“Meu dileto filho José,”

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sarney_caricaturaA cada ano que passa, por ocasião do aniversário de José Sarney, a escritora e acadêmica Graça Leite elabora um texto dedicado ao mais ilustre filho de Pinheiro.

Neste ano em que o ex-presidente comemora seus oitenta anos as letras bem compostas por Graça Leite ganham forma e registram o carinho que todos nós, seus irmãos, nutrimos por ele.

Hospedo em meu Blog o texto por ela elaborado certo de que se trata do pensamento da grande maioria dos filhos da terra:

Sempre no mês de abril sou dominada pela ansiedade, aguardando o dia 24. É na data do seu aniversário que tenho a oportunidade de lhe falar dos meus sentimentos, fazer confidencias através de cartas que lhe escrevo e aqui vai mais uma desta sua velha mãe retrógrada que dispensa os e-mails por não se enquadrar ainda nos meandros da informática. Até me esforço, mas fazer o que? Nasci provinciana, vivi mais de cem anos entre fazendas de gado e engenhos de cana de açúcar e, se não fosse o seu carinho por mim, talvez ainda estivesse hoje com o meu solo marcado pelos argolões das rodas dos carros de bois. Provavelmente os barcos a vela ainda transportariam os seus irmãos doentes para São Luís, e, sabe-se lá, se os nossos campos já não estivessem salinizados imprestáveis para a lavoura e pecuária.

As lamparinas continuariam a fumegar em nossos lares e os recados e bilhetes seriam formas de comunicação entre nós. Mas você nos deu estradas, sistema de transporte por  ferry-boat, hospitais, escolas, energia de Boa Esperança, barragem do Pericumã, telecomunicação, enfim, você inseriu a sua terra no contexto das boas cidades do Maranhão oferecendo aos seus irmãos melhor qualidade de vida.

Toda essa transformação estrutural eu devo a você, meu filho amado, a quem dedico a minha eterna gratidão.

Quando uma mãe dá luz a um filho nasce também a esperança materna iluminando o futuro do bebê. Mas eu confesso a você que durante o seu nascimento, a luz projetada não foi além de uma vida honesta, digna, simples e feliz, como almejam todas as mães provincianas. Jamais poderia imaginar que naquele momento estava acontecendo no céu uma conspiração celestial entre Deus, Nossa Senhora, Santo Antonio e São Jose de Ribamar (seus santos protetores), para que na manhã chuvosa de vinte quatro de abril de mil novecentos e trinta, eu entregasse ao mundo um guerreiro, revestido com armaduras de fé, coragem, sensatez e sabedoria. Também não suspeitei que a boa fada POESIA rondava a nossa casa e abrindo uma brecha no telhado tosco, fez cair sobre o seu berço uma chuva de estrelas. Tudo aconteceu de forma tão sutil que somente os anjos perceberam e disseram: Amém!

Existe uma canção interpretada por Maria Betânia, que diz em um dos seus versos: 

             “E o mundo vai ver uma flor

              Brotar do impossível chão.”

E o mundo viu. Viu brotar do chão árido, seco e pobre da Baixada Maranhense, um político hábil e ponderado, um estadista, um pacificador. Viu o guerreiro que viveu e venceu grandes batalhas. Viu o governador do Maranhão, o Presidente da República Brasileira, o Senador, o Presidente do Congresso Nacional que não se deixou intimidar por campanhas difamatórias e não calou em defesa dos seus valores.

O mundo também viu o poeta José Sarney subir as escadas da Academia Brasileira de Letras, pisando sobre Maribondos de Fogo, levando em uma das mãos tisnadas de juçaras, os seios dourados de Saraminda e, na outra, as estrelas do mar colhidas por Cristório nas brancas areias das praias maranhenses.

Tudo isso o mundo viu! Só não viu as minhas lágrimas e as de Dona Kiola ao ver o filho querido sendo alvo de calunias, invejas, preconceitos, maledicências, tudo por causa da sua origem humilde!

O que eles não sabiam meu filho, é que a sua história foi escrita nas estrelas e mesmo contra a impossibilidade do chão e a adversidade dos ventos, a flor brotou, deu frutos, ramas e lá está ela fincada no centro do Planalto Central com a sua folhagem de esperanças.  A árvore octogenária Jose Sarney é hoje destaque no jardim da Democracia Brasileira e é sobre a sua sombra que se abrigam os inexperientes para ouvir o canto dos pássaros que a sua inteligência abriga. 

Parabéns, meu filho! A sua mãe coruja exulta de alegria ao celebrar o seu aniversário. Que os acordos celestiais continuem a projetar os seus passos.

