dessas deliciosas histórias.
Doutor Chico Cunha, médico ginecologista, tão logo se formou, decidiu-se por exercer sua profissão ajudando seus conterrâneos, passando muitos anos trabalhando pelo interior do Maranhão. Bem humorado e espirituoso, Chico sempre trazia casos ocorridos com suas pacientes.
Tempos depois, Chico Cunha acabou retornando a São Luís para exercer sua profissão como médico do Hospital Geral.
Pela sua larga experiência clínica acumulada ao longo de muitos anos de profissão (naquele tempo não existiam aparelhos de ressonância magnética, tomografia computadorizada e tantos outros exames de imagem), nada como uma boa conversa com o paciente para identificar o quadro clínico e facilitar o diagnóstico.
Lembro de um caso em que uma paciente, chamada Constância, consultava sobre certa dor “embaixo da passarinha”.
No ambulatório do Hospital Geral doutor Chico Cunha fazia as perguntas e ouvia atentamente as explicações de dona Constância.
– Mas, me diga o quê que a senhora está sentindo! Indagou Chico Cunha.
– Doutor, de manhã cedo, quando eu me banho, é só eu bazugar a cuia d´água, que do umbigo pra baixo, tudo fica duro (bazugar é um verbo que só existe no dicionário maranhense: o mesmo que jogar, atirar, lançar).
Chico não entendeu direito e perguntou:
– Mas que água é essa?
– Água do poço. Respondeu a paciente.
Chico, logo interessado pela água, perguntou:
– Onde é que fica esse poço, dona Constância?
– Fica lá onde eu moro. No Maracanã. Respondeu a paciente.
Chico se animou todo e começou a imaginar coisas…
– A senhora pode me dar um pouquinho dessa água para eu fazer uma experiência?
Ao que ela confirmou, prometendo trazer um vidrinho quando da próxima consulta.
– Um vidrinho não, dona Constância! Traga logo um litro…
Chico vasculhou a gaveta e encontrou umas amostras grátis que prontamente agradou dona Constância, receitou alguns remédios, marcou a data de retorno e, na saída, relembrou a paciente para não esquecer a água.
Chegando em casa, relatou o caso para o seu cunhado, o deputado Jurandy Leite.
– Chico! Exclamou Jurandy. – Vamos comprar é o poço, rapaz!
Não sei por que o negócio não foi feito, mas o certo é que mais tarde veio o Viagra e acabou o sonho dos dois enriquecerem às custas da água de dona Constância.

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