O precursor das Radiolas

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reggaeA região norte do Maranhão já experimentou seu período de apogeu.

Durante o Império, Alcântara tornou-se, graças à atividade da cana de açúcar fortemente alavancada pela mão de obra escrava, o principal pólo irradiador do desenvolvimento do Estado.

A compra de escravos era financiada pela Companhia do Comércio do Grão-Pará e Maranhão em troca do monopólio do comércio que ocorria no porto de São Luís. Pelos idos do início do século XIX, chegaram ao Maranhão mais de 40 mil escravos, vindos da Angola e de Guiné Bissau.

Porém, a partir da abolição da escravatura, a região veio a experimentar um ciclo de declínio. A mão de obra, até então escrava, esvaiu-se inviabilizando grande parte das atividades econômicas – dentre elas, a engorda e comercialização dos escravos.

A perda da importância econômica e cultural de Alcântara e a própria dificuldade de acesso à capital do estado, acabou isolando a maioria dos municípios da Baixada e do litoral norte, contribuindo para que a região se tornasse uma das mais pobres do estado.

Somente a partir da década de 1960, com a chegada das estradas e da energia, no governo Sarney, o processo de crescimento das cidades do norte do Maranhão foi retomado.

Junto com tal crescimento, as ondas de rádio carregadas pelos ventos soprados do hemisfério Norte, trouxeram os primeiros acordes do Reggae. Os barcos que contrabandeavam café para os portos de Paramaribo se encarregavam de trazer daquelas bandas, além das camisas Banlon e dos rádios Spica, os principais hits musicais.

Fruto desse intercâmbio cultural, São Luís orgulha-se hoje do título de Jamaica brasileira. As Radiolas se proliferaram pelo litoral norte do estado, estourando os tímpanos e fazendo tremer a barriga dos mais aficionados. A massa reggueira continua crescendo, movimentando a economia, elegendo vereadores, prefeitos e até deputado federal.

Apesar de tudo isso, penso que quem iniciou essa onda toda de Radiola foi meu tio General, em meados do século passado, em Pinheiro.

Meu avô Chico Leite, advogado de idéias de vanguarda, escolheu o nome de Luis Carlos Prestes para por em um de seus filhos. A era Vargas chegou, ele tirou o Prestes do nome, mas o apelido General acompanha meu tio até os dias de hoje.

Ainda jovem General possuía um serviço de alto-falantes. Comprou um pequeno motor, fabricou as caixas com as cornetas de som e, munido de uma Radiola e de uns poucos discos arranhados, rumou para o Jussaral, pequeno povoado no interior de Pinheiro, para fazer seu primeiro baile.

A notícia espalhou-se pelas redondezas e a expectativa com a festa era enorme! Arrumou-se um salão, coberto e forrado de palha, solo batido de terra, e com uma pequena janela para a venda dos ingressos. Todos tinham que “pagar a porta” para dançar na festa.

Zezico, líder da comunidade e compadre de General, perguntou-lhe se sua vizinha Carmelita poderia entrar na festa.

− Ela passa no teste do pente? Perguntou General.

−Hih, seu Generá! Eu acho que não vai dar… ela tem um cabelo um tanto quanto duvidoso!

Atualmente, nos finais de semana, as “pedras de responsa” rolam soltas e o som do reggae ecoa noite adentro em quase todos povoados do litoral norte do Maranhão. É bem verdade que as Radiolas atuais são bem mais democráticas que as de meu tio General. O teste do pente foi abolido. O constrangimento é outro: apenas receber hora da entrada, um carimbo de neon na testa ou no braço para garantir o direito de acesso aos animados terreiros.

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