La Fête de la Musique

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fete-de-la-music.jpg21 de junho é o dia dedicado à música.

Desde 1982 que a França comemora, com muita festa e, sobretudo, com muita música a chegada do verão no Hemisfério Norte. O País inteiro é invadido por músicos. Por onde se passa, ouve-se música. Nas estações de metrô, nos ônibus, nos trens e nas Gares, as mais diferentes melodias encantam nossos ouvidos. O País pára. O francês fica alegre. Os turistas se encantam com tudo. Nas ruelas, esquinas, praças e parques o realejo ressuscita e o povo sai às ruas para comemorar a chegada do verão. No dia 21 de junho é possível assistir aos grandes espetáculos musicais fora de seus habituais espaços. As grandes orquestras, os espetáculos de ópera, os recitais e pequenos coros musicais saem às ruas promovendo encontros e intercâmbios entre renomados músicos e o público em geral. Tudo de graça!

Esta data começou a ganhar dimensão maior a partir de 1985 por ocasião do Ano Europeu da Música, quando foi considerada por mais de cem países nos 5 continentes.

Nos dias de hoje, a Festa da Música consolidou-se e faz parte do calendário cultural da França. O sucesso é tanto que, embora seja uma tradição recente, ela é hoje adotada nos quatro cantos do Mundo.

Lá em Pinheiro, muito antes disso, no início do século passado, meu avô Chico Leite não media sacrifício para seguir os acordes de uma boa música.

Ainda solteiro, sempre que tomava conhecimento das festas e dos bailes famosos da região, logo arriava o cavalo e se aventurava em longas viagens pelo simples prazer da boa música e da dança.

Certa feita, por ocasião das comemorações de São José, o padroeiro de Penalva, que se realizavam sempre no primeiro domingo que antecede o Natal, ele decidiu participar. Fez a propaganda da Festa, convidou alguns amigos e partiram todos bem cedinho. Fizeram o trajeto todo a cavalo. Atravessaram o Cafundoca, os campos do Pericumã, passaram pela Sororoca na divisa de São Bento e São Vicente Férrer, ansiosos para chegarem ainda de dia. 12 horas depois, apearam em Penalva completamente fatigados. Um bom banho na beira do poço foi suficiente para que ele recobrasse toda a energia. Na verdade, o que mais o atraía era o grande baile animado pela orquestra Lira de Prata, do maestro Antônio Gama.

O baile do festejo era realizado na residência do senhor João Borges, que costumava abrir a sua casa com seus quatro grandes salões para abrigar a festa. As moças da cidade e dos arredores, com seus vestidos rodados, sentavam-se nas cadeiras em volta dos salões e os rapazes se dirigiam a cada uma delas para solicitar a dança.

Tão logo a festa começou, Chico Leite identificou uma bela moça, bem vestida e aparentemente muito recatada. Ao som dos primeiros acordes da orquestra, apressou os passos em sua direção antes que outro mais afoito o fizesse.

Ao se aproximar, pediu à donzela o consentimento para a dança, ao que ela respondeu:

– Ah! Moço, eu só danço afilotando!

Ele, mais que de pronto retrucou, certo de que jamais perderia essa oportunidade.

– Pois em sua frente está o maior afilotador da região! Estou chegando de Fortaleza no Ceará onde já ganhei até concurso de afilotagem!

Ela, sem entender nada, lhe explicou:

– Não! O senhor não entendeu! Eu só danço a Filó, minha irmã, tando aqui do meu lado…  

Relembro esta estória para ressaltar como somos diferentes dos franceses! Lá, eles comemoram um dia de música. Aqui, findas as festividades do Natal, mal começa o ano novo e o carnaval toma conta do povo. A depender do calendário, são 60 dias de folia!

Meses depois, os pandeirões e os tambores de São Luís começam a ecoar noite adentro. As matracas marcam o ritmo e martelam nossos ouvidos em todos os arraiais da Ilha. Tem batizado, tem morte do boi… Comemoramos o mês inteiro.
No bairro do João Paulo os Bois se encontram no último dia do mês para festejar a temporada que se finda. Exaustos, porém felizes, os brincantes retornam ao trabalho, certos de que no ano que vem tem mais. Tudo é motivo para festa. No Maranhão e em todo o Nordeste brasileiro, junho é o nosso mês das Festas.

E já que o mês de junho está acabando, vamos todos afilotar enquanto há tempo, dando vivas a São João, São Pedro, Santo Antônio e todos os santos festeiros!

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Junho e suas histórias

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boi-de-sao-bento1.jpgO mês de junho é o mês das festas populares. Tem santo e brincadeiras para todo gosto e é pródigo em histórias interessantes.

Esta me foi contada por João Muniz, prefeito por três mandatos e grande liderança política da Baixada maranhense.

