Os cães e a caravana…
Peço permissão ao meu amigo Augusto Cesar Maia para reproduzir neste meu blog o texto que foi, por ele escrito, a respeito do ex-presidente José Sarney. O poeta soube, com o depoimento de quem presenciou boa parte da trajetória desse grande brasileiro, dar a sua contribuição para o debate atual, convocando os leitores a refletirem e não se deixarem manipular pelas matérias tendenciosas veiculadas na imprensa do sul do País.
“Os cães e a caravana…
Era final de junho de mil novecentos e setenta e dois, quando voltei para São Luis após minha primeira passagem pelo Rio de Janeiro, onde vivi parte de minha juventude. Sem lenço, mas com documento, especializado em programação de sistema, meu destino era a Prodata, primeira empresa maranhense no ramo da informática, onde iniciei de fato a minha mutante vida profissional, que se não chega a ser brilhante, pelo menos me permite andar de cabeça erguida. Trinta e seis anos depois, atravesso o túnel do tempo para imprimir lembranças desses anos, os mais dourados de minha vida, que me ensinaram a fazer, o mais corretamente possível, o dever de casa.
O momento era de mudanças, o Estado caminhava para o futuro após o revolucionário governo do Dr. Sarney, o povo respirava desenvolvimento e a cidade se vestia de esperanças para encarar ousados desafios. Ainda cheia de preconceitos, que caminhavam maliciosamente entre suas vielas estreitas, tão estreitas quanto o amanhã que se antevia antes de minha partida, a cidade crescia com expectativas de ser tão grande quanto a visão de quem a modificara. De um lado, a ponte ligando o centro histórico ao São Francisco, tinha a visão do futuro, do outro, a barragem do Bacanga, abria suas portas para o mundo, através do porto do Itaqui e para lá do Estreito dos Mosquitos, novas estradas integravam o Estado aninhando seus filhos em torno da bandeira do progresso. O Maranhão estava planejado para 50 anos na frente.
Os hábitos aos pouco mudavam, a televisão embora ainda não massificasse os maus costumes, já influenciava no dia a dia das pessoas. As políticas culturais implantadas pelo Sarney das artes, evidenciavam as manifestações populares, que de restritas as periferias, passaram a frequentar os salões, com pompas e galas (mais tarde Sarney Presidente, criaria a primeira lei brasileira de incentivo a cultura) e nossa exuberância literária prosseguia com o sonho da Atenas. A Ilha continuava pacata e seus “meganhas” honravam a farda que vestiam. O cotidiano só se agitava no banzeiro das ondas e marinheiros de além mar aqui aportavam atraídos pela oportunidade de bons investimentos. Os bondes já fora dos trilhos davam lugar a transportes mais confortáveis, novos bairros surgiam e o asfalto cobria as ruas paralepipedadas, escondendo os longos anos de atraso por que passamos. Era um Maranhão novo, onde a universidade deixava de ser um sonho de gerações para que a escolaridade colasse grau acadêmico. O projeto João de Barros, pioneiro no Brasil com sua TV – Educativa, levava sem medir distancias, o ensino a quem tinha a sede do saber. E a saúde se prevenia contra os males para não agonizar num tratamento intensivo.
Na Prodata fiz carreira, percorri seu organograma e compus numa equipe técnica de alto gabarito, até o dia que descobri que meu compromisso era com as palavras e meu ofício vinha das madrugadas, procurei meu rumo e agora estou aqui gastando vossas vistas e paciência.
Foi assim que me instalei naquela realidade, esqueci que o Rio era a cidade maravilhosa e passei a admirar José Sarney, por entender ser ele o mais ilustre e o mais importante maranhense de todas as épocas.
O Maranhão Novo foi um atestado de competência e serviu como primeiro capítulo para a trajetória deste homem simples, desencravado das margens do Pericumã, que iluminado pela estrela das manhãs, transcendeu a sua província para governar sua Nação. Um dos maiores políticos de nossa história contemporânea, responsável pela redemocratização do Brasil, que se privilegia da imortalidade como cronista, poeta, romancista, ensaísta e intelectual, de um caráter e uma lealdade irrepreensível e acima de tudo, de um profundo amor pelo seu povo.
Sobre as pedras que agora lhe jogam, entristeço ao localizá-las em uma passagem bíblica. “Ele” também não agradou a todos, por isso foi crucificado.
A intenção é clara, manipular informações e inverter fatos para desgastar a imagem de quem pesa na balança do processo sucessório que se aproxima. É lamentável esta prática de fazer política.
O Dr. Sarney por tudo que representa para o nosso Estado e para esta Nação é intocável, no mais, é gente querendo pousar na foto ao lado de quem é ídolo.
Presidente não se deixe abater diante desta perseguição. E enquanto o tempo não lhe absolve, vamos de provérbio árabe: “Os cães ladram e a caravana passa””.
Texto escrito pelo poeta e compositor Augusto Cesar Maia