Estou tão emocionada com os seus oitenta anos que até ia esquecendo-me de falar da nossa casa e dos seus irmãos. Estão todos bem. O inverno escasso, este ano, retardou o aparecimento das florzinhas amarelas que matizam os nossos campos, mas as tarde mornas continuam a nos oferecer belos por de sol. Os seus irmãos vão bem, trabalhando e não fora a audácia dos bandidos que nos assustam, estaríamos mais felizes. O tráfico de drogas e a falta de segurança são outros empecilhos à nossa tranqüilidade.

Mas deixemos de lado esses assuntos que hoje é dia de festas.

Venha! Vamos apagar as velinhas?

Com muito afeto e carinho, sua mãe-terra.

 

                                                                                               Cidade de Pinheiro.       

 

Graça Leite

Membro da Academia Pinheirense de Letras( APLAC)

Cadeira n. 21        

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O médico de mulher

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Garrafada2Nos dias de hoje, são raros os habitantes de países africanos pobres, como a Guiné Bissau e a Nigéria, que conseguem viver por mais de 45 anos.

Do outro lado do continente, aqui em nosso País, a expectativa de vida do brasileiro vem crescendo a passos largos nas últimas décadas. Se na década de quarenta a expectativa de vida mal ultrapassava a casa dos 40 anos, o brasileiro que nasce hoje já tem uma expectativa média de vida superior a 72 anos.

Credita-se esse ganho ao acesso da população aos avanços da medicina. Os tratamentos de doenças cancerígenas e cardiovasculares têm evoluído bastante e conseguido salvar milhões de brasileiros. Os programas de saúde pública que atendem a população de baixa renda, associados à melhoria das condições de habitação e saneamento, tem reduzido consideravelmente os índices de mortalidade materna e infantil.

As campanhas nacionais de vacinação e a sistemática de acompanhamento pré-natal, bem como os exames periódicos e preventivos do câncer de mama e de próstata, fazem com que a população ganhe mais tempo de vida.

A medicina preventiva, com seus mais sofisticados exames, tipo as ressonâncias magnéticas de alto campo e as tomografias multi slice, têm contribuído em muito na identificação precoce de doenças que, se diagnosticadas a tempo, permitem o tratamento adequado e, na maioria dos casos, a cura.

Atualmente contamos ainda com a medicina ortomolecular que atua na correção de quaisquer desequilíbrios na constituição molecular do indivíduo. Dosa quantidades ideais de vitaminas, aminoácidos e nutrientes, buscando a prevenção e o tratamento das doenças. E ainda mais, promete vida longa aos usuários.

Eu, mesmo, estou nessa expectativa! Espero ter muito tempo ainda para ver e comprovar a eficácia dessas novidades.

Há apenas meio século, no Interior do Maranhão, a maioria da população não tinha acesso à medicina. Eram os farmacêuticos práticos, os curandeiros e as parteiras que se ocupavam da saúde da população. Muita gente nasceu e morreu sem nunca ter visto um médico na vida.

Nessa época, durante a administração de Aquino Mendes à frente da prefeitura de Penalva, chegou à sede do município um médico vindo da Argentina. Recém formado, impecavelmente trajado com roupa e sapato branco e com aquele sotaque portenho, o doutor era a grande atração da cidade. Tal qual uma onda de rádio, a notícia da chegada de médico na cidade espalhou-se rapidamente pelos verdejantes lagos de Penalva.

Uma longa agenda de visitas aos povoados foi proposta pelo prefeito ao jovem médico. Numa delas, depois de uma cansativa travessia de mais de cinco horas numa canoa, o doutor chegou ao povoado do Jacaré aguardado com grande ansiedade pelas mulheres do local.
Pela primeira vez na história daquela longínqua povoação, seriam feitos os exames ginecológicos.

Improvisado o consultório, ele começou o atendimento. Uma meaçaba (espécie de biombo tecido com palhas de babaçu) separava a salinha de consulta da saleta de exame, onde uma frágil mesinha fazia as vezes da maca de exames ginecológicos.

Maricota, uma morena de olhos castanhos, peitos carnudos e ancas largas, encabeçava a fila de espera e foi a primeira a ser atendida. Curiosa, enquanto o médico lhe fazia as perguntas, ela ficava a observá-lo. A certa altura, o médico levantou-se, encaminhou Maricota para a saleta de exames ao lado e pediu a ela que retirasse a roupa.

Maricota, que nunca havia feito um exame ginecológico na vida, examinou a maca, virou-se para o médico e falou:

− Doutor! Eu acho que essa banca não agüenta nós dois não …

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