E por falar em santo, teria acontecido em São Bento. Uma das cidades mais antigas do Estado, conhecida pelo seu queijo de sabor inigualável e pelas belas redes de linha de algodão. Mais ainda pelos seus belos campos repletos de jaçanãs, marrecas e japeaçocas que teimam em migrar do hemisfério Norte, voando milhares de quilômetros, para serem ali abatidas sem piedade pelos caçadores.

Até a primeira metade do século passado, São Bento era uma das principais cidades da Baixada maranhense. Mas, assim como a grande maioria das cidades do Interior do Maranhão, não dispunha dos serviços de energia elétrica.

Logo após a segunda Guerra, no ano de 1945, o interventor da cidade Augusto Soares, conhecido pelo apelido de “Farinha D’ Água”, foi comunicado pelo interventor federal no Estado Clodomir Cardoso, que seu pedido de um grupo gerador para fornecer eletricidade aos moradores da cidade, seria atendido em breve. Um sonho, afinal, iria se realizar. A notícia espalhou-se rapidamente pelos quatro cantos da cidade enchendo a todos de esperança.

Imaginem a dificuldade para transportar um equipamento, daquele porte, da Capital até a sede do município!  Atravessar a baía de São Marcos! Que aventura! E depois ainda ter que enfrentar a longa vala, aberta pelas mãos do homem, que dava acesso ao cais da cidade.

Após uma extenuante conversa com o barqueiro para adaptar o barco e fazer toda a estiva necessária, o grupo gerador, enfim, chegou e foi recepcionado em grande estilo pelos moradores. A multidão aglomerava-se no cais do porto. Debaixo de muito foguete, o motor de luz (assim era chamado na época) foi descarregado nos braços do povo.

Em agradecimento, o prefeito Augusto Soares decidiu “montar um Boi” para homenagear o interventor que havia prometido estar presente na cidade por ocasião da inauguração da rede elétrica.

O folclore maranhense registra a existência do “Poção de São Bento”, segundo o qual, quem nele tomar banho ou da água beber, acaba falando fino imediatamente. Dizem até que os aviões modificam suas rotas para deles se desviarem… De certo é que os poções são pequenos lagos de água doce que conferem aos campos da região uma beleza sem igual e são responsáveis pelo habitat tão procurado das aves migratórias que nos visitam de tão longe.

Preocupado com isso, Augusto Soares mandou procurar pelas redondezas e acabou encontrando  em Pinheiro, na região do Gama, um cantador que tivesse uma bela voz.

Egídio, o amo contratado, descendente dos negros do quilombo do Frechal, era daqueles pretos altos, fortes, ombros largos tal qual um guarda-roupa. Sua voz parecia um trovão.

Tecidos coloridos de seda, paetês, canutilhos e fitas foram comprados em São Luís, bordadeiras esmeraram-se na feitura do couro do Boi e das roupas dos brincantes. Dois meses de ensaios não foram suficientes. Mas o que fazer? O interventor chegaria em poucos dias…

O mês era junho. Na inauguração, em frente ao prédio da Usina, o prefeito recepcionou Dr. Clodomir Cardoso com todas as autoridades presentes. Após o tradicional corte da fita e dos discursos de praxe, Augusto Soares apresentou Egídio ao interventor e ordenou o início da apresentação.

Egídio, com seu vozeirão, berrou alto, deu ordem unida ao batalhão com uma salva de apitos e começou a cantoria:

− Prefeito Augusto… Comprou um motor de luz…

Reforçou de forma grave e ainda mais alta o refrão:

− Prefeito Augusto… Comprou um motor de luz…

− Vamo lá rapaziada! Bradou alto convocando os vaqueiros a entoarem o canto.

E a rapaziada, em coro e com um uníssono falsete, entoou:

− Pra iluminar nossa cidade…

O vexame foi tão grande que somente depois de muitos anos ouviu-se falar do Boi de São Bento.

Folclore a parte, o Boi de São Bento, com seu sotaque da Baixada é hoje uma das referências culturais de nosso Estado.

E o povo de São Bento só veio a se livrar da precariedade da energia fornecida pelos grupos geradores, já no ano de 1969, quando João Muniz era prefeito e o governador José Sarney fez chegar até lá a energia elétrica através do sistema interligado vindo de Boa Esperança.

Por conta disso e de outras ações João Muniz elegeu-se ainda mais duas vezes e, atualmente, está engraxando os sapatos para uma nova caminhada rumo à prefeitura.

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O mês de junho

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Junho chegou.

Para uns começou o verão. Os ventos alísios que vem do sul sopram e, com eles, os papagaios e as curicas serpenteiam no ar tingindo de cores vivas os céus da ilha de São Luís.

Lembro-me de que quando criança, tão logo as águas do Pericumã começavam a baixar, meu pai recolhia as tabocas e sentava-se ao meu lado ensinando-me a fazer os papagaios. Mandava-me na quitanda ao lado comprar o papel de seda. Cortávamos os talos da taboca e com uma pequena lâmina improvisada, feita das fitas metálicas que amarravam os fardos de algodão, raspávamos os talos até ficarem completamente roliços e polidos.

Enquanto ele cortava o papel eu me encarregava de fazer o grude utilizando um pouco de Maizena. Catava na vizinhança os vidros mais finos e moía até virarem talco. Meu pai, com a paciência que lhe era peculiar, empenhava-se em construir diferentes  modelos: Os papagaios, com suas duas talas horizontais estampavam sempre os mais variados desenhos e cores eram os primeiros a serem confeccionados. Adornados com rabos longos e elaborados com capricho ganhavam vida e equilíbrio com as bolinhas de algodão simetricamente distribuídas. A arraia e a jamanta, esta de tamanho avantajado (que somente os adultos tinham força para empiná-las), tinham apenas uma tala eram desprovidas de rabos. Com o resto do material nós fazíamos as curicas, assim chamadas por serem feitas sem grande esmero.

Os novelos de linha eram cuidadosamente desenrolados e o grude era agregado ao pó de vidro transformando-se no cerol. Uma vez aplicado ao longo de toda a linha, esperávamos, ansiosos que secasse por completo para em seguida enrolar novamente, desta feita, num carretel de linha esterlina.

Devidamente equipado, com dois ou três papagaios debaixo do braço, eu disparava no rumo da beirada dos campos. Passava horas e horas com meus amigos, empinando e lanceando os papagaios, na disputa para saber qual deles reinaria sozinho nos límpidos céus ensolarados de Pinheiro. A gente não podia descuidar… De repente, como que num piscar de olhos, aparecia lá bem de longe, num vôo rasante, um papagaio inimigo ameaçando o nosso espaço aéreo. O lema dos escoteiros (sempre alerta!) nos ajudava bastante.

De volta para casa, radiante, (com muitos papagaios debaixo do braço) ou triste (sem nenhum deles), por mais que tentasse explicar que estava estudando, minha mãe não acreditava. Também pudera! Mais suado que tampa de chaleira, com o rosto em brasa e o nariz de pimentão…

Mas hoje os tempos são outros. O verão continua castigado pelas chuvas e aqueles papagaios de outrora ainda estão por esperar um bom tempo. Atualmente, neste cenário de crise, tem muita gente empinando papagaios. Desta feita, junto às instituições financeiras.

No entanto, para outros, é tempo de se fazer presente nos batizados dos Bois percorrendo os circuitos da capital. Os pandeirões e matracas começam a soar noite adentro e a temporada das festas começou. Antigamente, os Bois só dançavam no período compreendido entre o batizado e a morte. Nos dias de hoje, penso que a tecnologia avançou a tal ponto de ressuscitar Boi. Pois tem Boi dançando durante o ano inteiro…

Há pouco mais de 20 anos, o Arraial de Santo Antonio era um dos mais concorridos de São Luís. José Raposo cedia os espaços de sua bela casa no Olho d´Água e as mais renomadas brincadeiras eram convidadas para ali se apresentarem. A quadra era enfeitada e todos os espaços se enchiam de alegria. Muita música, quadrilhas improvisadas, comidas e bebidas típicas, crianças, “gente grande”, tudo, enfim, contribuía para grandes noitadas.

Nesse ano, José Sarney, então presidente da República, havia confirmado sua presença. A organização da Festa contratou os principais Bois para ali se apresentarem: Boi de Axixá, Morros, Maracanã, Fé em Deus, Pindaré, Maioba, entre tantos.

A esse tempo, minha amiga Flor de Maria estava montando pela primeira vez o Boi de orquestra de Pinheiro.

Aproveitando as sobras das fantasias da Escola de Samba Unidos de Alcântara (bairro da cidade) Flor de Maria preparou com muita dificuldade e com um carinho maior ainda a brincadeira. Como eu participava da Comissão organizadora da Festa, exigi a presença do Boi de Pinheiro. Acabei vencendo a resistência dos demais membros da Comissão, que não admitiam a presença de um Boi desconhecido. O Boi de Pinheiro, então, foi aceito com a condição de ser o primeiro a dançar no terreiro.

Com a presença do presidente da República na Festa, os espaços ficaram pequenos para tanta gente.

Ao ser anunciada a chegada do Boi proveniente da cidade de Pinheiro poucos se mostraram interessados em vê-lo. No entanto, José Sarney ao tomar conhecimento do início da apresentação, levantou-se e caminhou para a Arena levando consigo um séquito de supostos admiradores da brincadeira vinda da cidade natal do presidente.

Minutos depois, o presidente identificando-me do outro lado do terreiro, fez sinal para que eu fosse até ele. Sentindo-me todo orgulhoso, aproximei-me do presidente que murmurou ao meu ouvido:

− Zé Jorge! Bota esse boi no pasto…

Ao que de pronto respondi:

 − Mas presidente, ainda não é um boi, é apenas um bezerro…

Hoje, duas décadas depois, o bezerro cresceu e transformou-se num dos Bois mais requisitados da Baixada fazendo bonito e enchendo de alegria, por onde passa, todos os Arraiais do Maranhão.

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